Ocean Motion escrita por Camí Sander


Capítulo 7
Capítulo 6 - A Lista


Notas iniciais do capítulo

Cheguei de novo!! Tentei e consegui escrever um capítulo para postar essa semana! Não está tão emocionante quanto o último, mas está um pouco esclarecedor sobre alguns pontos. Espero que gostem!



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A Lista

Minhas meninas. Certo. Agora ele se referia àquele bando de mulheres vulgares que não sabiam trabalhar como “minhas meninas”. Acredito que se merecessem. Dei de ombros e voltei para me sentar no sofá, apoiando os cotovelos nas coxas e entrelaçando as mãos. Respirei fundo antes de encarar meu chefe.

—Alice se apaixonou por Jasper e está convencida de que ele gosta dela dessa mesma maneira – discorri. – Achei que gostaria de saber que ela quer investir nessa relação e nada do que eu tenha dito serviu para dissuadi-la do intento.

Uma respiração profunda saiu dele. O olhar perdido no teto apenas insinuou que ele estava pensando no assunto.

—E agora mais essa – murmurou e apertou a ponte do nariz com os dedos. – Minha irmã vai me levar à loucura um dia desses. Obrigado por avisar, Isabella. Falarei com Alice sobre isso. Talvez seja algo bom que ela tenha companhia masculina, afinal.

Refleti sobre isso. Jasper era um rapaz alto e bonito, sendo irmão gêmeo de Rosalie, os cabelos loiro-mel com corte de moda lhe deixavam sexy, os olhos eram duas piscinas que faziam as mulheres querem se despir e mergulhar, mas não tinha nada de assustador que faria alguém pensar duas vezes antes de abordar na rua para um assalto ou, como sugeriam as cartas, um sequestro.

—Sinceramente, Edward, não tenho tanta certeza sobre essa parte – argumentei.

—Eu sei – foi o que saiu dele depois de expelir o ar com aspereza. – Bem, veremos o que poderá ser feito. Obrigado novamente, Swan, boa noite.

Concluí que estava sendo convidada a sair da casa sem nem uma segunda olhada. Simples assim. É o que ganho sendo “fofoqueira” e é por isso que não devia estar falando sobre os segredos alheios. Contudo acreditei que valeria a importância, já que ele estava compartilhando sua preocupação comigo.

Dei de ombros, estapeei seu joelho enquanto levantava e fiz meu caminho até a entrada sozinha. Fiz questão de bater a porta atrás de mim antes de seguir para minha casa e me preparar psicologicamente para o dia seguinte. Algo me dizia que eu não gostaria nada daquela segunda-feira.

Afinal, eu estava certa.

Comecei meu dia muito bem, exceto porque as paranoias de Edward estavam começando a me deixar paranoica também. Olhei para minhas costas várias vezes enquanto fazia meu caminho até a empresa pela madrugada. É claro que não havia mais ninguém nas ruas. Digo, ninguém suspeito, apenas trabalhadores como eu. Quase bati em postes e placas por causa disso, também quase caí algumas vezes porque precisava parar a bicicleta para poder olhar para trás. Foi incrivelmente ridículo, se posso afirmar.

As coisas no setor, pelo menos, estavam controláveis até ser chamada por Rosalie com uma carranca para encontrar com nosso chefe na sala dele. Questionei sobre o assunto e sobre o que havia de errado com ela, já que não parecia feliz enquanto fazíamos nosso caminho para o escritório.

—Nada de muito importante, Bella – resmungou. – Apenas parece que meu namorado não confia em mim o suficiente para responder com a verdade sobre o que ele fazia na casa da minha tia ontem.

—Ah, bem, eu acho que ele só foi perguntar sobre o relacionamento de vocês.

—Oh, belo relacionamento! – exclamou irritada. – Do jeito que as coisas estão, não haverá relacionamento nenhum! Eu sou a namorada, eu quem deveria ser consultada! Na verdade, como você acabou sabendo?

Olhei para o chão e minhas bochechas coraram.

—Passei o domingo na casa de Esme – murmurei. – Emmett passou por lá e perguntou se nós achávamos que você está pronta para dar um passo adiante na relação.

Como é?— guinchou. – Ele por acaso disse por que não foi direto para a casa da minha mãe? Quer dizer, eu estive conversando com minha mãe por meses esperando esse paspalho me pedir para oficializar isso e o homem vai na casa da minha tia?

Encolhi os ombros.

—Vai ver, o grandão achou que você falasse dessas coisas com a sua prima.

—Bem, eu falo, mas não é como se minha mãe também não soubesse!

—Rose, entre a sua mãe e a Alice, eu ainda prefiro falar com a Alice – revirei os olhos. – Pelo menos, a sua prima pode dar uns conselhos mais sinceros do que a sua mãe. Por exemplo, ela perguntou o que Emmett estava esperando tanto para pedir a sua mão. E acabamos descobrindo. Acho que não faltará muito tempo para que você tenha uma bela joia no seu anelar, sinceramente.

A loira deu de ombros e acabou por escoltar-me até a sala do chefe. Deu duas batidas breves na porta e entreabriu para olhar para dentro.

—Tenho Bella à espera, senhor – sua voz soou profissional demais para uma reunião com o namorado e o primo. – Posso permitir que entre?

—Claro, Rose, chame Isabella – a voz do Cullen soou indiferente.

Empurrando ainda mais a porta, Rosalie fez mesura para que eu entrasse... e piscou para mim com um sorriso de lado antes de fechar a porta pelo lado de fora e deixar-me lá dentro. Percebi que estava rodeada de dois homens corpulentos enquanto Edward permanecia sentado em sua cadeira e Emmett à sua frente com papeis nas mãos.

—Sente-se, senhorita Swan – gesticulou Edward. – Emmett e eu estamos resolvendo sobre a segurança de nossas garotas.

Franzi o cenho e hesitei um pouco antes de me sentar. Meu chefe fitou-me com a sobrancelha arqueada e a boca em uma linha rígida, inquirindo-me a desobedecê-lo.

—Não posso me demorar, senhor Cullen – expliquei ao arrastar a cadeira ao lado de Emmett. – Deixei Angela sozinha na produção e estamos no começo da semana. – Então me virei para o grandão sentado ao meu lado: – Olá, senhor McCarthy, como tem passado?

—Bella! – gritou Emmett animado.

E lá se foi o profissionalismo que Edward e Rosalie construíram. Principalmente porque o chefe da segurança se levantou da cadeira, jogando os papeis de qualquer jeito na mesa e me pegando para um abraço de urso.

—Deixe-a respirar, seu imbecil! – rosnou meu chefe batendo a mão no tampo da mesa. – Não chamei Isabella aqui para que você pudesse quebrar a moça ao meio!

Rindo e revirando os olhos, Emmett voltou a se sentar e pegar os papeis.

—Os casos aqui são complicados, meu amigo – e lá estava o segurança habilidoso novamente. Porte rígido e seriedade. Emmett devia ter um botão de liga e desliga. – Quem quer que esteja por trás dessas ameaças, sabe bem quem quer e quais os riscos que corre. Já descobrimos qual delas é?

—Não – suspirou meu chefe. – Seria tudo mais fácil se seus homens pudessem conter uma senhora de idade avançada e uma menina de um metro e meio de altura – crispou olhando feio para os homens atrás de nós.

—Calma lá! – interrompeu Emmett. – A sua mãe não tem nem 50 anos e a Alice é um demônio! Elas estavam muito bem armadas e ninguém sabe quais outros poderes aquele filhote herdou do capeta.

Edward bufou recostando-se na cadeira e cruzando os braços. Um riso saiu de mim quando me lembrei da situação mencionada.

[...]

Estávamos andando pelo shopping quando Alice se aproximou de mim para sussurrar que tinha dois homens suspeitos nos seguindo.

—Você deve estar ficando maluca, Allie – revirei os olhos depois de verificar.

—Não estou, não! – insistiu e puxou a mãe para perto também. – Estão vendo aqueles dois homens ali? Olhando aquela loja de brinquedos e aquela outra de artigos esportivos? Eles estavam atrás de nós nas últimas duas lojas que fomos.

Realmente, havia um homem corpulento na vitrine da loja infantil e outro perto da entrada da outra loja. Pareciam homens normais para mim. Jeans escuros, camisetas e jaquetas pretas.

—Oras, filha! – desdenhou Esme. – Nem olhando para nossa direção eles estão!

Um pouco irritada, Alice marchou para a próxima loja de sapatos, pediu alguns scarpins e sandálias de salto agulha para experimentar. Com os sapatos nas mãos, apontou discretamente para a dupla que entrava ali. Os suspeitos de Alice.

Esme respirou fundo antes de provar alguns modelos de salto ela mesma. Aparentemente, um evento estaria próximo e elas não tinham sapatos.

Bem, não era de se desconfiar disso, já que ambas tinham muitos eventos beneficentes para promover e participar, além de viagens para outros países. Vida de socialite, de acordo com Alice. Depois dos pares de sapatos comprados, voltamos aos corredores para seguir até a praça de alimentação.

Não foi até Esme apontar para nossa imagem refletida que o caos se fez. Realmente, os suspeitos estavam olhando em nossa direção e caminhando com cautela conosco. Escolhemos uma mesa próxima à saída e esperamos que os dois se aproximassem. Alice rapidamente pegou um par de sapato nas mãos e Esme pegou o outro, deixando suas sacolas próximas a mim enquanto corriam ao ataque dos homens.

Foi engraçada a maneira com que as duas mulheres atacaram os brutamontes com sapatos de salto. Todos rimos e houve um pequeno alvoroço até que os seguranças do local conseguissem segurar as atacantes e mandassem os homens se retirarem.

—Acalme-se, senhorita! – insistiu o segurança ainda contendo Alice.

—Como me pede calma se aquele imbecil estava atrás de mim? – gritava a baixinha, se debatendo nos braços do homem. – Se ele tivesse me machucado, ou à minha mãe, ou à minha amiga, eu processaria vocês todos!

—Alice – chamei. – Você já colocou todos para correr, já pode voltar a ser uma dama.

—Totalmente fodido que posso! – grasnou. – Mas vou acabar com os desgraçados primeiro.

—Mary Alice Cullen! – ralhou sua mãe. – Já chega! Você é a minha princesa e deve se policiar com o linguajar! Já conversamos sobre seus acessos em público!

Então a baixinha pareceu voltar a si; parou de se debater e respirou fundo algumas vezes antes de pedir para que a soltassem com calma e classe. De repente, fazer compras não era tão interessante quanto voltar para casa e rir da situação com o restante da família.

[...]

—O que é tão engraçado, Swan? – a voz irritadiça de Edward me alcançou.

Ri por um momento e olhei por sobre o ombro, soltando mais algumas risadinhas.

—Não consegui reconhecer seus amigos de terno e gravata, Emmett. Acho que teria me lembrado melhor se suas feições se estivessem tingidas de medo.

Os homens tiveram a decência de corar e olhar para baixo enquanto Emmett ria estrondosamente. O sorriso de Edward foi mascarado milésimos de segundo depois que voltei a olhar para ele.

—Para que me chamou dessa vez, Edward?

—Queremos que ajude na segurança de minha família, obviamente – ele voltou ao modo profissional, se ajeitando na cadeira. – Já deixamos claro que minhas adoradas mulheres não gostam de serem seguidas, mas precisamos de alguém para elas. Consegue conversar com Alice, Rose e Esme sem revelar minha condição?

Eu ri.

—Claro que não! Qual a desculpa que eu daria a elas? Que você criou um cérebro e descobriu que é rico demais para andar sem seguranças?

—Bem, ela tem um bom argumento. Rosalie já está me enchendo a paciência sobre o tanto que vou na casa da sua mãe, posso falar com ela, ao menos? – praticamente implorou Emmett.

—Não – respondeu sério. – Se Rosalie souber, Alice e minha mãe saberão. Eu quero que elas continuem suas vidas sem precisar ficar olhando por sobre o ombro a cada segundo. Isabella disse que seu pai é chefe de polícia, acredito que saiba atirar e defender-se num combate corporal, estou certo? – inquiriu e eu assenti. – Ótimo. Você vai sair com minha irmã sempre, a partir de agora. Conversarei com meu pai e encontraremos alguém capaz para minha mãe. Emmett, você faz a segurança de Rose ao máximo e, por favor, ensine-a a se defender também.

Suspirei. Esse não era o melhor método. Todos na sala sabiam disso, mas pelo jeito ninguém seria cara de pau de dizer isso ao Edward. Então eu teria que comprar briga novamente.

—Você está ficando louco – conjecturei. – Edward, eu sei que as ameaças estão estranhas...

—Estranhas? – guinchou ele. – Essa merda está fodendo com a minha calma! Rosalie trouxe mais uma essa manhã e sabe o que tinha? Uma foto de vocês andando calmamente pela cantina da empresa. Que porra, Isabella! Tem gente aqui dentro que quer foder com a vida da minha família!

Baixa a bola, Cullen!— ordenei batendo na mesa. – Eu sei que as coisas estão saindo de controle, mas essas suas medidas estão muito erradas! Qual é o problema de elas saberem sobre isso e deixarem que alguém competente faça a retaguarda? Eu não sou treinada para levar tiro, sabia? Se Alice quisesse, ela me derrubaria com um chute... ou quase isso. Sinceramente? Estou pensando em lançar mais alguns currículos por aí. Você me mandando sair com sua irmã como se eu fosse um cachorrinho já está me enchendo. Eu amo a Alice, a Rose e a tia Esme, mas isso está fora dos limites!

Ele passou a mão pelos cabelos várias vezes antes de focar nos homens parados atrás de nós.

—Por favor, fiquem lá fora. Emmett, vá falar com a guarita da empresa e veja se alguma câmera captou alguém tirando fotos das meninas. Deixem-me conversar com Isabella sozinho.

Assim, estávamos a sós no escritório. Edward esperou um minuto inteiro antes de fitar-me.

—Perdão, Isabella – murmurou. – Estou me excedendo, eu sei. Eu só... – respirou fundo e passou a mão novamente pelo cabelo. – Apenas me perdoe. Preciso contar a elas, mas não sei como reagirão. Se for como você diz, talvez não seja nada. Isso realmente está me assustando e aqueles malditos querem que eu faça algo que não tenho a mínima vontade de fazer.

Segurei uma de suas mãos entre as minhas, sentindo uma onda de compaixão pelo homem que parecia perdido à minha frente. Minha voz saiu calma e confiante quando perguntei:

—O que eles querem, Edward? Talvez consigamos achar uma alternativa.

Um breve sorriso apontou em seu rosto e sua outra mão cobriu as minhas.

—Não há alternativa a ser encontrada. Eles querem que eu continue a ser aquele homem que sai com todas e gaste mais do que o necessário. Eu não sou mais assim, Isabella.

Bufei e retirei minhas mãos dali, colocando-as em meu colo. Ah, sei. Não é mais o pegador. Sim, conte-me algo convincente. Uma risada forçada saiu dele.

—Imagino o que está pensando e você está certa. Eu ainda saio com as meninas, mas não é com a mesma frequência e tenho evitado algumas porque já não são tudo aquilo para mim. Acredite.

—Certo.

—Aparentemente, tem uma em particular que se sente ofendida de ser deixada de lado pelas mulheres da minha vida. Se eu apenas soubesse quem é...!

—Você a demitiria – entoei. – Você acabaria com a vida da tal mulher porque ela se apaixonou por você e daria todo o motivo do mundo para que ela arruinasse a vida das minhas amigas. Meus parabéns! Esse pensamento é bem burro mesmo!

—O que você faria, Swan? – instigou. – Se estivessem ameaçando alguém que você ama e você tivesse o poder de afastar as pessoas da sua vida. Diga-me que não demitiria alguém assim.

—Talvez – respondi e vaguei meus olhos para a parede de rosas. – Sua casa é bastante bonita, Edward. Tia Esme fez um ótimo trabalho aqui.

—Mudando de assunto, moça? – questionou depois de bufar. – Qual é a outra alternativa para alguém que ameaça alguém que você ama e que você tem o poder de destruir?

—Boletim de Ocorrência. Deixe que a polícia saiba que você está sendo ameaçado.

—Próxima ideia – revirou os olhos. – Eles foram os primeiros a saber. A princípio, temos um monte de envelopes com as digitais da Rose e minhas, obviamente, e cartas irônicas sobre sequestro.

—Deixe que elas andem com spray de pimenta e armas de choque – dei de ombros. – Eu não sei, Edward. Se essas pessoas forem treinadas, nem eu, nem segurança, nem sequer um cofre suspenso poderia impedi-las de cumprir seus intentos.

—Está bem - suspirou por fim, voltando a ser irritante. – Falarei com minha família assim que achar pertinente. Agora, volte ao trabalho porque não estou pagando seu salário para ficar de fofoca com os funcionários. Nem os meus, nem os de Emmett. Direto para a liberação; eu estarei de olho.

Mostrei o dedo médio para ele enquanto fazia meu caminho até a porta. Que imbecil! Ele me chama e depois vem me cobrar demora! Só para irritar meu chefe, parei ao lado de Rosalie para perguntar se o namorado tinha conversado alguma coisa com ela. Antes que pudesse me responder, seu telefone tocou. Ri quando ela o atendeu olhando para mim.

—Não enche, Edward – reclamou ela. – Já vou pedir seu almoço e logo terei minha folga para desfrutar da Bella um pouco mais.

Ri e soprei um beijo para ela, voltando a caminhar. Pude ver seus lábios se movendo para deixar-me saber que estaria na liberação em breve e assenti.

Voltei para o setor e encontrei Angela ensinando um dos seguranças de Emmett a fazer nosso serviço. Era uma moça legal e pelo jeito Edward estava pensando em efetivá-la nesse setor.

A jovem era bonita, seu porte esguio e sem muitas curvas. Os cabelos castanho escuros tinham um corte médio que ela prendia num rabo de cavalo com cachos abertos nas pontas. Os olhos quase negros contrastavam com a pele em tom de café com leite.

Assim que ficamos sozinhas, colocou-me por dentro de alguns fatos da empresa que, em anos, eu não fazia ideia. Como, por exemplo, a ordem de funcionárias do Cullen.

Boatos diziam que Edward possuía uma lista com todas as contratadas em um caderninho administrado pela Rosalie. Uma vez por semana, ele ia até a secretária e pedia o nome da vez. A garota seria acompanhante dele em jantares e festas da semana toda, quem sabe, até conseguiria esquentar a cama dele, mas ele sempre deixava claro que era sem compromisso, que quando ele dissesse acabou era acabou e se insistissem, acabavam na rua.

—Muitas meninas da produção já foram descartadas por ele.

—Ele não tem justificativa alguma para tal feitio! - reclamei ultrajada.

—Na verdade, tem sim – Angela parou o que estava fazendo por alguns segundos e declarou: - ele consegue “dar folga” para elas durante a semana toda. Se elas colaborarem, voltam com o dinheiro da produção 100% naquela semana, se incomodarem, ele dá justa causa.

—Por elas terem faltado sem atestado – murmurei. – Canalha!

—Edward só faz com as que deixam, Isabella, ele não coage ninguém a fazer o que não quer.

—Você já esteve com ele? – perguntei de repente.

—Saí em uma festa, apenas – deu de ombros. – Ele precisava de acompanhante e eu estava disponível. Ele colocou as cartas dele na mesa, e eu as minhas. No fim, nos divertimos bastante contando coisas bobas numa praça, comendo sorvete. Ele é um bom amigo... quando quer.

Olhei o jeito que falava de nosso patrão e imaginei que tivesse uma possível paixão por ele. Não sei o porquê, todavia, meu interior se agitou um pouco com essa possibilidade. Sem perceber, fui deixando Angela e o trabalho em terceiro plano, Edward e sua canalhice em segundo e, imaginei-me sendo a acompanhante de Edward. O que faríamos quando, e se, a minha vez chegasse?

Talvez apenas saíssemos para um bar, ou um restaurante, para jantar. Talvez passeássemos no parque e eu teria acesso a todas as guloseimas que quisesse. Ou faríamos como no último sábado e compartilharíamos alguns segredos; eu duvidava que qualquer outra sabia tanto da vida dele quanto eu. Provavelmente nos juntaríamos com Alice, Rosalie, Emmett e Jasper para um piquenique. Ou poderíamos viajar para Moçambique para ver sobre o instituto.

—Se continuar sonhando acordada, não vou efetivar a Weber aqui! – a voz rouca e irritante soou zombeteira bem perto do meu ouvido.

Levei um susto tão grande que acabei dando um pulo para trás e pisando em seu pé.

—Tome mais cuidado, Swan! – esbravejou ele, segurando meus ombros e se afastando.

—Quantas vezes eu já disse para parar de me dar sustos? - bati com toda a minha força em seu tórax. – Eu sempre acabo me machucando, Cullen! E você, seu idiota! A culpa é sua!

Edward, não entendendo nada, olhou para Angela e ergueu uma sobrancelha, dando um mínimo sorriso, que ela retribuiu com uma risadinha baixa, balançando a cabeça e voltando ao serviço. Ele caminhou até o lado dela e foi ajudá-la com a ordem que pegara. Tão perto dela... que merda é essa, Isabella?! Que merda você está pensando?!

—Volte ao trabalho, Swan – ele falou por sobre o ombro.

—Ela está precisando de férias, senhor – Angela falou baixinho. – Há quanto tempo ela não tira férias para que as outras possam ter o que fazer lá embaixo?

Incrivelmente, Edward apenas soltou um suspiro infeliz e, sem se despedir ou responder, saiu do setor. Como se nunca tivesse vindo até aqui.

—Minha impressão ou algo de errado aconteceu? – ela deu uma olhada de soslaio para mim.

—Ele só está meio cansado – dei de ombros. – Aparentemente, ele acha que pode cuidar da vida de todo mundo sem ajuda... ou pior, com a minha ajuda – emendei quando recordei a ordem sobre ser guarda-costas da Alice.

—Homens – bufou Angela sem se dispersar do serviço. – Acham que são de ferro. Benjamin é assim também. Foi complicado fazê-lo perceber que não pode carregar o mundo nas costas.

Nossa porta foi aberta novamente e Alice e Rose apareceram com sorrisos enormes.

—Quem quer carregar o mundo nas costas? – questionou a baixinha.

—Só pode ser um dos homens da nossa família, Allie – Rose revirou os olhos. – Pelo que pude perceber, Edward está recrutando meu homem e meu irmão para fazer guarda nas nossas bundas.

Arregalei os olhos para as palavras de Rosalie. Jasper estava na empresa? Meus olhos correram para o rosto de Alice e percebi o rubor e brilho nos olhos. Oh, merda. Ela estava sendo encorajada. O próprio primo faria a “proteção” dela... isso não prestaria. Posso dizer desde já.

—Só estamos esperando quem será o responsável por tia Esme e mamãe – reclamou a loira fitando as unhas. – Se as coisas estiverem mesmo feias, talvez sejamos obrigadas a tirar férias antes do tempo. Posso pedir ao Emmett para nos casarmos no início dessa loucura e aproveitar a lua de mel, afinal. Talvez chamar Jasper e você para serem padrinhos num casamento nas Maldivas.

—Não é como se a sua vida não esteja sendo uma grande lua de mel, é, Rose? – retrucou Alice.

O sorriso da loira cresceu e ela nos olhou com malícia, arrancando risadas de nós todas. Angela tocou meu braço em um gesto que dizia que eu estava liberada para minha breve folga.

—Traremos alguma coisa para você comer, Angie – prometeu Alice. – Eu nunca contaria isso ao RH, já que é restritamente proibido comer nos setores da empresa. Quem aqui contaria à líder do RH, no entanto? – ela riu de sua própria piada.

—Obrigada, Alice, se a mulher ficar no meu pé, vou pedir que vá me relatar à secretária do chefe, certo? – brincou Angela.

—Me deixem fora dessa, suas loucas! – queixou-se a mais alta. – Vamos logo, antes que Edward venha reclamar que estivemos monopolizando o setor e impedindo a empresa de lucrar.

Com essas palavras e um dedo do meio mostrado para a câmera mais próxima, Rose fez seu caminho até a porta. Sem muito o que fazer, Alice e eu seguimos nossa rebelde até a cantina.

—Já voltou a procurar o seu homem, Bella? – questionou Alice assim que nos sentamos.

—Ainda não encontrei tempo, Allie. Seu irmão tem me dado um mar de serviço que assim que chego em casa, a única coisa que quero fazer é deitar e dormir.

—Como se você tivesse muitas coisas para fazer, não é, Isabella? – a voz divertida de Edward me alcançou antes dele se sentar ao lado da prima. – Meninas, como vocês estão hoje?

Rosalie revirou os olhos e virou a cara para ele, Alice sorriu abertamente e eu fingi que não era comigo, já que ele tem sido um babaca quando estou sendo legal.

—Estava aqui falando para Bella que ela precisa encontrar alguém para ela.

—Ah, sim. Tentei fazer com que saísse com alguns colegas, mas nossa querida Isabella parece gostar do celibato mais do que a maioria – caçoou Edward.

—Talvez ela tenha algo melhor do que seus amigos de pau pequeno para encontrar, meu bem – zombou Rosalie com acidez.

A risada do primo ecoou pelo ambiente.

—Já pedi desculpas por ontem, Rosie. Não pode ficar de mal comigo quando foi seu namorado quem mentiu para fugir até a casa da minha mãe.

Um rosnado saiu de Rosalie e seus punhos fechados alcançaram o torso do Cullen enquanto ela reclamava que ele era o culpado por Emmett ter que trabalhar aos domingos e feriados, sim, e ela não tinha tempo suficiente para manter a relação saudável. Alice e eu apenas ficamos rindo da maneira como Edward se encolhia na cadeira e recebia cada soco com poucas lamúrias.

—Está bem! – gritou o Cullen. – Já falei com ele sobre essas escapadelas e está combinado que o trabalho do seu namorado é colar em você o máximo possível. Dei até carta branca para que ele tirasse a sua virgindade, se isso...

Contudo, as gargalhadas de nós três interromperam a frase dele. Rosalie até parou de bater no primo para segurar a barriga. Fui obrigada a limpar as lágrimas que saíam de meus olhos de tanto rir. O quanto era incrível que Edward achasse que a prima de 26 anos, que tinha o namorado praticamente morando com ela, ainda fosse virgem?

—Oh, maninho, como você é fofo! – brincou Alice, apertando a bochecha do irmão. – Acha mesmo que Emmett e Rose já não passaram essa base faz tempo? Acho que a única com pouca experiência aqui é a Bella mesmo! Porque eu...

—Eu não quero ouvir sobre a sua vida sexual, Allie! – gritou cobrindo os ouvidos com as mãos. – Você sempre será virgem e ingênua para mim! Não quero saber se é ou não!

Outra onda de gargalhadas passou por nós e todas as funcionárias da cozinha por causa da reação do patrão. Percebendo o constrangimento que estava passando, Edward se levantou e saiu da área de alimentação sem uma palavra a mais.

—Só quero ver a reação dele quando Jasper e eu nos mudarmos para um apartamento só nosso.

—Ah, grave isso! – pediu Rose. – Eu preciso ver isso! Várias vezes! Na verdade, podemos transformar em um vídeo cômico caseiro para passar quando ele se casar. Por favor, precisamos disso!

Eu ri. Tanto da possível reação de Edward quanto da impossibilidade que era ele se casar.

—Você está bem com essa loucura da sua prima com o seu irmão? – perguntei para Rose. – Quer dizer, isso não é estranho, já que vocês cresceram todos juntos?

—Qual é – a loira riu. – Não é como se eu nunca tivesse visto que meu irmão comia Alice com os olhos desde os 13 anos. Aquele vadio é fissurado na Allie desde que ela chegou na família! Aposto que ninguém se importaria se encontrassem esses dois aos beijos no sofá de casa... quer dizer, ninguém exceto o palerma que acabou de sair.

—Bella acha que isso vai acabar com a família – Alice revirou os olhos.

—Então, fofinha, até vai criar uma imagem bem estranha nos tabloides, mas não é como se nunca tivéssemos acobertado alguma coisa – explicou a loira. – Quer dizer, pelo menos não é como a última notícia lançada pelo senhor Carter, não?

Alice bufou e mudou de assunto. Quando ficou claro que eu estava por fora dos acontecimentos, ela prometeu que me contaria no sábado logo depois do serviço. Deixei essa passar, já que esperava esclarecer sobre o instituto e sobre a tal lista naquele final de semana, não importava o que Edward dizia sobre esperar e essas coisas. Meu único problema era que Alice apenas queria passar o sábado comigo para me ajudar a encontrar Thony. Eu tinha que falar a verdade sobre nossa separação em breve, já que sempre falei da minha infância a partir de Forks.


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Notas finais do capítulo

E então, o que acharam??



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