Eu consegui revisar alguns pontos do TCC em duas aulas, o restante fiquei de ver durante a semana, não havia mais nada a ser feito. Em menos de duas horas eu não conseguiria editar todo o conteúdo. Por mais que ainda estivesse zangada com Naruto, por ter me feito tanta raiva naqueles dois meses, eu estava estranhamente curiosa. Queria, mais do que tudo, saber por que ele me tratou tão amigavelmente há pouco; e, ainda mais, por que Naruto reparava em mim, a ponto de notar meu apego ao chaveiro.

Entretanto, eu não teria tempo para questioná-lo, visto que ele não me dirigiu a palavra até o final da aula, apenas deu um visto no meu trabalho e me liberou. Também, com tantas meninas marcando em cima, não poderia dar uma brecha. Além do que, eu já tive que aturar os olhares de todas, só porque Naruto estava falando a sós comigo. Eu hein, sério que elas se interessavam por ele? Cara, certo, precisava admitir que o tal Naruto era bonitão, e aqueles olhos eram incrivelmente atraentes, mas daí morrer de amores por ele, como todas aquelas garotas faziam, já era um pouco demais!

Exemplo, tinha um outro professor, na turma de letras, que era bem mais o meio estilo, cabelo platinado, mal encarado, no entanto, sem ser grosso. Só que este, claramente não teria interesse algum em mim, eu acho que Kakashi devia ser bem mais velho que Naruto e não olharia para uma mulher de vinte e um anos. Que seja, ele era apenas meu crush platônico da faculdade.

— Droga! - falei para mim mesma, ao tentar ligar o carro pela enésima vez.

Sakura sempre voltava de carona comigo; contudo, ela me deu um perdido e devia estar se pegando com aquele Sasuke. Agora, cá estava eu, tentando a todo custo ir embora pra casa, sendo que meu carro fazia o favor de não funcionar!

Caramba, que dia mais infernal.

Sai do carro, decidida a ir de ônibus, só esperava que ainda tivesse ônibus àquela hora, visto que eu não morava tão perto da faculdade e só tinha uma opção de transporte, além do carro.

Caminhava em direção ao ponto de ônibus, torcendo para que ele passasse logo, até avistar a silhueta de Naruto, vindo para o estacionamento da faculdade.

— Hinata?

— Olha só, aprendeu meu nome. - ironizei e ele riu.

— Desculpe.

— Tudo bem, você não é o primeiro a confundir.

Naruto coçou a nuca.

— Eu fazia de propósito.

— O que?

— Eu gostava de te ver com as bochechas vermelhas de raiva, quando eu te chamava de Renata. - confessou um tanto envergonhado.

— Não estou acreditando nisso! - exclamei séria. - Você é o meu professor, deveria ser mais maduro do que eu, não o contrário.

Ele olhou para os pés, visivelmente arrependido.

— Desculpe, eu não sabia como chamar sua atenção.

— E por que você iria querer chamar minha atenção? - devolvi, sem entender nada do que estava acontecendo.

— Acho que eu já falei demais. - Naruto desconversou. - O que aconteceu com seu carro?

— Ele pifou. - franzi o cenho pela mudança de assunto. - Como sabe que eu vou embora de carro?

— Às vezes eu te vejo manobrando para sair do estacionamento. - ele olhou nos meus olhos e sorriu de canto.

— Ah, eu sou meio ruim. - confessei a contragosto.

— Que nada. - Naruto contestou. - Você sai certinho.

— Bom, preciso ir, tenho que pegar o ônibus ainda. - eu fiz menção de me afastar, só que ele tocou sutilmente meu pulso, fazendo-me estacar.

— Posso te dar uma carona, se quiser... - Naruto deu de ombros.

— Você? - desdenhei.

— Eu.

— Por que isso, professor? - questionei, do nada ele começou a agir com educação comigo?

O que estava acontecendo?

— Porque... - iniciou inseguro. - Eu pensei bem em como tenho te tratado nesses dois meses, acho que não havia necessidade de tudo aquilo.

— Ah! - eu gargalhei feito uma louca desvairada. - Agora você acha isso?

— Acho, inclusive, você pegou o caminho certo no TCC hoje. - eu arregalei os olhos em surpresa. - É só continuar nessa linha de raciocínio.

— Espera, tem alguma câmera escondida aqui? - Naruto riu. - Eu fui pega em alguma pegadinha do campus? Tipo, o professor que elogia a aluna depois volta atrás?

— Não tem nenhuma pegadinha, você é talentosa, Hinata. - sua voz soou baixa e rouca. - Só precisava se encontrar no texto.

— E me encontrei?

— Sim.

— Cacete!

Ele uniu as sobrancelhas em confusão.

— Perdão?

— O senhor não sabe o que estou sentindo nesse momento, é quase um orgasmo intelectual!

Naruto ficou vermelho novamente.

Ué? Será que foi pelo o que eu disse?

— Peguei tão pesado com você assim? - depois do constrangimento inicial ele inquiriu.

— Ô se pegou. - eu coloquei a mão no coração. - Estava quase desistindo de tudo e indo vender miçanga em alguma praia do Caribe.

Naruto riu de novo.

— Você é engraçada. - afirmou ainda mantendo um sorriso nos lábios.

— E você sorri. - observei curiosa.

— Eu não sou tão ruim quanto pareço. - respondeu, demonstrando estar ofendido. - E, por favor, não me chame de senhor, faz com que eu me sinta um idoso caquético.

Eu que ri.

— Desculpe, é que não sei muito bem como chamá-lo fora da sala.

— Me chame só de Naruto, pode ser?

— Tudo bem então, NARUTO. - experimentei, dando ênfase no nome, achando tudo aquilo muito engraçado e singular.

— Vamos? - ele indicou o carro, eu fiz que sim com a cabeça e o segui.

Ainda me sentindo estranha em minha própria pele. Que diabos aconteceu com esse ser humano para mudar da água para o vinho do nada?

Chegamos e eu entrei em silêncio, passei o cinto de segurança e comecei a tamborilar os dedos no painel do carro.

— Aonde você mora? - a voz de Naruto me trouxe de volta à realidade.

— Em Ueno, fica um pouco longe daqui. - expliquei e coloquei meu endereço no GPS, assim ficaria mais fácil para ele chegar.

— Nossa, e vai todo dia embora sozinha? - Naruto deu partida no carro.

— Vou de carro, rapidinho eu chego. - ele assentiu. - Geralmente a Sakura vai junto comigo, só que hoje ela me deu um perdido.

— Eu a vi com Sasuke Uchiha antes de vir pra cá.

— Pois é. - eu fiz uma careta.

— Não gosta dele?

— Nada contra, nem a favor.

— Parece ser complicado ganhar sua simpatia, estou certo? - Naruto me olhou de esguelha, mantendo a atenção na direção.

— Não muito, a menos que você ganhe minha antipatia de cara, aí fica meio difícil mesmo. - respondi displicentemente.

Porém, Naruto entendeu como uma indireta.

— Como eu, né?

— Pode ser, você não fez muita questão de ganhá-la. - fui sincera.

Ele soltou um suspiro.

— Ainda dá tempo de mudar as coisas? - ouvi em resposta.

— Por que isso agora? - eu indaguei, me lembrando de repente do que a Sakura me dizia.

— Eu só não quero mais que me veja como um carrasco.

— Certo, talvez ainda dê tempo então. - afirmei solicita.

— Que bom. - senti até um quê de satisfação em sua voz.

Agora o bagulho ficou sério, o que diabos estava acontecendo aqui, meu pai.