Wolf Heart escrita por Tessaro


Capítulo 4
Capítulo 4


Notas iniciais do capítulo

Música: The Woods - Hollow Coves

Boa Leitura!!



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Estamos todos caindo
E precisamos de um lugar pra nos esconder
Um lugar seguro em algum lugar na floresta
Nós podemos ascender o fogo
Tudo o que sabemos é que poderia ser nossa casa
Ficaremos até o amanhecer

Erick fica três semanas no hospital de Seattle, Leah fica com ele em todos os momentos, ele deseja, com todo seu coração que as coisas sempre fossem assim, mas não são, eles não são eles mesmos em casa, na vida deles Leah é a garota que foge a noite pela janela quando acha que ele está dormindo e volta para casa na manhã seguinte.

Eles tem bons momentos, mesmo que sejam pequenos e curtos, existe uma parte, uma pequena parte, logo abaixo da superfície da casca dura que Leah tem em volta de si mesmo que mostra a garota mais gentil que ele conhece.

É um tipo de gentileza, a gentileza que Leah têm ao apoiá-lo quando ele precisa ir ao banheiro, porque é claro que ele tinha que partir o rim ao meio da surra que ele levou, é a mesma Leah que segura sua mão quando ele tem crises de ansiedade e choro quando ele percebe que vai viver o resto da vida sem Carl e Cindy.

Mesmo que ele nunca conte para ela sobre eles, ela ainda é reconfortante, quando eles estão presos entre quatro paredes, só eles dois, comida ruim de hospital, a TV sempre no canal de esportes e a boa e velha gelatina vermelha de copinho.

Ele gosta e passar um tempo com ela, sem ninguém. Ninguém vem visitá-lo em Seattle, o que ele considera a melhor coisa que já lhe aconteceu, ele odeia pessoas e sempre preferiu os corpos destroçados - não que isso seja bom, parece um pouso psicopata ao seu ver.

É uma terça-feira de manhã quando eles finalmente voltam para casa, Leah dirige uma velha picape azulada, ele não se importa muito que ela dirija, ele não tem uma perna, porque eles tinham que arrancar sua perna falsa com um pedaço de ferro enferrujado.

Sua vida é realmente um conto de fadas.

Mas o que importa é que ele ama o Natal, e faltam apenas uma semana para a melhor época do ano

— Falta uma semana para o Natal. — ele diz, alguns metros depois que eles passam da placa de "Welcome to Forks". Leah não diz nada por um momento antes de o olhar sorrateiramente.

— Eu não comemoro o Natal. — ela murmura de volta. Erick se sente murchar um pouco com o tom seco de sua voz, é um tipo de frieza inabalável que o deixa desconfortável, ele quer perguntar o porque, mas de repente tudo volta a ser um borrão de cores.

Ele absolutamente ama o Natal, é o tipo de comemoração perfeita, é onde todo mundo se esforça ao máximo para poder ter um tempo legal com a família, é o único dia do ano que ele fala com a sua mãe, eles têm um acordo tácito.

Eles entraram em um muitos anos atrás.

Sua mãe era a bela jamaicana que acidentalmente engravidou de um nativo americano em uma viagem à América, ela era historiadora e estava de passagem quando conheceu seu pai.

Ele não se ressente dela por ter partido, ela ainda o criou até os 12 anos quando ela decidiu deixá-lo com uma tia, e depois ele foi passado ao pai que morava em Sacramento, capital da Califórnia.

Ela continuava sua vida, sem uma família - algo que ela nunca quis -, pesquisando parques arqueológicos pelo mundo e descobrindo cadáveres gigantes de animais pré-históricos.

O fato é, eles tem um acordo em seu relacionamento perturbado, e funciona para eles.

— Nós... podemos comemorar se você quiser. — Leah diz, depois do que parece um tempo, sua voz é grossa de emoção, e ele se sente melhor, mas ainda egoísta por querer fazer algo que ela não gosta.

Mas ao mesmo tempo a voz irritante em sua cabeça o alivia por finalmente estar dando uma pequena retribuição por ela estar o traindo a tanto tempo.

— Obrigada. — é tudo o que ele pode dizer, sua garganta fecha de emoção crua pela primeira vez em três semanas. Tudo parece pior para ele.

Porque sua vida perfeita de quarto de hospital acabou, e tudo que resta para ele é uma casa de pedra rústica em uma reserva que ele odiava e com uma garota que dorme com outro cara.

Ele solta um suspiro trêmulo e encosta sua cabeça no vidro. Seu cérebro parece tremer dentro de seu crânio, os solavancos do carro o deixando nauseado, ele não ousa abrir a boca, cerrando os dentes até que sinta o sangue acobreado em sua língua.

Ele dorme em poucos segundos.

O cara que era o melhor amigo de Amir está batendo nele tão forte, ele bate um bastão de metal enferrujado em suas costelas roxas, chuta seu rosto, ele tem tanta raiva direcionada a ele, ele sente pavor indescritível quando vê as botas de couro preto andando em sua direção.

Existe uma diferença tênue entre saber que pode morrer e saber que vai morrer.

Ele sentiu a diferença poucas vezes em sua vida, mas ele sente agora, em seus ossos, o desespero de saber que sim, ele vai morrer de uma morte lenta e dolorosa.

— Nós estamos em casa. — Leah murmura, o acordando subitamente, ele está agradecido por ver as cores escuras de pedra de sua pequena casa isolada, ainda é dia, mas o ambiente está escuro, ele jura que vê uma cortina se mexer e uma luz apagar.

Ele engole em seco e pega suas muletas, o FBI está acabando com ele, ele está tendo pesadelos, está paranoico e vendo crimes onde não existe nada.

A caminhada até a casa é curta, Erick tem uma caminhada lenta e descompassada, suas muletas ajudam mas não é o mesmo que ter uma perna. Ele se sente tão cansado quando chega na varanda, ele só quer se enterrar em suas cobertas e dormir por séculos.

Ele mal abre a porta antes da luz acender e as pessoas soltarem balões coloridos em seu rosto.

Erick não sabe bem porque ele ataca, sua mente demora para registrar o que está acontecendo, nesse meio tempo ele já bateu com uma de seus muletas de madeira no cara mais próximo da porta e está se apoiando em uma das muletas.

Sua mão estendida em um soco violento que faz suas juntas estalarem, ele respira pesadamente quando seu braço dói, o braço que teve o osso trincado, é quando ele finalmente registra o que está acontecendo.

O irmão de Leah, que parece amar viver em sua casa, e ele o odeia por isso porque Erick ama a privacidade de uma vida isolada no meio do nada, está deitado no chão com uma mão no nariz ensanguentado e outra segurando suas muletas.

Erick não pode evitar sentir os rostos horrorizados das pessoas na sala incharem de horror, suas mãos tremem de puro terror e ele se sente subitamente comprimido em um espaço minúsculo e é tão difícil de respirar.

— Sinto muito. — ele diz para ninguém em especial, andando paras as escadas de pedra o melhor que pode. — Obrigado pela festa, vocês podem aproveitar. — sua garganta é subitamente seca e engrossada e ele não consegue olhar para ninguém.

Ele está tão fodidamente danificado.

 


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Notas finais do capítulo

Porque a Leah não comemora o Natal?

Eu pensei no Natal sendo a data favorita do pai dela, que morreu, então ela não gosta muito de comemorar por causa dele.



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