Click! et Brille escrita por Biax, EsterNW


Capítulo 45
Ovos do ofício




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Saciei um pouco a sede de Gomildo, enquanto falava com Nathaniel pelo telefone, apoiado na curva entre ombro e pescoço.

Infelizmente não consegui descobrir muito sobre elas, Mari — ele falava do outro lado. — Ambre costuma falar sem parar sobre ela mesma, mas se eu insistir nesse assunto, corremos o risco dela perceber algo.

Suspirei, molhando Latifa dessa vez. Infelizmente, ele estava certo. Não importava o quão tapada fosse a pessoa, alguém puxando justamente esse assunto daria na cara de mais. Não podíamos deixar tudo com ele pra descobrir sobre a Ambre.

— Mas e aquele cara da revista da Debrah, que você disse que ela saiu no feriado? — relembrei um assunto que ele tinha comentado instantes antes.

Ouvi um som abafado na linha, com Nath provavelmente franzindo o cenho do outro lado. Era engraçado conseguir adivinhar que expressão a pessoa estava fazendo, mesmo sem vê-la.

Não vejo ligação entre uma coisa e outra, Mari.

Mas você comentou sobre! — Parei com o regador na mão, ouvindo o silêncio do outro lado da linha. — Nath?

Eu preciso ir, tenho alguns balancetes dos ganhos para fechar.

Hoje é domingo! — exclamei, balançando a mão com o regador no ar, mesmo que ele não pudesse ver.

Eu tenho muito trabalho pra fazer agora que o ano está acabando, Mari, sinto muito. —Mais um pouco de silêncio. Exceto pelo som do chuveiro no banheiro do apartamento. O meu e da Júlia, no caso. — Se tiver qualquer outra informação, eu entro em contato, prometo.

Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, Nathaniel encerrou a ligação. E não, ele não estava sendo mal educado e desligando na minha cara. Isso parecia ser um hábito de estrangeiros, de às vezes desligar sem sequer se despedir. Porém, eu ainda tinha a impressão de estarem desligando na minha cara.

Resolvi terminar de alimentar minhas crianças, largando o celular em cima da mesa. Em poucos minutos, não havia mais ninguém com sede.

— Você quer um pão com ovo, Mari? — Júlia brotou na cozinha, aparentemente tendo terminado de tomar banho.

— Mas já é quase hora do almoço... — Minha amiga apenas deu de ombros, abrindo um pouco a janela. — Quero sim.

Ela pegou a frigideira e a colocou sobre a boca do fogão.

— O Nath acabou de ligar. A única coisa que ele descobriu sobre a Ambre e a Debrah foi que a irmã dele tá saindo com um cara da Cèlèbritè. Você acha que tem alguma coisa a ver? — questionei para Júlia, vendo-a derramar óleo na panela e me encarar enquanto fazia isso.

— Hmm... — Ela ficou pensativa e parou com o óleo, conseguindo fazer as duas coisas ao mesmo tempo. O que provavelmente não aconteceria comigo. — Uma coisa pode ter a ver com a outra, mas não significa necessariamente que a Debrah está envolvida. — Foi até a geladeira para pegar dois ovos.

— Mas é a única pista pra ligar as duas que a gente tem aqui! — exclamei, puxando uma cadeira e me sentando à mesa, largando meu regador rosa sobre ela. — Porque o Nath tá certo, não tem como ele ficar pressionando a Ambre, vai dar na cara.

— Não tem como a gente descobrir se esses três trabalham juntos nisso, não tem provas — respondeu calmamente, quebrando os ovos.

E eu quase quebrei minha cara na mesa, batendo o rosto com tudo e ficando por lá enquanto soltava um resmungo.

— Bem que elas poderiam ter um grupo de conversas chamado “Hoje É Dia de Maldade”, porque daí nós só pegávamos o celular da Ambre, igual ela fez com o seu — Ergui o rosto, — e puf! — Fiz um gesto de coisas explodindo com a mão. — Problema resolvido.

Minha amiga sorriu para o nada, e tenho certeza que não era porque os ovos mexidos começavam a cheirar bem.

— Será que o Armin conseguiria ajudar nisso? Hacker o e-mail da Ambre? — Júlia veio com essa de repente.

Arregalei os olhos na hora, estranhando ela estar propondo uma coisa dessas. Fuxicar nas coisas dos outros tinha mais cara de Marimar. Vide a confusão que nos botou aqui.

— O Armin que trabalhava com você? — Ela assentiu com a cabeça, tirando os ovos da frigideira para o prato e a largando dentro da pia. — Júlia, Júlia, eu não esperava isso de você.

Tirei dois pães do saco no canto da mesa e comecei a cortá-los, enquanto ela trazia os ovos, se sentando na cadeira vaga. Entreguei um pão para minha amiga.

— Nem eu falaria uma coisa dessas. — Encheu um pão com ovo. — Mas na atual situação, é a única forma de se conseguir alguma coisa. — Mordeu o pão. — Se é que tem alguma coisa.

— Credo, vira essa boca pra lá. — Dei um empurrão nela com o cotovelo. — Vamos torcer pra que tudo dê certo, porque assim não precisamos nos preocupar com plano B.

Ela assentiu e continuou comendo, olhando para o nada. Resolvi puxar outro assunto, para não ficarmos em silêncio. Dava pra ouvir o barulho da rua, mesmo que fosse domingo.

— Você vai ligar pra falar com ele? — questionei, segurando o riso de curiosidade no canto da boca. Júlia me encarou confusa. — O Rayan, ué. Vocês dois estavam tão fofos dormindo no sofá... — comentei sem malícia, apenas constatando um fato, e vi Júlia corar feito um tomate. O que me lembrava de que eu precisava comprar tomates mais tarde.

— Nossa, assim do nada?! — Se surpreendeu, o pão meio mordido na mão.

— Você ficou quieta, achei que o assunto tinha acabado, aí resolvi começar outro. — Dei de ombros. — Mas me diz, o que rolou entre vocês? Porque não é todo dia que eu chego em casa e o professor bonitão da minha amiga tá capotado no sofá junto dela. — Dei aquele sorrisão e apenas a vi balançar a cabeça.

Júlia então deu um sorriso tímido e começou a narrar os acontecidos da última noite, passando rapidamente por seu trabalho na festa de aniversário, o encontro com Rayan enquanto comia uns docinhos, o beijo no estacionamento — com direito a um breve surto à lá Marimar nessa parte, claro que eu não ia conseguir me controlar —, até terminar com eles conversando na nossa sala.

— E ele ainda deve ter te coberto no meio da noite, tão fofo — comentei e a vi encarando o copo de café com aquele mesmo sorrisinho na cara, já que o pão havia acabado àquela altura e tudo o que nos mantinha ali era o papo bom e ser domingo. — E agora vocês vão poder se envolver, né? Ele não vai ser mais seu professor, se você trancar o curso...

Deixei a última frase no ar, como se fosse uma possibilidade. Era tudo culpa minha Júlia ter perdido emprego e a faculdade estar seguindo pelo mesmo caminho. Eu havia estragado os sonhos dela. E é melhor não entrar nas minhas crises existenciais, porque também não quero roubar o momento fofura dela. Já não bastasse minha vida amorosa ter ido pro saco por aqui.

— Talvez... — disse com ar pensativo, ainda encarando o restinho de café, como se ali tivesse a resposta para a nossa sorte. — Eu realmente quero, e ele também... Só pra me fazer ficar mais doida antem. — Soltou um risinho e engoliu o último gole de café, pegando nossas coisas e indo lavar a louça.

— O universo tá realmente de brincadeira com nossa cara, né, Jú? — Cruzei os braços sobre a mesa e apoiei o queixo em cima deles. — Eu me dei bem com os crushs, depois deu tudo errado, você se dá bem com o seu, mas tem essa treta toda...

— Deve ser pra compensar a sorte que nós tivemos ao chegar aqui — retorquiu rindo e eu tive que concordar, um tanto desanimada.

— Mas não precisava desmoronar tudo de uma vez, né? — Suspirei cansada. Fosse o universo, o cupido ou eu mesma, estava cansada de tudo aquilo. — Nem pra gente se preparar antes...

Abaixei de vez a cara na mesa, apenas ouvindo a água correndo enquanto as louças eram lavadas.




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Notas finais do capítulo

Bia
Ai, cada uma tem problemas juntas e separadas kkk
Será que o Armin ajudaria? ~emoji pensativo
Até mais o/



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