Ele tinha dito não.

Bltizen estava meio ajoelhado olhando para todo o rosto de Hearthstone se desmanchar em vergonha e desconforto, as mãos voltando para perto do corpo e o pé cavando o chão, pronto para cavar a própria cova se aquilo significasse que ele poderia terminar aquele momento.

Blitzen não conseguia acreditar. Ele podia ter certeza que Hearth diria sim.

Talvez todos aqueles momentos compartilhados entre beijos, abraços e menos roupas não tivesse sido à sério, talvez enquanto Blitzen imaginava um futuro chamando Hearth de seu, Hearth apenas estivesse vendo um momento em que eles pudessem admitir que não passava de uma amizade colorida. Nada demais.

Blitz levantou do chão, a flor em sua mão pareceu murchar instantaneamente, se tornando ainda mais pálida. Ele não queria olhar para Hearth, para seu rosto branco de porcelana manchado com aquela feição de que Blitzen entendera tudo errado, então Blitz olhou para o chão (coisa que não deveria fazer enquanto falava em ASL) e movimentou as mãos para que sinalizassem um pedido de desculpas e um breve adeus. 

Em outra situação, ele teria se culpado por não ter se despedido direito de Hearthstone, mas naquele momento ele só queria desaparecer. Queria usar todos os seus conhecimentos de moda para fazer um óculos que enxugasse suas lágrimas e um casaco que lhe desse a sensação de estar sendo abraçado. Droga! Ele só queria que Hearth dissesse sim para ele beijar aqueles lábios finos e rosados enquanto bagunçava todo o cabelo platinado.

Mas planos como aquele sempre dão errado. E dão errado o tempo todo. Blitzen só queria que aquela dor parasse de doer logo.

Blitzen pegou o ônibus, sentou perto da janela e voltou a chorar. Chegou em casa, colocou seu pijama, engasgou com o chá de tanto chorar, dormiu de exaustão pelo coração partido. Ele estava pronto para entrar no ciclo de amor não-tão-correspondido. Aquele era seu destino.

Exceto pelo som do telefone que acordou Blitzen 3 horas depois. 

Magnus. 

"Alô?" Blitzen perguntou sem nem ao menos conseguir abrir os olhos inchados.

"Blitzen, você está bem?" Magnus parecia realmente preocupado, o que de fato não fazia sentido, Magnus estava numa viagem paradisíaca com Alex para comemorar a formatura de Sam.

"Eu não deveria estar?"

"Bem, provavelmente não. Hearth me mandou mensagens preocupadas sobre um acidente fatal com um cara negro e jovem da avenida central de Boston, ele acha que foi você porque vocês se encontraram próximo do lugar do acidente e você saiu às pressas."

"E por que ele não me enviou mensagem para perguntar?" Blitz perguntou mal-humorado.

"Ele disse que você bloqueou ele em todas as redes sociais. Está tudo bem?"

Blitzen xingou. Claro que não estava, ele odiava sentir que apesar de tudo ele ainda incomodara e preocupara Hearth depois da cena patética que havia feito.

"Eu o pedi em namoro." 

"Então temos um novo casal! Que tal se combinarmos um encontro de casais no restaurante do Amir? A comida de lá é incrível, sa-"

"Ele disse não." Blitz o cortou friamente.

Silêncio no telefone. Blitz só sabia que Magnus ainda estava lá por conta da respiração contra o microfone.

"Você tem certeza de que não confundiu os gestos? Quer dizer, às vezes você fica tão nervoso que confunde." falou por fim.

"Ele disse não, eu tenho certeza. Se ele tivesse dito sim, pode apostar que não teria ficado o clima que ficou."

"Então... Sei lá, vocês dois pareciam estar apaixonados quando eu saí de Boston e isso foi há uma semana, e ainda ontem Hearth mandou mensagem dizendo que se sentia no paraíso com você... Acho que não tem como mudar esses sentimentos só com uma pergunta."

"Bem, ele mudou de opinião!"

"E você perguntou o motivo pela qual ele não quer ser seu namorado? Por que para mim é bem impossível de ele ter dito 'não' assim do nada."

Blitzen não tinha perguntado, mas quem culparia ele? Ele não esperava por um 'não' e ele era claramente muito sensível, todos sabem o quanto ele chorou só de ver o início de Galinho Chicken Little. Então o que ele deveria fazer agora? Procurar Hearth?

"Ei, Blitz... Conversa com o Hearth. Acho que um dos principais motivos pelo qual vocês se apaixonaram foi a capacidade de trasnceder os limites de vocês não importa o quê. Eu tenho que ir agora, tchau!" Magnus aconselhou uma última vez.

(...)

Blitzen tocara a campainha de Hearth e vira o grande flash de luz disparar para que o homem loiro dentro da casa soubesse que havia uma pessoa esperando do lado de fora.

Demorou apenas alguns minutos para que Hearth atendesse a porta. A primeira coisa que Blitzen notou foi seu rosto, estava vermelho e inchado, como se tivesse igualmente chorado toda a àgua para fora de si, depois Blitzen notou o cabelo loiro bagunçado como se alguém o tivesse arrepiado diversas vezes sem um padrão, as mãos tremiam e quando ele voltou a olhar para o rosto de Hearth foi surpreendido por um abraço saudoso.

Hearth não o soltava, mas Blitzen entendia o que aquilo significava. Hearth passara pelo inferno tentando colocar em sua cabeça que Blitz não estava morto mesmo com todas as notícias reportando cada vez mais detalhes de um homem morto com as características de Blitz.

Quando se soltaram, Blitz estava com as mãos tão trêmulas que segurou o rosto de Hearth e o fez ler seus lábios.

"Eu estou bem. Nada de ruim vai acontecer comigo, amor."

Hearth chorou quando terminou a leitura labial, movimentando rapidamente as mãos gesticulando sobre como esteve preocupado e que nunca queria que a situação toda tivesse terminado daquela maneira. Blitzen calou suas mãos para deixar que os olhos castanhos e azuis se condensassem por um instante.

"Por que você não quis namorar comigo, H? Eu não vou te odiar se você disser que me vê só como amigo, mas você pode me dizer a verdade aqui... Você quer ser só meu amigo?" Blitz gesticulou.

Hearth suspirou, as mãos fizeram um breve sinal de 'não'.

"Eu quero ser seu namorado, mas eu não posso fazer isso."

"E por que não?" Blitz gesticulou de volta.

"Eu sou complicado, todo esse problema de não poder falar ou ouvir as coisas, e ainda tem minha família completamente problemática que me culpa por influenciar meu irmão a ser feliz. Eu iria te carregar para todos os problemas da minha vida e você veria que eu sou tão... imperfeito."

Blitz deixou uma lágrima deslizar pela sua bochecha ao ver tudo que Hearth gesticulara.

"Suas imperfeições são lindas, eu me apaixonei por cada uma delas, amor. Você é perfeito com todas essas imperfeições."

Agora Hearth realmente começara a chorar e isso fez com que Blitzen imediatamente o abraçasse. Se ele estivesse em qualquer um de seus outros namoros, ele ouviria a outra pessoa engasgando e soluçando entre as palavras que não iriam fazer sentido nenhum, mas ali com Hearth ainda soluçando de emoção, nenhuma palavra saiu e Blitz pôde sentir o poder daquele abraço, ele expressava tudo o que ambos queriam dizer. Blitz não precisava que Hearth falasse, Hearth demonstrava com tanta força e pureza que era o suficiente.

Quando Hearth se acalmou, Blitzen olhou naqueles olhos azuis e sorriu. ELe escolhera Hearth e se Hearth o escolhesse, ele seria o homem mais feliz do mundo, com toda a certeza.

"Se eu aceitar eser seu namorado, as pessoas vão falar, você sabe." Hearth gesticulou "Isso seria mal para o seu negócio."

"Bem, as pessoas não sabem de nada, e se elas têm tanto tempo livre assim para ver com quem eu namoro, elas provavelmente terão tempo pra achar outro estabelecimento para comprar, eu não vendo para preconceituosos e intolerantes." 

Hearth riu.

"Além disso, eu sou gay e negro, as pessoas já comentam, pelo menos se começarem a falar sobre isso, elas vão poder dizer que eu namoro o homem mais lindo e perfeito do mundo." Blitzen completou. 

Blitz abraçou Hearth de novo, ele amava a sensação de estar com Hearth em seus braços. Era seguro.

Hearth lhe cutucou de repente e começou a gesticular.

"Você quer ser meu namorado, Blitz?" Hearth nem precisava gesticular seu nome, mas ele fez o símbolo de Blitz, um aceno rápido pela sobrancelha por causa da sobrancelha negra e grossa dele. 

Blitz respondeu com um beijo.

"Você é você, nada mais importa." Blitzen gesticulou para o namorado um pouco antes de eles dormirem de conchinha no sofá.