Ocean Motion escrita por Camí Sander


Capítulo 10
Capítulo 9 - Tensão


Notas iniciais do capítulo

A-há! Apareci antes do que pensei e ficou maior do que imaginei! Espero que gostem!!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/786563/chapter/10

 

 

 

Tensão

Foram várias ligações e muitas ordens passadas aos gritos entre o pessoal da polícia, meu advogado e o detetive. Sim, meu advogado entrou no grupo quando, do nada, minha tia me liga dizendo que estão falando do descaso da empresa com os funcionários, porque eu tinha mandado fechar tudo até a semana seguinte.

Sei que foi um ato repentino, mas reclamar para a imprensa que não tratávamos bem nossos funcionários já era demais.

—Isso pode estar interligado, senhor Cullen – meu detetive, Randall, explicou novamente. – A proximidade dos acontecimentos e o conteúdo das cartas sugere que alguém que estava envolvido com o senhor não gosta da intimidade que o senhor compartilha com a senhorita Swan.

—Que besteira! – bufei. – Isabella era minha vizinha e funcionária. Apenas isso para mim. Ela é melhor amiga da minha irmã e amiga da família. Temos um relacionamento conturbado. Aquela louca me irritava grandemente, mas nunca imaginei que isso pudesse acontecer! O que eu fiz para ela receber tal castigo? E por minha causa? Nós vivíamos em pé de guerra!

—Senhor Cullen, sabe que esse tipo de comentário só faz com que o senhor seja o principal suspeito do sequestro – meu detetive pousou a mão em meu ombro.

Grunhi em resposta. Era o que estava faltando. Não poderia mais nem falar das brigas com Isabella. Estas que aconteciam diariamente e por assuntos tão banais. Como um casal de verdade, segundo Alice. Bufei ao lembrar dessas palavras. Por que todos insistiam em colocar-nos como uma família? Uma vez, achei que tinha acabado com toda a vontade de ser gentil da Isabella. Cheguei a pedir perdão a ela. Ela revirou os olhos, mostrou-me a língua e abriu um sorriso debochado. Aquela bruxa. Tinha-me na palma da mão. Sabia disso e usava contra mim.

Lembrar-me dela não estava me fazendo muito bem, portanto levantei-me e fui dar uma volta na cobertura do prédio. Meu detetive e um dos policiais até tentaram chamar minha atenção, mas não me importei, apenas segui meu caminho e só parei quando vi a cidade de cima.

Tudo tão caótico e tão normal ao mesmo tempo. A vida de mais ninguém tinha parado por causa do sumiço de Isabella. Isso parecia tão errado! Era como se ela não fosse importante, como se a vida dela não fizesse falta para ninguém mais.

Meu celular tocou e eu quase não percebi. Ultimamente, meus pensamentos estavam tão altos que mal conseguia escutar algo que não fosse os gritos de Isabella no laptop que eu mantinha aberto na mesinha de centro da minha sala. Atendi sem olhar o visor.

—O que estão falando da Ocean, filho? – meu pai perguntou antes mesmo de eu falar alguma coisa. – Você não pode ter sido tão irresponsável a ponto de interditar a fábrica somente porque uma funcionária sumiu. Não é a primeira que faz isso, nem será a última e a Ocean, ao contrário do que você imagina, consegue viver sem a Isabella. Quantos e quantos anos sustentamos aquela fábrica sem vocês dois? E quantas vezes fechamos por faltar um funcionário? Edward, isso é coisa de gente irresponsável, filho. E você não é, você estudou para isso, sabe como as coisas funcionam.

—Eu vou pagar cada um, está bem? – respondi irritado. – Que merda, pai! Eu falei para Alice tirar do meu bolso para não penalizar ninguém. Por que raios você está me ligando? Isabella não desapareceu, ok? Ela foi sequestrada. Sequestrada! E a culpa é minha!

—Edward, não é assim…

—É assim, pai. É assim! - interrompi já gritando. - É assim, sim! Você viu as cartas. Você ouviu o que aquele maníaco disse para ela. Era ela, pai! Ela foi sequestrada por minha causa.

—E se isso for só uma brincadeira, filho?

COMO É? – estourei. – Brincadeira? Brincadeira de quem? Da Bella? Acha que ela seria tão inconveniente a ponto de pedir para amarrarem ela em uma mesa só para me torturar psicologicamente? Ah, pai, poupe-me! Você conhece a Bella. Ela não faria isso! Ela mal sabe mentir!

Ouvi um suspiro do outro lado do telefone.

—Sim, você tem razão. Bella é uma péssima mentirosa. Mas não pediram resgate?

—Ainda não – suspirei cansado. O dia estava acabando e ninguém fizera avanço em nada. – Pai, eu estou com medo. E se eles a machucarem de verdade?

—Venha para casa, filho. – Pude ouvir minha mãe do outro lado da linha, um pouco mais distante. – Venha ficar um tempo conosco. Pelo menos até isso se resolver.

—Vou pensar, mamãe – respondi. – Pai, preciso voltar para o apartamento. Abraço para vocês.

 

Os dias se passaram e nada de contato com os sequestradores. As torturas em Bella, pelo link que eu recebera por e-mail, ainda eram a maioria ameaças. O que eu agradecia. Eu vi que alguém sempre aparecia com um chicote e arrastava em seu corpo, mas não chegaram a espancá-la, nem nada parecido. Isso não diminuía meu medo. A semana tinha se arrastado e as notícias de que a Ocean estava sendo mal administrada correram pelo país. Os pais de Bella ligaram algumas vezes para Alice, contudo, minha irmã não teve coragem de dizer o paradeiro dela. Sempre inventava uma desculpa para a amiga não atender as ligações dos dois.

O trabalho na Ocean retornou, o que só me deixou mais paranoico. Todas as cartas, reuniões, ligações e e-mails que recebia, era algum contato que os sequestradores fariam. Minha irmã e minha prima chegaram a me expulsar do escritório em algumas tardes.

—Vá esfriar a cabeça – elas diziam. – Espaireça. Visite a Lizzie, a mamãe, qualquer um, mas deixe que da Ocean nós cuidamos.

O problema era que eu não podia mais dar um passo sequer sem atrair uma corja de fotógrafos e jornalistas para perto. Eles estavam acampando perto de casa, só podia ser. E perto da fábrica também. Meu advogado chegou a sugerir ordem de restrição, mas não me importei, apenas pedi para que não incomodassem minha família. Infelizmente, meu pedido não estava sendo cumprido, porque as perguntas gritadas pelas janelas de meu carro chegavam a me desestabilizar.

Coisas como: Você concorda que é irresponsabilidade parar a fábrica inteira por bobagem? O que você acha do romance que sua irmã está protagonizando com seu primo? Os Cullen são a favor de incesto? Você já ficou com a sua prima, ou isso é exclusivo de Alice e Jasper? Carter realmente bateu na sua irmã? A mulher que sumiu era sua esposa? Soube que moram no mesmo apartamento. Já descobriram quem está por trás desse sequestro? Qual foi a mulher que sumiu? É verdade que ela estava grávida de você? A Ocean está sendo processada por fraudar contratos? É verdade que você não assumiu um filho? Essa moça é sua namorada? Você quem orquestrou esse sequestro?

Meus dias estavam presos entre acordar com os gritos de Isabella pelo laptop ao lado da cama e ir dormir com a respiração dela sendo normalizada quando ela estava cansada demais para chorar. Era um inferno. Minhas noites não duravam muito, porque acredito que estavam revezando ao incomodar minha vizinha. Era cada vez menor o tempo entre ela parar de chorar e acordar gritando e eu não me desligava daquele link nem um minuto.

Nem quando teimava em ir para a empresa. Eu arrastava o aparelho com o modem para dentro do carro e carregava como se a minha vida dependesse daquilo. Rosalie achava um pouco exagerado, mas a mandei “ir à merda” tantas vezes que a loira parou de falar alguma coisa.

Eu já tinha dado uma entrevista coletiva num dos salões do Double Tree, um dos hotéis da franquia Hilton Garden. Claro que, neste dia, deixei o laptop com minha irmã e meu detetive, nos bastidores da sala alugada para o evento. Este segundo tinha se mudado temporariamente para a minha casa. Mais precisamente, para o quarto de hóspedes, com toda a parafernália que ele usava para procurar por Isabella.

As investigações estavam quase paradas. Nenhuma diferença na rotina dos sequestradores, nem mesmo para me torturar além de, claro, não me deixar dormir direito. Na segunda noite, o fraco do detetive fechou seu laptop para poder dormir direito. Como eu disse, fraco.

Ameaças vazias apareciam das vozes que alimentavam Isabella. Coisas como “Edward nunca mais vai tocar em você” e “Você vai ficar marcada para sempre pelos erros de seu precioso Edward” eram comuns. Ela mais do que berrava. Ela clamava por socorro, pedia para que não me incomodassem, chorava para desligarem a câmera para que eu não a visse.

Lembro-me da terceira noite, quando ficou sozinha novamente, virou para a câmera e falou comigo com os olhos cheios d’água. O que refletiu em meus próprios olhos.

—Edward, vai dormir – murmurou olhando para a lente. – Eu sei que você está aí, vai dormir. Eles não voltarão hoje. Eu prometo que ficará tudo bem, apenas… desligue essa coisa e vá para a cama. Nada disso é culpa sua. Sabemos a verdade. Sabemos que não fez nada para essa gente. Eu não descobri quem são, eles aparecem cobertos da cabeça aos pés, mas eu te juro que vou sair bem dessa. Eu juro. Agora, desliga essa câmera e vá dormir. Boa noite.

E sorriu. Um sorriso pequeno com algumas lágrimas rolando, mas ela sorriu. Fechou os olhos para não abrir mais naquele dia. Minhas próprias lágrimas banharam meu travesseiro e meus dedos contornaram as feições dela na tela. Murmurei várias vezes desculpas e acabei caindo na inconsciência por esgotamento emocional.

Depois de quase uma semana, a tortura começou a ser mais física. Uma mão enluvada acariciava Bella das coxas até a cintura. Ela se debatia toda e gritava para ficarem longe dela. Uma risada feminina sempre soava ao fundo quando Isabella tentava lutar contra.

—Você será minha, princesa— a voz do homem era carregada de desejo. – Seu precioso Edward só vai te encontrar quando eu quiser e, até lá, você será minha putinha particular.

—Seu nojento! – ela berrava. – Não encosta em mim!

Ele só ria mais e minha cabeça ficava em frangalhos.

Isabella era tão inocente, tão pequena… olha só o que eu estava fazendo com ela! Ela tinha sido sequestrada e tudo apontava para mim. Já fazia duas semanas desde que desapareceu e ninguém conseguia achar o paradeiro… sequer saber quantos envolvidos tinha nessa história. Eu só sabia que a culpa era minha. Disso, tinha certeza.

 

—Já encontraram a Isabella? – Tanya perguntou assim que apareci na empresa naquela quarta-feira. – Estou preocupada, senhor Cullen. Ela não é de sumir assim.

—Não se preocupe, a polícia está atrás dela.

A menção da polícia fez a loira me olhar assustada.

—Ela está muito encrencada, senhor? Sempre imaginei aquela tonta como alguém direita que não tinha coragem nem de roubar um alfinete, mas se a polícia está atrás dela, a coisa deve ser feia!

Olhei irritado para ela e creio que minha voz não soou das melhores.

—Isabella Swan está desaparecida. Ela não roubou nada de ninguém, nem mesmo se deitou com ninguém para ter privilégios. Ela é a melhor amiga da minha irmã, mais chegada da minha prima, minha vizinha e quase adotada pelos meus pais. Ela não precisa estar encrencada para eu colocar a porra do mundo inteiro atrás dela!

—Então é verdade – sussurrou para si mesma. – Está mesmo apaixonado pela sonsa.

A risada que saiu de mim foi irônica.

—Por favor, Tanya, não seja absurda!

—Então vamos sair hoje – desafiou-me sorrindo com malícia. – Só nós dois. Vamos jantar e depois podemos estender a…

—Não – cortei-a. – Isabella está desaparecida, tenho repórteres em cada canto da esquina e estou sem vontade alguma de estender qualquer coisa com você. Menos ainda hoje. Volte ao trabalho e tenha um bom dia.

—Mas, Edward…

—Chega, porra! – o berro que Rosalie deu de sua mesa perfurou até a mim. – Edward tem coisa melhor para fazer da vida dele do que sair com você, sua vaca! Entenda que ele não está mais disponível e ache outro para apagar esse fogo do seu rabo!

Com os olhos do tamanho de pratos, Tanya saiu praticamente correndo dali. Virei-me para minha prima que tinha um sorriso satisfeito no rosto.

—Você sabe que não pode desrespeitar um funcionário dessa maneira – meu tom de voz era neutro. – Mesmo assim, obrigado, prima – dei uma piscadela e entrei na minha sala.

 

O dia transcorreu como qualquer outro: alguns prazos de entrega atrasados, uns problemas de qualidade de mercadoria, a aprovação de mais uma coleção, papelada da ONG sobre novas possíveis doações… a parte que mais gostei foi poder extravasar minha frustração sobre as investigações nos problemas da empresa. No final do dia, tive um pouco de remorso por ter gritado bastante e feito alguém se demitir. Também pude rir da cara de indignada de Rosalie ao me contar que foi chamada ao RH para ganhar uma advertência por ter agredido verbalmente Tanya.

Naquela noite, Bella apenas murmurou meu nome, repetidas vezes, enquanto as mãos enluvadas asquerosas roçaram seus seios e pescoço. Ela ainda estava amarrada àquela mesa – eu acreditava que era uma mesa, porque era plano demais e parecia completamente desconfortável – e eles ainda a alimentavam algumas vezes ao dia. Quando precisava usar o banheiro, alguém sempre a vendava e levava-a no colo por poucos minutos, logo voltava ainda com ela no colo e a prendia novamente. No início, ela tentou arrancar a venda, debater-se e morder a pessoa, mas primeiro levou um tapa no rosto e em seguida a devolveram à mesa, deixando-a passar necessidade.

—Vai aprender, princesa, que só pode se aliviar se for boazinha – o homem falou, deixando-a sozinha mais uma vez, gritando por socorro.

Para o banho, uma silhueta feminina sempre despia ela parcialmente e passava o que parecia panos úmidos em seu corpo. Nem mesmo a desamarravam. Isso me tirava o juízo, mas o que eu poderia fazer?

As investigações transcorriam lentamente. Ninguém sabia de nada novo para contribuir. O detetive que contratei, simplesmente pediu reforços. Os processos judiciais contra a empresa não pararam de vez, mas amenizaram bastante – pelo menos não havia mais nenhum jornalista na porta de casa. Ainda assim, meu advogado lutava com unhas e dentes para retirar o maior número de ações contra a Ocean e contra mim próprio. Infelizmente, essa confusão toda só traria prejuízo ao bem que mais importava para toda a minha família: o Instituto Elizabeth em suas várias filiais.

No dia seguinte, foi a vez de Jessica tentar me chamar para sair. Sua desculpa foi: era seu dia, finalmente, e ela já tinha até planejado e deixado tudo encaminhado para tal. Eu não faria essa desfeita, faria?

—Jessica, a lista está encerrada, eu não saio mais com ninguém da Ocean para tais propósitos.

—Mas, Edward, o restaurante já está reservado e…

—Vá você, então – retruquei, grosso. – Preciso trabalhar e você deveria estar fazendo o mesmo em vez de me importunar com esse assunto. Tenho certeza de que Tanya já espalhou pela empresa que não estou mais disponível.

—Você não está mais disponível? – sua voz saiu estranha. – Como assim? Tem uma namorada fixa? E ela consegue te agradar de todos os jeitos e…

—Meu Deus, não posso mais nem trabalhar em paz que essas putas vêm encher a minha paciência?! – reclamou Rose de trás da sua mesa.

Bufando, Jessica saiu marchando e eu dei uma risada depois que a garota não estava mais a vista. A piscadela que minha prima mandou em minha direção enquanto lixava as unhas fez-me acenar com a cabeça meu agradecimento.

Em minha mesa, eu mantinha o computador da empresa, com os negócios a serem analisados e meu laptop com a janela de Isabella aberta. Nada novo aconteceu durante o dia dela. A cada suspirada que ela dava, ou soluço, eu desviava o foco para saber o que se passava. Bella parecia tão mais magra, adoentada, que quebrava meu coração, mas não conseguia desativar completamente a preocupação para focar no trabalho.

Sexta-feira foi a vez de Rosalie correr com Renata.

—Sinceramente, Edward, elas estão me deixando com vontade de jogá-las do terceiro andar – reclamou a loira. – É sério! Parece que nenhuma delas se preocupa com a Bella. E olha que o recado de que a menina foi sequestrada por Deus-sabe-quem foi espalhada com o vento ainda semana passada! Você tem que dar um jeito nisso. Já está virando obsessão!

—Acho que vou mostrar Isabella para elas e pedir para que parem de tentar me induzir. Pelo menos, enquanto essa situação durar… espero que entendam o recado e esqueçam que tivemos algo depois que Isabella for resgatada – suspirei. Eu já não aguentava mais aquela situação.

Rose deu de ombros.

—Faça como achar melhor, mas não vai achando que elas têm algum peso na consciência por não se importar com a minha amiga. Você só contratou cobras nesses últimos anos, Edward.

Sorri de canto, lembrando cada contratação feita depois que Isabella apareceu e me arrependendo de todas elas. Estava decidido: marcaria uma reunião com as que mais frequentaram minha lista e mostraria a janela ao vivo. Contudo, teria que marcar para a semana seguinte, já que minha mente não tem funcionado direito e meu serviço acumulou.

Mesmo assim, não consegui evitar de lembrar-me do dia que chamei Isabella para sair. O dia em que decidi que não valia a pena usar funcionárias para ter um pouco de prazer. Lembro que Rosalie quase me presenteou pela bravura. Ainda que cinco minutos depois tenha pedido demissão.

[...]

O grande dia havia chegado. Era sexta-feira, a pior de todas. Eu estava morrendo de dor de cabeça. A Swan estava mais impossível do que nunca e eu havia contratado permanentemente a Weber para ajudar a impertinência em pessoa, embora tenha pedido para Angela não contar nada ainda, porque eu queria fazer uma surpresa para a Bella na segunda-feira.

Sim, sem que ela soubesse, eu a chamava de Bella em mente. Isso quando ela não me irrita o suficiente para que não me lembre de ser gentil como minha mãe me ensinara. Porra, só ela conseguia me fazer esquecer os modos! E olha que muitas outras já tentaram e eu quase saí no soco com algumas por aí. Não que isso tenha acontecido alguma vez, mas vontade não faltou.

Hoje era o grande dia porque chegara a vez dela... de novo. Todas as vezes que Isabella era a próxima na minha lista de conquistas, eu pedia para Rosalie adiá-la até a última. Eu não queria conquistá-la. Não queria dar esse gostinho para Alice e para mamãe.

Sim, dona Esme fazia a maior força para que eu ficar com Isabella. E Alice já casou nós dois algumas vezes em sua bela fantasia de criança mimada. Mas não podia culpá-las, eu não as oprimia. Embora nunca tenha entendido como conseguiram juntar-nos.

Todavia, acima de qualquer coisa, eu não queria ter apenas umas noitadas com ela. Menos ainda porque a veria em casa, depois, e no trabalho... e na casa de meus pais... e em todos os lugares; como vem sendo há bons 4 anos. Eu não queria dar esperanças a ela e depois magoá-la com os dizeres: “você volta para a empresa como se nada tivesse acontecido, ou ganha a conta?”. Principalmente, porque ela escolheria receber a conta. Eu não estava psicologicamente pronto para despedir a Swan. Duvido que algum dia chegasse a estar.

—Fazer a mesma coisa de sempre, Edward? - peguntou Rosalie assim que declarou o dia da Swan e eu suspirei pesado.

—Não – respondi com cansaço. - A partir de hoje não haverá mais lista.

—Como é, senhor? - perguntou Tanya, uma encarregada que nem deveria estar por aqui. - Vai acabar com um legado de anos por causa de uma mera funcionária?

—Quantas vezes já saí com você, Denali? - perguntei ríspido.

—Dos cinco anos de empresa que tenho, posso afirmar que umas vinte e cinco vezes, senhor.

—Quantas dessas vezes fomos além do motel?

—Cinco – ela sorriu maliciosa. – Entendo que o senhor goste de meu corpo.

—Gosto, sim. – concordei. – Bem mais do que de sua companhia. Agora dê-me licença, a lista e a empresa são minhas, faço com elas o que eu quiser – e entrei em minha sala.

Merda. Minha dor de cabeça estava mais forte do que sempre aguentei. Eu precisava me aliviar de alguma maneira. Olhei para as rosas brancas em meu escritório e sorri. Esme e sua mania de ser eternamente nossa e não deixar que esqueçamos disso. Lembrei-me do primeiro dia de Isabella por aqui. Ela havia ficado encantada com as flores e esse foi mais um motivo para eu não repaginar essa parede. Lembrar de Isabella fez toda a calma desaparecer. Peguei meu telefone e disquei para Rosalie, a fim de que ela me fizesse um favor.

—Sim, senhor – ela atendeu de pronto.

—Nome e setor da seguinte à Isabella – apenas isso e ela suspirou.

—Já lhe levo – disse desligando na minha cara.

Ela desligou na minha cara! Eu era seu primo, certo, mas também o chefe! Com que petulância ela se atrevia a desligar na minha cara?!

Dois minutos, intermináveis, depois, a loira abre a porta e atira uma folha de papel em cima da minha mesa, sentando-se a minha frente, após fechar à chave, minha porta.

—A Denali – ela disse simplesmente. – E, se você ficar com essa vaca novamente, eu me demito! Além do mais, Isabella nem sabe da existência dessa droga. Não é tarde para parar com essa maldita lista, Edward.

—Parei com a lista, só não quero pegar a mesma da semana passada, obrigado, pode retirar-se, senhorita intrometida – rosnei e gesticulei para ela sair.

Bufando, ela me obedeceu. Não sem antes deixar o “Vou falar com a Alice para acertar minha carta de demissão” no ar. Eu sei que ela não falava sério. Rose era dramática demais. Creio ser mal de família.

Dei de ombros e olhei para a ficha da Denali. Aquelas curvas já me fizeram conhecer um mundo bom, mas, estava farto da superficialidade de Tanya. Hoje eu faria diferente. Foi com esse pensamento que disparei para o setor da liberação determinado.

—Swan, essa noite terei um jantar de negócios e gostaria que me acompanhasse.

Menti sobre o jantar de negócios, mas não imaginava uma maneira melhor de fazê-la aceitar sair comigo. Bella podia odiar minha companhia na maioria do tempo – o que era totalmente recíproco nesses momentos –, contudo, era palpável sua lealdade com a empresa e o seu trabalho. Isso era admirável, na verdade, e completamente assustador.

Peguei-a desprevenida, como sempre, e isso a fez encarar-me atônita. Pelo menos eu não recebera uma cotovelada, ou uma pisada no pé.

Sua expressão me causou divertimento. Aparentemente, ser chamada para jantar por mim era a última coisa que ela esperava. Sua boca abria e fechava. Rá! Deixei-a sem palavras! Finalmente! O gostinho da vitória é maravilhoso.

Contudo, o suspense foi se tornando insuportável. A ideia de arrumar-se e jantar comigo era tão repulsiva assim? Não era como se Isabella nunca tivesse jantado em nossa mesa nos muitos eventos financiados pela empresa. Já nos vimos em trajes mais formais, embora eu deixaria a escolha do restaurante por conta dela, se fosse necessário. Eu só precisava de companhia.

—E então? O que me diz? – questionei por fim.

[...]

 Como não se era de duvidar, a resposta que ganhei foi negativa. Nunca pensei que um “não” pudesse doer tanto quanto aquele me doeu. Em todas as minhas façanhas, já recebera vários nãos, contudo, aquele me fez correr para os braços de Elizabeth assim que o expediente acabou. Rosalie tentou fazer perguntas e Alice chamou-me para sair, porém desviei de seus olhares curiosos e corri para aquela que não me julgaria.

Suspirei ao lembrar das palavras que Isabella descreveu para a mulher perfeita para mim. Eu sabia que ela estava em algum lugar. Sabia que seria encontrado. Fui eficiente em tornar-me público para ser reconhecido no país inteiro depois de Alice aparecer em nossas vidas. Pelo jeito, fui público demais para colocar a vida de uma inocente em perigo.

 

A transição de sexta para sábado foi a pior de todas. Não deixaram Isabella dormir. E eu fiquei acordado por consequência.

Sábado as investidas ficaram ainda maiores: as mãos enluvadas ergueram sua blusa e expuseram seus seios para quem quisesse ver. Algumas cabeças lambiam sua barriga e outros passavam a mão com malícia por suas pernas com a calça jeans. Também foi no sábado que a tal mulher inventou de lavar as roupas de Isabella e a deixou apenas com uma lingerie emprestada, de acordo com o que Bella choramingou para a câmera. Deixaram-na com frio durante todo o final de semana e divertiram-se apreciando seu corpo.

Quase matei Randall quando o homem fez um comentário sobre a beleza de minha vizinha. Ela era linda, sim, mas não era hora de prestar atenção a esse tipo de coisa! O que estavam fazendo com a morena parecia o prenúncio de algo terrível. Precisávamos encontrar Isabella antes de meus pensamentos se concretizarem!

—Porra, pare agora de olhar para Isabella! – ordenei aos gritos. – Eu o contratei para encontrá-la, não para ficar excitado com a visão de uma mulher seminua amarrada em uma mesa!

Só saí do recinto, quando o imbecil fechou o link e o computador. Não que eu tenha feito o mesmo, já que estava logado no celular, com medo de que algo acontecesse. Fui para a casa de meus pais naquele domingo. Principalmente porque Isabella tinha pedido aos prantos para avisar Alice sobre um tal de Thony.

Confesso que quando ela olhou para a câmera, desejei ser esse Thony. Contudo, havia quase duas décadas que não me chamavam assim. Nunca, ninguém se referia assim a mim desde a tragédia. O mais estranho foi a resposta de minha irmã e como isso pesou sobre mim.

—Thony é o noivo da Bella – Alice deu de ombros.

—Desde quando Isabella tinha um namorado? – franzi o cenho.

—Ele está viajando, então você não deve ter conhecido o cara. Não é como se você se importasse com os relacionamentos amorosos da minha amiga, não é? – e sorriu de lado.

Revirei os olhos, deixando minha máscara de indiferença à vista.

Por dentro, com certeza, estava bastante aflito. O aperto que deu em meu coração por imaginar Isabella com alguém foi bastante incômodo. Tanto quanto imaginar que eu causava um dano psicológico grave ao não conseguir encontrar a moça em pouco tempo.

Obriguei-me a sair da casa de meus pais quando Bella recomeçou a gritar. Não fazia bem à minha mãe ouvir aqueles sons. Nem mesmo à minha irmã ver o estado da amiga naquela mesa. Dei um breve aceno a todos e parti para o único local que me deixaria chorar em paz: o apartamento de Isabella.

No caminho, fiquei lembrando de todas as brigas que provoquei com conteúdo sexual e como ela se esquivou de cada provocação. Não que eu almejasse que ela quisesse algo, mas era um pouco estranho o fato de que nenhuma das técnicas chegassem a afetá-la. Agora eu sabia: ela era fiel. Sua fidelidade a um homem que nunca conheci, e aparentemente vivia distante, deixou-me maravilhado. Sim, essa seria uma mulher pela qual eu lutaria, se estivesse apaixonado.

[...]

—Você é uma idiota! – gritei em um dado momento.

—Oh! Olha só quem fala! – retrucou erguendo as mãos. – O dono da razão!

Estávamos no setor da liberação brigando como se não houvesse mais ninguém no mundo. O motivo? Um dos funcionários impediu seu retorno imediato ao setor para convidá-la para sair. A resposta dela fora algo como “posso verificar na minha agenda e vou deixá-lo saber quando” e um sorriso. Contudo, isso pareceu deixá-la aérea na eficiência de suas ações. Por isso decidi verificar.

—Você não parece ter nenhuma! – impliquei. – Acho que deveria ficar quieta.

—Como se mandasse na minha boca! – revirou os olhos. – Por acaso devo parar de respirar também, vossa senhoria? – zombou arqueando uma sobrancelha.

Sorri de lado e estreitei os olhos para ela.

—Acho que quando esse for o caso, não precisarei mandar nada. Aposto que consigo tirar o seu fôlego sem precisar de palavras, harpia!

Um arquejo incrédulo saiu dela.

—Não acredito! Nem imagino como isso seria possível! Já que ficaria sem as bolas.

—Você não teria coragem – menti confiante. É claro que ela teria, mas não custava tentar.

—Tem razão – suspirou ela teatralmente. – Na verdade, você não precisa de muito para me tirar o fôlego, Cullen. É só olhar para essa sua cara feia que o ar me some!

[...]

Sorri ao me lembrar que essa foi a resposta que me fez sair marchando de volta ao escritório. Todavia, o grito sufocado de Isabella em meu celular fez com que a realidade me tomasse de novo. Poucos minutos, lembrei-me do dia que quase lhe devolvi o favor de mostrar minhas roupas de baixo e não pude evitar um gemido descontente. Ela noiva e eu abaixaria minhas calças!

[...]

—O quanto um homem pode ser burro? – questionou-me raivosa assim que cheguei no corredor de nosso andar.

—Depende do homem – dei de ombros. – Conheço alguns que são muito burros.

—Você, Cullen! – bufou impaciente.

—Eu? Oras, eu não sou burro! – ri de seu ataque.

Um ataque de graça, porque não entendi qual a razão disso. Eu nem tinha incomodado a menina hoje! Certo, talvez um pouco, mas não como nos outros dias. Apenas estava fazendo meu trabalho de atazanar a amiga de minha irmã.

—Tenho certeza da sua burrice – retrucou altiva. – Só quero saber a extensão disso!

—Você me tenta, Isabella – reclamei. Ela tinha as mãos na cintura e estava fazendo com que eu ficasse recuado contra a parede sem encostar em mim e eu nem sabia o que fizera! – O que realmente quer de mim? Minha empresa? Minha família? Diga!

—Sua ruína já está de bom tamanho para mim – deu de ombros e se afastou alguns passos.

Cruzei os braços e apoiei uma perna na parede. O síndico iria me matar se deixasse alguma marca, mas, nesse momento, o que mais queria era fazer a Swan ficar com raiva. Havia momentos que esses atos eram realmente adoráveis. Não que eu fosse revelar isso a ela.

—Quero ver conseguir – desafiei.

—Olha, eu até faria, mas pensei melhor e decidi que tia Esme não merece colher os frutos da sua incompetência. Então, acho que me contentarei com o seu brinquedinho quebrando.

O choque me abateu. Como é? Que porra ela estava falando? Pequeno? Eu?! Meu instrumento era satisfatório para todas as que já me levaram para a cama. Eu teria que colocar isso em pauta e tirar suas dúvidas com urgência.

—Brinquedinho? – rosnei. – Ninguém nunca reclamou do tamanho! Tenho testemunhas e provas. É satisfatório, no mínimo! Quer ver? – perguntei já colocando as mãos no cós da calça.

—Eu não! – guinchou encostando-se na parede a minha frente.

—Com medo de se surpreender, Swan? – instiguei sorridente.

—Não me surpreendo com pouca coisa – respondeu fechando os olhos e cruzando os braços.

Ah, merda, essa atitude altiva dela me subia o sangue e tudo o que eu queria fazer era tirar aquela expressão daquela face. Coloquei os dois pés no chão e direcionei minhas mãos para a calça. Não iria realmente mostrar minhas partes íntimas para a mulher, mas não perderia a oportunidade da minha vida em dar um susto naquela maluca.

—Então não faz mal dar uma olhadinha, não é? – falei arteiro enquanto abria o botão.

Ao ver o que eu fazia, depois de abrir os olhos com minhas palavras, ela foi rápida em pegar o celular do bolso canguru de seu moletom e procurar por alguma coisa.

—Claro! – disse animada. – Só deixe-me pegar a câmera no contato da sua mãe, porque ela tinha pedido uma foto sua depois de grandinho. Assim que você abaixar as calças, eu clico. Okay!

Minhas mãos caíram e fuzilei-a com os olhos.

—Golpe baixo, Swan – rosnei.

—Não era eu quem estava descendo o zíper – apontou e partiu para dentro de casa.

Revirei os olhos e rumei para meu quarto. Aquela mulher era louca. Quando eu chego cansado, depois de um dia realmente difícil – porque Heidi inventara de ir a um clube de Strip gay ao invés do motel usual e porque Alice ordenara que eu contratasse alguém para ajudar Isabella –, sou abordado dessa maneira! É claro que não contratei ninguém! Todos pareciam vagabundos e prostitutas para mim e esse tipo de gente não merecia um cargo na minha empresa!

Até contrataria as prostitutas que desejavam trocar de profissão, mas aquele não era o caso.

[...]

Cheguei ao edifício ainda desacreditado de minha estupidez. Eu era muito imbecil mesmo!

Como um maníaco, deitei-me no sofá aconchegante depois de ter aberto a casa para arejar um pouco e chorei. Em minhas mãos, a imagem da dona do lugar sendo molestada verbalmente por um homem. Ele falava como se tivéssemos alguma ligação e que descontaria nela todo o rancor que tinha de mim. Nunca imaginei que pudera fazer tanto mal a alguém. Em minha memória, só recordava de uma morte em minhas costas e isto ocorrera há quase vinte anos.

—Perdão, Bella! – murmurei acariciando seu rosto molhado pela tela do celular. – Por favor, perdoe-me! Eu mesmo vou encontrar o seu noivo e explicarei o que esses monstros te obrigaram a fazer. É uma promessa. Pergunte para Alice, eu sempre cumpro minhas promessas. Eu prometo, Isabella! Prometo que encontrarei esse homem e farei de tudo para que ele entenda sua situação! Se esse homem não entender, eu juro que faço da vida dele um inferno por te fazer sofrer! Eu juro! Você sabe que sei fazer a vida de alguém um inferno, não sabe?

Continuei meu monólogo até cair no sono de exaustão com o celular em meu peito.

 

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E então, o que acharam?



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Ocean Motion" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.