Stay With Me? escrita por Raquel


Capítulo 1
Always


Notas iniciais do capítulo

Essa fic também está postada no wattpad e no spirit.
Espero que gostem!



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Acordo com a luz do sol em meus olhos e penso quem poderia ter sido cruel o suficiente para abrir as malditas cortinas tão cedo pela manhã. Olho em volta e logo vejo o culpado. Peeta está parado na porta do meu quarto rindo da carranca que eu provavelmente estou fazendo por ter sido obrigada a acordar com a luz do sol. Antes que ele tenha tempo de se preparar pego meu travesseiro e jogo nele com toda a força, atingindo-o em cheio no rosto.

— Me deixe dormir em paz padeiro - digo.

Vejo peeta recolher o travesseiro e rapidamente me escondo embaixo das cobertas para evitar a retaliação, mas depois de alguns instantes percebo que não serei atacada e retiro meus olhos do cobertor para procurar por ele. Dou de cara com os mais belos olhos azuis do mundo, aqueles capazes de me acalmar mesmo nos meus piores momentos e que me dão esperança de que a vida pode ser muito mais do que o que perdemos. 

— Bom dia docinho - diz ele, usando o apelido de Haymitch que eu tanto odeio - Desculpa te acordar tão cedo mas pensei em fazermos algo especial hoje.

— Como assim algo especial? - digo - você  sabe que eu não gosto de surpresas.

Tudo o que recebo em resposta é um suspeito levantar de sobrancelhas e Peeta sai de meu quarto sem dizer mais nada. Fico parada por uns instantes sem saber o que exatamente me espera e ouço-o gritar da cozinha:

— Vista sua roupa de caçada, vou te levar pra floresta hoje.

Se eu não estava com medo do que essa surpresa poderia ser agora eu estava. O que Peeta poderia querer fazer me levando pro lugar que ele menos está familiarizado em todo o distrito?

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Quando chego no andar de baixo, já vestida com minhas botas de caçada, encontro Peeta e Haymitch sentados à mesa tomando café com pães preparados em casa.

— Bom dia docinho - diz meu sarcástico ex-mentor - Seu namoradinho aqui estava me contando sobre a surpresinha que ele preparou pra você.

— Me fala logo o que é, não tenho tempo pra esse mistério que vocês dois ficam fazendo- digo irritada.

— Por mais que eu goste da ideia de ser um estraga prazeres, gosto mais ainda de te ver irritada. Além do mais, dessa vez o amante desafortunado aqui se esforçou muito para eu me meter - responde ele, lançando um sorrisinho cúmplice para o loiro sentado ao seu lado.

Desistindo de tentar arrancar alguma coisa desse velho bêbado me sento na cadeira em frente à Peeta e começo a comer os deliciosos pãezinhos de queijo que ele havia preparado. Assistindo os dois homens mais presentes na minha vida atualmente, reflito sobre o quanto as coisas mudaram nos últimos 10 anos da minha vida. A Katniss Everdeen de 16 anos que se voluntariou aos jogos para salvar a irmã nunca poderia imaginar que teria que sacrificar tudo de mais importante em sua vida em nome de Panem. Se passaram quase 8 anos desde a queda da Capital e com esforços imensuráveis consegui me reerguer, apesar de saber que nunca serei completamente livre dos meus pesadelos. 

— Katniss? - ouço Peeta me chamando- podemos ir?

— Não até você me contar o que está acontecendo - rebato

— Que pena, pelo jeito você vai ficar sem saber o que eu tinha preparado pro nosso dia - diz ele sorrindo de modo presunçoso, ciente de que eu acabaria cedendo a esse arguemnto.

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Alguns minutos depois estou atravessando a campina e passando pelo que um dia foi a cerca nunca eletrificada do distrito 12. Peeta havia me vencido na discussão e mais uma vez provado que: a) eu não consigo conviver com curiosidade e b) ele ainda é a única pessoa capaz de fazer minha mente teimosa seguir alguma instrução. 

O dia está claro, a primavera dando suas primeiras amostras em um limpo céu azul e algumas flores nascendo  entre a grama baixa da campina. O ar fresco bagunça meus cabelos, agora na altura dos ombros, um corte diferente que eu havia adotado como maneira de me desassociar um pouco da imagem do tordo. O cheiro das primeiras prímulas da primavera enche meus pulmões e sinto uma pontada coração me lembrando do meu doce patinho e a última vez que a vi. 

Fico consciente de onde estou e logo de cara percebo que Peeta está me levando para o lago que eu costumava ir com meu pai; apesar das tentativas o padeiro não consegue disfarçar essa parte da surpresa. Me lembro da primeira vez que trouxe Peeta aqui, alguns meses depois da nossa volta para o 12, e em como ele havia ficado encantado com a beleza do lago e como o pôr do sol havia desfeito barreiras entre nós dois. 

 

6 anos antes

 

Andar com Peeta na floresta é uma experiência capaz de colocar um sorriso no rosto de qualquer um. Impossível me manter série vendo os esforços dele para fazer com que a perna prostética não afaste todos os animais das redondezas com o barulho. Ando alguns metros na frente dele, rindo secretamente de todo o transtorno que ele está tendo para atravessar a floresta, diferente de mim que conheço-a como a palma da minha mão. 

 

Sei que você está rindo Katniss, não precisa tentar disfarçar a vergonha que eu sou para qualquer caçador - diz ele irritado. Não vim a floresta para caçar hoje, vou te levar a um lugar especial se você conseguir chegar até lá - respondo rindo.

 

Vendo meu garoto do pão sorrir e me trazer sorrisos me faz esquecer, mesmo que por apenas um instante, tudo de ruim que havia acontecido com nós dois e como ainda tínhamos um longo caminho até a estabilidade.  Por mais que não houvesse cura para minha depressão ou para o veneno que ainda corria nas veias de Peeta, a presença dele foi a única coisa capaz de me tirar do fundo do poço alguns meses atras e gosto de acreditar que tenho feito algum bem para ele também. Desde sua chegada meu mundo tinha saído de transe e entrado em estado de recuperação e tudo o que eu lutava diariamente para melhorar era por causa dele. Se ele conseguia superar a sequestro teleguiado e ainda conviver comigo então eu superaria o luto.

 

Podemos jogar verdadeiro ou falso? - pergunta Peeta. Claro - respondo.

 

Nas últimas semanas, o processo de reaproximação entre nós dois estava ocorrendo de maneira lenta, porque eu ainda me sentia culpada pelo que havia acontecido a Peeta e porque ele tinha medo de ter um ataque a qualquer momento e acabar me machucando. A única coisa que tinha sido capaz de nos reaproximar era esse jogo e eu jamais poderia negar a verdade ao menino que deu tudo o que ele tinha por mim, mesmo que suas perguntas me assustassem com a sinceridade delas.

 

Na noite anterior ao Massacre Quaternário, quando Haymtich e Effie nos liberaram dos treinamentos, nós dois fomos para o telhado e passamos a tarde juntos. Verdadeiro ou Falso? Verdadeiro - respondo - Esse foi provavelmente o último bom dia que eu tive desde o início daqueles Jogos. Me lembro de você ter adormecido em meu colo e de como seus cabelos ficaram espalhados no meu colo, tudo o que eu conseguia pensar era sobre como eu queria poder te proteger de tudo aquilo - diz ele, refletindo - Eu devia ter te amado profundamente. Você amou - digo de maneira direta.

 

Continuamos caminhando em silêncio, ambos mergulhados em nossos muitos demônios interiores. Algum tempo depois finalmente alcançamos a clareira com o lago e não posso deixar de sorrir com uma visão tão linda como aquela. O sol estava alto já que partimos cedo pela manhã então aproveito para estender uma toalha no chão e aproveitar o calor agradável que ele irradiava.

Olho para Peeta e vejo que ele ainda não saiu do início da clareira, impactado com a beleza e a magnitude da natureza que o cerca. Fico feliz em ter trago ele aqui e confiado pela primeira vez em compartilhar um lugar único para mim e meu pai. O sorriso inocente e o claro registro de cores e sombras que ele preparava na mente fazia tudo valer a pena.

 

Isso é lindo Katniss- diz ele, finalmente tirando os olhos da natureza para me encarar - Obrigado por me trazer aqui.

 

Sorrio para ele em resposta, e continuo a preparar algas e legumes para nosso almoço. Enquanto eu trabalho Peeta me ajuda colhendo as raízes que eu digo serem comestíveis e, algum tempo depois, vejo-o anotando coisas em um pequeno bloquinho que ele havia trago. Passamos uma tarde preguiçosa na beira do lado, comendo frutas silvestres e conversando sobre o passado, ou até mesmo ficando em um silêncio confortável que até algum tempo atrás eu só era capaz de compartilhar com Gale. Deitada no colo de Peeta me sinto segura e pela primeira vez em muito tempo tenho esperança de que as coisas possam ser melhores.

 

Katniss, olha! O sol está se pondo - diz Peeta, admirado com o que vê.

 

Olho em volta e vejo a beleza da natureza e do sorriso genuíno no rosto do meu garoto do pão e não posso deixar de acreditar que talvez eu possa ser feliz e honrar a memória de todos os que deram suas vidas para que nós dois pudéssemos viver esse momento. Levanto-me do colo de Peeta e ficamos sentados cara a cara. Sei que ele está pensando o mesmo que eu e naquele momento de esperança faço uma tentativa arriscada e me inclino para beijá-lo. 

Por um instante penso que ele não vai retribuir ou vai ter algum tipo de ataque agressivo mas logo sinto seus lábios abrindo espaço para os meus e suas mãos me puxando gentilmente pela nuca. O beijo é exatamente como eu me lembrava da praia na última arena, doce, delicado, inebriante, viciante e capaz de curar as feridas da minha alma. Depois de um tempo, Peeta afasta seus lábios dos meus e fico irritada por ser interrompida mais uma vez, mas abro meus olhos e vejo que ele está sorrindo de orelha a orelha. Sorrio também, envergonhada por ter tomado a atitude e por estar tão próxima dele depois de tanto tempo afastados e sei que, a partir desse momento, nada nunca vai ser forte o suficiente para me separar dele.



Katniss? - ouço Peeta me chamando - acho que você se distraiu um pouco Estava lembrando da primeira vez que eu te trouxe aqui - digo - o pôr do sol estava lindo naquele dia, talvez hoje a gente tenha a sorte de ver um tão lindo quanto.

Ando até a beira do lago e coloco minha mão na água gelada, tinha esperança de que conseguiriamos nadar um pouco hoje já que alguns anos atrás ensinei Peeta mas pela temperatura da água nenhum de nós dois terá coragem de entrar nela. 

Ao que parece teremos que nos contentar em relaxar na sombra das árvores por hoje, a água ainda está fria demais para entrarmos - digo, virando-me para onde Peeta está.

Quando olho para ele vejo o porque estou ali e percebo o quão burra eu fui por não ter notado porque eu não conseguia achar minha pérola em lugar nenhum. Ela estava lá, no topo de um belo anel de prata dentro de uma delicada caixinha vermelha na mão trémula de Peeta. Ele se aproxima delicadamente de mim, pega minha mão e começa:

Eu pensei muito antes de tomar essa decisão e eu sei que você nunca quis se casar e ter filhos nem nada disso mas eu pensei que talvez depois de todos esses anos você pudesse ter mudado de ideia e… - diz ele, falando mais rápido a cada palavra. Shhh - coloco o dedo em seus lábios para calá-lo - continue falando o que você veio aqui para falar.

Peeta solta um suspiro aliviado, acho que ele imaginava que eu fugiria no primeiro olhar para o anel em suas mãos. Mal sabe ele que eu não preciso pensar duas vezes antes de tomar essa decisão, a esperança de poder tê-lo ao meu lado pelo resto da minha vida é o que tem me mantido viva todos esses anos.

Katniss - recomeça ele, ainda segurança a caixinha em uma mão e minha mão na outra - desde a primeira vez que te vi naquele vestidinho vermelho eu sabia que estava fadado a uma vida apaixonado por você, o que eu não esperava era que ser chamado para os Jogos me daria a oportunidade de te conhecer de verdade. Nossa trajetória não foi nada fácil e você sabe tão bem quanto eu tudo o que enfrento diariamente por causa do que me aconteceu, mas a única certeza que eu tenho é que se estou vivo é graças a você. Nos primeiros Jogos você arriscou sua vida para me salvar sem nem mesmo me conhecer, no Massacre você fez planos para me proteger a todo custo, mesmo que você tivesse que deixar para trás sua família, e na guerra você foi a única capaz de me trazer de volta para a realidade quando tudo o que eu fazia me caracterizava como um monstro imperdoável. Você sempre encontrou uma maneira de me proteger e desde então tenho tentado todos os dias te agradecer de alguma maneira com isso, mas acho que só uma vida inteira de dias ao seu lado poderia retribuir os sacrifícios que você fez por mim. Katniss Everdeen, você me daria a honra de, pelo resto dos nosso dias, ficar comigo?

Quando respondo não preciso exitar ou refletir, digo sim por todas as pessoas que se sacrificaram por mim, pela minha irmã que sempre quis me ver feliz e por nós dois. Peeta havia perdido tudo o que ele era por mim e usado todas as suas forças para me trazer de volta, passar a vida ao lado de um ser humano assim seria uma dádiva que eu nunca poderia ter sonhado conhecer há alguns anos atrás. Ele trouxe luz, paz e o real significado de alegria para a minha vida e eu passaria todos os meus dias tentando retribuir, pelo menos uma parte, do bem que ele me fazia.

Sempre - respondo pulando em seus braços e sabendo que aquele é meu único porto seguro.

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