Behind every door is a fall escrita por Vihctoria


Capítulo 1
Capítulo 1




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Capítulo 1

(Música: No one is here to sleep – Bastille)

Foram três momentos decisivos. O primeiro deles foi quando acidentalmente vi você nua.

Lembro cada detalhe daquele dia. Da chuva torrencial fora do Castelo, de tudo quanto é tom de rosa na sala da Umbridge, da gravata apertada em meu pescoço. Lembro dos sorrisos idiotas de Crabbe e Goyle quando fiz uma piada maldosa sobre Potter (a quarta daquele dia) e lembro do meu próprio sorriso murchando quando descobri que havia falhado em mais um teste. Meu humor oscilou durante todo o dia, e não havia mais espaço para sorrisos quando a noite caiu. A noite era escura e cheia de terrores, e eu não me importava com as trevas até Ele voltar. Temia, toda noite, receber cartas de Narcissa dizendo que Ele ainda estava pernoitando em nossa bela e fantástica Mansão, agora cada vez mais podre por cada Comensal que entrava por aquela porta. Eu temia, e me sentia ridículo por aquilo.

Naquela tarde, soube de mais um desaparecimento de uma família mestiça que, tempos atrás, havia enfrentado Você Sabe Quem, e embora devesse achar a notícia maravilhosa, havia uma pedra no meu estômago que pesava toda vez que ouvia isso. Considerava-me forte, mas na verdade era o mais covarde de todos que me rodeavam. Provavelmente foi o pensamento de tortura que me levou a percorrer os corredores vazios àquela hora da madrugada, com os braços ao redor do corpo e aquela gravata apertada me sufocando. Passei os dedos pelas paredes até chegar defronte à porta do banheiro dos monitores. Com um toque da varinha fiz com que abrissem silenciosamente, e entrei no imenso corredor que terminava em duas aberturas, sendo que o lado esquerdo levava ao banheiro masculino, e o lado direito ao feminino. Afrouxei a gravata e cheguei até o final do corredor, com apenas minha sombra de companhia. Naturalmente, direcionei-me para o banheiro masculino, consciente de que um banho quente seria a solução dos meus problemas, até ouvir um barulho surdo de algo caindo na outra direção. Naqueles tempos, eu temia por qualquer movimento fora do normal, porém algo me deteve ali. Encostado na parede, com a respiração apenas levemente alterada, dobrei a entrada do banheiro feminino.

E foi ali que vi você pela primeira vez.

Reparei nos cachos longos pra começo de conversa, pra que não ache que sou completamente tarado. Eles caiam pelas suas costas com tamanha naturalidade que eu me perguntei porque nunca havia reparado neles antes. Depois, conforme você foi até a escada que levava à banheira, reparei nas costas compridas e alvas que terminavam em seu quadril, e não consegui deixar de reparar como era sensual a maneira que ele se movia enquanto você deslizava pela água quente. Mesmo de longe, pude ver a pele arrepiada pelo frio e a sensação de alívio ao toque da água. Finalmente olhei para o vapor nas janelas, nos vitrais coloridos que pareciam vivos enquanto você se banhava, e notei o quanto estava terrivelmente quente naquele lugar.

Ainda não sei o que me denunciou, se foi meu gemido quase surdo, minha gravata escorregando para o chão ou meu coração, que pulsava absurdamente rápido pra pouca coisa. O que sei é que quando você virou o rosto e encontrou meus olhos, tudo desandou. Você deixou escapar um grito quando se levantou da água e eu não consegui deixar de admirar seu corpo completamente nu antes que você conseguisse se cobrir com as mãos. Naquele instante, eu soube que me perdi pra sempre, porque Hermione Granger era a mulher mais linda que eu já havia visto.

A partir dai, todo o mais foi consequência: seus gritos pra mim, meu coração e minha calça pulsando de um jeito que eu não conseguia controlar, minha vontade louca de ver você outra vez completamente... minha... (minha?)

Lembro que corri pra fora daquele banheiro mais rápido do que jamais corri na minha vida, e quando cheguei ao dormitório da Sonserina, havia perdido a gravata e qualquer pensamento coerente no caminho. Eu havia visto Hermione Granger (a sangue-ruim dos dentes grandes, dos cabelos de vassoura e daquele enorme sorriso digno de um baile de inverno) em seu momento mais íntimo, e me sentia como se tivesse violado algo muito grande naquela nossa relação de ódio. Tentei me lembrar de quando seu tapa atingiu meu rosto no terceiro ano, ou de como eu odiava vê-la tirando notas mais altas que eu, ou talvez quando você... mas só o que me vinha na cabeça era como Granger (você mesma, dos cabelos e dentes estranhos) era completamente linda.

—.-.-

Minha vida havia acabado, e era a única coisa da qual eu tinha certeza na vida após ter encontrado você. Também lembro cada detalhe daquele dia, começando de como eu estava destruída após outra rejeição de Rony, de como estava morrendo de raiva porque Harry nunca me escutava, e de como precisava muito de um banho quente para lavar toda minha alma daquele sentimento ruim. Lembro de pensar que ninguém estaria acordado àquela hora da madrugada, e depois ter ouvido murmúrios e gemidos em um canto da parede, o que não melhorou em nada meu humor. Mais tarde, a sensação de observar meu próprio corpo no espelho comprido do banheiro dos monitores, imaginando como seria tocar cada parte de pele arrepiada, e depois ter tanto medo dos meus pensamentos que entrei imediatamente na água quente. Eu também não sei ainda o que lhe denunciou, mas imagino que tenha sido a sensação arrepiante (e eletrizante) de estar sendo observada, e talvez por isso eu tenha demorado um segundo a mais para olhar para trás do que deveria.

E então desmoronamos quando eu encarei seus olhos acinzentados e não vi nada do que eu esperava: no lugar do seu costumeiro desdém, eu vi admiração, enquanto no lugar do seu ódio, talvez eu tenha captado uma faísca de desejo; Eu só fiz gritar, e você parecia tão petrificado no lugar que tudo que fez foi deixar cair a gravata. E quando você correu e eu não conseguia mais gritar, aquele verde arrogante e sonserino foi parar no meu pescoço, e quando eu me encarei no espelho, me assustei por gostar daquele contraste entre meu corpo e sua gravata, e foi aí que me perdi.

Procurei você no dia seguinte. Odiei cada segundo do meu desespero de que você teria contado o que aconteceu para algum de seus amigos idiotas (ou pior, para algum dos meus amigos), e não hesitei na hora que lhe encontrei no caminho para os jardins. Lembro da sua expressão indecifrável quando lhe puxei pelo pulso e o obriguei a caminhar comigo até um lugar onde não fossemos vistos. Meu coração pulsava tão rápido que eu jurava que você podia senti-lo pela nossa proximidade. Empurrei-o contra a parede e fechei as mãos em punho (muito intimidador, eu sei).

— Você não pode contar o que aconteceu ontem à noite pra ninguém, me ouviu? – Sei que você leu o desespero na minha voz, e sei que tentou mascarar sua surpresa com o tão conhecido desdém, mas agora eu conhecia seus olhos melhor do que antes.

— E o que aconteceu ontem à noite? – Havia um sorriso presunçoso nos seus lábios finos, mas seus braços cruzados na frente do corpo me mantinham afastada.

— Eu repito, se você contar... –

— Desencane Granger. Porque eu contaria? – Você disparou, endireitando-se na parede, e de repente parecia bem mais intimidador. Abri e fechei ou pulsos, de alguma maneira me sentindo ofendida com a pergunta. Porque você contaria? O que eu achava que havia significado aquilo?

— Não importa o porquê. Apenas fique calado. – Fiz menção de ir embora, encerrando aquela conversa, ciente de alguma maneira que você falava a verdade, apesar de tudo que eu sabia sobre você.

— Qual a frequência das suas atividades noturnas? – Você tinha que perguntar. Lembro de virar com um tapa pronto para encaixar em seu rosto, mas você tinha antecipado aquilo. Segurou meu pulso com força desproporcional à minha e me puxou de encontro ao seu corpo. O roçar da minha perna na sua, por algum motivo, fez meu coração disparar uma segunda vez.

— Qual o seu problema? – Tentei me soltar, sem sucesso. Seus olhos se estreitaram e seu aperto ficou mais suave.

— Estou falando sério. Quero saber quando posso ir sem ter que encontrar você no meu caminho. – Aquele veneno todo seu me desarmou de uma maneira que senti meu corpo relaxar como se fosse desabar, e então soltei-me do aperto e você se afastou, esbarrando em mim ao passar, e outra vez senti que iria desabar com o peso daquelas palavras. Antes que cedesse, porém, senti novamente aquela sensação de que olhos me observavam, e virei levemente o rosto para vê-lo. Seus olhos tão cinzas mentiram pra mim, e fiz disso nossa ruína.

—.-.-

Aquela aproximação sua foi um erro, e eu lhe odiei por isso. Odiei que tivesse a audácia de dizer-me para não abrir a boca sobre aquela intimidade, e ofendi-me por achar que eu faria. Aquele momento foi meu, e eu não estava disposto a dividi-lo com ninguém, muito menos deixar que Potter e Weasley soubessem daquilo, o que eu sabia ser o seu maior medo. Incomodei-me com isso também, imaginando se você só havia se aborrecido por medo de ter sua intimidade exposta, ao invés de se preocupar com o que EU havia visto. Se incomodasse você, significaria que importava alguma coisa, e que aquela sensação horrível de que algo estava terrivelmente errado não era só minha.

Passei o restante da tarde imaginando o que devia ter feito quando você me empurrou contra a parede, e tentava me convencer de que meus pensamentos eram desconexos e não faziam sentido nenhum, portanto deviam ser ignorados. Porém, por mais que me esforçasse, não consegui esquecer a expressão chocada em seu rosto com a minha ''despedida'', e só mais tarde percebi que agi daquela forma porque queria desesperadamente tê-la beijado naquele brilhante momento.

—.-.-

Eu odiei você por ter me visto completamente nua e por não ter ligado para isso. Odiei sua habilidade de dissimulação e seus olhos cinzas mentirosos. E odiei ainda mais quando, três dias depois, nós nos encaramos por um longo tempo no corredor, e eu entendi o desafio no teu olhar.

—.-.-

Minha respiração era quase superficial, embora a gravata estivesse frouxa no meu pescoço. A neve se acumulava nos vidros do Castelo, mais o suor escorria por meu rosto. Tentei calcular os passos, mas a cada dez eu me perdia na conta e proferia ofensas contra você novamente, obrigando meus pés a me levarem às masmorras, e acabando inevitavelmente na porta do banheiro dos monitores.

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Eu tremia de frio enquanto encarava o espelho mais uma vez. Os cabelos castanhos estavam livres para descer minhas costas nuas, e os dentes da frente nunca foram tão perfeitos. Havia algo diferente nas írises castanhas, um tipo de temor que eu nunca havia sentido antes. Algo eletrizante, que corria pelas minhas veias e fazia o sangue pulsar loucamente, um temor que me fez sentir mais do que ouvir os passos dobrando aquele corredor.

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Vi seu reflexo antes de vê-la realmente. Os cabelos cobrindo as costas foram suficientes para ter minha respiração acelerada. Tentei afrouxar a gravata, mas há um tempo ela jazia no chão. Não eram precisos mais que dez passos para que eu a alcançasse, mas não me movi. Sabia que fora silencioso, mas você virou para me olhar, e não houve gritos desta vez, tampouco surpresa. Vi temor nos seus olhos, e sabia que os meus estavam refletidos ali. Eu desejei você mais que nunca.

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Vinte, trinta, quarenta segundos. Sua gravata deslizou para o chão, mas seus olhos estavam tão grudados nos meus que só percebi o verde contrastando com todo o resto quando já era tarde. Tentei captar qualquer resquício de arrogância nos seus olhos, mas fora o temor, só restava o desafio. E orgulhosa como eu era, entrei no seu jogo. Deixei que a toalha caísse.

—.-.-

Vinte, trinta, quarenta segundos. Eu a admirei tempo suficiente para decorar cada detalhe de seu corpo, e meu fascínio por você estava estampado no meu rosto. Senti um curioso aperto na boca do estômago, mas era diferente daquele ao qual eu estava acostumado. Esse era delicioso.

—.-.-

Eu cheguei ao último degrau da banheira, e seu corpo chegou no meu. Estava em êxtase.

—.-.-

Você era completamente minha.

 


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