Ocean Motion escrita por Camí Sander


Capítulo 5
Capítulo 4 - Instituto Elizabeth


Notas iniciais do capítulo

Demorei, não? Eu sei, também acho que sim. Caso é que deixei minha mãe ser feliz e assistir toda a Betty em NY pela Netflix e meu irmão assistir cinquenta vezes os filmes do Luccas Neto e do Carrossel. Então, sim, eu demorei porque estou passando a quarentena na casa da mãe. Espero que gostem um pouquinho desse capítulo. Demorou, não ficou do jeito que eu esperava, mas acho que já não tenho mais o controle da fic.



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Instituto Elizabeth

—O que está fazendo, Swan? – Edward interrompe meu devaneio ao marchar para dentro do setor. – Por que foi reclamar com a minha mãe sobre a contratação de novos empregados?

—Não te interessa! Eu estava na casa da minha amiga e desabafei. A culpa não é minha se ela é sua mãe e foi cobrar de você o que devia ser trabalho seu!

Ele andou nervoso de um lado para o outro, mexendo nos cabelos e respirando com dificuldade.

—Porra, ela é minha mãe! Não dava para ter reclamado com a Alice?

—Mudaria alguma coisa? A própria Alice teria te capado, seu tanso!

Então parou na minha frente, soltou o ar com aspereza, cerrou os punhos e fechou os olhos. Sorri. A cara da derrota. Perdeu, Cullen! Alice teria muito mais do que incomodado o irmão, se ela soubesse o que ele tem feito com as pessoas que vêm fazer os testes. Sendo líder do setor de Recursos Humanos, a baixinha deveria saber que o irmão não contrata ninguém porque não quer. Algumas pessoas já haviam passado no teste e o próprio Edward impediu de ficar aqui. Essa era a minha revolta... e essa era a reclamação da mãe dele.

—Alice teria me jogado da janela – resmungou. – Eu sei que estou sendo um filho da puta ao não contratar ninguém para esse setor, mas juro que não é pessoal. Os homens que você selecionou só faltavam tirar a tua roupa e te violentar em cima dessa mesma mesa e as mulheres... elas disseram que só queriam passar na empresa para ter relações comigo. Swan, elas são casadas.

—Posso entender seu medo com as mulheres, mas com os homens – neguei com a cabeça. – O problema seria todo meu, não é? Até porque, nenhum deles pareceu me despir com os olhos, como a vossa majestade disse. Edward, isso é ciúmes?

—De você? – ele riu. – Vá a merda. Volte ao trabalho e pare de fofocar com a minha mãe, porque não tenho mais quinze anos para ela mandar em mim!

E lá se foi a minha segunda-feira tranquila.

Assim que conseguimos acalmar a Alice no sábado, tia Esme convidou eu e Rosalie para dormir lá e fazer o que ela chamou de “final de semana das garotas”. Carlisle foi literalmente enxotado da própria casa para que os planos da esposa fossem realizados. Portanto, quando voltei para casa, na tarde de domingo, já possuía um repertório constrangedor de relacionamentos fracassados de Esme, Rose e Alice. Sendo que a primeira não quis contar sobre as decepções que ainda vivia com o marido porque “não pode reclamar de algo que suporto e até acho graça, não é?” e a última apoiou a ideia porque sabia que o pai não era tão terrível e todo relacionamento tinha seus altos e baixos. As mulheres também me incentivaram a procurar o homem que mentiu para mim sobre um reencontro.

Claro que não falei que meu único parceiro havia sido um garoto de 8 anos. Editei a história o suficiente para que as meninas acreditassem que fora algo mais recente.

[...]

 

—E então, Bella? – questionou Rose, sentada na cama de Alice com uma almofada no colo. – Qual foi sua maior decepção amorosa?

Suspirei.

Elas tinham contado sobre homens realmente babacas e como conseguiram se livrar de cada um. Eu não tivera nenhuma dessas experiências. Beijei alguns meninos na adolescência, mas não consegui achar a magia que todos pareciam ter quando esfregavam as línguas. Minha única decepção amorosa havia sido Thony.

—Eu não...

—Ah, não! – interrompeu a baixinha com certa irritação. – Eu não acredito que você seja tão puritana, Isabella! Estamos aqui, falando sobre como homens podem ser imbecis em termos de quebrar nossos corações e você vai dizer que nunca nem mesmo beijou um cara?

—É óbvio que já, Alice! Só não sei se vale a pena contar aquilo como amoroso! Foi nojento!

Com o comentário, Esme riu.

—Parece que encontrei uma mocinha não satisfeita com meu filho.

—O quê? – guinchei de olhos arregalados. – Edward e eu nunca... não! Eca, Esme! Com todo o respeito, mas o seu filho é um dos homens que eu nunca olharia dessa maneira! Ugh! Eu amo vocês, mas só de lembrar que você e o tio Carlisle soltaram aquele cara no mundo, já tenho vontade de nunca mais olhar nas suas caras!

Meu desespero causou risada nas três e Rose jogou a almofada que segurava em minha face.

—Conta logo, Swan! Temos que xingar mais um pouco da testosterona e você é a única que não deu base, apenas ajudou a colocar fogo!

—Ok, teve um cara... é a minha única decepção. Na verdade, acho que nem posso chamar de amorosa também, porque eu não entendia muito do assunto na época.

—Para de enrolar, garota! – agora foi Alice quem tacou uma almofada em mim.

—Éramos jovens demais, eu acho – ignorei minha amiga e fiquei brincando com uma ponta da almofada que eu mesma segurava. – Tive que me separar dele porque houve um problema de família e eu não podia me manter. Como eu disse, jovens demais. Na despedida, ele prometeu que iria atrás de mim assim que fosse possível, mas não foi. Quando consegui voltar para visitá-lo, a senhora que atendeu disse que tinha comprado a casa e não sabia dizer onde estavam os antigos donos.

Não percebi os olhares delas, mas o silêncio que se fez foi o suficiente para pesar ainda mais o ambiente. Senti braços ao meu redor. Alice. Olhei para cima e percebi Rose de cabeça baixa enquanto Esme passava uma mão em minha cabeça e a outra acariciava o braço da loira.

—Vai ver, acabaram se desencontrando pelo caminho – sussurrou Alice. – Vai ver, ele estava te procurando bem quando você saiu.

—Não, Allie – funguei. Eu me recusava a chorar de novo por aquele assunto. – A senhora disse que eles saíram logo depois de nós e demoramos bons três anos para voltar. Se ele tivesse mesmo me procurado, teria me encontrado muito antes.

—Então vamos procurá-lo – sugeriu Rose, já refeita. – Vamos encontrar esse cara e mostrar que ele perdeu a melhor garota que ele poderia ter ao lado só porque foi um canalha!

Sorri para ela e prometi que procuraria de novo.

 

[...]

 

Depois do surto do Cullen, decidi que não valia a pena ficar tentando consertar uma boa convivência com ele, porque se Edward estava se sentindo culpado, o problema era todo dele e, consequentemente, ele quem deveria me procurar.

O dia seguinte foi relativamente calmo. Edward mandou uma garota para me ajudar rapidamente no turno da manhã e, por incrível que pareça, ela não era chata como as outras. Tive que mandar uma cartinha ao patrão dizendo que poderia efetivar a menina ali. Ela sabia o que estava fazendo e parecia interessada em aprender ainda mais.

Edward não me deu resposta, apenas falou para a garota passar por ali sempre que estivesse com pouco serviço no setor dela. Na verdade, ele nem me olhou direito, começou a evitar o próprio apartamento. Quando passava de carro, eu o via com uma das funcionárias no carona. Cada semana era uma. Sempre que elas notavam minha pessoa, soltavam sorrisinhos cínicos e acenavam. Eu acenava de volta, tentando entender o que elas viam de interessante em ser brinquedo do chefe, porque regalia dentro da empresa mesmo elas não ganhavam.

...

Eu estava feliz pelo fato de que a sexta-feira estava acabando e meu chefe não viera me incomodar uma vez sequer. O que era um prêmio para fechar a semana, portanto nem estava incomodada de ter várias revisões paradas.

—Swan, essa noite terei um jantar de negócios e gostaria que me acompanhasse – Edward chegou já falando.

Virei-me atônita para encará-lo, chocada. Como assim? Onde estavam as funcionárias adoradas dele? Minhas mãos agarraram-se à mesa atrás de mim enquanto minha boca se abria para falar, mesmo que eu não soubesse o que dizer.

Edward parou na minha frente e ficou estudando cada reação que eu dava. Seus dentes acabavam com um canto de sua boca e suas mãos entrelaçavam-se em movimentos repetitivos, em um claro sinal de nervosismo. Por fim, depois de um minuto inteiro esperando que eu falasse, ele ergueu a sobrancelha.

—E então? O que me diz?

—Não – foi o que saiu de mim.

Agora éramos dois chocados. Eu pela proposta dele e ele pela minha resposta. Suas sobrancelhas se ergueram e suas mãos pararam de imediato. Até podia imaginar como seu cérebro estava trabalhando, digerindo o primeiro "não" de sua longa lista.

—Respondendo à futura pergunta, eu não quero sair com você por vários motivos – antecipei-me. - Primeiro porque seria uma completa farsa de afeição. Depois teria todos os implícitos que Alice veria e espalharia por aí. Então, amanhã seria nosso dia de sermos legais um com o outro e isso não seria possível porque teríamos a consciência de ter acontecido algo na noite anterior. Além do mais, seus sócios merecem melhor companhia do que qualquer uma da empresa. Você precisa arranjar uma mulher de verdade, Cullen. Uma para exibir para os sócios e ter orgulho de dizer que ela é sua mulher. Você precisa de alguém que te faça relaxar depois de um dia inteiro de estresse e ainda te faça um cafuné quando precisar. Você merece alguém que vá te dizer o quão babaca está sendo naquele momento. E alguém que vá te receber com um sorriso enorme quando ouvir seu carro parar na garagem ou estar entrando na rua. Só não venha me dizer que essa mulher é sua mãe, ou eu mesma te chuto para fora do setor.

—Eu fiz de tudo para encontrá-la – confessou olhando para os pés. - Mas creio que ela não irá me receber bem.

Aquilo me pegou de surpresa. Ele havia encontrado a mulher dos sonhos e, mesmo assim, continuou com saindo com todas as garotas da empresa?! Nesse momento, percebi o quanto ele era inseguro. Tanto quanto um garotinho. Segurei sua mão e esperei ele olhar para mim.

—Convide-a em meu lugar. Ela aceitará, se você não for um babaca-galinha enquanto faz o convite – sorri-lhe, incentivando.

—Tudo bem – ele sorriu de volta. - Vai precisar de carona?

—Não, tenho minha bicicleta, não se preocupe comigo agora, vá lá! - e comecei a empurrá-lo para a porta novamente. - Não se esqueça de ser gentil, brutamontes.

Ele riu e deixou-se levar. Até acenou quando saiu. Depois dessa visita, acabei desconcentrando-me e fiquei sem cabeça para terminar o que estava fazendo. Então guardei tudo e limpei o setor para voltar para casa.

O sol não estava muito forte, portanto, minha ida até em casa foi agradável. Lá, fiz o de sempre e, quando estava prestes a deitar no sofá, a campainha toca. Edward – suspirei. Meu interior se agitou com a possibilidade de ele ter conseguido. Eu só não conseguiria classificar essa agitação em boa ou ruim. Corri para abrir a porta e saber direto dele. Porém, assim que o fiz, vi seu rosto cabisbaixo e infeliz. Oh, droga, ela havia recusado. Abracei-o num ímpeto e o puxei para entrar.

—Bella – chamou baixinho, enquanto andávamos até o sofá. - Você está de calcinha de novo. Vai colocar uma calça, vai. Eu te espero.

Arregalei os olhos e larguei-o imediatamente, correndo para dentro do meu quarto e colocando uma calça de moletom azul-marinho. Ao voltar para a sala, ele estava jogado em meu sofá, zapeando pelos canais com o controle remoto.

—Acho que vou começar a te comprar calcinhas melhores – Edward comentou sem me olhar.

—Escuta aqui, Cullen, você não é ninguém para dizer que calcinhas devo ou não usar. E, para o seu finito conhecimento, saiba que calcinhas de algodão são melhores para a oxigenação das partes íntimas. Assim como cuecas e calças mais folgadas na região dos quadris. Isso pode te deixar estéril por muito tempo, sabia? - comentei jogando uma almofada em sua cabeça e cruzando os braços.

—Você repara nessa região do meu corpo, Swan? - ele olhou-me zombeteiro. - Não sabia que era tão depravada! Está carente? Quer uma aliviada?

—Edward, tua mãe não te deu educação, não?

—Deu, mas meu pai me ensinou a ser homem também!

—Saia já daqui, Cullen! A casa é minha e você está me ofendendo!

—Ofendendo por quê? - levantou-se e começou a caminhar para cima de mim. - Falei algo impróprio? Chamei-a de algum nome? Ou mesmo já tive algo com você? Swan, estás escondendo-me algo? Você está ficando vermelha, Isabella. O que está tentando esconder de mim? Sei que está, eu a conheço melhor do que você mesma! Conte-me, Swan! - exigiu assim que me encurralou contra a parede.

Seus olhos eram hipnotizantes e o rosto estava há centímetros do meu, o que dificultava tudo em meus sistemas corporais. Infelizmente, Edward era bonito e estava dando mole. Infelizmente porque ele fazia isso com todas as mulheres. Porém, eu não cairia nessa! Cheguei ainda mais perto dele, olhei-o bem nos olhos, aproximei nossos lábios ainda mais e...

—Você me enoja, Cullen – sussurrei sustentando nosso olhar.

Edward demorou alguns segundos para entender minhas palavras, mas suas mãos caíram ao lado do corpo e ele cambaleou dois passos para trás, piscando várias e várias vezes.

—Agora, saia da minha casa e não precisa fingir que é meu amigo porque é sábado, já jogamos isso hoje. Boa noite – e o conduzi para a porta, fechando-a em seguida.

Na manhã seguinte, Edward não estava me esperando, mas um bilhete colado em sua porta dizia que ele sentia muito e não estava disposto. Olhei para o papel, lembrei-me do estado que ficara meu setor e, rapidamente, arranquei a folha e bati na porta por um minuto inteiro.

—Que merda, que merda – ouvi a voz rouca de sono aproximando-se. - Já vou!

Só por implicância, continuei batendo até ouvir o clique da fechadura, aí então, baixei a mão e pus meu sorriso mais cínico.

—Bom dia, Cullen! - falei bem alto, já que ele tinha cara de quem estava com ressaca. - Pronto para mais um sábado cheio de revisão?

—Shhhhhh, cala a boca, Swan – ele murmurou, os olhos quase que não abriam. - Hoje eu não vou. Tenha um ótimo dia – e já ia fechando a porta.

—Calma lá! - empurrei a porta novamente e entrei, já sendo bem intrometida mesmo. - Você vai comigo sim! Acha que eu ficarei naquela empresa sozinha hoje? Acho que não, senhor Cullen. Então, vá se trocar que eu faço um café extra forte para você.

Ele resmungou mais alguma coisa, como eu parecer a Alice, ou algo assim, todavia fechou a porta e arrastou-se até o quarto. Enquanto isso, fui mais esperta e dei uma passada rápida em casa para pegar uma xícara do café que eu tinha preparado para mim. Sempre faço muito café, e sempre bebo tudo. Hoje seria por uma boa causa, essa doação.

O apartamento de Edward era neutro e chique – gente que tem dinheiro, mas não tem personalidade, vive em hotel caseiro. Era visível que tia Esme e Alice vieram dar os únicos toques pessoais dele. Principalmente pelos porta-retratos decorados, mas harmoniosos. Não foi difícil me encontrar na cozinha, era mais simples do que a de um mendigo, eu diria. Por isso, coloquei duas fatias de pão de sanduíche para torrar e abri a geladeira.

—Edward, o que você come na torrada? - gritei.

—Qualquer coisa – respondeu aos berros também.

Então peguei margarina, doce de leite, geleia de morango e pasta de amendoim. Aproveitei que estava com as fatias prontas, coloquei mais duas e passei uma camada de pasta em uma e geleia em outra. Edward apareceu ainda com a cara amarrada, em contraste com meu sorriso genuíno. Eu precisava admitir: ele sabe como se vestir.

—Bom dia – saudou enquanto sentava-se à mesa. - O que teremos?

—Café com torradas – anunciei enquanto levava a xícara e o prato com as duas torradas para ele. - Eu não sei o que colocar na torrada, então imaginei pegar uma com cada sabor.

—Tudo bem, só anote para próximas vezes que, não me importo qual seja o sabor, desde que ele não varie ou desde que eles combinem – ele olhou para as torradas e sorriu. - Combinaram.

Ele devorou tudo sem nem perguntar sobre minha refeição. Pelo jeito como sorveu até a última gota da xícara, o café estava bom também. Logo levantou-se, colocou a louça na pia e parou perto de mim.

—Obrigado – disse e deu-me um beijo na testa, saindo em seguida.

No caminho para a Ocean, não conversamos muito, passamos na sala dele, como de costume, e fomos direto para o setor de liberação.

—Nunca entendi essa sua fixação por deixar as Ordens de revisão para o sábado! - reclamou ele ao ver que era só o que tinha para fazer ali.

—São necessários muitos minutos do meu dia, não tenho todo esse tempo durante a semana. Além do mais, você está me ajudando nos sábados. Não esqueça de que, durante a semana, estou sozinha para cobrir três turnos!

—Angela não têm vindo? - ele franziu o cenho enquanto escolhia uma camiseta de 200 peças.

—Sim, e ela é muito eficiente, mas não tem a mesma prática que eu tenho, nem certos conhecimentos. Não se esqueça que eu já tinha conhecimento prévio sobre roupas quando entrei. - ele abriu a boca para falar, todavia, interrompi sua linha de pensamentos. - Eu sei que ela era costureira de botão, só que isso não conta, já que ela apenas precisava conhecer onde os botões seriam pregados.

Bufando, ele percebeu que não havia razão para discutir o assunto, então colocou o serviço na mesa e passou a folheá-lo em busca de anomalias. Cerca de 30 minutos depois, eu já tinha revisado um conjunto de blusa e short enquanto Edward estava penando na camiseta. Parei para analisá-lo por alguns segundos e percebi seus olhos se fechando. Ri baixinho e fiz questão de jogar uma caixa no chão, fazendo barulho.

—Oi?! - ele assustou-se, correndo para o meu lado. - Você está machucada?

Com isso, eu ri alto, tombando a cabeça para trás e segurando a barriga. Depois de alguns segundos, ele compreendeu a situação, bufou e voltou a trabalhar de cara emburrada. Não consegui aguentar e continuei rindo enquanto retomava minha tarefa.

Aquele sábado foi bem calmo. Depois de fazer as revisões, deixamos as peças para serem talhadas na segunda-feira. Então, batemos o ponto, fomos até a sala dele pegar nossas coisas e uns papéis que Edward explicara como sendo de suma importância. Dei de ombros. Ao embarcar no carro, Edward deixou os tais papéis no painel. Mesmo que eu não quisesse saber, acabaria lendo o que estava escrito.

—Relatório do Instituto Elizabeth Cullen, Moçambique? - franzi o cenho. - Por que esse instituto tem seu sobrenome e por que é de outro país?

—Isso não interessa a você – respondeu ríspido. - E, por favor, não comente nada com ninguém sobre esses papéis. Eu lhe dou o que for necessário, só não comente com ninguém!

—Alice... - comecei.

—Nem mesmo com a Alice – rosnou e passou nossa entrada, acelerando. - Vamos comer alguma coisa. Eu pago.

Ele me levou a um Starbucks, pagou um cappuccino e um muffin para mim. Já para ele...

—Apenas café preto, puro e forte, por favor – foram suas palavras galanteadoras para a atendente, então voltou a carranca para mim. - Ainda curiosa, senhorita Swan?

Dei de ombros. Não era da minha conta. Ele podia falar ou não. Eu poderia saber do próprio ou de Alice, se realmente quisesse saber. O estranho era que minha curiosidade se aplicava somente à três perguntas. As duas primeiras ele não quisera responder, então, nem fiz a terceira: Por que ele pegara os papéis só no sábado se eram tão importantes?

Ele ficou olhando para a própria xícara enquanto eu tentava não pensar no assunto. Porém era algo que ficava na cabeça. Quem era Elizabeth? Edward era irmão de Alice e sua mãe se chamava Esme, então não havia quem na família se chamar Elizabeth. A não ser que Edward tivera uma esposa falecida ou até mesmo – meu peito doía só com a possibilidade de – uma filha.

Se eu não podia contar à Alice, era algo que só ele conhecia. Algo só dele. Ele confiara um segredo a mim e, somente, a mim. Eu sempre honrara segredos. E não seria dessa vez que acabaria com minha palavra. Nem se isso causasse minha tão sonhada demissão.

—Pronta? - perguntou ainda com os olhos na xícara, agora vazia, que ele movia distraído.

—Já podemos ir, senhor – respondi baixinho, envergonhada. - E, perdoe-me por ter sido intrometida. Não falarei sobre isso com ninguém, eu prometo.

—Vai querer a história? - ele me olhou sem levantar a cabeça.

—Não – e falei sério. - Você não quer contar. Eu não vou fuxicar com ninguém, não preciso dos seus segredos para guardar. Já tenho segredos demais da sua irmã e do pessoal da Ocean. sem contar os muitos segredos meus.

Endireitando-se, um sorriso torto brotou dos seus lábios e um tom de malícia cobriu seus olhos.

—Está tentando deixar-me curioso, Swan?

—Sinceramente? - ergui uma sobrancelha e sorri como ele. Então fechei a cara. - Não. Para a sua infelicidade, não era essa minha intenção.

Com minha visível falta de expectativa, ele ficou surpreso, olhando-me como se eu fosse uma alienígena. Limpei minha boca e minhas mãos no guardanapo e levantei-me, pegando minha bolsa e olhando para ele que ainda tinha aquela cara de tacho.

—Vamos, ou era só papo? - inclinei minha cabeça para o lado, olhando em seus olhos.

Edward sacudiu a cabeça algumas vezes, limpou-se também e levantou-se pegando a nota e andando em direção ao balcão. Segui-o com alguns passos de distância, para conseguir ouvir seu pedido final: dois copos de milkshake de chocolate. Então pagou tudo, pegou os copos e virou-se para mim com um semblante sorridente e cheio de mistérios.

—Última chance: Quer a história sobre o instituto, ou não?

Dei de ombros e entrei no carro enquanto meu vizinho de porta assumia seu lugar no volante. Antes de arrancar com o carro, Edward pegou os documentos do painel, procurou por um papel em específico e entregou para mim.

—Esse é um dos maiores centros de caridade do continente africano – apontou para a foto de uma grande casa margeada por uma bela jardinagem. – Esme quis ajudar quando fizeram uma viagem de negócios por lá e eu sugeri o nome. Estava na época de ter amigos imaginários e minha melhor amiga se chamava Elizabeth. Insisti tanto que acabaram aceitando colocar o nome da organização em homenagem à minha amiga. Colocaram o sobrenome porque, para mim, ela era da família – então saiu do estacionamento.

—Você não me convenceu, Edward – conjecturei. – Não faz sentido esconder isso de todo mundo. Quer dizer, você pediu para eu não contar para Alice, mas ela já deve saber disso.

O homem suspirou e, sem tirar os olhos da estrada, explicou:

—Esse é um segredo de família, Swan, você não deveria nem saber que o local existe!

—Por quê? E se é um segredo de família, por que tenho que guardar segredo da Alice?

—Elizabeth foi um anjo para mim, Isabella – explicou. – Meus pais costumavam dizer que Lizzie foi a maior responsável pelo meu crescimento pessoal.

—Ela não fez um bom trabalho, não é? – brinquei. – Olha só no que você se tornou!

Deu certo: o ambiente ficou um pouco mais leve depois do sorriso dele. Estávamos chegando no elevador, no entanto, e os papéis dentro de um envelope em suas mãos pareciam pesar, pois seus olhos não focavam outra coisa.

—Não pode culpar uma amiga que não existe pela minha personalidade de merda – retrucou, mas voltou ao semblante sério. – Mais do que uma amiga, Lizzie foi muito real para mim, depois que perdi meus amigos, só pude contar com ela. Em minha cabeça de criança, a menina virou um anjo para poder cuidar de mim por toda a parte. Conversei com ela por toda a minha infância e, embora Alice tenha sido a melhor irmã que eu poderia querer, Lizzie não poderia ficar de lado.

Sorri. Edward nem parecia aquele imbecil quando falava da menina. Na verdade, parecia aquele rapaz apaixonado e desprezado da noite anterior. Pensando melhor, seria essa tal de Elizabeth a garota que ele gostava? Será que era mesmo alguém da imaginação ou ele só não queria que me envolvesse em sua história de amor? Porque, se Alice não sabia, provavelmente, Carlisle e Esme não saberiam também e, caso essa fosse a verdade, Edward teria um affair secreto.

—Posso vê-la? – indaguei com um sorriso brilhante.

Esperava que Edward não pudesse por trás de minhas intenções. Se Alice continuasse a empurrar o irmão para cima de mim enquanto ele tivesse uma garota pela qual estava apaixonado, eu teria que saber como confrontar a irmã dele. Além do mais, já que estava contando um segredo, bem que poderia contar o segredo completo.

—Ela é só uma imaginação, Isabella! – indignou-se. – Não tem o que ver, ela não existe!

Bufei. É claro que algo não estava sendo colocado à luz da superfície. Obviamente, ele não estava sendo sincero comigo em tudo, mas o mais estranho era a parte em que estava sendo sincero. Eu tinha certeza de que Edward queria manter o Instituto em sigilo e respeitava isso, todavia, não fazia sentido minha convivência com toda a família dele por tanto tempo e eu não soubera disso! Era um segredo de família? Ok, mas e todas as vezes que me disseram que fazia parte da família?

Decidi perguntar assim que estávamos de frente para nossas portas.

—Edward, esclareça-me uma coisa – pedi.

—Sim?

—Há segredos que você não conta nem para a sua família?

—Bella, ninguém sabe da mulher que eu estou gostando – ele deu um sorriso de lado. – Exceto você. E, por favor, não fale nada sobre o Instituto com Alice. Deixe-me avisá-la antes. Prometo que minha irmã explicará os motivos dela para não ter falado sobre isso.

Suspirei e assenti, abrindo a porta de minha casa e mandando uma mensagem para Alice perguntando se poderia visitá-la no dia seguinte. Expliquei que queria matar as saudades dos meus tios postiços e que tinha muita coisa para conversar. Inclusive sobre uma possível namorada do irmão. Claro que só falaria para minha amiga o que eu mesma sabia: que a garota existia e aparentemente rejeitara o cafajeste. Minha intensão era apenas rir um pouco da desgraça alheia.


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Notas finais do capítulo

E então? O que foi aquele Edward chamando a garota para sair? Gente, espero que ele não esteja pensando em colocar a Bella na lista de conquistas! O que vocês acham?



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