Sweet and bitter love escrita por Ka Howiks


Capítulo 21
Uma chance de viver


Notas iniciais do capítulo

Olá meus leitores favoritos! Como estão? Aqui vai mais um capítulo de Sweet and Bitter Love, e antes de tudo, quero fazer algumas recomendações. Primeiramente, nossa missão dessa vez se passará em Nova Orleans, e para conectarem vocês ainda mais aos acontecimentos da história, aqui vão duas músicas.
Primeira: I got a big fat woman https://youtu.be/wi_9hXINEVM( tour em Nova Orleans

Segunda: Duke Ellington In a Sentimental Mood( dança)

Só lembrando que fica a critério de vocês escuta-las ou não, apenas achei que seria legal a compartilhar, e eu particularmente sou apaixonada por música, sendo a minha maior fonte de inspiração para escrever aqui.

Eu sempre falo um pouquinho aqui nas notas sobre como vai ser o capítulo, mas nesse, para matar vocês de curiosidade :) vou dizer apenas uma palavra: B-O-M-B-Á-S-T-I-C-O KKKK.



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Star City 2015 

 

Felicity não sabia muito bem como teve tanta força para dirigir. Havia dispensado Tatsu, que embora insistente, cedeu ao seu pedido. Ela queria ficar sozinha.

 

Completamente sozinha.

 

O barulho da buzina dos carros, a música no rádio… Nada mais fazia sentido. Estava devastada.

 

Destruída.

 

Ter aquela conversa com Oliver não havia sido fácil, e no momento em que o mesmo a segurou, a trazendo para perto sua vontade era de permanecer ali, entregue aos seus braços, em seu porto seguro. Felicity sabia que não tinha mais um porto seguro.

 

Ou casa.

 

Ou casamento.

 

Tudo o que restara era um vazio tormentoso, que dilacerava seu peito. Perdeu as contas da quantidade de vezes que ouviu o barulho das buzinas chamando sua atenção. Felicity não sabia para onde estava indo. Cogitou por um momento passar a noite na casa da família Lance, mas se recordou rapidamente que no momento, aquela residência também não deveria estar passando por uma situação fácil, e além disso, suas forças para confrontar mais uma pessoa amada que a enganou haviam se esgotado, gastando os últimos grãos com Oliver.

 

Oliver

 

Como poderia ter mentido daquela maneira? E ainda teve a coragem de continuar fingindo mesmo diante da descoberta de sua armação. Felicity poderia estar enganada, sabia disso, mas no momento que encontrou seus olhos nublados, a voz rouca e grave dizendo que a amava, se deixou acreditar por um segundo que aquele poderia ser o seu Oliver. Havia falado com tanta convicção, tanta veracidade…

 

Mais uma de suas armadilhas.

 

Haviam sido tantas.

 

As promessas, as juras...Tudo não havia valido nada.  Sorriu sombriamente, sentindo mais lágrimas escorrerem por seu rosto. Acelerou um pouco mais, ficando acima da velocidade recomendada. Era tarde da noite, poucas pessoas trafegavam pelas ruas àquela hora. Ultrapassou um sinal vermelho.

 

Dois…

 

E assim seguiu.

 

A velocidade do carro pouco se comparava ao turbilhão que eram seus pensamentos. Havia mágoa, raiva, tristeza, e o pior de todos.

 

Amor.

 

Deu um soco no painel do carro, soluçando.Como um sentimento que havia lhe proporcionado tantos momentos maravilhosos fora o responsável por a deixar sem rumo? Felicity amou Oliver, muito.

 

Será que o mesmo, no tempo em que estiveram juntos a amou também?

 

O pensamento aumentou seu choro. Seu óculos começou a ficar embaçado pela quantidade de lágrimas que insistiam em descer constantemente por sua pele, formando um trajeto próprio. Seu peito doía, doía tanto que chegava a ser insuportável. 

 O peso em seus pés diminuiu, indicando que estava prestes a parar e ao estacionar, se deu conta de onde havia parado. Pegou sua pequena mala e saiu, tentando normalizar a respiração. O porteiro já a conhecia, mas ao notar seu estado arregalou os olhos. Felicity, com uma voz falha, apenas avisou que estava subindo, e sem muito impedimento prosseguiu. Após alguns minutos no elevador, observando o enorme espelho que refletia uma figura completamente destruída chegou ao andar, se policiando para não olhar em mais nenhuma superfície que pudesse mostrar seu rosto. Sua batida na porta soava desesperada. Era madrugada, pouco provável que estivesse acordado, mas ao escutar o barulho de chaves prendeu a respiração. Um Ray, ainda com a roupa do trabalho apareceu, surpreso, mas o choque que passou por seus olhos ao notar o estado de Felicity se transformou em preocupação.

 

— Lis?

 

— Eu não sabia mais para onde ir.- tentou sorrir.- Ray eu…

 

— Vem aqui.

 

Felicity desabou em seu abraço, sentindo o peso que segurava finalmente despencar de seus ombros.Se permitiu chorar, chorar tanto que uma falta de ar a acompanhou. Naquele momento, ao finalmente notar sua situação nos braços do amigo, o desespero se tornou presente.

 

— Eu não consigo respirar.- falou com dificuldade enquanto Ray a levava até o sofá.

 

— Vai ficar tudo bem. ok?- a deitou em seu peito.- Você não está sozinha, jamais vamos deixá-la sozinha.

 

Ray a abraçou fortemente, acariciando seu braço. Não era necessário explicações, sabia exatamente o que estava acontecendo. A respiração de Felicity se acalmou aos poucos, e um silêncio desolador se fez presente. Ray não falou mais nada, sabia que nada seria suficiente para melhorar sua dor, então a deu o que precisava.

 

Silêncio.

 

E um ombro amigo.

 

Ombro onde passou uma das piores noites de sua vida.

 

***

Oliver resmungou diante da luz em seu quarto. Após a saída de Felicity sua mente não havia sido a melhor companhia. Tomou a primeira garrafa de vodca que encontrou em casa, e sentado no chão ao lado da cama, entre cacos de vidros, passou a noite observando com um sorriso triste o quadro onde ele e Felicity se encontravam felizes em sua lua de mel. Ela estava feliz ali, contente e cheia de luz, tão diferente…

 

Tão diferente da Felicity que encontrou na noite anterior.

 

Ouvir suas palavras havia sido duro. A forma como o olhou, o desgosto em seus olhos…Foi então quando decidiu tomar da própria garrafa a primeira dose de vodca. O líquido queimou em seu peito, sendo infelizmente ineficaz demais para conter seu sofrimento. Oliver estava quebrado.

 

Totalmente quebrado.

 

Saber que havia a magoado era sem sombra de dúvidas a mais agoniante sensação que já havia sentido na vida. E quando a ouviu falar que o amava… Suspirou mais uma vez, tomando outra dose. 

 

Felicity não o amava mais.

 

E no final qual era o real resultado de tudo isso? Mentiu para não perdê-la, mas suas motivações não faziam mais sentido agora. Será que, se premeditasse ter contado de uma maneira menos agressiva Felicity teria ficado ao seu lado?

 

Será que continuaria o amando?

 

Ele não tinha a resposta, apenas o doloroso “e se”, que se repetiu tantas vezes pela madrugada que o deixou surdo. Não soube quando apagou, na realidade, apenas descobriu que havia caído no sono pelos sons de passos por seu quarto. Resmungou novamente.

 

— Acorda. Anda cara!- a voz impaciente de Tommy o fez abrir os olhos, encontrou John mexendo em seu guarda- roupa.

 

— Não...Não toca nisso.- falou com a voz arrastada, se levantando aos tropeços ao ver Dig tocar, sem querer, em uma blusa de Felicity.- É da minha esposa.

 

— Ele tá de ressaca, maravilha.- sorriu Tommy azedo. John segurou Oliver, o deixando sentado na cama.

 

— Por que estão aqui?- perguntou irritado.

 

— Porque você tem problemas, e nós somos seus amigos.- respondeu John.

 

— Eu não vou a lugar nenhum e...

 

— A questão é que você não decide agora.- o cortou, olhou firmemente para Oliver.- Você vai tomar um banho, comer alguma coisa, tirar esse maldito bafo de alcool e estar na A.R.G.U.S o mais apresentavel possível, entendeu?- Oliver suspirou.

 

— Acha que ela gostaria de te ver assim?- a voz baixa de Tommy o deixou em alerta. Sabia da resposta, Felicity o repreenderia por ter bebido tanto. Se levantou, e sem dizer mais nada caminhou até o banho.

 

Seus gestos eram automáticos, mas ao sentir a água quente cair em seus músculos contraídos a realidade veio à tona. Não poderia ficar em casa, uma verdadeira guerra estava formada lá fora.

 

Era hora de ir a combate.

 

Não ousou comer, já que o simples cheiro de café o deixou nauseado. No caminho todo usou óculos de sol, sentindo a massiva dor de cabeça que havia chegado para o punir. Não reclamou.

 

Merecia bem mais que isso.

 

John estacionou, e juntos os três saíram, passando pela portaria. Notou três carros do FBI na porta e sua respiração se tornou pesada, como se houvesse escalado uma montanha. John apertou seu ombro.

 

Precisava ser forte.

 

Caminhou pelos corredores, tendo a todo momento Tommy e John atrás de si. Diminuiu os passos ao encontrar no corredor da sala de Waller, ninguém menos que Laurel, Caitlin e o capitão Lance. Sara estava sentada em uma cadeira oposta, cabisbaixa e com o rosto sofrido. Sua presença não demorou a ser notada, pois no momento seguinte, sem que pudesse se defender, sentiu o punho do capitão o acertar no nariz, puxando a gola de sua camiseta.

 

— Seu desgraçado!- vorecificou apertando seu pescoço.- Eu deveria matar você!

 

Outro soco o atingiu e Oliver apenas fechou os olhos, permitindo que terminasse o que havia começado. Aqueles socos não eram nada comparados ao que sentia.

 

Trincou o maxilar ao receber o terceiro.

 

Tommy segurou Quentin que o xingava dos mais baixos palavrões possíveis, enquanto John permaneceu ao seu lado, segurando seu braço para que não caísse.

 

— Pai, você precisa se acalmar!- pediu Laurel nervosa.- Vai acabar tendo um ataque do coração, o médico disse que não podia se exaltar!

 

— Não me exaltar?- perguntou irritado, tentando mais uma vez chegar a Oliver, Tommy o conteve novamente.- Olha o que ele fez! Por culpa dele Sara se envolveu nisso tudo.

 

— Eu me envolvi porque eu quis.- rebateu a Lance mais nova, se pondo de pé.- Essa culpa é minha, não jogue isso nos ombros dele também.

 

— Ele já tem muita culpa, não é?- sorriu cínico.- Espionagem a empresa, mentir para Felicity… Céus, Felicity.- parou por um momento, onde Tommy o soltou, mas ainda continuou a sua frente.- Como pode fazer isso com ela?  A usar desse jeito!

 

— Felicity não foi um jogo pra mim senhor Lance, acredite ou não eu a amei, ela é a minha esposa.

 

— Esposa.- Laurel falou dessa vez, raivosa.- Você é muito cara de pau.

 

— Como ela está?- perguntou aflito.

 

— Como você acha?- disse Caitlin friamente.- Destruída.- Oliver engoliu em seco.- Exatamente como você a deixou.

 

— Eu sinto muito. Eu não queria…- as palavras começaram a se misturar.- Eu não…

 

— Mas você fez.- continuou.- E espero que esteja feliz.

 

Não houveram mais conversas. Os ânimos se acalmaram. O nariz de Oliver ainda sangrava, mas pouco importava. Estava sentado em uma cadeira, perdido em pensamentos.

 

"Destruída"

 

A ansiedade que o atingiu, sendo a única resposta ter a esposa em seus braços o fez apertar as mãos. Precisava vê-la. Saber se estava bem, conversar....

 

Precisava de Felicity.

 

A porta da sala de Waller foi aberta, dando vislumbre a uma Watson de rosto impassível, enquanto Amanda parecia claramente satisfeita.

 

— O vírus Omega, como sabem, foi definitivamente destruído.- respondeu Waller.- Alguns membros da tríade chinesa, incluindo a própria chefe, China White, estão sob nossa custódia e aguardam julgamento. O general Matthew Shrieve, com as provas entregues a uma fonte anônima do FBI.- olhou para Watson.- Também está sendo preso neste momento pela agência de vocês, o que significa que fizeram um excelente trabalho.

 

— E o que vai acontecer agora?- perguntou Sara temendo o pior, Watson a olhou friamente.

 

.- Pegue todas as suas coisas e saia da minha equipe.- sua voz cortante a Sara a deixou acuada.-  Tem sorte de a missão ter resultado em êxito, vocês dois.- olhou para Oliver duramente.- Porque se não fosse isso a essa altura estaria atrás das grades.

 

Oliver se pôs de pé, ficando a sua frente. Watson o analisou dos pés à cabeça.

 

— Como eu disse, muita sorte.- fingiu um sorriso.- A forma como se infiltrou em minha agência foi a mais baixa possível, assim como você.- seus ombros se tornaram rígidos.- Felicity não merecia tamanha decepção. 

 

O loiro permaneceu com suas feições endurecidas, mas a constatação o atingiu como lâminas afiadas Os assistiu sair, sendo Sara a única a ficar do grupo do FBI.

 

— Já fiz muito por vocês dois, me agradeçam.- disse Amanda, Oliver a lançou um olhar gélido.

 

— Não vai ser necessário.- fingiu um sorriso se aproximando. As expressões impiedosas em seu rosto fizeram Amanda dar um passo para trás.- Foi a última vez que a deixei brincar com a minha vida, entendeu?- falou em tom baixo, mas o duro o suficiente para que não passasse despercebido a seriedade de sua frase.

 

— Acho melhor policiar o seu tom senhor Queen.

 

— E eu acho melhor você me escutar bem.- olhou no fundo de seus olhos.- Continuarei trabalhando aqui, sendo um agente perfeito, mas jamais tente me ameaçar de novo, porque agora eu não tenho nada a perder.

 

Amanda assentiu. Poderia ser imponente e mostrar indiferença a qualquer um que se opusesse a suas ordens, mas sabia exatamente quando estava diante de alguém perigoso. Virou as costas e saiu, os deixando sozinhos.

 

— Eu sinto muito Ollie.- disse Sara pesarosa.

 

— Você a viu? Como ela está?- perguntou angustiado.

 

— Ela não quis ir pra casa.- sorriu tristemente.- Está com Ray, por isso ele não veio. Ela está bem mal.

 

— Eu imagino.- suspirou.- Você tem onde ficar?

 

— Laurel não quer falar comigo, muito menos Caitlin, vai dormir lá uns dias.- seus olhos marejaram.- Meu pai não está nada feliz, mas não me mandou embora. Só espero que as coisas se resolvam.

 

— Vão se resolver.- garantiu a abraçando.- Não sou a melhor companhia agora, mas Tommy e John estão aqui também.

 

— Vamos cuidar de vocês.- Dig sorriu.- Lyla adoraria ter umas visitas em casa.

 

— Eu agradeço, mas no momento eu só preciso ficar sozinho.- os três assentiram, e o olhar de pena o deixou ainda mais abalado.

 

— Vou deixar você em casa.- Tommy segurou seu ombro.- Vamos lá.

 

***

 

Oliver permaneceu deitado o restante do dia da forma mais deprimente possível. Não retornou nenhuma ligação, até cogitou desligar o celular, mas a possibilidade de uma das chamadas serem de Felicity o impediu. Já era noite, não havia comido nada ainda e a dor de cabeça, embora fraca, permanecia. O apartamento estava silencioso, com as luzes apagadas. Um barulho de chaves na fechadura o fez se sobressaltar do sofá. 

 

Será que seria....

 

A claridade o deixou cego, cobrindo os olhos. Se ergueu de forma desengonçada, tentando parecer bem, mas ao notar quem era, seu corpo se jogou novamente no sofá.

 

— Isso que eu ganho por vir ajudar você.- sorriu Thea ironicamente, trazendo um pote enquanto caminhava até a cozinha, acendendo as luzes. Voltou após alguns instantes.- Ollie…

 

— Você não quer ver o seu irmão assim.- resmungou se cobrindo com a almofada.

 

— Não pode ser tão ruim.- tentou puxar o objeto.- Qual é Ollie, uma ressaca não…- se calou ao finalmente ver seu rosto.- Nossa.

 

Seu nariz estava levemente inchado em resultado aos golpes de Quentin, e seus olhos com olheiras escuras pela noite mal dormida estavam extremamente visíveis. O mesmo se sentou no sofá, apoiando os cotovelos nas pernas enquanto segurava a cabeça. Thea se sentou ao seu lado.

 

— Não está tão ruim.- falou em tom doce. Suas mãos acariciaram as costas do irmão.

 

— Você já sabe, não é?- perguntou virando o rosto para encará-la minimamente. Thea assentiu.

 

— Mamãe me contou.- falou cautelosa, um sorriso a escapou.- Então você é um super agente ou algo do tipo. Sempre achei que trabalhar na corporação Queen não era a sua cara.- seu comentário o deixou leve, e por segundos se permitiu soltar um riso baixo.

 

— Obrigado por isso, eu estava precisando.- seu sorriso se desmanchou ao lembrar da realidade.- Deve estar me achando um idiota.

 

— Um pouquinho.- empurrou seu ombro de forma brincalhona, mas ao notar que o irmão permaneceu calado suspirou.- Como você está, Ollie?

 

— Quebrado.- seu olhar perdido observou a casa vazia, e sem aguentar mais, um tremor o percorreu ao notar o estado de sua vida.- Eu a amo tanto.

 

— Eu sei.- Thea o abraçou, e Oliver se permitiu chorar no ombro da irmã caçula.- Vai ficar tudo bem Ollie. Você não está sozinho.

 

— Nunca me senti mais sozinho.- respondeu com a voz abafada. Se afastou para limpar o rosto.- Eu a perdi Thea, pra sempre.

 

Não soube o que responder, então apenas permaneceu calada, dando o apoio que o irmão precisava. Não havia nada, nem o mais lindo poema, que o ajudaria naquele momento.

 

***

 

Uma semana havia se passado desde que Felicity chegara na casa de Ray. O amigo estava a ajudando muito, evitando falar de Sara, embora tenha escutado( sem que o mesmo percebesse) uma ligação entre o agente e a chefe Watson, que o deu os últimos detalhes da reunião com a A.R.G.U.S. Ao que parecia, tudo estava bem.

 

Não pra todo mundo.

 

Outras visitas que se faziam constantes no apartamento de Ray eram Caitlin, Laurel e Quentin, a dando apoio. A mãe a ligou assim que as notícias chegaram aos seus ouvidos, e quis prontamente vir a Star City, mas Felicity negou, não queria incomodar ainda mais Ray, e na realidade, tudo o que precisava era ficar sozinha.

 

Completamente sozinha.

 

O que virou uma raridade.

 

Não que não gostasse, amava ver o quão aquelas pessoas haviam se tornado sua família, mas em certos momentos ela precisava respirar, para então, e só então, decidir o que fazer.

 

Mas o que faria?

 

Aquela pergunta a rondava constantemente. Não havia uma resposta completa, no entanto, já tinha certeza de alguns pontos, e doía, doía muito ter que fazer aquilo.

 

Mas era necessário.

 

Observava a aliança em seu dedo com o rosto impassível, aguardando a chegada de Laurel. Já havia tentado tirá-la, mas no mesmo instante a recolocava em seu dedo outra vez, e por mais que odiasse admitir estava sentindo muita, muita a falta de Oliver.

 

E fazia apenas uma semana…

 

Teria que se acostumar.

 

Forçou um sorriso ao ver a amiga chegar. O apartamento estava vazio, o que as deu certa privacidade para acertarem os pequenos detalhes do assunto. Laurel se sentou ao seu lado.

 

— Oi Lis.- a abraçou com um sorriso amigável. - Vim o mais rápido que pude. Então...

 

— Eu preciso que me ajude em uma coisa.- suspirou.- e isso inclui que use os seus anos estudando direito.- a amiga franziu o cenho, confusa.

 

— O que quer fazer?

 

— Eu quero o divorcio Laurel.- falou firme.- Mas quero que deixe tudo preparado, a única coisa que quero que Oliver precise fazer é assinar.

 

— É isso mesmo que você quer?- perguntou receosa, mas diante do olhar duro de Felicity teve sua resposta.- Ok então.- arrumou sua postura.- Vamos providenciar isso.

 

***

Atualmente 

 

— Maldita aposta.- reclamou Sara em frente ao notebook.

 

— Nem me fale.- suspirou Felicity desgostosa, se apoiando no balcão de madeira do pequeno bar.

 

— Graças a Deus finalizamos.- comemorou Laurel se espreguiçando.- Só de pensar que vamos ter que escrever isso pra próxima missão…

 

— Não lembra.- Sara a deu um empurrãozinho no ombro.- Isso deve uma bebida.

 

— Eu aceito vinho.- sorriu Felicity.

 

— Não sei se é de bebida que eu preciso para relaxar.- suspirou Laurel. Ray que estava no sofá sorriu e se levantou, a abraçando por trás.- Mas isso aqui com certeza.- fechou os olhos.

 

— Tão melosos.- Sara fez careta.- Eu tô indo nessa.

 

— Espera por mim.- disse Felicity se levantando.- Não façam barulho.- piscou, Laurel riu.

 

— Elas não valem nada.- brincou, Ray beijou o topo de sua cabeça e então a contornou, ficando no meio de suas pernas.- O que foi?

 

— Zoe mandou mensagem.- respondeu em tom baixo, Laurel rapidamente ficou em alerta.- Ela está bem, mas parece que vai conhecer um casal.

 

— Isso é bom, não é?- forçou um sorriso.- Fico feliz por ela, merece uma boa família.- disse com dificuldade.- Está incomodado também?

 

— Sim, e o pior de tudo é que eu nem sei o porquê.- Ray sorriu, grato por perceber que não era o único que se sentia daquela maneira em relação a Zoe.- Nós três tínhamos uma boa conexão.

 

— Se nossa vida não fosse tão complicada, sem tiros e fugas, eu adoraria que ela morasse conosco.- comentou em tom baixo, Ray entreabriu os lábios, afetado por sua declaração.- Seria ótimo.

 

— Adotaria mesmo uma criança comigo?- perguntou encarando a fundo seus olhos, Laurel assentiu, sorrindo de canto.

 

— Eu amo você, e não tenho dúvida de que é o amor da minha vida.

 

— Dinah Laurel Lance, a mulher que impos que fossemos com calma, não contassemos a ninguém da equipe está se declarando pra mim?- Um sorriso enorme tomou conta de seu rosto.

 

— Pois é.- deu de ombros, passando os braços em volta de seu pescoço.- Olha só o que aconteceu com a gente.- o deu um selinho demorado.

 

— Eu também amo você.- sussurrou, extremamente contente.- Muito.

 

— Ah, mas que lindo.- a voz de Tommy cortou o clima, o moreno descia as escadas a frente de Oliver.- O amor está no ar na base da equipe pessoal, achem os seus pares! E por falar nisso, onde está a Lis?

 

— Na cozinha.- respondeu Laurel.

 

— Por que quer saber onde ela está?- Oliver cruzou os braços, o que fez os olhos do amigo brilharem.

 

— Laurel já achou o par dela, eu sei exatamente onde Caitlin está.- sorriu convencido.- Estava tentando ajudar você. Agora é só ir lá e…- Oliver começou a andar, o ignorando completamente.- Não se pode fugir da flecha do cupido!

 

— Continue falando e alguma flecha vai acertar o seu traseiro.- respondeu alto. Laurel e Ray riram.

 

— Cruzei a linha de fogo, vou ficar aqui com vocês.- se sentou no sofá.- Essa ameaça é gravíssima, principalmente quando se trata do Robin Hood. E eu preciso estar inteiro para Caitlin, sem faltar nenhuma parte.

 

— Tenho certeza que se continuar fazendo isso, alguma parte vai faltar.- comentou Laurel, Tommy assentiu pensativo.

 

— Tem razão, aqui sou um alvo fácil, vou ficar com Caitlin.

 

O assistiram subir as escadas novamente, que levava ao andar dos quartos. Ray a observou de forma curiosa, quando a sentiu puxá-lo novamente.

 

— Fez isso só para ficarmos sozinhos, não é?

 

— Claro que não.- sorriu de forma maliciosa.- Onde estávamos mesmo?

 

— Eu falando que te amava ou algo do tipo.

 

— Interessante.- sorriu, o beijando mais uma vez.- Quero saber mais disso.

 

— Aqui não.- indicou o andar acima.- É cedo, temos um tempinho antes da missão chegar.

 

— Eu vou amar.

 

***

 

Ao fim da tarde toda a equipe estava reunida, e as tão correntes reuniões estavam prestes a acontecer. Oliver e Felicity falaram com o vice-diretor, no entanto, o mesmo fez questão de dar os detalhes, já que ao que parecia, outras áreas do FBI e da A.R.G.U.S estariam envolvidas nesta missão.

 

“- Boa tarde agentes.- os cumprimentou.- Primeiramente tenho algumas notas. Senhor Harper…- Roy prendeu a respiração.- Meus parabéns! A caderneta nos possibilitou a encontrar mais vítimas do senhor O’brien, o que nos ajudou e muito a pegar uma pena mais dura para ele.- assobios foram ouvidos enquanto Felicity, assim como os demais, bagunçavam os cabelos de Roy.- Seja bem-vindo a equipe de espiões entre agências. E agora, seguindo para a missão atual…- limpou a garganta, os chamando atenção.-  Senhorita Kemille Piquet.- a imagem de uma mulher de pele e olhos escuros, bem vestida e de cabelos curtos foi mostrada.- descoberta recentemente como a chefe de uma quadrilha de roubos milionários. Seus principais comparsas são, Betty Webb, Scott Grace, Michael Thompson e Everly Lyon.- quatro rostos jovens apareceram.- Todos vistos nos locais do crime dias antes dos enormes assaltos. A quadrilha é especializada em roubos de obras de artes, e após o desaparecimento dos quadros, são vendidos a preços exorbitantes em leilões do mercado ilegal. Graças a investigações recentes e a fontes confiáveis, foi chegado aos nossos ouvidos que os quadros roubados no museu The Getty Center, em Los Angeles, ainda não foram vendidos, já que o grupo planeja nos próximos dias, conseguir mais obras para então prepararem o leilão.”

 

E onde vai acontecer esse novo roubo?- quis saber John.

 

“- No museu de Nova Orleans, localizado no estado da Louisiana.- informou.- O edifício possui obras de diversos períodos da história, que são verdadeiros marcos culturais. A missão de vocês é descobrir uma maneira de entrar no local sem chamar atenção, já que Kemille contém um ajudante infiltrado.- avisou.- E de passar para a sala secreta  do museu, onde as obras da próxima exibição estão guardadas, trocá-las por obras idênticas que possuem mini localizadores e rastreá-los até a origem das outras obras. Perguntas?”

 

— Quadros com o quê?- perguntou Roy confuso.- Onde vamos conseguir uma coisa dessas?

 

“ - Setores do FBI e da A.R.G.U.S se juntaram para prepararem peças perfeitas, que ficarão prontas amanhã perto do horário do meio-dia. Foi decidido também que o agente Queen e a agente Smoak irão embarcar no primeiro voo amanhã, para fazerem o reconhecimento do local, e o restante irão embarcar no horário da tarde, entendido?- Oliver e Felicity entreabriram os lábios, surpresos.- Qualquer dúvida é só nos contatar. Um boa sorte agentes.”

 

A ligação foi finalizada. Um silêncio constrangedor se formou até que Felicity limpou a garganta, coçando a nuca. 

 

— Temos que arrumar as malas então.- forçou um sorriso.

 

— Nova Orleans promete.- disse Tommy empolgado, soltando um sorriso malicioso ao encontrar o olhar de Oliver, que já esperava alguma provocação.- E como diz o lema da cidade: “ deixe os bons tempos rolarem”

 

***

Felicity ficou de certa forma bastante apreensiva pelas informações dadas pelo Vice-diretor. Não pelo caso,  já havia enfrentado coisas piores, mas sim por saber que passaria horas completamente sozinha ao lado de Oliver. Não se preocupava com ele.

 

Mas sim com ela.

 

E com seu não tão confiável autocontrole.

 

Pode-se notar os sorrisinhos maliciosos dos amigos, que embora fossem chegar apenas algumas horas mais tarde que eles, ainda sim pareciam ter tirado tempo para provocá-los. Oliver lançou olhares repreensivos mais vezes do que pode contar, e Felicity…

 

Felicity tentava dizer para si mesma que tudo acabaria bem.

 

Arrumaram as malas, sendo três no total, já que Felicity insistiu em levar uma pequena bolsa na mão. Antes de pegarem o primeiro voo, passaram a limpo como prosseguiram com a missão. Pelas informações recebidas, continham conhecimento de que  Kemille Piquet ainda não havia embarcado para Nova Orleans, tendo apenas seus comparsas na cidade, que estavam lá há aproximadamente três semanas. Kemille, ao que tudo indicava, preparava os detalhes finais para o grande assalto, e só após sua permissão, a equipe poderia então executar o grandioso( e milionário) plano de furto das obras. O time de agentes ficaria a monitorando vinte e quatro horas por dia, tendo assim real noção do que estava acontecendo. Aparentemente tudo estava na mais perfeita organização.

 

Era hora de colocar o plano em prática.

 

Felicity acordou agitada, mas se manteve firme. Oliver( pelo o que pode notar), parecia perfeitamente calmo, o que de certa forma a ajudou. John os levou até o aeroporto, onde informou que a agência cuidaria para que as malas fossem enviadas para o local em que descansariam, sem os fazer perder tempo e irem direto ao museu. Os abraçou rapidamente com um sorriso de canto, o que fez Oliver revirar os olhos. Era só uma missão.

 

Por que estavam tanto no seu pé?

 

Era claro que passar algumas horas sozinho com Felicity o agradava, mas na mesma proporção que o deixava extremamente feliz o afligia de forma imensurável. Após a conversa com Donna as coisas haviam ficado mais claras, e pela primeira vez após tanto tempo cercado por uma névoa via que era possível. No entanto, conseguia enxergar agora também os obstáculos, o precipício…

 

A teimosia de Felicity.

 

O passado dos dois.

 

As barreiras.

 

Respirou fundo. Um sorriso o escapou ao notar que a loira ao seu lado, que olhava com um olhar alarmado para a janela estava apreensiva. Cobriu o vidro, a impedindo de ver a paisagem. Uma ruga surgiu entre suas sobrancelhas.

 

— Por que fez isso?

 

— Porque quero ir assim que chegarmos para o museu, e não para um hospital.- provocou, a viu revirar os olhos.- Quer que eu segure sua mão?

 

— Eu estou acostumada com voos, ok? Não é como…- se calou assim que sentiu o avião começar a andar.- Não é como…- sua mão segurou firme o braço de Oliver, fechando os olhos.- Tá tudo bem, eu aceito.

 

— Mas que honra.- brincou, Felicity permaneceu de olhos fechados.- Pra alguém que gosta de correr é realmente intrigante seu medo por altura.

 

— Muitas coisas não fazem sentido, não é? O quadro negro é verde, calça se veste, sapato se calça… Há uma infinidade de coisas, não me incomodo de ser mais uma da lista.- Oliver riu, o que a fez abrir os olhos, divertida.

 

— Você é impossível.

 

A loira sorriu, porém, mesmo calma, continuou agarrada a seu braço, chegando a dormir por algumas horas. Oliver a acordou assim que chegaram, sendo recebidos pelo ar arido da animada Nova Orleans, que estava ensolarada e com temperaturas elevadíssimas. Pediram um táxi, e juntos, observaram as ruas com certa curiosidade. Não haviam passado pelo coração de uma das maiores cidades do estado da Louisiana ainda, mas o pouco que viram bastou para comprovar o que era verídico.

 

Nova Orleans era encantadora.

 

Tiveram ainda mais certa ao desembarcarem no City Park, local repleto de carvalhos antigos, pinheiros e pequenos lagos. Felicity arfou ao finalmente avistarem o enorme museu de arte. Sua arquitetura antiga, com uma leve influência grega pelas enormes quatro pilastras jônicas, o dava um ar ainda mais sofisticado, e o interior, composto por colorações claras assim como o monte olimpo, acentuava tudo. Haviam ainda mais pilastras, dezenas, que sustentavam os mais dois andares acima. O salão era aberto, dando visibilidade para notar as outras obras em exposição no piso superior. Se juntaram a um grupo de turistas, que prestavam atenção no guia que explicava cada uma das obras.  

 

— Precisamos ir para o segundo andar.- cochichou Oliver, Felicity assentiu, e ambos saíram juntos, soando como grandes apreciadores de arte.

 

— Eu não entendo nada disso aqui.- falou Felicity após subirem, olhando as exposições.- Digo, o que exatamente isso quer expressar?- apontou para o quadro de uma mulher que trajava um vestido extravagante e um chapéu azul de penas, sentada a uma poltrona vermelha.- O quão rica ela é? Ou o mal gosto para roupas…

 

— Acho que era apenas uma forma de apreciação a rainha Maria Antonieta, da França.- comentou Oliver. Felicity o encarou surpresa.

 

— Não sabia que entendia tanto de arte.

 

— Eu tenho muitos dons.- piscou, se inclinando para sussurrar.- Principalmente de ler as informações das obras expostas.- apontou para os nomes cravados na parte dourada da moldura.

 

— Bobo.- riu balançando a cabeça.

 

Continuaram a observar os quadros, notando as câmeras de segurança, e em um momento, a porta que levaria a área privativa onde as obras estavam. Oliver começava a andar em sua direção quando de repente, um casal se aproximou, parecendo extremamente interessados na entrada privada. Felicity segurou em seu braço, deitando a cabeça em seu ombro enquanto fingiam olhar mais uma obra de arte.

 

Betty Webb e  Michael Thompson.- sussurrou a loira.- Devem estar fechando os últimos detalhes,

 

— Vamos chegar um pouco mais perto.

 

Se aproximaram lentamente ficando ao lado de uma das pilastras, que os escondia de certa forma. Escutaram a menina loira suspirar.

 

— Eu juro que vou matar o Scott.- esbravejou.

 

— O que ele quer agora?- perguntou o homem de cabelos escuros, desinteressado.

 

— Quer nos encontrar no Café Du Monde, disse que é urgente. Será que ele não vê que o que estamos fazendo é urgente?- perguntou. Franziu as sobrancelhas, irritada pela falta de atenção do amigo.-, Michael! Você me ouviu?

 

— Apenas que o babaca do Grace quer nos ver, então sim, amor.- ironizou, sorrindo.- Eu escutei você, mas ao contrário do nosso companheiro, eu estou realmente tentando fazer o que Kemille nos mandou.- seu tom pareceu a frustrar. Olhou para os lados, e ao notar que não estavam sendo observados a beijou.- Isso tem que dar certo, ok? Para aí sim fazermos aquela viagem de luxo que você tanto quer.

 

— E roubar mais quadros.- sorriu divertida, Michael assentiu, contente.- Mas pra isso temos que nos livrar do Scott antes.

 

— Eu já teria o apagado faz tempo, não entendo porque Kemille o protege tanto.- revirou os olhos.- Conseguiu marcar?

 

— O lugar é bem seguro, e está em uma das últimas salas.- cochichou.- Só vamos ter problema com a segurança, mas Kemille já está cuidando disso.- se referiu ao funcionário infiltrado, Felicity e Oliver se entreolharam. 

 

— Bate com a planta o local?

 

— Sim.-lançou um olhar aborrecido ao celular que tocava mais uma vez.- Vamos logo

 

Oliver puxou Felicity ainda mais para a pilastra, saindo apenas quando os avistaram ao longe. A loira o encarou, pensativa com as informações recebidas.

 

— Coitado desse menino, Scott.- murmurou.- O casalzinho foi útil. As plantas batem, e pelo o que sabemos, Kemille estava bolando um jeito de driblar a tecnologia da sala.

 

— Não é difícil de entrar aqui, vamos ter facilidade.- comentou Oliver, que em um gesto apressado, indicou que andassem.- Há muitas janelas, e nossos equipamentos certamente são eficientes para destrancar as portas. E o sistema de segurança…

 

— Curtis pediu para colocarmos isso.- retirou o pequeno aparelho da bolsa.- É uma variante das esferas-T. Menores, mas conseguem copiar informações a distância.

 

— Muito bem pensado agente Smoak.- sorriu. A viu colocar o aparelho atrás do quadro da rainha da França.- Temos que chegar no café, antes deles. Se corrermos...

 

— Ah não.- suspirou de forma sofrida enquanto desciam as escadas pulando alguns degraus.- Sério isso?

 

— Eles disseram emergência, temos que saber que emergência é essa.

 

Atravessaram o museu, seguindo para o parque, que embora recheado de árvores, ainda sim podia-se sentir o sol ganhando cada vez mais força à medida que o horário do almoço se aproximava. Correram, passando por pontes de madeira e pequenos lagos, e quando o cansaço parecia os dominar, tiveram o vislumbre do café ao longe.Novamente pilastras brancas se faziam presentes na entrada. Pequenos guarda-chuvas verdes com mesinhas de madeira escura se espalhavam pelo jardim . Felicity e Oliver foram direto para dentro, e pelas portas de madeira com vidro transparente, avistaram um grupo de quatro pessoas, estes Betty Webb, Michael Thompson, Everly Lyon e Scott Grace. Todos estavam de cara fechada, exceto o menino de cabelos ruivos, que falava animadamente. Se sentaram à mesa ao lado da janela, se esforçando ao máximo para ouvirem o que o rapaz dizia.

 

— ...Você é louco.- disse Betty.

 

— Talvez, mas não sou um idiota que nem vocês que fazem tudo o que ela manda.- respondeu irritado.- Temos uma chance de entrar antes, pegar os quadros…

 

— Fala baixo.- repreendeu a mulher que deveria ser Everly, um pouco menor, de cabelos lisos longos e escuros.- Quer que todo mundo saiba o que vamos fazer?

 

— Como exatamente entraremos antes?- perguntou Michael. Betty o lançou um olhar alarmado.- Pode ser uma boa ideia.

 

— Digamos que eu tenha conseguido uma planta diferente.- informou orgulhoso.- Essa é antiga, mas mostra que há outras entradas. Se entrarmos por ela e causarmos o apagão temos uma chance. Além do mais, Kemille deixou o dispositivo comigo.

 

— Ela o quê?- perguntou o homem irritado. O sorriso de Scott se ampliou.- Como…

 

— Talvez ela me ache mais capacitado.- falou soberbo.

 

— E onde estão os materiais que você conseguiu para realizarmos o roubo?

 

— Ah, estão bem guardados.- seu olhar oscilou para fora, e Oliver acompanhou o ponto que observava.

 

— Vem comigo.- sussurrou o loiro.

 

Passaram pelo grupo de forma discreta, indo pelos fundos. Do lado de fora, caminharam calmamente até o veículo observado por Scott. Felicity franziu as sobrancelhas ao vê-lo chegar perto da moto.

 

— O gênio deixou as coisas aqui.- respondeu enquanto se agachava, tentando não ser visto.- Precisamos atrasá-los.

 

— Não vai conseguir abrir aí.- apontou para o porta-capacete.

 

— Não quero abrir.- sorriu, a deixando ainda mais confusa ao conseguir mexer nos fios.

 

— Oliver…

 

— Sobe, vamos ter que ser rápidos.- informou se sentando.

 

— Vamos roubar a moto dele.- falou descrente.

 

— Não deve ser dele, então não é tão ruim.- piscou. Felicity balançou a cabeça mas se sentou.

 

— No três eu quero que você segure firme em mim, ok?- falou Oliver.- 1...2...3!

 

O motor roncou, e segundos depois ambos partiram em alta velocidade. Sabiam que poderiam ser seguidos, e para evitar dar qualquer vantagem ao quarteto de assaltantes precisavam ser rápidos. Felicity soltou um gritinho com o impacto que sentiu ao passarem por uma ponte de madeira, cortando o parque. A adrenalina subiu, e o sentimento parecido ao que sentia quando estava dirigindo um carro em uma rodovia vazia a fez  abrir os olhos, sentindo o frescor do ar bater em seu rosto. O sol brilhava com mais intensidade, e as árvores, imensas e encantadoras, deixavam uma paisagem ainda mais bela ao lado do rio. Felicity sorriu, algo que Oliver notou pelo retrovisor. O loiro acelerou um pouco mais, os deixando próximos ao lago, já que ela parecia ter gostado. Continuaram o percurso em tom leve, mas pararam um pouco antes de pegarem a movimentada avenida que os levaria ao centro. Oliver estacionou em cima da grama, descendo após Felicity, que parecia eufórica.

 

— Isso foi incrível.- sorriu animada.- Onde aprendeu a fazer ligação direta?

 

— Como sabe, eu e Tommy não éramos boas pessoas na adolescência.- deu de ombros, se agachando novamente perto da motocicleta.- Vou tentar tirar o rastreador, assim, podemos viajar tranquilamente. Pode me emprestar os itens da bolsa?

 

— A vontade.

 

O entregou a pequena mala, que ao contrário do que pensam ao ver uma mulher com uma sacola, o único item que encontrariam de uma pessoa comum era um batom.Haviam pequenos equipamentos do FBI, que poderiam ajudá-los em casos de emergência. Deixou que Oliver se concentrasse, atendendo a ligação de vídeo de Curtis.

 

— Já chegaram? Tivemos um imprevisto aqui mas…- se calou ao notar o fundo.- Por que você ainda está na base?

 

“- Eu tenho más notícias…- os lançou um sorriso amarelo. Oliver se levantou, ficando ao lado de Felicity- Os quadros atrasaram, então remarcaram nosso voo para amanhã."

 

— Que profissionais.- resmungou Felicity.

 

“- Agora eu preciso que os dois fiquem extremamente calmos, ok?- seu pedido os deixou alarmados.- Como não acabamos indo, acho que a agência se confundiu e acabou...Cancelando nossas acomodações.”

 

— Como é que é?- perguntou Oliver.- Não temos onde ficar?

 

“- E a mala de vocês extravio, mas já estamos cuidando disso.- se apressou em dizer ao ouvir seus xingamentos.- Eu mesmo estou resolvendo isso com eles, mas como é fim do festival de coquetéis na cidade está um pouco trabalhoso...Mas estamos fazendo o máximo."

 

— Nos mantenha informados quando conseguir, ok?- pediu Oliver, já que Felicity parecia que ia ter um ataque dos nervos.- Se cuidem.

 

“- Vocês também.”

 

A ligação foi finalizada, e uma Felicity nervosa apertava os cabelos com força.

 

— Eu não acredito, não, não,não…- choramingou.- Sem hospedagem, sem malas, os quadros atrasaram...O que mais pode dar errado? Não ouse dizer!- levantou o dedo em riste a Oliver, que fez sinal de rendição.- Eu não acredito.

 

— Hey...- se pôs a sua frente, segurando seus ombros em um gesto atencioso, passando conforto.- Vamos dar um jeito.

 

— Como tem tanta certeza?

 

— Algo me diz que estar com uma das melhores hackers do mundo é um bom presságio.- Felicity riu, balançando a cabeça.- Um sorriso, bem melhor.- a viu morder os lábios, o que o desconcentrou por alguns segundos.

 

— Acho melhor tirar o rastreador.- comentou em tom baixo, sem graça. Oliver se afastou, limpando a garganta.

 

Felicity o esperou, observando a figura totalmente concentrada do agente a sua frente, que parecia ter facilidade em fazer aquele tipo de coisa. Respirou fundo, tentando permanecer calma. Horas sozinhos parecia ter se tornado, com alguma brincadeira do universo, um dia inteiro, e sua aflição diante do próprio comportamento ao lado de Oliver se tornou a sua maior preocupação. Será que deveria dar ouvidos a Donna?

 

Será que conseguiria se conter? 

 

Resistir?

 

Tudo aparentava ser complicado demais.

 

Voltou a ter foco quando o viu se levantar, limpando a testa. A entregou a bolsa.

 

— Pronta?- sorriu ao dar partida. Notou o brilho divertido em seu olhar.

 

— Você vai correr, não vai?- perguntou enquanto se acomodava

 

— Só até a avenida, depois de lá seremos cidadãos comportados.- brincou.

 

Felicity abraçou Oliver com força, deitando o rosto em suas costas.Não pode deixar de sentir o seu perfume, que a fez fechar os olhos. O loiro viu sua ação, o que o fez sorrir ainda mais. Continuaram seu passeio, se despedindo da maravilhosa natureza do City Park, dando lugar ao enorme rio Bayou St John que cortava a avenida Fillmore. Continuaram por mais vinte minutos e quando finalmente chegaram ao destino ambos pareciam surpresos. As paisagens que haviam visto na cidade eram sem sombra de dúvidas memoráveis, mas o que viam agora era completamente diferente.

 

O famoso French Quarter( quarteirão francês)

 

Simplesmente encantador.

 

O local marcado por música, arte e muita animação fazia jus ao seu nome. Um grupo de cantores tocavam o clássico jazz em frente às enormes e coloniais casas da cidade, conhecidas por suas maravilhosas varandas abertas no segundo andar, dando aos moradores e vizinhos, o privilégio de se sentarem ao ar livre e tomarem um café ouvindo a maravilhosa melodia que pairava pela cidade. A maioria das residências eram padronizadas, congeladas no tempo em que os franceses e espanhóis fizeram suas primeiras aparições ao lado do rio Mississipi. Trafegaram com cautela pelas pessoas que brincavam animadas, parando apenas ao lado de um café.

   Abriram a porta francesa, recheadas de pequenos painéis de vidro, os levando a um interior aconchegante. A atmosfera dentro do restaurante era calma,com luzes fluorescentes e tendo como trilha sonora a impressionante apresentação de um músico que tocava divertido as teclas do piano. Se sentaram em uma mesa no centro do local, sem deixar de notar os quadros de grandes artistas pendurados nas paredes revestidas de madeira. Uma garçonete apareceu para atendê-los.

 

— Ray iria amar isso aqui.- comentou Felicity, lendo as opções do cardápio.- São as tão bem faladas beignets?- perguntou, a garçonete assentiur.- Vamos querê-las, por favor. E dois cafés.

 

— Certo, aproveitem enquanto isso. 

 

A moça se foi, os deixando sozinhos. Oliver parecia extremamente interessado no ambiente. Voltou a observar Felicity que se encostou na cadeira, cansada.

 

— Que dia.- suspirou.- Está com as plantas?

 

— Aqui.- retirou do bolso de sua jaqueta, abrindo o papel de forma discreta na mesa.- Kemille irá surtar quando souber que perderam uma coisa dessas.

 

— E ainda queriam quebrar suas regras. Não vai ser fácil o quarteto explicar.- comentou, distraída com as informações.- E o dispositivo?

 

— Mandei uma mensagem a Curtis, parece que é potente.- respondeu em tom baixo.- E aparentemente o outro está com Kemille, o que significa…

 

— Que ganhamos tempo.- sorriu, deslizando o item até a mão de Oliver, que discretamente o guardou. - E…- se calou com a volta da garçonete.

 

— Bom apetite.

 

Um minuto de silêncio se formou enquanto mastigavam em silêncio. Felicity suspirou, fechando os olhos ao sentir o doce sabor das beignets, que como pequenos travesseiros, eram crocantes e macias, recheadas com o açúcar de confeiteiro que as deixavam completamente brancas. 

 

— Isso definitivamente é muito bom.- comentou de boca cheia, Oliver sorriu, também satisfeito.- Como eu estava dizendo.- limpou a garganta, tomando um pouco de café.- O que fazemos agora?

 

— Há duas opções.- se endireitou, também bebendo café.- Ou passamos o dia sentados em um lugar assim, sem fazer nada, ou....- arqueou as sobrancelhas.- Aproveitamos a cidade.

 

— Esquecer do trabalho você quis dizer.- o corrigiu, comendo mais um beignet.

 

— Já fizemos tudo o que tínhamos que fazer. Estamos sem acomodações e sem malas, acho justo.- deu de ombros. Felicity parecia incerta.- Vamos Lis…

 

— Com licença senhor.- a garçonete apareceu com um sorriso amigável, entregando um copo de vinho.

 

— Acho que se enganou. Eu não…

 

— A mesa seis mandou entregar.- apontou onde três mulheres que acenaram em sua direção.Felicity revirou os olhos, fechando a cara.

 

— Obrigado.

 

Oliver as olhou mais uma vez, agradecendo, embora não fosse beber a bebida recepcionada. Voltou a observar Felicity, que aparentava estar incomodada.

 

— O que me diz?- voltou a pergunta anterior.- Podemos perguntar para alguém alguns lugares legais.

 

— A mesa seis parece ansiosa que você pergunte alguma coisa.- balbuciou. Oliver semicerrou os olhos, e um sorriso de canto se formou em sua boca.- Do que está sorrindo?- perguntou aborrecida.

 

— É que…- se inclinou, os deixando próximos.- Você fica encantadora com ciúmes. Mas não se preocupe.- piscou.- Elas não são o meu tipo.

 

— E qual é o seu tipo?- questionou, também se inclinando, a fim de provocá-lo, mas no fundo queria saber a resposta. Oliver sorriu mais uma vez.

 

— Loiras teimosas, muito teimosas.- respondeu, Felicity tentou conter um sorriso, mas foi inevitável.- Já volto.

 

Assistiu Oliver sair, arregalando os olhos com o que acabara de fazer. Havia flertado com ele descaradamente, e o desespero sobre seu comportamento novamente voltou à tona.

 

Estava perdendo o controle.

 

Não podia perder o controle.

 

Muito menos sentir ciúmes.

 

Balançou a cabeça, indignada. Claro que Oliver era um homem bonito, mas precisam mesmo se jogar aos seus pés? Tudo para conseguir a atenção de seus olhos lindos? De seu corpo escultural?

 

De seus lábios…

 

Fechou os olhos com força, espantando os pensamentos. Olhou o grupo de mulheres mais uma vez, que a lançaram um olhar hostil, e de repente, sentiu ser atingida por uma alegria enorme. Oliver retornou com a conta paga, o que a fez o lançar um olhar de repreensão. O loiro deu de ombros e parou em pé ao seu lado, estendendo a mão.

 

— E então?- perguntou.- O que quer fazer?

 

O que ela queria era muito diferente do que deveria, e seus dois lados internos travavam uma batalha sangrenta, disputando qual ficaria no controle. Andava pensando tanto, sempre colocando seus desejos fora de caminho...Uma caminhada pela cidade não poderia ser tão ruim.

 

Poderia?

 

 E afinal, o que poderiam fazer pela equipe já que estavam completamente impossibilitados de ajudá-los? Respirou fundo, sentindo, como se uma voz soprasse em seus ouvidos, que aquele aperto de mãos significaria mais do que ela poderia imaginar. Segurou em sua mão, decidida.

 

— Vamos conhecer Nova Orleans.

 

***

O berço do jazz, à medida em que caminhavam, se mostrava cada vez mais fascinante. Puderam notar que em todos os lugares sempre havia um grupo de músicos animando as ruas com suas divinas composições. Encontraram pessoas fantasiadas, dançando com guarda-chuvas e muita farra. Andavam juntos pela movimentada Frenchmen street, se aventurando ao experimentar alguns coquetéis do festival, absurdamente deliciosos. 

 

— Isso é perfeito e nada mais no mundo importa.- falou Felicity, apaixonada pelo drink, Oliver riu.

 

— Elas sempre preferem a novidade.- fingiu pesar, ganhando um empurrãozinho do ombro.- Sabe que falam que essa cidade é mal-assombrada, né?

 

— Sim, dizem que tem vampiros aqui.- fez aspas.- Será que é hoje que finalmente encontro Edward Cullen?

 

— Acho que uma cartomante vai ser mais fácil.- brincou.- Tem dezenas aqui.

 

— Imagino que  “ algo grande vai acontecer em sua vida” seja a frase mais dita aos turistas.

 

— Definitivamente.- sorriu, seus olhos se atentaram a um artista que deixava em exibição na rua algumas caricaturas- Nossa.- disse surpreso.- É incrível.

 

— É mesmo.- concordou Felicity. O senhor das obras se aproximou, sorridente.- Muito talentoso, parabéns.

 

— Obrigado senhorita.- agradeceu, os observando atentamente.- Por que não fazemos um do casal? 

 

— Nós não…

 

— Fiquem parados aí.

 

Felicity tentou argumentar, mas foi em vão. O homem se sentou em uma cadeira, pegando um lápis e uma de suas telas.

 

— Se aproxime dela, vamos.- pediu a Oliver, que sem jeito ficou ao lado de Felicity.- Ainda não está bom.- pensou alto.- A abrace por trás.

 

Passou os braços por sua cintura, a trazendo para perto de si. A respiração de Oliver, quente perto de seu pescoço a arrepiou e sua mente vagou a um passado remoto, onde em uma pose parecida, havia tirado sua foto favorita da lua de mel

.

 Era realmente uma fatalidade tê-la perdido. 

 

 Gostaria de ter guardado alguma recordação, mas estava nervosa demais para pensar em levar algo quando queria esquecer da maneira mais precisa sua antiga vida.

 

Suspirou fundo.

 

          - Perfeito, agora fiquem parados.

 

O senhor se concentrou, os deixando completamente desconfortáveis. Oliver notou sua postura rígida, e em uma tentativa de a agradar sussurrou em seu ouvido.

 

— Sabia de cartomantes, mas velhinhos malucos é uma novidade pra mim.- a fez gargalhar. Tentou conter o riso.

 

— Ele só está sendo gentil.- tentou o defender.- É extremamente persuasivo, mas ok.- Oliver riu dessa vez.

 

— Conheço alguém parecido. 

 

— Ela tem seus dons.- sorriu, virando brevemente o rosto para encará-lo.- Mas foi totalmente surpreendida por esse senhorzinho.

 

Riram mais uma vez, tentando ficar parados. Continuaram a conversar entre sussurros, em uma atmosfera leve. Minutos depois o senhor se levantou, satisfeito com seu trabalho.

 

— Muito bem, vejam.

 

Oliver entreabriu os lábios, surpreso. A semelhança com a fotografia que guardava a sete chaves era inacreditável. Se atentou aos seus rostos, sorridentes, e para quem visse de fora soavam como um casal contente.

 

E extremamente feliz.

 

Os sombreados deixavam esse detalhe ainda mais em foco, como se captasse a energia. Oliver não sabia o porquê, mas certamente sentiria e se lembraria com clareza de seu dia com Felicity ao observar o pequeno quadro, não importava o lugar em que estivesse.

 

— Quanto lhe devemos?- perguntou tentando se recompor.- Aceita cartão?

 

— Claro.

 

Felicity, que embora estivesse com os olhos fixos no quadro, que de uma maneira mágica encheu seu peito com um sentimento desconhecido o interrompeu, pedindo que a deixasse pagar e após alguns argumentos, aceitarem dividir, e a caricatura foi envelopada, guardada em uma sacola

  Caminharam calados por um tempo, inquietos com a atmosfera formada. Abriram as bocas diversas vezes, mas as palavras, de uma hora para outra, haviam evaporado, os deixando completamente sem assunto. Oliver limpou a garganta.

 

— Já podemos riscar da lista cruzar com um artista em Nova Orleans, qual é o próximo item?

 

— Algum vampiro talvez.- brincou, aliviada por finalmente conversarem. Seus olhos pararam em uma loja.- Aí meu Deus.

 

— O quê?- perguntou preocupado.

 

— Vinho.- sorriu animada, o puxando até o estabelecimento. Oliver balançou a cabeça, divertido.- São tão lindos.

 

— Já ouvi falar que são deliciosos, mas lindos é uma nova característica.- Felicity sorriu, se preparava para responder quando um pequeno frevo passou pela rua, jogando colares de pérolas, que por sorte, caíram em Oliver, seu riso foi inevitável.

 

— Mas que graça.- sorriu, arrumando o colar no pescoço do loiro.

 

— Como fiquei?

 

— Perfeito como sempre.- suspirou, as sobrancelhas de Oliver se arquearam, surpreso.- É verdade.- deu de ombros. Soltou o colar, se afastando.- E agora, onde vamos?

 

— Estava pensando em irmos a Jackson Square, mas antes preciso comprar uma coisa. Pode esperar aqui?

 

— Claro.

 

O assistiu sair, sorrindo de canto. Se atentou as outras atividades ao seu redor quando se deparou com uma moça, trajando uma calça jeans preta, e uma blusa da coloração violeta que a lançou um sorriso( pelo o que Felicity sentiu) sinistro, com um toque místico.

 

— Como vai, querida? Me chamo Rachel, Rachel Gill. Quer saber o seu futuro?

 

— Futuro?- perguntou descrente.- Claro, a senhora deve ser uma das famosas bruxas da cidade.

 

— Bem observado.- sorriu, se aproximando.- Posso ler sua mão?

 

— A vontade.

 

Felicity não acreditava nenhum pouco naquele tipo de coisa, em geral apenas a deixou “ler sua mão” por educação, já aguardando sua frase pronta.

 

— Algo grande vai acontecer em sua vida.- Felicity a encarou, sorrindo por estar certa.

 

Tão típico…

 

— E…- seus olhos se desfocaram por um momento, passando os dedos pelas linhas de sua mão.- Sim, eu vejo...Vejo que seu passado está entrando em combustão com o futuro, pontas soltas retornam para se concluírem, é algo interrompido, que poderá lhe trazer um sofrimento devastador, ou uma felicidade abundante.- engoliu em seco.- Mas quem decidirá o caminho é você.

 

Felicity permaneceu parada com a mão estendida, afetada. Não era bem o tipo de coisa que esperava ouvir. Pontas soltas…

 

Que tipo de pontas soltas?

 

A moça, notando a aflição de Felicity, sorriu, e fechou sua mão, a soltando.

 

— Boa sorte querida.

 

E a deixando completamente atordoada se virou, como se nada houvesse acontecido. Não teve muito tempo para ingerir o que havia escutado, pois no instante seguinte Oliver apareceu com mais uma sacola.

 

— Quem era?- perguntou, totalmente aéreo a situação de Felicity.- Alguém lendo seu futuro?

 

— Algo do tipo.- respondeu, com os olhos fixos onde a moça seguiu. Forçou um sorriso.- Jackson Square?

 

— Jackson Square.

 

***

 

A tarde se passou entre paradas e mais paradas. Oliver e Felicity se divertiram muito. Tiraram algumas fotos em pontos turísticos, dançaram com pessoas completamente estranhas que os puxaram para fazer parte do show de mais artistas, e por último e não menos importante, foram praticamente pintados de glitter por mais um grupo animado que passava cantando pelas ruas, os sujando completamente. No momento estavam sentados na praça em frente a antiga catedral Saint Louis, presenciando o entardecer, exaustos.

 

— Ainda tem glitter em você.- disse Felicity, limpando pontos brilhantes na barba de Oliver.

 

— Se continuarmos assim podemos participar do carnaval.- Felicity sorriu, se encostando no banco.- O que achou do dia?

 

— Foi bom. Você estava certo.

 

— Como?- fingiu confusão.- Você disse que eu estou certo?

 

— É algo muito sério para repetir duas vezes.- Oliver balançou a cabeça, divertido.- Como aqui é lindo, não é? Nova Orleans.- suspirou, observando com atenção a praça

 

— É maravilhosa.- concordou, seguindo seu olhar.

 

.- Por mais moderna que possa ser, ainda sim contém sinais do passado. Parece que…- fez uma pausa.- Parece que o passado continua presente.

 

— Não podemos apagar tudo, mudar o que já foi feito, mesmo que seja o seu desejo mais profundo…- suspirou pesadamente. Felicity o encarou, notando que suas palavras continham um sentido muito mais intenso que a arquitetura da cidade e suas feições, tristes, transmitiam tamanha dor…- Há marcas, cicatrizes, algumas merecidas.

 

— Não ouse dizer uma coisa dessas.- falou em tom aborrecido.- O que fizeram com você foi desumano Oliver. Eu não consigo e nem gosto de pensar no que fizeram com você- o lançou um olhar angustiado.- E apesar de tudo, eu fortemente acredito…- tentou com esforço, apesar de suas barreiras, dizer o que pensava. Oliver a encarava profundamente, prendendo a respiração.- Apesar de tudo, eu acredito que você seja uma pessoa boa.

 

— Acredita?- perguntou em tom baixo, sentindo a mão de Felicity em seu ombro.

 

— Acredito.

 

A firmeza com que falou e a maneira que sorriu tirou Oliver dos eixos. Uma coisa era pensar que Felicity o via de uma maneira positiva, outra totalmente diferente era ouvi-la dizer que o achava uma pessoa boa. E apesar das dúvidas, os receios, pela primeira vez, após muito tempo se sentiu completamente feliz. Sabia que eram pessoas complicadas, um passado um tanto traumático, qual como falou, por mais que desejasse sabia que não poderia voltar no tempo e consertar tudo, estava fora do seu controle, mas o presente…

 

O presente estava bem à sua frente.

 

Com o rosto mais belo que já havia visto.

 

Sua mão ergueu até a nuca de Felicity, fazendo seus dedos brincarem com os fios loiros. A mesma o olhava fixamente, e ao sentir seus narizes se encostarem suspirou, fechando os olhos. Lutar naquele momento parecia inútil. Ela o queria perto.

 

Bem mais perto.

 

Oliver acariciou seu rosto com delicadeza, aproveitando o breve e raro momento em que a mesma o deixava se aproximar. No momento em que decidiram finalmente quebrar a distância, o toque do celular de Felicity os paralisou. A mesma soltou um suspiro irritado e abriu os olhos, encarando Oliver que assentiu, indicando que atendesse. O mesmo olhou para o céu, sorrindo de forma sarcástica. Se perguntou se aquilo era algum tipo de punição.

 

Tinham que ligar para ela justamente agora?

 

Permaneceram juntos, enquanto a loira tateava o aparelho.

 

— Curtis? Isso é ótimo!- sorriu aliviada.- Já disse que é um gênio, não disse?- riu, divertida.- Estamos na Jackson Square. Hmmm...Obrigada pela informação nada sútil.- o repreendeu, deixando Oliver curioso.- Certo, me mande a localização... Diga uma palavra a mais e eu desligo na sua cara.- o loiro sorriu, voltando a deslizar a mão até a nuca de Felicity, que suspirou, relaxada.- Claro, também amamos vocês.- revirou os olhos.- Até amanhã.

 

— E então?

 

— Temos um lugar pra dormir.- comemorou, se encostando em seu braço.- E nossas malas foram achadas, já estão na nossa acomodação.

 

— Isso é bom.- falou Oliver, um sorriso brincou em seus lábios.- O que mais Curtis falou?

 

— Recomendou um restaurante, e eu não vou dizer o resto a você porque é constrangedor demais.- balançou a cabeça. Sua mão foi até o banco, o acariciando. Oliver franziu as sobrancelhas.

 

— O que está fazendo?

 

— Me despedindo, por um momento cheguei a cogitar que dormiriamos aqui.- o ouviu gargalhar.

 

— Ah, Lis.- a olhou divertido.- Você é impossível.- seus lábios se estreitaram em um sorriso de canto.- Então vamos jantar. Isso é um convite?- provocou.

 

— Talvez.- se levantou, ficando a sua frente.- Quer um pedido mais formal? Posso chamar alguns músicos ali…- apontou para o outro lado da rua. Oliver sorriu mais uma vez.

 

— Não será necessário. Além disso…- se ergueu, os deixando próximos.- Não é de bom tom deixar uma senhorita tão bela esperando.

 

— Bom argumento.- pegou sua mão.- Vamos agente Queen?

 

— Claro agente Smoak.

 

***

O dia se foi, e os últimos rastros de luz, que cortavam a fino o horizonte colorido se despediram, dando assim lugar para que a enorme lua cheia brilhasse com intensidade. Nova Orleans( ou Nola, apelido carinhoso da cidade) continha ainda mais vida quando as luzes se acendiam. As ruas do French Quarter eram completamente iluminadas com vitrines e entradas de estabelecimento chamativas, tão chamativas deixando quase a ser impossível resistir aos seus chamados. O velho entrava em contraste com o novo,  se transformando em uma estonteante e vivaz obra de arte. Oliver e Felicity caminhavam de mãos dadas, estranhamente confortaveis com a situação.

 Como Curtis sugeriu( em uma forma nada discreta) o restaurante que procuravam se encontrava na mesma rua onde se hospedariam. Ao entrarem, a atmosfera animada, composta por música ao vivo os contagiou. O lugar estava cheio, algumas pessoas dançavam enquanto outras apenas bebiam e jantavam juntos, alegres. Pediram o maravilhoso e clássico camarão creole, composto por pimentão, aipo, tomate, pimenta caiena e cebola, que continha um sabor delicioso. Comeram em silêncio, sentindo o constrangedor silêncio se formar. 

 

Eu…- Oliver abriu a boca, mas fora interrompido por Felicity que também havia decidido falar. Se encararam, soltando um riso baixo.

 

— Você primeiro.- indicou que falasse.

 

— Por favor, faça as honras.- pediu, riram mais uma vez.- Por que estamos tão nervosos?

 

— Eu não sei.-  Felicity passou a mão pelo pescoço.- talvez seja só estranho. Nós dois juntos, como…

 

— Nos velhos tempos.- completou, Felicity sorriu.

 

— Faz muito tempo.- comentou, suspirando.- Muita coisa mudou. 

 

— Como sua falta de óculos, por exemplo.- comentou. Felicity entreabriu os lábios, surpresa.

 

— Você percebeu?

 

— Noto tudo quando se trata de você, Lis.- respondeu, a loira sorriu, sentindo seu coração acelerar.- Por que optou pelas lentes?

 

— São mais práticas- deu de ombros.- Em meio a uma perseguição não posso deixar o ladrão fugir por perder os meus óculos, não é?

 

— De fato.- sorriu. Se sentiu ser analisado cautelosamente por Felicity.- O que foi?

 

— Nada, só…- suspirou.- Estamos tão diferentes, não estamos?- perguntou confusa.

 

— Passamos por muita coisa.- concordou.- Não somos mais o mesmo casal de Star City.

 

— É.- seu olhar se tornou distante, e de repente, Oliver viu um pequeno sorriso de canto surgir em seus lábios.- Talvez isso não seja inteiramente ruim.

 

— Talvez.

 

Sorriram juntos, voltando a se concentrar em seus pratos. Após finalizarem, decidiram após um dia cheio irem direto para a hospedaria, trocarem de roupa. A residência, típica das casas espingardas e de aparência colonial, se tornou visível logo ao saírem, principalmente por conta de sua enorme iluminação. A recepção era composta por um pequeno balcão e madeira escura ao lado da escada. Checaram suas reservas, sendo surpreendidos ao descobrirem que Curtis havia reservado apenas um quarto

 

Felicity o xingou mentalmente.

 

O quarto em que ficaram era espaçoso, com um pequeno sofá de couro e uma mesinha de centro, em frente a enorme e bela varanda, que permitia a quem quisesse aproveitar o deslumbre da vida noturna de Nola. Suas malas, como foi avisado, estavam ao lado da cama. Felicity fora a primeira tomar banho, se demorando ao sentir a água quente cair em suas costas. Passou a mão pelo pescoço, deixando a tensão de lado, que havia aumentado gradativamente só ao imaginar que Oliver estava a uma porta de distância. Resistiu a um dia inteiro de tentações…

 

Por mais que quisesse cair em algumas

 

E como queria cair

 

Desligou o chuveiro, irritada por seus pensamentos. Não soube bem o porquê, mas decidiu usar um vestido azul escuro de alças.A noite continuava abafada, a roupa talvez a refrescasse, não havia nenhuma ligação pelo fato de estar com Oliver.

 

Havia? 

 

Passou seu perfume, penteando os cabelos.  Oliver se ausentou por alguns minutos, o que a permitiu ter um tempo livre para pensar. Caminhou até a varanda, sorrindo ao observar as ruas. Todos ali transmitiam tanta felicidade, a vida de fato parecia simples. Os invejou, sentia falta de ter um cotidiano comum, uma casa, sair para aniversários...Tudo aquilo soava distante de sua realidade.

 

Suspirou, cansada.

 

— Noite interessante?- perguntou Oliver, que surgia trajando uma camisa preta, que, pelo o que Felicity pode notar, o desenhava muito bem… E uma calça jeans. 

 

— Muito.- sorriu, indicando com os pedestres que passavam, animados.

 

— Você já quer dormir? Tivemos um dia longo hoje.

 

— Eu não conseguiria dormir agora nem se eu quisesse.- balbuciou em voz alta, Oliver franziu as sobrancelhas. Felicity balançou a cabeça.

 

— Deveríamos beber algo então, para relaxar.- sugeriu.

 

— Uma pena não termos nada aqui.- lamentou, Oliver sorriu.

 

— Quem disse que não?

 

O seguiu curiosa para dentro, se fixando no pequeno frigobar. Oliver retirou uma garrafa de vinho, arqueando as sobrancelhas. Felicity entreabriu os lábios, surpresa.

 

— Comprei quando deixei você sozinha mais cedo.- informou caminhando até o sofá. Felicity se sentou ao seu lado.- Havia ficado tão encantada com a loja que eu pensei que seria uma boa ideia. Uma pena não haver taças.

 

— Ah, não se preocupe. Não vamos deixar de beber uma delícia dessas por falta de copos, não é?- brincou.

 

— Um brinde então. A os bons tempos.

 

— A os bons tempos.

 

Oliver deu o primeiro gole, entregando em seguida a Felicity, que fez o mesmo. Permaneceram sentados lado a lado, observando a noite.

 

— Consegue escutar?- perguntou Oliver, apontando para a varanda, inspirando alto, como se estivesse aliviado.

 

  Uma ruga surgiu entre as sobrancelhas de Felicity, confusa.

 

  - Escutar o quê?

 

  - Música.- sorriu.- O tão famoso jazz de Nova Orleans. Preste atenção.

 

  Felicity apurou os ouvidos, concentrada. Aos poucos, identificou o som clássico, que pairava pelas ruas, revelando uma atmosfera animada que adentrou o cômodo, e como se estivesse conectada aquela energia, sorriu, voltando a encarar Oliver, que a observava.

 

   - Isso pedi uma dança.- se levantou, ficando a sua frente.

Felicity entreabriu os lábios.

 

  - Eu não sei dançar.- se justificou, Oliver retirou a garrafa de uma de suas mãos e a colocou na mesinha, e com a outra, a puxou para o meio da sala, os deixando próximos da varanda onde a música era um pouco mais alta.- Eu não...

 

  - O pior que pode acontecer é você pisar em um dos meus pés, o que não seria algo novo.- brincou, Felicity semicerrou os olhos.- Saltos agulha são um pesadelo. Na Itália...

 

  - Na Itália eu pisei propositalmente.- respondeu, Oliver a olhou chocado.

 

   - Como você ousou?- fingiu surpresa. Felicity soltou um riso baixo em resposta, enquanto colocava uma de suas mãos sob seu ombro, deixando a outra livre para que Oliver pudesse segurá-la.

 

  - Pelo o que eu me lembre você estava fazendo alguma coisa irritante, o que não seria algo novo.- repetiu sua frase, Oliver sorriu, balançando a cabeça. Felicity estremeceu ao sentir sua mão segurar levemente sua cintura.- Você consegue ser bem irritante às vezes, Ollie.

 

  Seus corpos se balançavam em um ritmo calmo, e Felicity pode notar, embora Oliver tentasse esconder, que o mesmo sorria com alguma coisa. Ergueu o olhar, o encarando fixamente.

 

  - Do que está sorrindo?

 

  - Não é nada.- suspirou a trazendo pra perto. Felicity ficou com o rosto próximo ao seu ombro, quando o mesmo repousou brevemente os lábios em sua orelha.- Só que gosto de ouvi-la me chamar de Ollie.

 

   Ambos ficaram em silêncio por longos minutos, sendo totalmente tomados pela música. Felicity fechou os olhos, aproveitando o leve balançar que seguiam, encostando seu rosto no peito de Oliver. O loiro suspirou, inalando o cheiro que emanava de seus fios loiros. 

 

  Era exatamente igual ao que se lembrava.

 

  Felicity estava ciente de sua ação, mas pouco se importou. Sua atenção estava longe, nas ruas de Nova Orleans. Seja lá quem estivesse tocando, eram muito talentosos. Seu coração se apertou com o pensamento. Eram trabalhadores, pessoas comuns, que ganhavam a vida levando aos outros as mais profundas sensações com suas canções. Um modo interessante de se viver, e ao mesmo tempo tão comum.

 

   Será que um dia conseguiria ter uma vida normal também?

 

  Ergueu o queixo. Oliver continha o olhar voltado à varanda, provavelmente tendo o mesmo tipo de pensamento. Era um pouco mais baixa que ele, ficando alguns centímetros de distância de seu rosto. Oliver então a observou, mirando seus lábios, subindo para seus olhos.

 

   - Eu estava pensando...-comentou em tom baixo.- Em como deve ser ter uma vida normal, como as pessoas daqui.

 

  - Provavelmente é bem monótono.- falou Oliver.- Nem sempre feliz, claro, todos têm problemas, mas há uma parte boa também.- um brilho espirituoso tomou conta de seus olhos.- A sensação de acordar todos os dias, correr para fazer exercícios, e não porque tem que pegar um criminoso.- seu olhar se dispersou novamente até à noite lá fora. Felicity continuava a encarar suas esferas azuis atentamente.- Fazer coisas banais, sendo a mais agitada do dia uma briga de trânsito.- sorriu, divertido.- Deve ser muito bom.

 

  - Não iria sentir falta de nada?- questionou, ganhando sua atenção.- Da adrenalina ao salvar alguém, das lutas...

 

   - Claro que sim, isso faz parte de mim agora. - assentiu.- O que não significa que seria um forte motivo para me fazer não tentar.

 

  - Então quer dizer...- o questionou mais uma vez.- Que se você tivesse a oportunidade de se mudar para uma casinha no campo, aconchegante, iria sem pensar duas vezes?- arqueou as sobrancelhas.

 

   - Depende.

 

   - Do quê?

 

   - De quem iria comigo.- Felicity entreabriu os lábios, surpresa por sua resposta. Oliver continuou.- Mas não sou hipócrita Lis, sei de minhas limitações. Claro que seria bom por um tempo, mas eu me sentiria incompleto sem isso aqui.

 

  - Eu adoraria ter uma vida normal, mas acho que não me adaptaria.- suspirou, cansada.- Não sei se conseguiria fazer isso. Ser normal.

 

  - Talvez não precisemos ser normais.- deu de ombros.- Não há uma maneira certa de viver, cada um tenta encontrar o modo que o deixa mais feliz, satisfeito.

 

  - Às vezes sinto falta, sabe? De Star City.- A menção da cidade o deixou inquieto, mas Felicity parecia tão perdida em pensamentos que pouco notou.- Poderia não ser tão comum mas foi a vida mais normal que eu já tive.

 

   - Eu gostava também.- Felicity o olhou com descrença.- É sério.- sorriu.- Sinto até falta de implicar com Billy Malone por ficar em cima de você.

 

   - Você ainda lembra dele?- riu.- Uma coisa temos que concordar, o cara é persistente.

 

  - Eu que o diga.- suspirou desgostoso. Felicity sorriu.- Mas há outras coisas que eu gostava também.

 

   - Como...?

 

  - Ficar próximo de minha família. William.- Um sorriso triste tomou conta de seus lábios. Felicity apertou seu ombro, em gesto solidário.- Ou de suas tentativas quase suicidas de fazer alguma comida.

 

   - Hey.- o advertiu, fingindo chateação.- Eu fazia o melhor cookie de Star City. Você pode ser um grande Masterchef.- revirou os olhos.- Mas essa receita nunca terá.

 

   - Eu aceito a minha derrota, nesse quesito.- brincou. Felicity sorriu, divertida.- Sabe do que mais sinto falta também?

 

   - O quê?- perguntou, engolindo em seco por seu olhar tão intenso.

 

   - Da nossa vida.- murmurou. Felicity sentiu o aperto em sua cintura se fortalecer.- De nós.

 

  Sua voz, embora baixa, demonstrava toda sua tensão. Seus corpos pararam de dançar, permanecendo imóveis, enquanto se observavam. O som do jazz ainda era audível, tocando suavemente ao fundo.  Felicity fechou os olhos ao sentir Oliver se inclinar até seu rosto, encostando seus narizes, igual fizera mais cedo. Suas mãos se soltaram, e com um arrepio, Oliver subiu sua mão pelo braço de Felicity, até segurar seu rosto. Se afastou milimetricamente para encará-la. Estava tão perdido. A queria tanto, e esse desejo reprimido a tanto tempo finalmente encontrava forma de ser saciado, os preenchendo com aquela atmosfera romântica e até mesmo, um pouco erótica que aquela noite os proporciona.

 

— Diga.- pediu com sofridão.- Diga que não sou só eu que estou sentindo isso.

 

— Eu adoraria dizer que sim.- sorriu tristemente. Seus olhos marejaram.- Adoraria dizer que eu não sinto nada por você, que eu te odeio.- uma lágrima grossa rolou por sua bochecha, sendo limpada pelo polegar de Oliver.- Mas eu estaria mentindo. Você acaba comigo Oliver.- suspirou irritada.

 

— E você comigo.- sorriu, voltando a encostar seus narizes.

 

— O que vamos fazer, Oliver?- sussurrou, sentindo sua respiração quente.- Como vamos lidar com isso?

 

— Eu não sei.- suspirou, aproveitando a sensação de tê-la tão perto. Sua mão escorregou até sua nuca, afagando seus cabelos.- Mas acho que merecemos isso. Já passamos tempo demais longe um do outro.

 

Felicity pouco resistiu. Oliver tomou seus lábios em um beijo lento, diferente dos anteriores. O toque de suas línguas, os suspiros em apreciação a cada sensação que os transcorria… 

 

— Céus, como eu senti sua falta.- murmurou Oliver, beijando seu pescoço. Felicity estremeceu.

 

— Eu também senti a sua.

 

O ajudou a tirar a camisa, sendo jogada no chão. Seus lábios foram tomados mais uma vez, vorazes, enquanto as mãos de Oliver apertavam seu corpo. O loiro invadiu seu vestido, e no mesmo instante se afastou, a fim de encarar seus olhos. Felicity sabia o que estava fazendo, como sempre deixando a decisão em suas mãos. Estavam completamente sozinhos em uma pousada de estrada, ninguém daquela vez iria os interromper, ao menos que decidisse isso, mas ao olhar Oliver, sentindo toda sua tensão e paixão, o desejo falou mais alto. Precisavam daquilo.

 

Necessitavam 

 

Oliver sorriu diante de mais um sim que havia recebido.

 

Quantos ela já havia ou iria dizer a ele?

 

A ajudou a se livrar do vestido, agarrando firmemente sua cintura. Felicity engoliu em seco diante de seu olhar, principalmente ao sentir uma de suas mãos deslizarem até o meio de suas pernas. Oliver estava incrivelmente nervoso. Havia tanto tempo, e a única forma que tinha de toca-lá era em seus sonhos... Suspirou ao finalmente senti-la na ponta dos dedos. Felicity soltou um gemido baixo, totalmente inebriada com a atmosfera forma, e a maneira que o sentia se mover, extremante devagar... Agarrou seu ombro com força, em uma tentativa de se manter em pé, já que suas pernas não estavam sendo úteis no momento. Oliver observava seu rosto, se atentando a cada mudança de expressão. Sorriu ao vê-la morder os lábios, se deslizando um pouco mais ao fundo. A ouviu arfar outra vez.

 

  - Você é linda.- murmurou, aumentando o ritmo. Seus suspiros se fizeram constantes, arrepiando por completo seu corpo.-Absolutamente linda e...- se calou ao senti-la o apertar ainda mais forte.

 

  - A calça...- disse com a voz falhada.- Quero você sem ela.

 

Suas mãos desceram ágeis por seu abdômen, agarrando com firmeza o cós. Abriu o zíper, deixando assim que se livrasse do restante. O mesmo a puxou novamente até si, pressionando seu corpo contra seus seios, quase descobertos. Inspiraram profundamente, acalmando a respiração. Oliver desceu seu olhar, analisando cada detalhe, cada mudança, por menor que fosse, desde a última vez que a viu. Era uma situação tão diferente da anterior. Provavelmente se arrependeriam no dia seguinte, mas tudo o que queria agora era tocá-la. 

 

Senti-la.

 

Relembrar o sabor de seu corpo, escutar o canto de seus gemidos… Suspirou, erguendo sua mão até a ponta do queixo de Felicity. Mordeu levemente seu lábio inferior, e sussurrou:

 

— Você continua sendo a mulher mais encantadora do mundo, Smoak.

 

A loira sorriu, tomando seus lábios sem muita delicadeza. Se Oliver estava ansioso, Felicity se encontrava milhares de vezes pior. Estava seguindo uma linha extremamente perigosa, que abominou anos antes, e agora estava aqui, rendida aos seus toques.

 

Ansiando por mais.

 

Suas mãos tocavam com prazer seu abdômen definido, no entanto, o pequeno restante de lucidez, que ambientava o fundo de sua mente a preocupou. Fora avisada. Uma grande mudança estava por vir, podendo trazer felicidade ou tristeza, bastava somente escolher…

 

Mas o que escolheria?

 

Como teria certeza que a decisão tomada era o caminho certo? Seria essa a correta?

 

Ou escolhera o caminho do sofrimento?

 

Felicity não sabia.

 

Acelerou ainda mais o beijo, escutando o suspirou alto de Oliver.

 

— Devagar amor.

 

Felicity parou por um instante, encarando seu olhar gentil que acariciou seu rosto. Sorriu de volta, relaxando, sentindo o toque macio de seus lábios sobre os seus. Oliver estava certo, afinal das contas, há quanto tempo vinha ansiando por isso?

 

Que sonhara com isso?

 

Se permitiu, como a muito tempo não fazia, para de pensar, e apenas apreciar o que vinha sentindo. Oliver desenhou sua silhueta, a fazendo soltar um gemido baixo ao apertar sua carne, e em um puxão firme, a ergueu do chão. Felicity enlaçou suas pernas ao redor de sua cintura, se deliciando com as mordidas de Oliver. O mesmo a sentou em seu colo, os deixando à beira da cama. Felicity desceu o olhar por seu peito desnudo, fixando nas cicatrizes. Era estranhamente fascinante para ela observá-las, principalmente por agora saber seus significados. Era diferente.

 

Oliver havia passado por muita coisa.

 

— Elas incomodam você?- perguntou, um pouco aflito. Felicity sorriu de forma doce, diante de sua insegurança. Segurou firme seu queixo, para que não restassem dúvidas.

 

— Nenhum pouco.- garantiu. Um sorriso malicioso brincou em seus lábios.- Elas deixam você sexy.- Oliver arqueou as sobrancelhas, também sorrindo.- Eu gosto. 

 

— Gosta?- repetiu, enterrando os lábios em seu pescoço. Felicity estremeceu ao notar o caminho que suas mãos estavam seguindo.

 

— Gosto.

 

Sabia o que pretendia fazer, e antes que obtivesse êxito, Felicity o empurrou, o deixando deitado. Oliver fechou os olhos, sentindo seus lábios percorrerem cada centímetro de seu peito. Agarrou sua cintura, e em um movimento rápido trocaram de posições, a ajudando a se livrar das últimas peças. A forma que a olhou, observando com prazer suas curvas aumentou ainda mais sua excitação. Oliver a deu um selinho e se ergueu, também retirando sua última peça de baixo, não antes de pegar um preservativo e ao retornar, sustentando seu peso sobre o pequeno corpo da ex esposa sorriu mais uma vez. Aquela noite precisava ser especial.

 

Precisava suprir cinco anos.

 

Uma vida interrompida.

 

Por mais que suas vidas tivessem virado de ponta cabeça, os jogando para extremos opostos do mundo, de alguma forma seus caminhos foram cruzados novamente, e apesar da imensurável dor, conseguiam ver o pequeno fio de felicidade se estendendo entre eles.

 Pressionou seus lábios sobre os de Felicity, transmitindo tudo o que sentia, desde os sentimentos mais confusos aos mais sinceros. Ela também estava nervosa, e de certa forma receosa,  pois se por alguma razão desistisse, sabia que não voltariam a ficar daquela maneira outra vez. Sentia saudades de Oliver.

 

Muita.

 

E pela primeira vez não negava isso.

 

Cravou suas unhas em seus ombros ao senti-lo se encaixar entre suas pernas, para finalmente a penetrar. Um gemido rouco os escapou e Felicity arfou, recuperando o fôlego. Havia tanto tempo, mas o mesmo frio na barriga que sentia cinco anos antes se fazia presente ali, mais forte do que nunca. Nenhum sentimento fora esquecido.

 

Tudo esteve sempre ali, escondido a sete chaves.

 

Até agora.

 

Oliver começou a se movimentar propositalmente devagar, a arrancando mais suspiros. Felicity o segurava firme, seus lábios foram preenchidos pelos de Oliver,que de forma tão igual se moviam devagar. Mexeu o quadril vagarosamente, escutando seu gemido alto. Seu ritmo acelerou, encontrando um movimento de entra e sai que a deixou sem ar. Suas unhas o arranharam ao sentir um toque mais fundo, o fazendo soltar um grunhido baixo. Era tudo tão quente…

 

E suas exclamações o deixavam cada vez mais louco…

 

Oliver perdeu totalmente o controle restante pelo toque das mãos de Felicity, que desciam por suas costas. Suas investidas ficaram mais bruscas, e Felicity agarrou em seus ombros, pois se não fizesse, desmoronaria. Seus lábios se cortaram em um gemido agudo, misturados ao nome de Oliver. Não faltava muito para atingir seu ápice, sentia o formigamento,. Não haviam mais beijos, nem carícias. O mundo girou,e por um instante, tudo o que mais importava era o atrito de seus corpos, que se fundiam em um só. Oliver a deu um impulso profundo, a preenchendo completamente e um tremor a percorreu. Ergueu o quadril, forçando mais o atrito, e no momento seguinte, se desmanchou, ofegante. Oliver a assistiu chegar ao clímax, e totalmente tomado pelo desejo, se impulsionou mais uma vez, e em um calafrio, gemeu alto, sentindo a onda de prazer o inebriar por inteiro. Caiu por cima do corpo de Felicity, tentando controlar a respiração.

 Minutos, que pareceram horas se passaram em completo silêncio, somente aproveitando o calor do corpo um do outro. Oliver se deitou ao seu lado, a puxando em sua direção. A loira o lançou um sorriso cansado, apoiando a cabeça em seu peito, fechando os olhos. Oliver a abraçou, dando um beijo em sua testa, se sentindo pela primeira vez completo. Levou seus lábios até seu ouvido e sussurrou.

 

— Eu te amo;

 

Felicity suspirou, e cansada demais para lutar contra qualquer pensamento, se aconchegou ainda mais a Oliver.

 

— Eu também amo você.

 

O único barulho audível eram suas respirações e, se prestassem mais atenção, a música que os enfeitiçou a dançar continuava viva, embora mais delicada, exatamente como estavam. E como um lembrete da cidade, dormiram exaustos, sem deixar de prestar atenção no som doce dos saxofones que tocavam por aí, em mais uma noite animada na cidade do Jazz.

 

***

 

Raios de sol de uma manhã quente invadiam o quarto. Oliver piscou, tentando se acostumar à iluminação, e ao finalmente abrir os olhos se deparou com a figura de uma mulher loira, dormindo serenamente. Sorriu ao notar que era Felicity.

 

Não havia sido um sonho no final das contas.

 

Suas mãos faziam círculos no ombro exposto de Felicity enquanto a mesma continha suas pernas entrelaçadas às suas. Sentir o calor de seu corpo nu, juntamente com o seu o dava uma sensação de paz inexplicável 

 

    Nunca iria ser só sexo com Felicity Smoak.

 

    Só de imaginar suas posições há algumas horas atrás uma parte do seu corpo começava a reagir.

 

    Essa mulher o enlouquecia.

 

   Seu toque então...

 

  Suspirou resignado, tentando apreciar o  momento juntos, porque sabia que quando ela acordasse as coisas não seriam tão simples, o que o desesperava.

 

O atormentava.

 

   E tudo por conta da porcaria de um  passado mal resolvido onde errou, errou feio.

 

   Não era de se esperar que terminasse diferente, ele e Felicity sozinhos com todo o time fora? O ajudavam a manter a concentração, e quando saíram os deixando sozinhos...Seus sentimentos tomaram força e Oliver não conseguiu se conter.

 

    Ele a desejou.

 

    E descobriu que era recíproco.

 

   Seu toque continha o mesmo efeito, e vê-la se desmanchar enquanto sussurrava seu nome ainda era a cena mais sexy que habitava as profundezas de sua mente. A sentiu se remexer levemente, soltando um resmungo. Sorriu quando sua boca se arrebitou e voltou a suavizar.

 

    No que será que ela estava pensando?

 

    Certamente não deveria ser algo bom.

 

    Não para ele.

 

— As coisas poderiam ser mais simples.-lamentou.



    Ficou em silêncio por um tempo quando a sentiu se remexer. Fechou os olhos rapidamente ao notar que a mesma estava acordada. Seu suspiro surpreso fora inevitável, e no momento em que começava a se desesperar tudo mudou. Felicity não saiu, tão pouco falou alguma coisa, ao contrário.

 

O abraçou.

 

Ela não queria que o momento terminasse.

 

 Ele também não.

 

  A ponta de seus dedos escorriam por suas cicatrizes, algo que Oliver estava aprendendo a gostar e após longos minutos, sabia que seu teatro teria que acabar. Bocejou, abrindo as pálpebras e encontrando o olhar de Felicity, que o lançou um sorriso preguiçoso.

 

— Bom dia.- disse sonolenta.

 

— Bom dia.- respondeu, beijando sua testa.- Dormiu bem?

 

— Absurdamente bem.- brincou, os fazendo soltar um riso baixo. Olhou ao redor.- Que horas são?

 

— Cedo.- deu de ombros, a trazendo mais para si, Felicity suspirou, relaxada. Minutos se passaram em completo silêncio, apenas aproveitando a companhia um do outro.- Podemos ficar aqui mais um pouco.

 

— Acho que não.

 

A expressão que Oliver temia finalmente apareceu. Felicity se afastou, puxando o lençol fino até a ponta da cama. Seu olhar estava baixo, pensativo

 

  Sexo e culpa.

 

  Dois fatores que juntos levavam qualquer ser humano ao completo desespero.

 

—  Foi um dos melhores dias da minha vida- sorriu melancólica, voltando a encará-lo.- Foi maravilhoso, mas acabou.- Oliver entreabriu os lábios.-  E isso...Nós…- suspirou.

 

— Nós podemos…

 

— Não, não podemos.- o cortou.- Eu não posso.

 

O loiro a observou perplexo por alguns minutos e Felicity,  o deixando completamente abalado, se ergueu, caminhando sem olhar para trás até a porta do banheiro, e ao fechá-la, se permitiu desmoronar. Havia tomado uma decisão,e por mais que desejasse…

 

Por mais que o amasse...

 

Não poderia se dar ao luxo de sofrer outra vez, nem que isso significasse ficar longe de uma das pessoas que mais amava no mundo.

 

***

 

Seu banho se passou mais demorado do que o esperado. Esfregava a pele com força, em uma tentativa inútil de se ver livre daquela agonia, porém não funcionou, e ao se olhar no espelho, notando as marcas cravadas, como um lembrete vivo da noite anterior suspirou, desesperada.    

 

Mas o que havia feito afinal?

 

Claro que estar com Oliver havia sido fantástico. A maneira como o mesmo a tratava, sempre fazendo questão de recordar pequenos e importantes detalhes sobre ela aquecia seu coração. E os sorrisos, o olhar,  a maneira amorosa de ser...Sua barreira ruiu.

 

Inteiramente.

 

E Felicity não estava preparada para enxergar o outro lado.

 

Apesar das risadas, os momentos em que o mundo parecia parar quando estavam sozinhos, havia o lado mais complicado também, o lado que a tanto evitará.

 

Fugira.

 

E que não queria conversar.

 

Ela o amava, sabia disso, e realmente se impressionou com seu autocontrole. Mas sentimentos e emoções são volúveis, e por mais que tente, há momentos em que não podem ser controlados. E então ela se entregou, apaixonada por seu carisma, os beijos e a eletrizante sensação de seus corpos em um só. Fechou os olhos.

 

Sentiu tudo novamente.

 

Cada parte de seu corpo se transformou em brasa, e só a menção de sentir as mãos de Oliver a desenharem era o bastante para a deixar agitada. Porém, apesar de todo o carinho e juras de amor, ainda assim se encontrava angustiada. Havia o escutado bem na noite anterior.

 

“ Eu amo você” 

 

E ela retribuiu, por livre e espontânea vontade.

 

Mesmo já sabendo que não poderiam ficar juntos.

 

Ainda estava magoada, e aquela era uma ferida que não queria mexer. Oliver mentiu e a machucou, muito, não suportaria viver tudo outra vez. Estava certa sobre a decisão tomada.

 

Então por que se sentia tão infeliz?

 

Tão culpada?

 

Não sabia responder.

 

Ao sair, encontrou uma pequena bandeja de café da manhã sob a mesinha de centro,  com um bilhete.

 

Fui buscar o time,em algumas horas estou de volta.- Oliver.”

 

Ótimo, sorriu sarcasticamente,mais alguns instantes para enlouquecer. 

 

Não conseguiu comer, e os aguardou ansiosa. Sua postura não mudou com o passar do tempo, ao contrário, piorara. Seus músculos estavam tensos, e uma sensação de angústia inquietante se fizera a mais fiel companheira, se negando de todas as formas de a deixar em paz. Tentou se distrair de todas as formas, no entanto, permanecer naquele quarto estava a deixando claustrofóbica. Se recordou de seus momentos com Oliver, a maneira que conversaram, o balanço sutil que seguiram enquanto dançavam, os beijos…

 

Os toques... 

 

Se amaldiçoou mentalmente.

 

Seu coração se sobressaltou ao escutar a porta se abrir. Oliver apareceu, com o semblante fechado. A olhou rapidamente quando desviou, forçando um sorriso com alguma piada que Tommy o contava. A equipe aparentemente se encontrava bem, tirando o fato de Tommy ter discutido com a área de criação dos quadros, que os mandou uma resposta nada sutil em uma pequena tela, com um desenho duvidoso e palavras nada agradáveis direcionadas aos agentes. Fora impossível não rir. 

 A tarde se passou devagar demais para a infelicidade de Felicity. O plano já havia sido formado. Usariam a entrada da planta, que de acordo com os cálculos de Ray, eram um ponto cego nas câmeras, e quando entrassem, Curtis deixaria o sistema fora do ar por alguns minutos, e utilizando o dispositivo do grupo de Kemille, abririam a enorme porta de metal, que segundo as informações, os levariam a sala secreta, tendo apenas cinco minutos para trocarem as telas antes do alarme disparar. Roy, Tommy e Sara assumiriam os postos de vigilância, se atentando caso algum segurança aparecesse, principalmente se fosse o homem infiltrado da quadrilha, enquanto Curtis, juntamente com Ray, cuidariam do sistema de segurança. Já na parte de dentro, Laurel, Caitlin, John, Felicity e Oliver se encarregariam do restante. Tudo estava pronto.

 

  Mas Felicity simplesmente não conseguia focar.

 

Seus pensamentos estavam voltados a Oliver. Seus olhares se cruzaram diversas vezes durante o dia, e sempre que o via, notava um semblante abatido, que tratava de disfarçar.

 Não haviam conversado o dia inteiro, e por sua postura, sabia que estava chateado, mesmo diante de seus sorrisos forçados a equipe, que pareciam alheios a atmosfera. Tentou o encurralar, mas as oportunidades simplesmente evaporaram.

 

E talvez Oliver estivesse contribuindo para isso também.

 

Não conversaram mais.

 

A noite se fez presente mais uma vez. Aguardaram o horário combinado, e ao terem a confirmação de que os últimos funcionários haviam saído, os dando tempo até os seguranças trocarem de turno se puseram em ação. Todos utilizavam roupas escuras, perfeitas para se infiltrar. Curtis acessou o sistema sem dificuldade, dando o sinal para a equipe com Felicity e Oliver prosseguirem. Ambos estavam a passos mais distantes, o que os deu certa privacidade. Felicity limpou a garganta e o encarou, Oliver permanecia sério, com o olhar fixo à frente.

 

— Sei que não tivemos tempo de conversar hoje mas…- começou incerta.- O que aconteceu…

 

— Deixa eu adivinhar, vamos fingir que não aconteceu nada como você sempre faz, não é?- sorriu sarcasticamente, virando o rosto para encará-la.- Sua maneira de resolver as coisas é peculiar agente Smoak. 

 

Felicity entreabriu os lábios, mas não houve tempo para resposta. Chegaram a porta de aço e pelo o que Felicity pode notar, era incrivelmente resistente.Caitlin colocou o dispositivo, e o metal pesado se abriu imediatamente.  A sala, em formato de um quadrado, não continha janelas, apenas um fundo branco com centenas de obras espalhadas. Felicity e Oliver entraram, se atentando em trocar as obras, enquanto Caitlin, John e Laurel colocavam as verdadeiras bem guardadas na mala. Um sinal disparou, o que os deixou em alerta.

 

— Recolham o mais rápido possível, vamos ver o que aconteceu.- falou John para os chefes, saindo com as meninas.

 

Foram mais ao fundo, se impressionando pela quantidade de obras guardadas ali, o que deveria ser comum, já que por ser a mais antiga instituição de Nova Orleans escondia muitos tesouros. O barulho persistiu, e ao se prepararem para pegarem os últimos quadros o baque estrondoso de algo se fechando os assustou. Felicity olhou para trás, e sem pensar duas vezes, correu imediatamente até a porta, batendo na estrutura lisa, sem maçaneta alguma que os ajudasse a sair.

 

— O que aconteceu?- perguntou Oliver pelo comunicador.- Alguém pode me explicar?

 

“- Holts na linha, o sistema simplesmente voltou a funcionar.- disse apressado.- Estamos resolvendo as coisas aqui, mas talvez demore um pouco.”

 

“- Quanto tempo esse “pouco” significa?- disse Felicity.- Curtis!”

 

“- Não sabemos.- lamentou.- Mas estamos fazendo o possível.”

 

 

— Nos mantenha informados.- disse Oliver, que em um gesto desligando as escutas. Indicou que Felicity fizesse o mesmo.

 

 

— Não estou entendendo.- falou confusa, após atender seu pedido.

 

— Nós vamos conversar Felicity.- a viu engolir em seco.- Eu não vou deixar você fugir de mim outra vez.




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Notas finais do capítulo

Vou aguardar aqui de forma ansiosa os xingamentos de vocês kkkk. Comentem muito e até a próxima atualização >3



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