Portal para outro mundo escrita por ADivas


Capítulo 1
Capítulo 1 - 01/01


Notas iniciais do capítulo

Música do primeiro dia do desafio:
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Comentários são sempre bem vindos.



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Cidade de interior, quando disponibiliza alguma atração nova, tem o poder de encher as ruas e os olhos do povo. Ou talvez nem tanto. Havia aqueles que não gostavam de apreciar o velho e bom teatro. Mas o fato é que Monique não era uma dessas pessoas. Apreciadora das artes, tentava sempre estar presente em qualquer espetáculo que a cidade oferecesse.

Dessa vez, no ginásio poliesportivo do município, era um grupo circense do estado vizinho que prendia o fôlego e a atenção do público.

O ginásio era uma construção promissora e recente. Ao lado da quadra, um parque foi disponibilizado para as crianças, que naquela noite, fundiam seus gritos com os da platéia e o som alto dos instrumentos musicais dos artistas circenses.

Misturando números de malabarismos com acrobacias, em que mulheres de roupas cintilantes e apertadas desciam com maestria nos tecidos acrobáticos, pendurados e presos com fortes nós no teto do ginásio; os olhos do público cintilavam em harmonia, êxtase e admiração.

A música Dont Let Me Be Misunderstood tocava, a medida que os artistas rodopiavam no alto, o público batendo palmas conforme o ritmo da música.

Monique, com seus cabelos encaracolados e morenos, ainda úmidos pela água fria que havia os banhado, dividia a arquibancada com uma jovem, de nome Bianca, que ora e outra comentava sobre a definição de corpo perfeita dos artistas. Sempre conseguia arrancar uma risada baixa de Monique, não sem antes reparar com mais cuidado o corpo das pessoas que apontara realmente.

O que as garotas não podiam imaginar era que, algumas ruas distantes, um jovem de cabelos negros e corte moderno, usava os pés de forma rápida e com passos firmes, o olhar bem concentrado no que no que as ruas podiam o apresentar. No dedo indicador, um cordão girava, tendo a chave de uma moto presa a ele.

Ian. Era novato na cidade, um forasteiro a menos de uma semana. Tinha uma memória fotográfica boa o suficiente para lembrar dos caminhos que precisava seguir, e o fato da cidade ser pequena, facilitava que transitasse sem muita preocupação em se sentir acuado ou perdido.

Seu destino era um terreno abandonado com uma casa em processo de construção inacabável. A moto da qual a chave que tinha em mãos fazia o motor girar estava muito bem escondida nesse terreno. De todo o processo de obtenção, encontrar um local para guardar a moto havia sido mais difícil do que conseguir a moto em si.

Um dono descuidado, a chave pronta para ser girada. Um homem esperto, rápido e confiante no que fazia. Esse havia sido o processo que Ian precisou realizar para furtar a moto de um dono babaca em uma cidade próxima.

Restaurada, falsa placa instalada, pintura nova... Era o suficiente para que conseguisse vender o transporte, conseguir dinheiro o suficiente e sair para outra cidade. De preferência, maior do que aquela que estava. Apesar das facilidades que a cidade pequena gerava para transições, o fato de todo mundo conhecer todo mundo, dificultava outros campos da bandidagem.

 

But, don't you know that no one alive can always be an ange

(PT-BR: Mas você deveria saber que não há alguém vivo que seja sempre um anjo)

   Aquela era a sua vida desde os 16 anos. Hoje, tinha 23. Sete anos nas ruas, em cidades diferentes, encontrando pessoas diferentes... Sabia muito. Havia sofrido muito. Passado por muita coisa e aprendido muitas outras mais. Como diziam: as ruas ensinam.

Um bocejo interrompeu suas lembranças quando parou os olhos no ginásio que estava barulhento. Havia escutado sobre uma apresentação circense, mas desde lá, balançou a cabeça, achando bobagem. Vivia riscos reais e não entendia a graça que malucos sentiam em se pendurarem em tecidos viscosos, ora, segurados apenas pelos  membros inferiores.

 Dessa forma, nem parou para apreciar a música que tocava, apenas seguiu.

Havia combinado com o futuro dono da moto o horário noturno devido a baixa frequência da circulação das pessoas. Saber que havia um espetáculo na cidade para entreter o povo para longe, era algo mais reconfortante também. Se bem que, pela localidade, não haveria motivo para as pessoas transitarem por aquela região.

Dessa forma, os passos rápidos de Ian o fizeram chegar mais rápido ao seu destino. Já havia o movimento singelo de dois vultos negros, braços cruzados. O cheiro de cigarro pairava no ar, além do já conhecido cheiro de maconha. Inteligente. Quem quer que passasse, poderia achar que ali eram apenas os maconheiros fumando, ao invés de praticando atos ilícitos maiores.

— E aí! – Saudou, simplesmente. Ian tinha uma voz arrastada, o sotaque diferente o acusando de não ser da região. A chave continuava girando no seu dedo indicador.

Passava os olhos, mesmo que no escuro, para ver o que as mãos daqueles dois rapazes guardavam. Reconheceu um deles como o que o encomendara o transporte. Trabalho dado, trabalho cumprido.

Talvez pensando em “acordo acordado, acordo feito”, o homem que havia solicitado a encomenda jogou um envelope recheado para Ian, que, certeiramente, agarrou-o com as duas mãos, abrindo em um salto e revirando o papel amarelado.

 – Não foi o que a gente havia combinado – Reclamou, contando as cédulas, percebendo um valor menor do que o acordado.

— Valor muito alto para algo que eu nem vira ainda –Defendeu-se o homem. Sua voz soava como um trovão. Rouca e poderosa.

— Esse valor aqui não dá – Finalizou Ian, balançando a cabeça negativamente. Apertou o cordão da chave com mais força na mão, como que para se assegurar das suas palavras – Mas posso te mostrar a moto, se quiser.

E dizendo isso, adentrou as paredes da casa inacabada, tirando alguns ramos da frente da moto. Uma Honda CG 160 preta, alguns arranhados na parte frontal, que puderam ser melhor visualizados quando o acompanhante do homem acendeu a lanterna do celular.

— Vou demonstrar o motor ­– Disse Ian, subindo na moto e girando a chave. Logo, o motor do veículo rugiu.

Depois de uma encarada entre os dois, Ian percebeu um concordar em ambos através de um leve balançar na cabeça.

O grande detalhe da história é que o envelope com as cédulas do dinheiro ainda estavam no domínio de Ian, presos entre os dedos que agora deslizavam sobre o guidão da moto.

When things go wrong, I seem to be bad

(PT-BR:Quando as coisas dão errado, eu pareço ser mal)

Sem hesitar, Ian acelerou a moto, e em uma manobra certeira, deixou os aposentos da casa em construção. O motor do transporte rugia, em velocidade.

Atrás de si, palavrões eram proferidos em uma trovoada de voz.

Indiscutivelmente, um sorriso brotou nos lábios finos de Ian. O envelope ainda estava preso nos seus dedos. O vento batia contra seu rosto e seu cérebro já mapeava que lugar seria o ideal para ir agora.

'Cause I'm just a soul whose intentions are good

(PT-BR: Mas eu sou só uma alma com boas intenções)


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