A visão panorâmica da vila da folha, em especial naquele dia, era de tirar o fôlego. Coberta pelo branco puro da neve, ela exalava uma aura serena, de festividades, sendo possível perceber a felicidade da população já livre de guerras devido àqueles que deram tudo de si em batalha no passado. A luta com Madara havia deixado muitas cicatrizes que talvez nunca fossem se fechar, mas por enquanto, todos poderiam respirar aliviados e demonstrar gratidão por aqueles que se foram. Sakura e Naruto não eram diferentes. De mãos dadas, eles trocaram um sorriso triste, embora cheio de gratidão, enquanto prestavam suas condolências em frente ao túmulo de Neji.

— Obrigada por terem vindo comigo. – Hinata murmurou tímida, sorrindo aliviada ao lado de seus amigos. Sakura apoiou a mão em seu ombro, como se lhe dissesse que tudo ficaria bem. Ela sabia bem que a perda da família de Hinata não estava sendo fácil, principalmente nessa semana, próxima ao natal.

— Você tem certeza de que vai querer fazer essa festa? – Naruto a questionou. – Está tudo bem não passar o natal com a sua família?

Hinata acenou negativamente com a cabeça, expressando paz em seu olhar. – Tenho certeza de que ele também gostaria de passar o natal com todos vocês.

— Sakura! – Ino a chamou de longe, se aproximando em passos rápidos até conseguir abraçá-la. – Que caras são essas, gente? Amanhã já é véspera de natal, vamos acabar com esse clima triste.

— Ino! – Sakura a repreendeu, apresentando um semblante arrependido enquanto encarava Hinata, que não parecia ter se importado.

— Ela tem razão. O Neji não ia gostar de nos ver assim por causa dele. – Respondeu, limpando os cantos dos olhos já úmidos.

— Eu ainda preciso comprar o presente do Sai, então vocês podem me fazer companhia. – Ino suplicou, colocando os braços nos ombros da amiga. Naruto suspirou desapontado, pois gostaria de passar um tempo com Sakura antes de precisar vê-la sair para sua missão. – E o Sasuke? Já conseguiu entrar em contato com ele? – Ao ouvir aquela frase, Naruto desviou o olhar entristecido, afagando os cabelos para tentar disfarçar.

— Não. Sinceramente, eu já perdi as esperanças. – Respondeu, puxando Hinata e Ino para si, entrelaçando seus braços ao ficar no meio de ambas. – Naruto, nós vamos na frente. Antes de sair para a minha missão eu passo na sua sala, “senhor hokage”. – O provocou antes de afastar-se arrastando as garotas consigo. A verdade é que Naruto sabia bem que ela apenas não queria falar sobre Sasuke enquanto estivesse ao seu lado. Ela entendia os sentimentos sinceros que ele tinha, e não queria magoá-lo.

Antes que fosse incomodado por Shikamaru para que voltasse ao trabalho, prestou respeitos ao túmulo de Neji uma última vez antes de caminhar em direção ao seu escritório.

Em meio às lojas da vila, Ino se apertava entre as multidões, tentando encontrar o presente perfeito para seu namorado. Entre várias opções de cachecóis e suéteres, optou por algo menos comum e mais simbólico entre eles; uma coleção de tinturas, visando dar cor aos seus tão amados desenhos. Sorridente, ela voltou para perto das amigas, um pouco descabelada e com uma expressão vitoriosa enquanto levantava a sacola que havia conquistado com muita luta e esforço.

— Vocês não vão comprar nada? – Questionou curiosa, olhando principalmente para Sakura, que parecia confusa, não sabendo se deveria atrever-se a comprar algo ou não. Hinata apenas disse que já havia comprado o que precisava antes da época de festividades. – Sakura, você sabe que amigos também trocam presentes, né? – A encorajou, percebendo uma leve mudança em seu semblante antes preocupado.

— Talvez eu devesse comprar algo para o Naruto, então?

— Pro Sasuke é que não vai ser, né? – Ino murmurou sem intenção, tapando seus lábios logo depois, percebendo que havia falado em voz alta. Preocupada, olhou para Sakura, que não parecia ter se importado muito com aquela provocação. Ela logo entendeu que, talvez, Sasuke já não fosse o único que ocupava seus pensamentos ultimamente. – E então? O que você acha que o Naruto vai gostar de ganhar?

— Eu não sei. Passei tanto tempo ao lado dele, e pra ser sincera, sinto que mal o conheço. Ele agora é o hokage da vila, e não aquele chorão que passava os dias me perseguindo por aí. – Retrucou enquanto permitia-se demonstrar um sorriso bobo ao recordar-se do passado.

Longe dali, Shikamaru entrava no escritório de Naruto para colocar mais uma pilha de papéis em sua mesa, e entre eles, o pedido para que a missão de Sakura fosse cancelada, pois sua presença não seria mais necessária. O paciente que ela deveria visitar na vila do som felizmente estava curado, e Naruto permitiu-se ficar contente com a notícia.

— Você acha que eu conseguiria tirar uma folga agora? – Indagou esperançoso, aguardando a resposta de seu braço direito. – Eu tenho alguns assuntos pessoais para resolver antes da festa de amanhã.

— Se eu não te conhecesse bem, pensaria que estava tentando fugir do trabalho. – Riu, passando os dedos entre os cabelos ao encarar a mesa lotada de papéis. – Bom, eu também preciso ir pra casa antes que a Temari me mate, e nós já adiantamos uma parte das coisas, então acho que não vai ter problema. – Completou. Antes que pudesse terminar a frase, o hokage já havia saído pela janela.

Apressado, correu até as lojas e procurou por algo que lhe chamasse a atenção, mantendo aqueles cabelos cor-de-rosa que ele tanto amava em mente. Ele a conhecia tão bem que poderia encontrá-la de olhos vendados. Sempre observando suas costas atentamente desde que se conheceram, pôde decifrar cada parte de seu ser à medida que o tempo passava.

— Está procurando por algo especial, senhor? – A voz de uma idosa chamou-lhe a atenção. Sua loja era humilde, um pouco acabada, e seus produtos pareciam antiguidades, porém Naruto não conseguia tirar os olhos de um acessório brilhante posicionado ao lado de uma velha chaleira de porcelana. – Ah, esse? – Ela pegou o objeto entre os dedos, com muito cuidado.

— Será que eu poderia levar? Está à venda?

— Não, não está. – Ela sorriu. – Ao menos não para você, senhor hokage. – Retirou um embrulho simples de uma gaveta ao lado e colocou o objeto, fechando-o e entregando-o para Naruto. – Considere como um presente de natal, e também um agradecimento por tudo o que fez pela vila.

— Não, mas eu... – Antes que pudesse contestá-la, ela havia adentrado a loja e fechado as portas, não lhe dando oportunidade de reclamar. Agradecido, fez uma leve reverência em direção à porta e voltou para casa, comendo uma grande tigela de macarrão instantâneo antes de dormir.

Acordou com o despertador depois de uma boa luta para levantar daquela cama, principalmente em um dia tão frio. Abriu as cortinas bruscamente para permitir que as pupilas se acostumassem com a luz do sol, mas o dia estava nublado e, novamente, o céu e o chão cobertos pela neve. Com pressa, engoliu rapidamente o café da manhã antes de voltar ao trabalho, que parecia durar uma eternidade. Algumas batidas no batente da porta lhe retiraram a concentração enquanto encarava aqueles papéis bagunçados em sua mesa.

— Não vai se arrumar para a festa de natal da Hinata? – Shikamaru o questionou, percebendo que o amigo estava perdido nos próprios pensamentos.

— Ah? Não, acho que não vai dar tempo de me arrumar. Preciso terminar algumas coisas aqui, então vou ter que ir assim mesmo.

— Sério? Bom, eu vou indo na frente, então. “Ela” vai gritar comigo se eu não chegar cedo, e isso seria uma dor de cabeça.

— Sim, tudo bem, até depois. – Despediu-se, antes que o colega desaparecesse após fechar a porta. Um pouco desanimado, suspirou ao encarar o pequeno embrulho em seu bolso, colocando-o de volta e retornando sua atenção ao trabalho.

Após muitas horas, todos no salão se questionavam sobre o paradeiro de Naruto. Shikamaru explicou várias vezes que ele havia ficado para terminar algumas coisas, porém já havia se passado muito tempo, e alguns começavam a se preocupar. Hinata aproximou-se de Sakura, no canto do cômodo, vendo-a segurar sua terceira taça de champanhe um pouco irritada.

— Sakura, será que eu poderia te pedir um favor? – Murmurou tímida.

— É claro que sim, o que foi? – Retrucou tentando ser o mais amigável possível.

— Você poderia ir até o escritório do Naruto ver se ele está bem? Eu iria, mas como a festa é minha, eu não posso sair. – Hinata suplicou, entregando-lhe uma cesta com alguns petiscos, caso Naruto realmente não pudesse comparecer. Um pouco hesitante, Sakura saiu levando a cesta consigo.

Assim que se aproximou da sala do hokage bateu duas vezes na porta, porém não obteve resposta. Sem paciência, abriu-a sem aguardar, deparando-se com um Naruto adormecido. Sua cabeça apoiada na mesa, em meio à alguns livros, e as olheiras bem marcadas deixavam claro o quão estava cansado. Aliviada, ela permitiu-se sorrir de maneira boba à medida que se acercava dele.

— Sakura? – Sussurrou, limpando os olhos ao levantar-se. Ela não pôde evitar de dar um pequeno salto com o susto que levara ao ouvir seu nome tão repentinamente. – Que horas são?

— A Hinata estava preocupada com você, então me pediu para vir. – Exprimiu, colocando a cesta acima da mesa. – Está com fome? – No mesmo momento, o estômago de Naruto grunhiu, respondendo-lhe automaticamente. Um pouco sem graça, ele levantou-se para encará-la.

— Já passou da meia-noite. – Murmurou após olhar para o relógio na parede.

— Ah, é verdade, já é natal. – Ela respondeu, observando a paisagem através da janela. – Por falar nisso, Naruto... – Por um momento, fora interrompida pelo gesto daquele homem, que apontava um embrulho em sua direção.

— Feliz natal, Sakura. – Pronunciou, com um sorriso radiante estampado em seu rosto.

— Você me comprou um presente?

— Bom, tecnicamente eu não comprei, mas espero que você goste. – Afagou os cabelos, um pouco nervoso. – Quando eu vi, foi impossível não pensar em você.

Com cuidado, ela desembalou o objeto, revelando um colar com o formato de uma flor de cerejeira, feito de um raro quartzo cor-de-rosa. Seu coração falhou uma batida quando Naruto aproximou-se para colocá-lo em seu pescoço, suavemente afastando seus cabelos para que ela os segurasse.

— É lindo. – Sussurrou, virando para encará-lo. – Obrigada, Naruto.

— Que bom que gostou. Acho que nós deveríamos ir para a festa antes que mais alguém se preocupe. – Tagarelou, colocando o seu manto por cima da roupa. Antes que pudesse passar pela porta, sentiu-a segurar seu pulso para detê-lo. – Sakura?

— Você é sempre assim, idiota. – Bufou, com algumas lágrimas se formando nos cantos de seus olhos.

— O quê? – Preocupou-se, pensando se teria feito algo errado. – E-eu não...

— Você sempre sai jogando seus sentimentos pra cima de mim, não importa o quanto eu me afaste ou te trate mal. – Retrucou, dando dois passos para frente e colocando-se na ponta dos pés. – Mas dessa vez, sou eu é quem vou jogar os meus pra cima de você, Naruto. – Complementou, selando seus lábios nos dele e apoiando os braços ao redor de seu pescoço. A resposta não demorou a chegar, pois ela pôde sentir o calor daquelas mãos segurando sua cintura. Ao afastar-se, trocaram um olhar doce, cheio de perguntas agora respondidas e dúvidas que já não existiam mais. – Feliz natal, Naruto. – Abraçou-o.

Quebrando o clima, sua barriga grunhiu novamente. Sakura deslizou a mão em seu braço para entrelaçar os dedos nos seus, levando-o até a mesa e preparando uma refeição à dois com as coisas que Hinata havia fornecido. Naquele momento, enquanto ela o observava comer tão contente, o nome de Sasuke já não existia em suas memórias, e por insistência, Naruto já havia tomado conta de todos os seus pensamentos, conquistando seu coração.

— Parece que eu acabei me apaixonando por esse idiota, afinal. – Riu consigo mesma, vendo-o encher as bochechas de petiscos. Aquela cena, por mais estranha que fosse, lhe trazia uma sensação calorosa, e ela não possuía mais arrependimentos. Sabia que, enquanto estivesse ao lado daquele homem, seria feliz, e faria o possível para que ele também fosse feliz.

Ao ouvir aquelas palavras, Naruto rapidamente engoliu o que estava comendo, puxando Sakura para si e deitando-a em sua mesa, passando suavemente o polegar em sua bochecha antes de colocar os lábios próximos de seu pescoço e sussurrar:

—Esse idiota sempre foi louco por você.

— Naruto...

— Eu te amo, Sakura. – Completou, beijando-a com fervor. Ela rapidamente retribuiu o gesto, afastando as vestimentas superiores de Naruto e apreciando seu abdômen definido antes de encará-lo diretamente nos olhos.

— Eu também te amo, Naruto. – Disse em baixo tom, permitindo-o continuar o que haviam começado. Aquele natal, provavelmente, seria inesquecível para ambos, pelo resto de suas vidas.