Parte um - Isabella

 A Promessa

Mamãe me esperava na porta de casa com os braços cruzados e os olhos rasos d’água e um pequeno sorriso no rosto. Tia Anne também nos olhava com lágrimas enquanto segurava minha melhor amiga nos braços. Liz chegava a soluçar de tanto que chorava, mas eu já tinha me despedido dela. Agora eu tinha meu corpo de cinco anos prensado contra meu melhor amigo.

—Fica comigo, minha Marie – pediu Thony enquanto me segurava com força.

—Mamãe não deixou! - solucei em seus braços.

—Por favor, por favor! - ele deixava as lágrimas escorrerem pelo meu cabelo. - Eu não quero que você vá! Por favor! Fica comigo! Não me deixe!

—Então venha comigo – pedi encharcando ainda mais sua camisa.

—Eu quero, minha Marie. Sabe que eu quero, mas Liz ficaria sozinha e não posso deixar minha irmãzinha sozinha! - explicou enquanto afagava meus cabelos.

Ficamos assim, pedindo que um ficasse com o outro, por mais alguns dos preciosos minutos que ainda tínhamos. Contudo, Thony conseguiu voltar a sua maturidade precoce antes que eu pudesse conter a nova onda de choro que me abateu.

—Shhh, minha Marie – ele pediu aos sussurros em meu ouvido. - Agora eu entendo.

Os cabelos loiros pinicaram meu rosto quando ele se afastou um pouco. Eu mantive meus braços apertados ao redor do corpo grande do meu melhor amigo de oito anos, mesmo que ele me soltasse gentilmente e secava minhas lágrimas com os dedos.

—Fique calma, minha pequena Marie – ele pediu suavemente.

—Não me deixe – pedi ainda me recusando a me afastar.

—Prometo estar sempre aqui – ele beijou meus cabelos. - Mas nós dois sabemos que isso é o que você sempre quis: Conhecer o seu pai.

Chorei mais e apenas balancei a cabeça negando contra o peito de Thony. Ele tinha razão, eu sempre quis conhecer meu pai de verdade. Desde que me conheço por gente. Mamãe falou que foi minha primeira palavra. Agora que a chance havia chegado, eu não queria mais. Não quando tinha que me separar de Thony e Liz.

—Eu sei, minha Marie, eu também não quero… não agora. Mas amanhã…

—Não, não! - agarrei-me a sua camisa, mas ele conseguiu me afastar.

—Tenho uma proposta – ele sorriu. Seus olhos azuis estavam inchados e molhados.

—Eu não quero propostas – reclamei. - Quero ficar com você, Thony. Com você, a tia Anne, o  tio Carl e a Liz. Eu quero ficar aqui em Chicago. Quero a minha casa, minhas bonecas e a mamãe. Eu não sei por que tenho que sair de casa para ver o papai. Ele podia morar aqui e a gente não ia se separar nunca!

—Sabemos disso, minha linda – tia Anne respondeu.

—Temos que ir agora, meu amor – mamãe me chamou assim que o táxi parou na entrada. - Diga tchau para Thony.

—Prometa para mim, minha Marie – Thony sussurrou, abraçando-me novamente. - Prometa que vai me esperar. Prometa que vai casar comigo.

—Ca… casar? - repeti assustada.

—Eu amo você, minha Marie – ele declarou olhando fundo em meus olhos. - Tenho oito anos e sei que vamos nos casar… se você quiser. Prometo que não vou te esquecer e só vou amar você, mais ninguém. Promete que vai me esperar?

—Você vai me buscar? - comecei a ter esperanças. - Vai me buscar lá na casa do meu pai?

—Vou – prometeu convicto.

—Então eu prometo – respondi. - Eu vou te esperar, Thony. Vou me casar com você.

—Prometo me casar com você, minha Marie. Agora vai com sua mãe. Vai lá conhecer o seu pai. - ele sorriu, beijou minha face e soltou-me dele. - Quando eu ficar maior, vou te resgatar da chata cidade com nome engraçado, minha donzela – e riu.

—Tchau, Thony – beijei sua face. - Meu príncipe – e corri para minha mãe sorrindo.

Ela pegou-me no colo enquanto tio Carl e o motorista colocavam nossas malas no carro. Demos um abraço em conjunto em tia Anne e Liz, minha mãe beijou os cabelos de Thony enquanto prometia cuidar de mim e ganhei um beijo de tio Carl logo antes de entrar no carro e pular para acenar da janela.

Fiz isso até que, numa curva, perdi-os de vista. Só então abracei minha mãe e chorei como se não tivesse amanhã. Mesmo sabendo que Thony tinha prometido. Ele não me deu datas. Ele não podia ter tanta certeza. Éramos crianças e a saudade já doía.

—Vai ficar tudo bem, pequena Marie – prometeu minha mãe. - Nós voltaremos.