Click! et Brille escrita por Biax, EsterNW


Capítulo 24
Carona


Notas iniciais do capítulo

Bia
Oie, pessoas!
Eu adoro esse capítulo :3
Boa leitura!



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Após chegar em casa, exausta e levemente molhada pelo chuvisco da noite, tomei um banho rápido e fui para a cama, estranhando o fato de Marimar já estar dormindo. Eu não tinha como saber, mas sentia que algo não estava certo, e fui confirmar isso na manhã seguinte, quando a encontrei deitada no sofá com a maior cara de desânimo.

Após usar o banheiro, comecei a esquentar o almoço. Era quase meio-dia.

— Tá tudo bem?

Marimar me olhou com uma carinha de cachorro abandonado, desligou a televisão com o controle e levantou, indo se sentar na cadeira, de frente para mim.

— Eu esbarrei com o Nathaniel ontem e... Acabei com tudo.

Paralisei por um segundo.  — Acabou? O que aconteceu?

Ela começou a me contar sobre o ocorrido. Tudo bem que eu já sabia de todas as suas dúvidas e paranoias, mas não achei que ela fosse dar um fim tão rápido.

— Você acha que eu fiz certo? — indagou ela, tristonha.

— Se você imaginava que não se sentiria bem estando com ele, então fez o certo. Eu sei que é triste, mas tá tudo bem, isso vai passar.

— Acha que o Nath vai ficar com raiva? Ele disse que nunca ficaria, mas sei lá.

— Não, ele é compreensível. Com certeza vai te tratar normalmente quando vocês se verem. Não se preocupe. Agora, pensa pelo lado bom, você está livre, leve e solta para paquerar o Castiel no próximo show dele — brinquei, arrancando um riso dela.

— Ai, mereço!

Pelo menos ela se animou um pouco e pudemos aproveitar a tarde juntas, já que nenhuma de nós tinha trabalho para fazer.

Como de praxe, no meu horário, fui para a aula encarar o professor Zaidi e suas maravilhosas observações sobre a história da arte e da fotografia. Depois do que aconteceu na última vez em que nos vimos, tentei evitar encarar mais do que o necessário e mantive meu olhar no meu caderno, a maior parte do tempo, fazendo as anotações.

Assim que a aula terminou, eu e mais alguns colegas fomos até a biblioteca para pegar um livro indicado pelo professor, para que lêssemos e discutíssemos na próxima aula. Mais ou menos dez minutos depois, saí do prédio, olhando para cima apenas para confirmar se não havia algum sinal de que ia chover. Felizmente não.

Peguei a bicicleta e tomei rumo para a rua.

Quando estava prestes a virar a próxima esquina, ouvi um barulho estranho e perdi o controle do guidão. A bike tremeu, e eu rapidamente pisei no chão para pará-la, antes que eu caísse. A encostei na parede e vi que o pneu estava murcho.

Coloquei as mãos na cintura e encarei a cena, sem saber o que fazer.

Suspirei, puxei a bicicleta e comecei a andar com ela ao meu lado. Teria que fazer uma caminhada forçada. Ainda bem que as ruas eram bem iluminadas e movimentadas àquela hora.

Parei no farol e esperei fechar o sinal.

Um carro parou na faixa, e eu automaticamente olhei o farol, que ainda estava aberto.

— O que aconteceu? — Ouvi uma voz conhecida e dei alguns passos para o lado, afim de olhar para dentro do carro pela janela. Era o professor Zaidi.

— Meu pneu furou.

— Ah, que sorte... Quer uma carona?

Considerei a ideia muito tentadora, mas... — E onde vou enfiar minha bicicleta?

— Eu tenho suporte lá trás. Só preciso sair da faixa.

Concordei, mesmo que indecisa, e ele dirigiu, virando a esquina para a direita. Parou o carro um pouco mais para frente e eu fui até lá. Rayan saiu e me esperou na traseira do carro. Sem que eu dissesse mais nada, ele pegou a bike e a colocou no suporte, fechando a trava. Foi até a porta do carona e a abriu, me convidando a entrar.

Hesitei um segundo e entrei. Ele fechou a porta e deu a volta, enquanto eu colocava o cinto de segurança.

— Quer colocar seu endereço? — indagou ele, saindo do meio-fio.

Me curvei para frente e digitei o nome da rua no GPS do carro. Logo, ele mostrou o caminho que deveríamos seguir.

— Quando você não toma chuva, o pneu fura — começou ele, de bom-humor. — Será uma onda de azar?

Dei risada. — Eu não acredito em azar. As coisas acontecem, pra bem ou pra mal.

— É, eu também não acredito muito. São consequências dos atos de cada um.

— Exatamente.

Viramos a rua e paramos na fila de carros. Mais precisamente um engarrafamento.

Puxei os cabelos da nuca. Estava quente na rua. Eu gostava de calor, no geral, mas tinha vezes que ele abusava.

— Bom... parece que vamos ficar um tempinho aqui...

Fiquei sem saber como preencher o vazio, sentindo certa vergonha por estarmos ali sozinhos. Onde eu estava com a cabeça para aceitar essa carona?

— Ah, me lembrei de uma coisa — Rayan voltou a falar. — Estava conversando com alguns professores hoje e queríamos fazer um projeto para divulgar mais os cursos da escola. E, para isso, precisamos de um bom fotógrafo. Ou uma boa fotógrafa. — Me olhou.

— Mas os professores não são fotógrafos?

— Sim, mas nenhum deles está realmente afim de ser. Preferem pagar alguém para tirar as fotos. E eu falei de você, mas não tive como mostrar seu trabalho. Você tem um portfólio online?

— Tenho um site. Posso te mandar por email.

— Isso, boa ideia. Você tem ele?

— Sim, anotei no primeiro dia de aula. Vou mandar assim que chegar em casa, estou sem internet aqui.

— Sem problemas.

O carro andou alguns metros e parou de novo.

— Você mora sozinha? — Ele puxou assunto, descontraidamente.

— Não, moro com uma amiga.

— Brasileira também?

— Sim. Nos conhecemos em um curso de inglês e, apesar de ela ser mais nova que eu, nos aproximamos bem rápido. Depois que eu fui efetivada na agência, surgiu uma vaga para modelo, e como ela já era modelo, veio tentar e conseguiu.

— Uau, que legal! E a sua família? Não se importou de você morar tão longe?

— Não muito. Meus pais nunca foram muito... grudentos. Ficaram preocupados por ser longe, mas também nunca tentaram me impedir ou me botar medo.

— É filha única?

— Sim.

— Isso é raro. Pelo menos quem eu conheço, que é filho único, normalmente é bem protegido pelos pais.

— Sim, também conheço alguns... E você? Tem irmãos?

— Não, sou filho único. E meus pais não me protegiam muito. Acho que eles são parecidos com os seus.

— Eles estão em Genebra?

— Sim... No começo, quando eu resolvi me mudar, sugeri que eles viessem junto, mas não tem como convencer cabeças duras. Mas também, é bom que eles tenham ficado lá, onde já moram há anos.

— E você pode passar as férias em casa.

— Sim, isso também. — Sorriu, nostálgico, como se lembrasse da época em que morava lá. — É um bom lugar para morar. E passar as férias.

— Isso só me motiva mais a conhecer — comentei, animada.

— E eu prometo que não vai se arrepender se for.

Conseguimos sair do lugar de novo, e daquela vez, saímos do engarrafamento. Agora não demoraria muito para chegar.

Nem cinco minutos silenciosos.

Paramos próximo à calçada e Rayan desligou o motor, saindo do carro. Tirei o cinto e o vi dar a volta para abrir a minha porta. Sorri, achando fofo seu cavalheirismo. Levantei puxando a mochila e já a colocando no ombro. Ele fechou a porta e foi pegar minha bicicleta. Eu a puxei quando Rayan a deixou no chão.

— Obrigada, mesmo.

— Por nada. A conversa foi agradável, apesar do trânsito...

— Ju! — Tomei um susto quando ouvi a voz alta de Marimar. Me virei, e a vi andando em nossa direção. — Aconteceu alguma coisa? Oi, boa noite. — Ela sorriu abertamente para Rayan, que retribuiu.

— Boa noite.

— Nada, meu pneu furou e ele me deu uma carona... Onde você estava?

— Fui caminhar um pouco.

— Ah... Me ajuda a levar a bike?

— Essa coisa pesa demais — resmungou, curvando os ombros para frente.

— Eu posso ajudar, se quiserem — propôs Rayan.

— N...

— Ai, que bom, a Jú sempre sofre para levar esse trombolho lá pra cima! — Mari se adiantou e foi para a porta, pegando suas chaves.

Fiquei estática no lugar, impressionada com a cara de pau daquela menina. Pelo menos Rayan não pareceu ligar, já que a seguiu. Ele indicou para que eu fosse na frente, e assim que a Mari abriu o portão, comecei a subir.

— Quer que eu seguro a frente? — perguntei, culpada por fazê-lo carregar a minha carga.

— Não precisa, não é tão pesado assim. — Ele riu, tranquilo.

Continuei subindo e peguei as chaves. Abri a porta, acendi a luz e abri a porta da varanda, indicando onde a bicicleta ficava. No suporte da parede lateral da mini sacada.

Rayan a colocou lá e voltou para dentro.

— Obrigada mais uma vez. — Eu já estava ficando sem graça de tanto agradecê-lo.

— De nada.

— Quer um café? Um pedaço de bolo? — Mari ofereceu, empolgada com alguma coisa que eu não entendi. — A Ju que fez. É de chocolate.

Ele me deu uma rápida olhada, rindo. — Claro, aceito. — Enquanto ela pegava o prato, e eu cortava o bolo, Rayan observou o espaço. — Quantas plantas vocês têm.

— Eu sou a culpada. — Marimar ergueu a mão. — Trouxe tudo do Brasil. Eu não ia conseguir viver sem as minhas plantinhas.

Servi o bolo na mesa, e ele se sentou na cadeira à frente da porta. Fiquei apreensiva. Eu sabia que o bolo estava bom, mas quando outra pessoa provaria...

Para me distrair, cortei um pedaço para mim, enquanto a Mari pegava seu pequeno regador, enchia de água e ia alimentar suas filhas e filhos.

— Está muito bom — disse Rayan, impressionado. — Tem algo no fundo que não consegui distinguir...

— Cravo-da-índia.

— Ah... verdade.

Eu não conseguia calcular quão estranho era ver o meu professor sentado na minha cadeira. Parecia coisa da minha cabeça. Aliás, isso era uma coisa que eu não imaginaria. Não atualmente.

Não demorou para que ele comesse tudo e deixasse seu prato na pia.

— Posso lavar?

— Não, tudo bem. Você já trabalhou muito por hoje. Não se preocupe.

Ele riu. — Ok. Melhor eu ir. Até mais. — Acenou para Mari, que regava os vasos da sala.

— Até! Obrigada pela ajuda!

Descemos, e eu abri a porta da entrada. O acompanhei até perto do carro, ainda um pouco sem jeito.

— Como você vai para a aula agora? — Rayan perguntou, destravando o automóvel.

— Vou de ônibus até comprar um pneu novo. Vou atrás de um amanhã.

— Não vai levar em uma oficina?

— Não, eu sei arrumar. Mexi muito com bicicletas quando era mais nova.

— Uau... Bom saber. Quando a minha precisar de um reparo, vou trazer pra você.

Dei risada. — Tudo bem, faço um desconto camarada.

Acho que, por um momento, não sabíamos o que fazer. Se nos despedíamos com um aceno, com os típicos dois beijinhos no rosto...

Rayan escolheu um único beijo na bochecha. Na minha, no caso. Eu só consegui falar algo depois que ele se afastou, já abrindo a porta do carro.

— Vai com cuidado.

Ele sorriu abertamente. — Pode deixar.

Observei o carro ser ligado, e depois sumir de vista. Voltei, fechei a porta, subi, entrei no apartamento, e encontrei Marimar respirando rápido, encostada na pia com uma cara de quem não enganava ninguém.

— Você estava espiando, né?

— Claro, não sou boba. Quem era aquele bonitão? Um colega de classe?

Me sentei na cadeira e soltei um suspiro pesado. — Meu professor.

Os olhos da minha amiga se arregalaram. — Eita. Isso não é meio errado?

— Não aconteceu nada, menina. Ele só veio me trazer por causa do pneu.

— Hm. Sei. E essa suspirada que você deu?

— Eu tô cansada. E por falar nisso, vou tomar banho e dormir.

— Então tá...

Peguei meu pijama no quarto e fui para o banheiro. Fechei a porta e comecei a escovar os dentes, encarando meu reflexo no espelho. Acabei rindo por conta de tudo o que aconteceu. Eu só quis evitar ele, e no fim, peguei uma carona e ele ainda comeu meu bolo de chocolate.

Que doideira.


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Notas finais do capítulo

Bia
Agora fica a dúvida se a Ju tem sorte ou azar pegando tanta chuva e com o pneu furando xD
Até mais o/

Ester
Dona Mari já sacou as coisas entre esses dois... Mas será que é doideira, igual a Ju pensa? Aposto que vocês tão torcendo pra não ser -q
Até mais, povo o/



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