Winx e a Fada sem Asas escrita por Maddu Duarte


Capítulo 4
Capítulo 4 - lovely


Notas iniciais do capítulo

Lovely da Billie (não sei escrever o sobrenome).



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*

— Você gostaria de vim comigo? — o rapaz perguntou. Seu olhar era sério, sua boca, entreaberta, ainda revelava as palavras antes ditas. 

— Eu não posso, não sei voar — respondeu. — Além disso, aqui é minha casa. 

— Sua casa ou sua prisão, Aria? 

*

O susto a fez acordar novamente. Era noite, sempre gostou da noite, a fazia sentir bem recebida pelas estrelas e a escuridão era quase parte de seu corpo. Olhou a barreira que lhe prendia na escola, sem ter coragem de descer e frequentar o enterro. Afinal, eram por sua culpa que a tragédia acontecia. 

As pessoas ainda a amariam quando soubessem sua verdadeira essência? 

Mordeu os lábios, cansada. Os sonhos não a permitia dormir completamente, sempre a deixando assustada, indignada, indagada. A voz de Andy continuava a perturbando: você fugiria comigo? perguntou, quando eram jovens. Ela foi. Nunca duvidou de suas palavras, de suas ações. Nunca achou que chegariam tão longe... nunca quis chegar tão longe. 

Era destruição; caos e morte. Deveria ser confinada, presa, amordaçada. Deveria ter ficado ali, dentro da prisão que um dia chamava de lar — ao mesmo tempo, queria ser solta, sentir o vento bater na pele a medida que levitava, ou ter asas. Desejava asas com a mesma força de quem desejava água. Se ao menos pudesse voar... um pouco, ou muito. 

Não importava agora. 

As tatuagens ardiam, feitas com fogo, marcavam as costas inteira. Runas, Andy a explicou uma vez. Uma para protegê-la, outra para uni-los, mais para capacitá-la. O poder era a ganância que acumulou, tudo para suprir o vazio que sentia. 

Quando a porta se abriu, manteve-se de costas, com as mãos encostadas no peito, pronta para atacar — caso fosse preciso, é claro —, a voz de Bloom, a líder das Winx, a tirou do transe. Virou-se, com as mãos ainda no coração, não percebeu os olhos marejados até as lágrimas saírem descontroladamente. 

— Não se importe — comentou. — O que busca? 

— Respostas — a líder falou, como quem realmente não se importasse. O luto matava as pessoas, Aria sabia disso tão bem... o quanto Bloom estava morta? — Quem é você? Quem era ele? O que vocês querem aqui? 

— Pergunte a Farangonda, nunca ouviu falar para não confiar em uma bruxa? 

Bruxa. A palavra queimou sua língua. Bloom engoliu seco, disposta a não mostrar preconceito, mas tinha, quem não tinha? A dimensão mágica foi destruída por elas, seus pais, mortos. Sua irmã, amaldiçoada. 

Realmente, não deveria confiar em uma bruxa. 

— Você está chorando de verdade? 

— Não. Não estou. — E não estava. Em algum canto ali próximo, Ace chorava. A ligação entre eles mostrava que ainda existia humanidade no rapaz, mas como explicar que amava um assassino? Assassino. 

A palavra ardeu novamente. Desceu cortando a garganta, como se fosse um peso grande demais, um fardo do passado. Ela também era uma. Não queria pensar nos dias de juventude, não queria pensar no passado, não queria sequer imaginar o que seu sangue gritava. 

Bloom viera para salvar; Aria, para destruir. Como explicar à garota de cabelo-fogo que eram opostas demais para conversar? 

— Faragonda me parece bem... instável, desde que você chegou. Nunca a vi dessa forma. Você é realmente filha dela? — Aria deu de ombros, o passado estava queimado por brasas na pele de mãe e filha. — Eu não sabia que ela tinha uma filha. 

— Não temos parentesco real. 

— Então, você é adotiva? 

— Qual a sua? — atacou com palavras. — Eu não sei se você entendeu, mas não deveria confiar tanto assim nas minhas palavras, se não quer encontrar suas amigas, saia da minha frente... — Respirava pesado, sentindo a cabeça pesar e seu corpo doer. Sangrava, o machucado do pulso não era completamente guardado ou curado, a raiva parecia a dominar. Pediu desculpas, não queria aquele olhar recorrente.

— Você... quer sair? — ambas sorriram. Estava brincando? Debochando de sua cara? Não entendia que predê-la era evitar que mais acidentes acontecessem? — Eu conheço alguns atalhos aqui. Podemos ir além da barreira. — Queria! Como queria. 

— Eu acho melhor você me deixar sozinha — murmurou, a garota de cabelo fogo respirou fundo e a deixou, ali, quieta. 

O luto pesava. 

O luto vestia. 

O luto nos matava. 

Porém, a magia ainda existia. 

*

— Fuja comigo! 

— Você está louco? Andy... aqui é minha casa. Eu moro aqui desde que nasci, eu amo Alfea, amo Magix. 

 Ama? Ou não conhece outras coisas para se apegar? — perguntou. — Aria, olhe para mim: existem milhares de mundos lá fora, todos com gente diferente. Podemos achar sua família, a minha, podemos ser nossa própria família. Fuja comigo. Não precisamos deles... não precisaremos de algemas, teremos nossas próprias costas. 

— Mas... e se... — desviou o olhar, assustada. Era liberdade ou solidão, ambos tão assustadores quanto deliciosos. 

— Eu prometo que vou sempre cobrir suas costas. Olhe para mim: vai ficar tudo bem. Você tem tanto talento, Aria... não fique presa pelo medo. 

— E se eu já tiver uma família? — perguntou, assustada. Tudo que conhecia, tudo que via. Andy era a personificação de pecado, ele a fazia querer fugir. Falava sobre lugares mágicos e tempestades fantásticas, as tatuagens que cobriam seu corpo brilhavam na luz das estrelas junto com os olhos puxados e felinos. — Você não poderia ficar? Comigo... se eu falasse com Faragonda, ela deixaria. Poderíamos ser felizes, aqui. 

— Você sabe que isso é impossível, minha pequena — ele murmurou, como sempre, decepcionando seus planos. — As coisas que eu vi... as coisas que fiz... Aria, não sou uma boa pessoa, mas posso te garantir que não mereço ficar para sempre em uma dimensão alternativa, escutando coisas sobre amor, paz e falsidades que nunca me fizeram creser. 

— Mas e se... 

— Não! — disse, decidido. — Terei que partir amanhã, dois anos... já fiquei tempo demais aqui. Eu te amo, venha comigo — pegou em suas mãos —, eu prometo, seremos felizes. 

Ele nunca a disse que ficaria. 

Ele sempre a lembrou que era efêmero, partiria quando as flores desabrochassem e a primavera chegasse. 

Dois anos depois do primeiro desabrochar das flores, aqui estava ele, prometendo-a partir.

— Caso contrário... Nunca mais nos veremos? 

— Eu sinto muito, Aria. Eu queria poder ficar, eu queria poder começar todo meu passado do 0 para ficar contigo, porém... não podemos apagar cicatrizes com falsas marcas. Se contarmos a verdade... Você já viu o que fazem conosco. 

Ela abaixou o olhar. Ele, elevou seu rosto, como se fosse beijá-la, porém, foi apenas as palavras que a atingiram: é igual a mim, pequena. Sente sede de liberdade e deseja conhecer tantas coisas quanto possível... sabe que eles não te querem aqui, Aria. Cedo ou tarde... 

Ele não ousou terminar a frase. As palavras doíam, não por seu peso, mas por sua verdade. Em dois anos, Andy a contou sobre a guerra que destruiu Dominó, sobre as bruxas ancestrais, a contou sobre a caça as bruxas e coisas que Faragonda nunca a teria falado. Em dois anos, ele conquistou seu coração. 

Agora, estava fazendo seu livre direito de quebrá-lo. 

— Você ainda me amará quando estivermos longe? — ela perguntou, como se aquela fagulha de sentimento fosse o que mantivesse sua pequena chama acessa. Era. 

— Te amarei até o sol parar de brilhar, minha pequena. É uma promessa. 

Partiu no dia seguinte. Deixando para trás um coração partido e uma promessa de que estariam sempre juntos, naquela noite, como se fossem um só, Aria ganhou sua primeira marca: uma de união. Ace, ou Andy, a prometeu que aquilo não dissiparia. Sentiriam as lágrimas um do outro, e quando ela derramasse mais do que ele suportasse chorar, voltaria para buscá-la. 

Ele voltou. Seis meses depois. Apareceu no jardim, a pedindo um copo d'água, quebrando a barreira mágica com a mesma facilidade, disposto a ser preso se fosse para ficar com ela. De países distante, trouxe um colar. Ele voltou por ela. 

Depois disso, Aria soube o que realmente era: uma bruxa. 

E não importava o que Faragonda falasse, era de sua natureza destruir.

 

 

 

 


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