Point of No Return escrita por Kallisti
Notas iniciais do capítulo
Finalmente, criando vergonha na cara e pondo para frente este que é um projeto que eu já vinha ruminando há muito tempo. Espero que gostem!
Comentários são sempre muito bem-vindos!
— Parece distraída hoje, o que aconteceu?
E, antes que pudesse abrir a boca, já recaia sobre si aquele olhar que tanto odiava; Kagome tinha o péssimo hábito de lançar aos outros sua pena, quando julgava não estarem bem — como se, em toda sua ternura e extrema empatia, pudesse se compadecer sem nem ao menos saber do que se tratava.
Logo, juntava as sobrancelhas no meio da testa e projetava os lábios em um biquinho chateado. Suas mãos sempre encontravam o caminho uma da outra, no meio do peito, e ali pressionava suas palmas. A própria Pietà de Michelangelo não seria capaz de expressar tamanha dor ou piedade quanto Kagome em sua pose de preocupação.
— Nada, coisa do trabalho. — Respondeu, por fim, Kikyou, desviando o olhar da irmã gêmea e buscando, sobre a mesa, o celular. — Rearranjaram os meus pacientes no hospital, para que eu pudesse dar prioridade ao Onigumo e—
— Espera, espera!! Você vai atender o Naraku? De novo?!
Kikyou contraiu e apertou os lábios, erguendo o olhar à Kagome mais uma vez — sendo agora ela a juntar as sobrancelhas. Em desaprovação, contudo. O burburinho das mesas ao lado pareceu diminuir um pouco.
Dizer aquele nome, em voz alta, era tão imprudente e inapropriado quanto xingar dentro de uma igreja; só causava desconforto e olhares de censura. Sorte a delas o restaurante estar tão vazio naquele horário.
— Onigumo. — Corrigiu, impaciente. — Naraku foi o nome idiota que os jornais deram à ele.
— Mas você vai atender ele de novo? — Repetiu Kagome, agora num tom mais baixo, espanando a repreensão da irmã com um movimento displicente das mãos (e fazendo toda aquela encenação de empatia ir por água abaixo). — Isso não é meio conflitante? Ou perigoso, sei lá.
— É… É sim…
— Quer dizer… — A menina se debruçou um pouco mais para frente, cruzando os braços sobre o tampo de madeira. — Foi você quem jogou ele na cadeia, né?
Kikyou parou ali mesmo, bem onde estava. Ficando imóvel, diante da irmã que — tão alheia ao estado da mais velha — tentava buscar o canudinho do suco com a boca, sem usar as mãos. Um fervor subindo-lhe desde o pescoço até o rosto.
A mão sobre o celular foi se fechando lentamente, apertando o aparelho. Sua boca, em contrapartida, abrindo-se — Incrédula, ela estava incrédula de ouvir aquilo! —, puxando o ar para dentro dos pulmões.
E… antes que pudesse responder, o telefone toca.
O olhar de ambas cai sobre a tela, um nome familiar acende no visor: Taisho.
— Eu não joguei ninguém na cadeia, as coisas horríveis que ele fez que o jogaram lá. — Respondeu, finalmente, levantando-se da mesa e puxando da cadeira a bolsa e o casaco.
Kagome suspira, assentindo de levinho à bronca.
— Tá bem, Kik. Foi mal— — Um novo bico foi se formando. — Mas— você já tem que ir? Não pode só… Atender o telefone e dizer que tá almoçando?
— Se ele tá me ligando, quer dizer que eu já devia ter voltado há muito tempo.
Kikyou, depois de vestir o casaco, passa os cabelos para fora da peça. — E o Sesshoumaru não gosta de esperar. — A mão, ocupada com o celular (que ainda vibra), vai ao suco da irmã e, tirando o canudinho, ela termina de bebê-lo — ignorando solenemente os protestos chorosos da mais nova.
Quando, por fim, o copo é devolvido vazio à mesa e Kagome já parecia bem conformada que de ficaria sem seu suco, Kikyou debruçou-se sobre a menor e beijou o topo de sua cabeça.
— Não demora aqui, tá? — Ao se afastar, com um sorrisinho morno nos lábios, Kikyou encontrou um semelhante nos lábios da irmã.
Despediram-se com um aceno e, logo, Kikyou estava a caminho do trabalho. O telefone já havia deixado de tocar há algum tempo.
Ela ouviria um monte assim que chegasse no hospital.
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