Eu ainda me lembro dos poucos Natais que passei com minha mãe. O Natal no qual eu pensava agora foi provavelmente o último Natal que passei com ela. Lembro-me das risadas doces da minha mãe e de meu pai embora não me lembre bem do que havia acontecido de tão engraçado. O que eu me lembro, pelo menos, é que tínhamos passado a manhã inteira pendurando azevinho e visgos pela sala da casa e que, recompensa pela tarefa, ganhei um bom prato de biscoitos e um copo de leite. Também me lembro que, enquanto meus pais riam, eu desenhava alguma coisa. Acho que eles tinham acabado de contar-me sobre os Barbegazi e eu estava muito interessada neles.

— Deve ser legal, poder esquiar assim sempre que quiser. Mas deve ser bem complicado para encontrar sapatos. - eu disse e me lembro bem do sorriso que minha mãe abriu nessa hora.

— Com certeza deve ser, Luna. - disse ela - Mas… talvez ele prefira andar descalço mesmo.

— Eu também gosto de andar descalça e sentir a grama, as folhas no chão, a neve… - respondi desviando o olhar para a janela de onde podia ver a neve lentamente caindo até o chão.

— Está querendo ir lá para fora de novo né? - perguntou meu pai.

— Quero ver se encontro alguma criatura nova que esteja sendo menos discreta agora por causa do frio. - eu disse.

Depois disso, minha memória já começava a falhar, mas me lembro ao menos de que consegui de fato ir lá para fora procurar acho que Dilátex Vorazes ou algo do tipo em algum lago próximo, mas o que consegui mesmo foi ficar doente. Lembro-me bem de como minha mãe me aconchegou com carinho em minha cama, afofando bastante o cobertor e me dando um beijo de boa noite na testa garantindo que no dia seguinte, o dia da ceia de Natal, eu estaria bem melhor e poderia aproveitar o dia com eles.

Eu queria guardar essas memórias num potinho ou talvez encontrar alguma coisa que me ajudasse a completar as partes faltando. Sentia falta de minha mãe em momentos como esse, não nego. Não que os natais com meu pai fossem ruins. Eram bem legais e nos divertimos na cozinha também.

Apesar de ter que ficar ocupada preparando minhas coisas para o baile de inverno e todos os livros e pergaminhos de deveres de casa e trabalhos, deixei minha mente escapar feliz pelas lembranças de minha mãe. Talvez por causa da época do ano, eu facilmente escapava para as lembranças natalinas.

Limpei todas as coisas que estavam ocupando espaço na cama e então lá deitei simplesmente relaxando e pensando em como os detalhes da cama faziam parecer que ali estavam entrando as estrelas.

Jogada na cama, fui tirada de meus devaneios pelo barulho de risadas entrando no dormitório feminino da Corvinal. Com a chegada do Natal em Hogwarts, o clima de animação parecia ter se espalhado por todos. Ainda mais considerando que esse Natal seria diferente de qualquer outro que qualquer aluno ali já tivesse visto. Até porque não era todo ano que se tinha o Torneio Tribuxo. Talvez por isso a escola estivesse tão cheia mesmo com a chegada do Natal, uma data que muita gente preferia passar com a família.

Enfim, a dona da risada era uma garota eu infelizmente nunca tinha conseguido decorar o nome. Aliás, nem me lembrava se já havia sido apresentada para ela. Acho que não. Acho que ela era um ou dois anos mais velha do que eu. Mas eu sabia o nome da garota com quem ela conversava, era Padma Patil.

— Você deu azar, amiga. - dizia a amiga de Padma - Vai ter que ir com o Weasley enquanto a Parvati vai com o Potter para o baile.

— Ai…não me lembre disso. Mas… vai que ele é legal? - disse Padma dando de ombros - Seria melhor ir com o Harry sim. A Parvati já esfregou isso na minha cara várias vezes. 

— Chamou eles para o baile? - perguntei me sentando sobre minha cama e notando com leve curiosidade o assunto da conversa.

— Sim! - disse Padma feliz sentando-se na cama dela - Achei que um dos dois fosse com a Granger, mas parece que não.

— Será que ela vai sozinha? - teorizou a amiga de Padma parecendo horrorizada com a ideia embora eu não entendesse bem o porquê disso.

— Não vejo qual o problema em ir sozinha. - eu disse pensando sobre isso e lembrando que eu mesma estava sem companhia - Existem coisas boas em aproveitar a própria companhia também. 

— Com quem você vai? - perguntou Padma.

— Com ninguém. - respondi dando de ombros e vi as duas se entreolharem apesar de, estranhamente, não parecerem surpresas - Tentei ir com a Gina como amigas, mas ela já vai com o Neville então não quis atrapalhar. Imagino que ela seria educada demais para dizer que não para mim caso eu perguntasse. Então deixei pra lá.

— Não esperava diferente da Di-Lua. - adicionou uma outra menina se juntando a conversa, uma garota do meu ano chamada de Melanie Hill - Quem raios ia chamar você para um evento desses?

— Com quem você vai então? - perguntou a amiga de Padma.

— Com o David Reilly da Lufa-lufa. - disse Melanie com orgulho embora eu não soubesse bem o motivo disso.

— Não conheço… - eu disse.

— Claro que não conhece. - disse Melanie revirando os olhos - Ele é do sexto ano.

— Uhh… - disse Padma achando aquilo aparentemente muito chique enquanto meu interesse na conversa ia diminuindo cada vez mais.

Olhei brevemente pela janela e vi que em talvez uma ou duas horas o sol iria começar a ser por. Não seria tão bom ir dar comida para os Testrálios tão tarde. Assim, deixei as meninas para trás e peguei meu cachecol para que pudesse ir lá fora dar comida aos Testrálios.

Cruzei o castelo saltitando cantarolando em murmúrios uma música que não saía de minha cabeça. As decorações de Natal faziam Hogwarts parecer um castelo cada vez mais delicado e brilhante. Era como se o lugar tivesse nascido para comemorar o Natal. 

Descendo cada vez mais, demorou alguns minutos até que eu chegasse perto das masmorras. Era estranho pensar que aquele delicioso de comida estava vindo de um lugar com um nome que remete tanto à coisas ruins como “masmorras”. Meu plano, como sempre, era pegar um pouco de carne crua com os elfos-domésticos que trabalhavam na cozinha para poder dar aos Testrálios. Por algum motivo, eram poucos os alunos que tinham curiosidade em saber de onde vinha a comida que toda refeição enchia as mesas do Grande Salão. Exatamente por isso que eu estranhei quando vi um rapaz olhando com aparente curiosidade para dentro da cozinha. Mais estranho do que isso foi notar que ele estava obviamente com o uniforme da Durmstrang.

— Não sabia que vocês podiam entrar tanto assim no castelo sem problemas… - comentei talvez meio de repente demais pois ele se sobressaltou levando um susto ao notar que eu estava ali - Desculpe. Não quis assustá-lo.

Antes de me responder, ele olhou ao redor preocupado provavelmente atrás de algum professor de qualquer uma das duas escolas. Nesses breves segundos, notei que ele tinha cabelos castanhos claros, olhos verdes e, apesar de muitas vezes o pessoal da Durmstrang ficar tentando fazer cara de valentão, ele na verdade não parecia ter nada disso.

— Por favor…não conte para ninguém que eu estou aqui. - disse ele num sotaque forte de búlgaro - Eu realmente não deveria estar aqui.

— Veio atrás de comida? Achei que tivesse cozinha no navio da Durmstrang - comentei com curiosidade.

— Ahm… não… Quer dizer … sim, tem comida lá  mas não vim atrás de comida. - disse ele desviando o olhar de mim brevemente e então coçando a nuca aparentando estar sem graça - Eu na verdade acabei me perdendo e vim parar aqui. Então achei interessante notar que a comida é feita por vários elfos domésticos.

—Humm… com o que a comida da Durmstrang é feita? - perguntei.

— Ahmmmm..  Não sei. Nunca olhei como que comida era feita lá. - disse ele apesar de eu ter estranhado um pouco a resposta dele.

— Bem… erm… melhor eu ir indo… - disse ele coçando a nuca aparentando estar bem desconfortável. Foi exatamente por isso que eu simplesmente deixei ele passar por mim e ir embora. 

Na minha cabeça, um bichinho dizia que ele estava escondendo alguma coisa. Afinal, porque alguém da Durmstrang estaria tão dentro da escola assim? Eu não conseguia achar alguma explicação simples. Assim, só dei de ombros e continuei a fazer o que estava fazendo. 

Na cozinha, eu nunca tinha parado para falar muito com nenhum dos elfos. Estavam sempre todos ocupados e eu não queria atrapalhar. Mas eu já estava conhecendo bem a cozinha, por isso só segui para onde sabia que a carne estava. 

— Ah! Vai! Garota dos testrálios! Pegue a carne! - reclamou um elfo mal humorado. 

— Obrigada, senhor. - eu disse enquanto colocava a carne crua na minha bolsa e saía em direção à mata ao redor do castelo em busca dos testrálios. 

Como bem de costume, fui até os testrálios e lhes dei a carne crua tal como gostavam. Fiquei feliz em notar que havia uma entre eles que estava grávida. Como não sabia quanto tempo durava a gestação de um testrálio, resolvi que seria bom ir algum dia na biblioteca descobrir isso. Mas, como os dias acabam mais cedo no inverno e a neve estava bem irritante, por hoje decidi voltar para o salão comunal da Corvinal e dormir confortavelmente.

Bem, claro que não demorou tanto assim chegar no dia do Baile de Inverno. Quase todo mundo parecia bem empolgado mas eu bem conseguia ver um ou outro olhar desanimado ou tímido demais. Quando todas as garotas começaram a se arrumar, eu também fui. Não faz ideia da bagunça que pode ser várias meninas se arrumando ao mesmo tempo. Com ou sem magia. 

No meu cantinho, coloquei meu vestido prateado com vários babados e um par de brincos com o formato de pequeninas sementes de cacau. Minha esperança, era poder atrair algum Brownie com eles para poder conversar. Acho que minha mãe mencionou que "brownie" também é uma comida trouxa, mas na verdade estou pensando nos pequeninos seres que vivem por essa parte do Reino Unido. Espero que uma festa como essa faça eles saírem de seus esconderijos. Nunca vi nenhum perto de Hogwarts. Ou talvez eles fiquem intimidados com por ter mais gente ainda. Não custa tentar. 

Pronta, desci para o Grande Salão e nossa como ele estava lindo. As árvores no fundo estavam incríveis com neve cobrindo delicadamente seu galho e o salão inteiro estava enfeitado com vários enfeites e detalhes prateados. Acho que cheguei bem atrasada, pois os escolhidos para competir já dançavam alegremente…. Com exceção do Harry Potter. Queria algum dia poder conhecer ele. Parece ser alguém legal. 

Meus olhos percorreram a multidão atrás de alguém com quem conversar, e vi que Gina já estava começando a dançar com Neville. Com um suspiro então, me virei para as mesas de comidas. Todo mundo estava tão concentrado e animado com a música, que muitos ainda não pensavam em encher a barriga. Enchi meu prato com algumas coisas interessantes embora um ou outro bolinho com tanta açúcar em cima que mais parecia neve tivesse tentado sair voando do meu prato. Levando tudo comigo, sentei em uma das cadeiras enfeitadas com panos prateados. Tudo estava prateado, o teto fazia nevar, as três árvores na frente estavam incríveis e os palácios de gelo e as estalactites também. Mas…. Ainda assim parecia que tinha algo faltando.

— Não acredito que é mesmo a Granger com o Viktor Krum! - uma garota da Lufa-Lufa perto de mim falava.

— Será que ela jogou algum feitiço ou poção nele? - teorizava um garoto da Sonserina - Ouvi dizer que ela é bem esperta. Alguns dizem até que ela deveria ter ido para a Corvinal.

Enquanto comia, não pude evitar ouvir as conversas ao meu redor. Pude identificar o que parecia francês sendo dito por alunos da Beauxbatons e até um aluno da Grifinória aparentemente arranhando um francês para falar com uma aluna da Beauxbatons.

— O professor Dumbledore com a professora McGonagall estão tão lindos dançando! - disse uma aluna da Grifinória soltando um longo suspiro.

— Fazem um belo casal. - concordou uma aluna da Sonserina.

— Não sei… parece que estão mais dançando como amigos… - comentei acabando entrando na conversa.

— Acha? - perguntou a garota da Grifinória olhando para os dois enquanto pensava - Não sei...

A conversa não durou muito, logo as duas começaram a falar de coisas das aulas delas e, como não as conhecia também, acabei resolvendo que era hora de sair dali. Até porque meu prato estava vazio. Resolvi ver se dava sorte e encontrava algum Brownie lá fora. Eu saí do Grande Salão e fui para o lado de fora rapidamente, por não era tão longe. Eu achava que o frio fosse bater na minha cara, mas acho que os professores fizeram algum feitiço. Apesar de ser inverno, o exterior do castelo não parecia tão frio quanto deveria estar. E eu não fazia muita ideia do que me aguardava quando ouvi risos vindo de trás de outro corredor que saía daquele pátio. 

As risadas foram acompanhadas de conversas num idioma que eu não conhecia. Só haviam duas opções óbvias, ou era búlgaro, ou era francês. A sonoridade não parecia do francês e, se havia alguém da Beauxbatons ali, acho que era os sussurros que ouvia se afastando dali talvez em busca de um lugar vazio. Meu chute ficaria então com o búlgaro. Eram alunos da Durmstrang. 

O que eles conversavam não era do meu interesse, simplesmente continuei andando e, usando minha varinha para conjurar o Lumus, fiquei procurando algum Brownie dentre os arbustos ou nos cantinhos escuros perto do chão.

Infelizmente, não tive muito tempo para continuar minhas buscas pois, enquanto eu andava, acabei encontrando sem querer com um casal que usava o lado mais escuro de uma pilastra para…. Bem… trocar uns beijos bem animados. Esperava ver alguém da Beauxbatons, mas na verdade o que eu vi foram dois alunos de Hogwarts. Uma menina da Corvinal e uma menina da Sonserina. 

Eu senti imediatamente que ali estava uma cena que eu não deveria ter visto. Parecia bem… particular e eu não queria incomodar. O lado ruim, foi que a menina da Sonserina me viu e isso acabou interrompendo o momento todinho delas. Quando as duas se viraram para mim, vi que a garota da Corvinal eu conhecia e era inclusive do meu ano. Era Melanie Hill. Acho que não era com David Reilly que ela ia no final das contas.

— O que está fazendo aqui Di-Lua? - questionou Melanie.

— Desculpa… Não tinha intenção de atrapalhar. Eu estava só procurando uns Brownies. Essa época do ano costuma ser fácil de encontrá-los. - justifiquei embora ela não parecesse ter gostado muito da justificativa.

— Procurando criaturas que não existem de novo? Quando você vai deixar de ser tão tonta? - perguntou Melanie com certeza com a intenção de me magoar mas não conseguindo fazer isso. Não é só porque alguém que nunca gostou de mim disse umas coisas ruins que eu vou levar à sério.

— Mel, quem é ela? - perguntou a garota da Sonserina que estava aparentemente perdida em toda a discussão.

— Me chamo Luna. - respondi calma e prontamente para a garota.

— Uma garota panaca da minha casa. - disse Melanie revirando o olhar - Só vive no mundo da lua, usando roupas estranhas, fazendo coisas estranhas e tudo mais… por isso chamamos ela de Di-Lua.

— Para alguém que é da Corvinal, você bem que deveria saber que existem vários campos de estudo bruxo. - eu disse - Sei bem que ficam me zoando falando que as coisas que leio sobre e procuro não existem.

— Para de desviar o assunto! Seus bichos imaginários e sua roupa ridícula não entram em questão agora! - falou Melanie com raiva - O que está fazendo aqui?! 

— Já disse que estava procurando por Brownies. - disse novamente sem entender o motivo de ela não acreditar em mim.

— Acha que ela vai nos dedurar para algum professor? - perguntou a garota da Sonserina preocupada.

— Não faria isso. Nem mesmo contaria para o David Reilly embora com certeza seja injusto com ele. - eu disse - Quer tenha mentido dizendo que ia com ele, quer esteja deixando ele esperando por você no Grande Salão.

— Podemos mesmo confiar na palavra dela, Mel? - perguntou séria a garota da Sonserina - O David não é uma preocupação já que ele tá nessa também mas… se os professores pegarem a gente e ele…

Melanie me pareceu meio… assustada talvez? Ou talvez em dúvida… Acho que ela mesma não sabia o que fazer quando puxou a varinha do bolso do vestido. Sim, vestido com bolso.

— Olha, Melanie, eu realmente não vou contar nada para ninguém. - eu disse com calma - Não acho que precisamos chegar nesse ponto né? Isso só vai deixar tudo pior.

— Izvin… Ahm… com licença garotas...está tudo bem aqui? - disse uma voz carregada de sotaque búlgaro que me pareceu familiar. Ao me virar, notei surpresa que era o menino que havia encontrado na entrada da cozinha de Hogwarts. Ele estava acompanhado de mais um amigo e logo notei que ambos faziam parte do grupo que havia visto conversando animadamente, pois a outra metade estava sentado no mesmo lugar de antes só que atentos ao desfecho da conversa.

— Olha, garoto da Durmstrang, - disse a menina da Sonserina - volte lá para seus amigos e não interfira aqui.

— Está tudo bem, é sério. - eu disse para o menino da Durmstrang que havia visto na cozinha antes - Ela gosta de ficar mexendo comigo. Muitos na minha casa gostam. Eles gostam de tentar se sentirem superiores aos outros por normalmente terem baixa auto-estima e fazem isso focando em algo que faz alguém ser único.

A expressão dos dois garotos da Durmstrang mudaram para uma leve surpresa que, não muito surpreendentemente, não chegou até Melanie e sua amiga… ou será que eu deveria dizer namorada? Não sei bem se elas já estavam se chamando assim. Bem, não era da minha conta de toda forma.

— Eu não tenho baixa auto-estima! - reclamou Melanie.

— Eu disse ‘normalmente’. Não generalizei. - eu disse calmamente dando de ombros enquanto repassava na minha mente a fala para ter certeza disso - Que bom que não tem baixa auto-estima então.

— Bem… - disse o menino da Durmstrang - De toda forma… porque não deixamos isso pra lá eim? Aí eu não conto pros seus professores que você estava ameaçando ela com sua varinha.

— Ah… é assim? - perguntou a garota da Sonserina colocando as mãos na cintura - Acha que não notamos que vocês estavam bebendo ali? Eu conheço uma Uísque de Fogo quando vejo uma. Se você contar nosso segredinho, contaremos o seu.

Diante da ameaça, os alunos restantes da Durmstrang que estavam em seu cantinho até então começaram a falar rapidamente em búlgaro. Após alguns momentos de confusão onde provavelmente aconteceu alguma espécie de tradução para aqueles mais fluentes em inglês, os dois alunos restantes acabaram se levantando também e se aproximando da conversa que havia tomado rumos não muito amigáveis.

— Apesar do que vocês duas parecem achar, eu não quero confusão com vocês. - eu disse não entendendo bem porquê estavam tão nervosos. Um pouco de calma fazia bem e ouvi as pessoas também - Ninguém vai contar que estavam namorando escondido, nem que apontaram a varinha para mim, nem que uns alunos da Durmstrang estavam bebendo escondidos. É Natal. Estão todos aproveitando bem a noite sem machucar ninguém… não tem porquê causarmos confusão, né?

— Que garantia temos que você não vai sair contando por aí então? - perguntou a menina da Durmstrang.

— Porque eu contaria? - perguntei sem entender o questionamento dela - Tecnicamente, nada aconteceu.

Se passou um momento enquanto os outros ficaram se entreolhando provavelmente pensando no que eu havia acabado de dizer. Ninguém falou nada por alguns segundos até que a menina da Sonserina, que eu aparentemente ia ficar sem descobrir o nome, quebrou o silêncio.

— Acha que devemos confiar nela, Mel? - perguntou ela.

— Hum… não sei. - disse Melanie me olhando de cima abaixo e então suspirando profundamente ao tomar uma decisão - Presta atenção, Di-lua, tente não ficar no mundo da lua enquanto digo isso. Dessa vez vou deixar pra lá… mas se eu ouvir que você espalhou o que aconteceu aqui pra alguém…

— O que eu não vou fazer… Não precisa ficar fazendo ameaças bobas. - eu disse dando de ombros.

— Se você espalhar o que aconteceu aqui… - disse Melanie ignorando o que eu falava - Você vai ter uma surpresa desagradável nas suas revistas queridas e nos seus livros de aula da próxima vez que for abrir eles.

Aparentemente sem querer ouvir mais nada, Melanie e a menina da Sonserina saíam dali batendo o pé com força no chão. Os meninos da Durmstrang trocaram algumas palavras que não entendi enquanto seguiam elas com o olhar e eu, depois de pensar por alguns segundos em como minha busca por Brownies tinha tomado rumos completamente imprevisíveis, comecei a entender o que talvez o menino, ainda sem nome, da Durmstrang estava indo fazer na cozinha de Hogwarts.

— Não sabia que tinha bebidas alcoólicas na cozinha daqui. - comentei. 

Ele pareceu chocado por um breve segundo, mas logo soltou uma risada.

— Realmente não tinha. - disse ele - Mas encontramos em Hogsmeade. Não foi tão fácil isso.

— Tanto perigo só pra beber? Quantos anos tem? - perguntei sem entender.

— 16. Ideias deles, não minha. - se defendeu ele.

— Mas ainda os acompanhou na ideia. - eu disse.

— Pois é… - concordou ele aparentemente sem graça - Então… não entendi bem pela conversa e nem prestei atenção desde do começo, seu nome é Luna ou Di-lua?

— Luna. Me chamam de Di-Lua às vezes porque, segundo eles, vivo no mundo da lua. Talvez seja verdade… - comentei pensando um pouco.

— Nah. Mundo real é chato mesmo. Aliás, meu nome é Mihail. - disse ele.

— Muito prazer então. E obrigada pela tentativa de ajudar. - eu disse.

— Embora talvez eu vá escutar muito dos outros meninos depois. Quase botei nosso segredinho em risco. Ou talvez tenha mesmo botado. - disse Mihail.

— Ah… não sei… - eu respondi pensativa - Acho que não.

— Bem ahm… você… q… - disse ele balbuciando tentando falar alguma coisa.

— Acho que vou entrar de novo e ir atrás da minha amiga Gina. Essa busca por Brownies não deu tão certo e não quero atrapalhar mais ninguém aproveitando a situação que o baile de inverno criou. Acho que não vai ter só elas escondidas por aí… aliás, devem ter achado outro lugar para ficar a essa altura. - eu disse.

— A-Ah… sim… verdade… - concordou Mihail embora parecesse meio desconcertado - Acho que vi um menino da Beauxbatons com uma garota de Hogwarts… mas… ahm… ok… você vai entrar né?

— Sim. - disse - Tchau. bom de conhecer Mihail.

Deixando ele para trás, eu fui indo de volta para o castelo. Uma parte de mim achou que ele parecia querer dizer outra coisa mais mas, quando me virei para trás, ele estava meio cabisbaixo soltando um suspiro e logo levantou a cabeça dando tchau.

De volta para o Salão Principal, as pessoas pareciam mais interessadas na comida. Procurei Gina com o olhar mas ela me achou antes pois levei um pequeno susto quando ela me segurou pelo pulso. Ao lado dela, estava Neville, meio tímido como sempre. Ainda não tinha conseguido falar muito com ele por isso e outros motivos, como o fato de não nos encontrarmos tanto já que ele era de outro ano.

— Estava te procurando. - disse ela - Vamos pegar alguma coisa para comer e conversar um pouco. 

— Certeza? Não quer aproveitar sua noite de Natal? - perguntei lançando um olhar rápido para Neville.

— Posso passar alguns minutos com minha amiga. E meus pés estão doendo um pouco. - disse Gina.

Deixei ela puxar à mim e à Neville para uma mesa vazia, ou uma mesa com três cadeiras vazias já que era muita gente. Sentamos então numa mesa que a outra metade era ocupada por uns alunos da Lufa-lufa mas ficamos conversando apenas entre nós três mesmo embora Neville tenha ficado uma maior parte quieto mesmo. Acho que foi ali que eu realmente senti que aquele Natal em Hogwarts estava realmente completo.