Presente de Natal escrita por morphmagus


Capítulo 1
this slope is treacherous




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 Aquele natal seria diferente de todos os que Lily já havia passado. Neste ano, Lily não iria pra casa de seus pais no interior, os dois haviam decidido fazer uma longa viagem por toda Europa e as duas filhas não estavam convidadas. Por um lado, Evans agradecia já que isso significava que não teria que olhar pra cara de Petúnia e ter que dividir o mesmo espaço com Vernon, seu cunhado, e aguentar as perguntas dos pais sobre pretendentes. Por outro lado, lhe entristecia não poder estar com seus pais nessa data, por mais que eles fossem tradicionais, não eram pais ruins. Cobravam muito, isso era fato, e queriam tudo perfeito nos mínimos detalhes, mas sempre foram amorosos com as filhas e entre eles. Sempre foram preocupados com o bem estar delas, mas isso às vezes era expressado em forma de cobranças.  

  No momento atual, às cinco horas da tarde, Lily acompanhava Marlene na preparação do peru. Marlene McKinnon, sua amiga e colega de apartamento, havia se compadecido com a amiga desabrigada no natal e decidiu que também passaria em Londres, ao invés de ir para casa de seus pais no interior da Irlanda. As duas tiveram a ideia de fazer uma pequena ceia com os amigos, que também estavam desabrigados ou apenas decidiram passar ali mesmo, no apartamento que dividiam. A essa altura todos os enfeites natalinos existentes já estavam distribuídos pela casa, uma mediana árvore de natal enfeitava a sala, meias haviam sido penduradas na janela (elas não possuíam uma lareira, era pedir demais com o orçamento de universitárias que tinham), um ou outro azevinho espalhado pela sala e a guirlanda enfeitava a porta de entrada do apartamento.   

  Os convidados só chegariam depois das sete horas, mas os preparativos culinários já estavam quase acabados. Marlene fazia o peru, enquanto Lily fazia seu famoso macarrão com queijo (a única coisa que ela realmente sabia fazer na cozinha, além de comer), mas as saladas já estavam prontos e a mesa que receberia as comidas dos amigos. 

  — Lily, pegue aquela travessa pra mim, por favor. — Marlene gritou. 

  — Qual travessa, Lene? — A ruiva indagou e a outra apontou o objeto no balcão do outro lado. Lily pegou e colocou na bancada, próximo a Marlene. — Tem certeza que esse negócio vai dar certo? 

  — É claro, Evans. Tá duvidando dos meus dotes culinários? 

  — Quais dotes, Marlene? — Lily chegou perto dela. — Com todas as minhas experiências experimentando suas comidas, posso afirmar que eles não existem. 

  — Você não vai tocar nesse peru maravilhoso, não quero nem saber. — Disse olhando pra Evans com as mãos na cintura e balançando a colher de pau. 

  — ‘Tá parecendo minha mãe, credo Lene.

  — Sai da minha cozinha. — Depois de ser expulsa e levar um tapa, Lily obedeceu a amiga.  

  Como já tinha terminado o macarrão, colocou-o numa vasilha de vidro e levou para pôr na mesa. Antes de sair, deu uma última olhada em Marlene que enfiava o peru no forno. Lily já estava a caminho para seu quarto, a fim de tomar um banho e se arrumar para a festa que começaria em menos de duas horas, quando sua campainha começou a tocar sem parar. Evans gritou um “Já vai!” para a pessoa insistente. Não se surpreendeu ao encontrar Dorcas e Mary, respectivamente com uma torta e um pote de biscoitos na mão, além de embrulhos dourados. A ruiva abriu espaço para que o casal entrasse. 

  — Eu sabia que vocês iam chegar com cinquenta horas de antecedência. — Marlene surgiu da cozinha de avental e com a toalha sobre o ombro. 

  — Eu precisava garantir que você não ia queimar o peru, Marlene. — Dorcas disse depois de ter colocado a torta na mesa. — Você e a Lily são dois desastres culinários. Não sei como concordei em te deixar responsável por isso.

  — Vocês só me ofendem, primeiro a Lily e agora você. — Fingiu secar uma lágrima. — Vou deixar vocês passarem fome.  

  — Você deixou depois de muita chantagem, Doe. Todo mundo sabe que essa louca não ia te deixar em paz se não pudesse fazer o tal do peru dos McKinnon. — Lily disse rindo. Podia ser péssima na cozinha, mas Marlene era pior. 

  — Evans, eu ‘tô te avisando. — Jogou a toalha na ruiva. — Você fala de mim, mas quem garante que o macarrão ficou bom?

  — Eu sempre faço ele, você sabe que está bom. Além disso, fiquei muito satisfeita de ter contribuído apenas com o meu tradicional macarrão com queijo.

  — E eu com meus simples biscoitos enfeitados. — Mary se manifestou. Se aproximou da namorada, deixando um beijo em seus fios cacheados. — Deus me livre de entrar na cozinha da Dorcas pra fazer algo a mais. 

  — Mary! — A negra fez um bico que foi beijado por Mary. 

  — Depois dessa melação, eu vou tomar meu banho. —  Lily disse já saindo da sala. 

  — Daqui a pouco você vai estar igualzinha, Evans. — Doe gritou.

  — Vai a merda, Dorcas! — Gritou já no quarto. 

[...]

  Duas horas depois, Lily, Dorcas e Mary já estavam na sala esperando o resto dos convidados e McKinnon. Lily tinha saído do banheiro há dez minutos, vestida num vestido preto de manga longa. Marlene a mataria, sem dúvidas. A morena havia inventado que todos deveriam estar de vermelho, mas Lily se recusou. Não entenda mal, ela ama a cor e sabe que fica bonita nela, mas toda a decoração era vermelha (com um pouco de verde e branco, bem típico), todos estariam de vermelho e seus fios ruivos já se camuflavam o suficiente, se Lily estivesse de vermelho ninguém a encontraria na festa de tão camuflada que ficaria. Marlene gritou que estava terminando de calçar a sandália e já iria para a sala. A campainha tocou e dessa vez quem chegou foram Peter e Emmeline, os dois tinham se casado há dois meses e dividiam um apartamento a vinte minutos de distância. Foram recebidos com abraços, os presentes largados embaixo da árvore com os outros (ficariam ali até o amigo secreto). Minutos depois, Frank, Alice, Remus e Tonks chegaram e fizeram o mesmo percurso que o outro casal. 

  Eram quase oito horas e só faltava James e Sirius. Marlene estava despreocupada, afinal sabia do paradeiro do namorado e do amigo, mas Lily estava ansiosa e mesmo que tentasse disfarçar, era visível. 

  James Potter. Morava a duas quadras da casa de seus pais, em Hogsmeade, estudou todos os anos da escola com Evans e foi parar na mesma faculdade e, de bônus, no mesmo círculo de amizades. Mas, mesmo com todos esses encontros, eles nunca foram próximo. Dois anos atrás, quando Marlene e Sirius Black, melhor amigo de James, começaram a namorar, eles se aproximaram ainda mais, afinal sempre eram levados como velas para saídas com o casal. Mas nessa época, Lily namorava Amos Diggory (seus pais o amavam, já que ele foi praticamente escolhido pelos dois) e James tinha vários lances. Lily não era a maior fã do maroto, o achava arrogante e prepotente, quase sempre com atitudes insubordinadas. Há um ano atrás, numa viagem quando Lily já não namorava mais Diggory e James havia finalmente se acalmado, a mulher deu uma chance a ele. Uma chance de amizade, é claro. E eles descobriram que eram ótimos amigos, mas poucos meses depois, descobriram que eram melhores ainda na cama. E, desde então (quase seis meses), estavam naquele lance sem rótulos em que eles transavam quando queriam, saiam com outras pessoas se quisessem (algo que não acontecia faz tempo, não que eles fossem admitir), mas estavam sempre juntos, como amigos ou como amantes.

  O grande grupo fazia barulho conversando e brincando uns com os outros. Essa junção aconteceu graças a Marlene e Sirius. McKinnon e Evans eram colegas de faculdade e dividiam o apartamento, a morena conheceu Sirius em uma festa e ele já era amigo de James, Remus e Peter, esse que já namorava Emme, que há anos era amiga de Alice e Frank, namorado de infância dela. Tonks se conectava por ser prima de Sirius e porque começou a namorar Lupin. Dorcas era amiga de Lene e Lily e começou a namorar Mary, que entrou para o grupo por último. Em pouco tempo eles viraram essa grande família que estava sempre reunida. 

  Mais de uma hora depois, os meninos ainda não haviam chegado. Peter já estava começando a ficar bêbado (era impressionante quão rápido isso acontecia) e o barulho só aumentava. Lily se preocupava se o sindico ligaria pra reclamar. Naquele momento, ela, Tonks, Emme, Dorcas e Lene dançavam Jingle Bell Rock, imitando (tentando) a coreografia do filme Meninas Malvadas. As quatro faziam os papéis das meninas que dançavam e Marlene imitava a mãe que no filme gravava as garotas. Alice filmava (de verdade) o espetáculo e Mary, que dispensou passar essa vergonha, chorava de rir com os meninos. 

  Sem aviso prévio, a porta foi escancarada, assustando a todos. Lily embolou os pés no tapete fofo da sala e caiu de bunda no chão, Dorcas e Tonks se esbarraram e caíram em cima da poltrona do lado de onde estavam, Emmeline tropeçou e por pouco não caiu. Marlene foi a única que se salvou de uma queda. As risadas dos que assistiam só aumentaram, junto com os recém-chegados. Quando finalmente se controlaram, Lily já estava de pé (graças a James) e as outras se jogaram no sofá. Marlene levou as coisas para a mesa, no caso o vinho que Sirius trouxe e a sobremesa de James. Continuaram conversando e bebendo por um longo tempo, em meio a risadas e vinho. 

  Nesse exato momento, a ruiva estava sentada no braço da poltrona em que James estava. A mão do homem estava repousada na coxa dela e fazia leves movimentos circulares com o dedão. Evans inclinou a cabeça, deixando um beijo em meio aos cachos de James, ele passou o braço ao redor da cintura e puxou a mulher para seu colo. Depositou uma série de beijinhos no ombro dela, fazendo-a se mexer por causa das cócegas. 

  — Por que demorou tanto? 

  — Não aguenta ficar longe de mim por dez minuto, não é Evans? — Potter debochou, ainda beijando o ombro dela. 

  — Não seja tão convencido, Potter. — Se afastou para encará-lo. — Meu interesse estava apenas na sobremesa. 

  — Hmn, é mesmo? Acho que vou dar o seu presente para a minha mãe, então. — Virou a cara para o lado, fingindo que estava zangado. — Ou talvez para a Hestia Jones, quem sabe eu deveria sair daqui agora e ir para a festa que ela me convidou. 

  — Vai lá com ela, então. — Lily arqueou a sobrancelha. — Se você acha que é melhor do que estar aqui comigo e de, quem sabe mais tarde, descobrir o que tem embaixo desse vestido preto. 

  — Não faça isso comigo, Lily. 

  — Me desculpe, Potter. Se você prefere assim.

  Lily fez bico e ameaçou se levantar, mas foi impedida por James que a puxou de novo e beijou os lábios da ruiva. 

  — Casal, chega, chega. Ninguém aqui quer um pornô ao vivo. — Sirius gritou, de pé ao lado deles, enfiando os braços no meio para separá-los.  

  — Porra, Pads! Sai daqui. — Gritou, estapeando Black.

  Evans levantou rápido, antes que levasse um tapa por acidente. As duas crianças iniciaram essa brincadeira estúpida e foi preciso McKinnon levantar e estapear o pescoço de ambos. Depois de alguns gritos, Marlene fez com que o vexame acabasse. 

  — Já que as crianças estão comportadas e daqui a pouco vai dar meia noite e todo mundo quer ficar louco, vamos fazer o amigo secreto logo. 

  Depois de que todos concordaram e que conseguiram sentar em um círculo parcialmente organizado no meio da sala, finalmente começaram o amigo secreto.  Lily iria ser a primeira, apenas por causa da insistência do amigos. Começou a explicar quem era sua amiga secreta que foi adivinhada por um grito de Marlene. Lily entregou o presente a Dorcas, um kit de facas de cozinha profissional. Dorcas deu a Marlene um box de colecionador dos filmes de Star Wars, série de filmes que ela era apaixonada. McKinnon presenteou Lupin com um disco dos Beatles. Na sequência, Remus deu a Peter um jogo de videogame que ele não sabia o nome, mas Pettigrew amava. Pete deu a  Tonks uma máquina polaroid, que presenteou Alice com o perfume favorito dela, esta deu a Emme um livro de psicologia que ela estava louca atrás, que entregou a Frank um vinho suave, este que deu a Mary um kit gamer. Ela deu a Sirius um novo capacete, que presentou James com uma camisa de futebol. 

  Respirando fundo, James levantou. Era óbvio que sua amiga secreta era Lily e a garota já tinha um grande sorriso nos lábios. O Potter a puxou pela mão para que ela se levantasse. Estava nervoso, suando apesar do clima, a ruiva percebeu isso ao tocar na mão dele. De pé, frente a frente a Lily, seus narizes quase se tocando, ainda segurando a mão esquerda dela. Com a mão livre, puxou algo do bolso e segurou firme, ainda o mantinha escondido. Lily olhava sem entender o que iria acontecer.  

  — Lily. A gente se conheceu de uma forma meio conturbada, mas tudo deu certo depois. Nos tornamos bons amigos e melhores ainda seja lá o que nós somos até agora. Enfim, eu acho que está na hora de darmos mais um passo. — Ele respirou fundo e Lily sentiu o sorriso fraquejar. — Foi todo um rolê pra isso aqui, pra conseguir pegar o seu nome, troquei com a Mary, mas a gente pode fingir que foi acaso do destino. E conseguir organizar tudo pra que eu ficasse por último. Mas tudo valeu a pena, porque eu queria que esse pedido fosse perfeito. Porque você é perfeita, Lily Evans, e eu amo você. Aceita ser oficialmente a minha namorada?

  Lily respirava com dificuldade. O sorriso já tinha sumido de seu rosto, deixando apenas sua boca entreaberta e os olhos arregalados em choque. Olhou em volta, as expressões empolgadas de seus amigos, a expectativa que eles estavam. Olhou James com a mão erguida segurando uma caixinha com anel e um sorriso largo. Voltou aos olhos cheio de emoção dele. Estava perdida, não sabia o que fazer, não sabia o que queria fazer. Estava começando a hiperventilar. 

  — Eu- sinto muito, James. — Fugiu o mais rápido possível dali, se trancando no quarto. 

  O homem ficou sem reação. Todos os outros em choque demais para pronunciar uma palavra sequer. Frank foi o primeiro a reagir, se levantando e tocando no braço de James. Isso o fez despertar do choque. Sem dizer qualquer palavra ou ouvir os amigos, deu meia volta e saiu do apartamento depressa. Os que sobraram se entreolharam, perdidos. Marlene queria ir atrás de Lily, mas Alice e Emmeline a convenceram a não ir, da mesma forma convenceram Sirius e Peter a deixar James só por alguns instantes. Decidiram apenas continuar por ali, esperando que um dos dois voltasse em busca de apoio, ou qualquer outra coisa.  

[...]

  Talvez tivesse passado apenas alguns minutos, talvez horas, Lily não saberia dizer. Já havia desidratado seu corpo com tantas lágrimas. Estava desesperada. Suas experiências amorosas eram péssimas, sabia que James não seria como os outros, mas o receio estava ali, presente, a impedindo de viver. Era tudo tão complicado, a faculdade, seus pais, sua futura carreira. Parecia tão mais fácil fingir que assim estava perfeito, do que admitir que já não era suficiente. Ela queria aprofundar aquilo, queria que fossem mais do que transas ocasionais.

  Sua série de pensamentos deprimentes foi interrompida por batidas na porta e a voz de Marlene anunciando sua entrada. 

  — Seus pais te ligaram, Lily. — Entregou o celular para a amiga. — Já deve ser meia noite onde eles estão. 

  A morena saiu depois de ouvir um baixo “obrigada” da ruiva. Lily segurou o celular, quase decidiu que não ligaria e depois diria que estava dormindo ou bêbada, o que não seria mentira, já que tinha uma garrafa de vinho (furtada no caminho de sua fuga até o quarto) quase vazia do seu lado, mas fazer isso com seus pais seria mais um estupidez nessa noite. Depois de prender em um coque o emaranhado que seu cabelo havia se tornado e passar a mão no rosto numa (falha) tentativa de não parecer que estava chorando, Lily retornou a chamada de vídeo de seus pais. Poucos toques depois, eles atenderam.

  — Feliz Natal, Lily! — Gritaram em unissom, arrancando um leve riso dela. 

  — Feliz Natal, mamãe e papai! — Como está aí em Veneza? 

  — Perfeito, aqui é tudo tão bonito. — Sua mãe desencadeou a falar, contando os mínimos detalhes da cidade para Lily. 

  Gostava de observar os pais.Vê-los tão conectados um com o outro quase fazia Lily desejar largar tudo e procurar um amor para a vida toda. Mas ela jamais se contentaria só com isso, precisava ver muito mais do mundo e da vida. Tinha medo de que qualquer coisa pusesse amarras nela e a impedisse de ver o universo. 

  — Cerejinha? — Chamou seu pai pelo apelido infantil que ele deu a ela. — Está tudo bem? 

  — O que aconteceu, Lil? — Sua mãe também se preocupou. 

  — Não é nada. Quer dizer, talvez eu tenha feito uma burrice. Ou não. Eu não sei. 

  — Vamos lá, Lily, nos ajude a entender. — O tom de voz da Sra. Evans era suave. 

  — O James. James Potter, aquele que morava perto de casa. — Seus pais balançaram a cabeça, confirmando que sabiam quem era. — Ele me pediu em namoro. Hoje. Fez toda uma loucura no amigo secreto pra ele poder pegar meu nome e fazer o pedido. E eu disse não e fugi. 

  — Oh meu amor. — O coração do Sr. Evans doía de ver sua caçula chorar. — Tem que ter uma razão pra isso, Cerejinha. 

  — Eu não sei, papai. Eu sou uma maldita medrosa. — Passou a mão no rosto, tentando controlar as lágrimas. — Eu tenho medo de dar tudo errado, o que nós temos agora, apesar de ser uma confusão, tem dado tão certo. Nós estamos tão bem. E se isso estragar tudo? 

  — Se vocês realmente se gostam e está dando tão certo, isso não vai estragar nada. Pelo contrário, só vai melhorar. 

  — Mas, mamãe, e se isso me prender? Como os outros já prenderam? Eu quero ser livre, não posso me deixar ser presa de novo. 

  — Lily, você é esperta o suficiente pra não se permitir entrar em algo igual ao que você já teve. Você disse que está indo tudo tão bem. Quanto tempo tem vocês dois? 

  — Quase seis meses. 

  — Já se sentiu presa em algum momento?

  — Não. 

  — Lembra algo da sua antiga relação? 

  — Nem de longe. 

  — Então não tem o que ponderar, meu amor. Se você ama esse garoto, vá atrás dele. Aceite tudo isso. E, se algo der errado, você tem o nosso apoio. 

  — Vá atrás da sua felicidade, Cerejinha. — Seu pai se pronunciou depois de tanto tempo calado. — Nós sempre vamos estar com você. Nosso colo sempre vai estar disponível. 

  — Obrigada, eu amo tanto vocês. —  Disse depois de segundos ponderando, enquanto seus pais a encaravam. — Feliz natal, aproveitem a viagem.

  Depois de vários desejos de boa sorte, beijos e “eu te amo”, a chamada foi encerrada. Lily levantou em segundos, correndo pelo quarto atrás de sapatos mais confortáveis que aqueles saltos (quase caiu nessa corrida). Saiu do quarto apressada, chegou na sala encontrando seus amigos com cara de enterro. 

  — Lily, nós- — Dorcas começou a falar. 

  — Alguém sabe pra onde o James foi? — Perguntou afobada. 

  — Ele ‘tá no apartamento da gente, acabou de me responder. — Sirius que respondeu. — Tá tudo bem, Lily? 

  — Não, eu fiz a maior estupidez da vida e preciso consertar. 

  — Que bom que reconhece. — Sirius foi ácido. Era amigo dos dois e tentava não ser grosso, mas se ela tava admitindo quem era ele pra negar?

  — Reconhece a burrice é sempre um bom começo. — Lily deu uma risada estúpida, maldito álcool. — Será que ele vai me atender? 

  — Não sei, Lily. Talvez se você se embalasse num papel de presente e o papai Noel te entregasse. 

  — Sirius, para de perturbar a coitada. — Marlene brigou. — Mas quem sabe com um lacinho, Lily. 

  — Será? 

  — Vai logo, Lily. — Remus mandou, tentando ser paciente. — Não dê ouvido a esses idiotas.  

  Acatando a ordem de Lupin, Lily pegou o casaco quente e saiu do apartamento. Sua mente, levemente bagunçada pelo teor de álcool em seu corpo, ainda questionava se ele a ouviria ou não. Estava atravessando a praça, que separava o seu prédio do de James, quando viu a árvore no centro, enfeitando a rua. As palavras de Sirius e Marlene voltaram a sua cabeça. Sem pensar muito, Lily correu até árvore e arrancou um laço dos presentes que ficava embaixo da mesma. Era vermelho e bem grande. Não custava nada tentar, não é? 

[...]

  A noite de James tinha começado muito bem. Depois de muita procura, ele conseguiu achar o anel perfeito para dar a Lily, depois estava com ela e seus amigos, sua família. Não entendia como conseguiu fazer aquele amigo secreto funcionar, teve que revelar o dos amigos e contar com a ajuda deles. Até então estava tudo certo, a ordem estava indo corretamente. E aí tudo deu errado. Ele fez o pedido e ela disse não. Desse momento até chegar em seu apartamento tudo pareceu um borrão, não se lembrava do que disse aos amigos (se é que disse algo), nem por quem passou na rua, de como não morreu atravessando. Agora estava jogado no tapete da sala, triste demais para conseguir levantar e ir até o quarto. O som da campainha era irritante, mas agora parecia pior. Soava como a morte se aproximando. Decidiu que ia apenas ignorar até que a pessoas desistisse e fosse embora dali, o deixando em paz. 

  — James, por favor. Sou eu, a Lily. — Ela nem precisou chegar a dizer o próprio nome e James já estava pé na frente da porta, sem abri-la. — Eu sinto muito. Eu sou a merda de uma fudida que só sabe fazer merda. Fiquei tão nervosa quando você disse todas aquelas coisas bonitas pra mim, quando me contou o que fez. Eu tenho medo, James, das coisas entre a gente estragarem, de ser igual ao que já vivi. Mas eu sou ainda mais estúpida por pensar isso de você. — A porta ainda os separava, Lily falava tentando controlar as lágrimas e James apenas ouvia, quieto e com a respiração acelerada. — Você é tão doce, gentil, tão perfeito pra mim. Por favor, me dá outra chance. Eu sei que não quer me ver nem pintada de ouro, mas quem sabe com um laço? 

  Numa decisão rápida, Potter abriu a porta. Deu de cara com uma Lily Evans de casaco grande de inverno, botas rosa, parecendo levemente bêbada e com um laço vermelho na cabeça. James não conseguiu se segurar e caiu na gargalhada. Levou um tapa da mulher a sua frente. 

  — Me perdoe, é que é engraçado demais esse laço, Lily. 

  — James! 

  — Ok, ok! Me desculpe! — Conseguiu se controlar. — Eu entendo tudo que disse, Lily, de verdade. Entendo por tudo que passou. E, caso fiquemos juntos, eu juro solenemente nunca fazer nada que te magoe, que te prenda ou que machuque seus direitos. Mas, não sei se consigo aceitar que tenhamos algo sem que você tenha certeza. 

  — Eu tenho, James. Inferno, eu tenho tanta certeza que te amo. — Se aproximou do maroto. — I hear the sound of my own voice. Asking you to stay. And all we are is skin and bone trained to get along. — Ela cantarolou a música que eles diziam que era a deles, enquanto abraçava o pescoço dele. 

  — This slope is treacherous. This path is reckless. This slope is treacherous. I I I like it. — James cantou o refrão no ouvido dela, os braços abraçando a cintura da ruiva com força. — Vamos fazer isso? 

  — Vamos. Eu quero. — Olhou pra cima, sorrindo. — Opa, segundo a tradição nós devemos nos beijar. 

  — O que? — Ao olhar pra cima, se deparou com um azevinho pendurado no meio do corredor, exatamente na frente de sua porta. — Opa, acho melhor fazermos, sabe, pra não dar azar. 

  Então, se beijaram. Os lábios se tocaram delicadamente, sendo separados levemente, como provocação. Depois, voltaram a se tocar num beijo avassalador. Cheio de amor, carinho, desejo. 

  Naquela noite, Lily e James seriam como dois holofotes iluminando as noites acordadas. 


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