Valsa escrita por Necromi


Capítulo 1
Um passo para lá e dois para cá


Notas iniciais do capítulo

Hohoho, olá, gente!

Se sua véspera de Natal foi boa, já peço perdão de antemão por trazer drama para o seu dia. :'D A ideia me ocorreu de repente e eu fiquei doida para pôr no papel. Acabou indo para um caminho diferente que me deixou extremamente satisfeita. Espero que gostem também. :)

Dorcas e Marlene são baseadas completamente em headcanons criados por mim e por outros fãs. Elas são apenas levemente comentadas nos livros, não tem MESMO muitos detalhes. Porém, amo imaginar elas inseridas na época dos Marotos e todos os headcanon possíveis, incluindo a amizade entre a Dorcas e o Sirius. Btw, aproveitem esses dois. ♥

Boa leitura!



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─ É Natal, Dorcas.

Sirius se aproximou da mesa angulosa de madeira, passando a mão direto na garrafa de conhaque para servir a bebida em dois canecões de metal. Em silêncio, ofereceu um a Dorcas antes de se sentar junto a ela. Não havia ninguém na velha cozinha do esconderijo, embora desse para ouvir uma união de vozes na sala ao lado, assim como o tilintar das louças e os risos descontraídos.

─ É Natal, Sirius. ─ Dorcas respondeu com um meio sorriso, aceitando o conhaque. Virou a bebida sem se importar em apreciar o gosto. ─ E a Ordem parece estar se divertindo. Por que não está lá? ─ Ela rodou o resto do conhaque no caneco, assistindo a espiral se formando no fundo. ─ Está sem ideia de como fazer cena esse ano?

─ Apesar das suas ideias serem as melhores, já tenho o meu drama planejado, Dorcas.

Os dois riram e beberam mais um gole, fazendo movimentos parecidos quando limparam a boca com as mangas dos casacos. Um silêncio rápido veio um pouco depois, até Dorcas começar a tamborilar os dedos na mesa. Sirius entendia bem o recado, afinal, quando ela pediu licença e sumiu quarenta minutos atrás, imaginou que queria ficar sozinha. Mas não era hábito seu respirar o espaço pessoal alheio.

─ Deveria estar lá ─ comentou depois que ouviu James gritar mais um brinde, que foi sucedido por um coral comemorativo.

─ Eu deveria?

Pela primeira vez que entrou, Sirius recebeu a atenção completa de Dorcas. A expressão séria dela ficava evidente a quilômetros de distância, mas precisava estar bem de perto, como estavam, para conseguir enxergar o deboche nítido nas sobrancelhas curvadas. A reação dela não provocou nenhuma surpresa, no entanto.

Sirius suspirou, assentindo.

─ Eu sei. Faz só uma semana.

Dorcas apertou os lábios e suas mãos se contraíram contra o caneco, tornando a pele negra esbranquiçada nas pontas dos dedos. Com algo preso na garganta, assentiu. Não se mostrava disposta a abrir a boca, pois sabia o que aconteceria se dissesse “sim”.

─ Sei o que deve parecer. ─ Sirius meneou, rodando o conhaque também. ─ Se fosse Remus... Eu provavelmente estaria fulo da vida. Estaria xingando todo mundo. ─ Na verdade nem imaginava a própria reação se perdesse o namorado. Pensava aquilo constantemente e sempre sentia náuseas quando entrava muito no cenário. ─ Mas acho que a Lene ia realmente querer isso. Era o dia preferido dela...

─ Eu sei ─ disse. ─ A Marlene sempre foi cafona. ─ Dorcas transpareceu controle na voz. Ambos riram de novo.

Marlene ser brega tinha se tornado motivo para sempre tirarem com a cara dela, especialmente Dorcas e Sirius, que destoavam da personalidade sonhadora da bruxa.

─ Não estou brava ─ continuou, terminando o pouco do conhaque. Não se serviu de mais. ─ Eu... Entendo. Ela ficaria ofendida se não fizessem isso, você sabe. ─ Viu Sirius concordar. ─ Mas eu não consigo, Sirius. ─ A faísca de um desespero genuíno prensou sua voz para dentro, quase não saindo. ─ Ela morreu semana passada e... E todo mundo está comendo pudim e brindando, sorrindo como se nada tivesse acontecido. Como se não estivéssemos no meio de uma guerra. Isso parece tão errado, droga.

 Sirius observou a testa de Dorcas se enrugar junto do nariz largo. Ela parecia fula quando a voz subiu em um tom, mas as lágrimas que começaram a rolar em seu rosto transpareceram uma fragilidade que ela nunca demonstrava. Não sabia se o certo seria abraçá-la ou deixá-la sozinha, então preferiu ficar no mesmo lugar sem dizer nada.

 Ninguém abriu a boca por longos cinco minutos. Dorcas não desabafava mais nada e Sirius não invadia o espaço dela mais do que o já tinha feito, o que pareceu ter sido bom, pois pôde sentir a mão dela sobre a sua. Ela voltou a encará-l, estava limpando as lágrimas enquanto tentava retomar a voz.

─ Dorcas. ─ Sirius acabou se adiantando, retribuindo o toque. ─ Eu sinto muito, mas posso te prometer que ninguém aqui está feliz de verdade. Para a infelicidade da Lene. ─ Ele sorriu gentilmente, passando a mão pelos cabelos crespos dela numa carícia afável. ─ A essa hora, ela estaria te puxando pra dançar e te envergonhando que nem no baile do sétimo ano.

Como se passasse da água pro vinho, Dorcas riu com mais vontade, quase se caminhando para uma gargalhada. Adorava como ninguém as histórias constrangedoras daquele baile. Ah, foi um grande evento para muitos, mas ninguém se safou de ter uma lembrança a qual queria queimar para sempre.

Quando a segunda música começou, uma mais animada, Dorcas parecia pronta para se soltar como fazia nas festas da Lufa-Lufa, porém Marlene continuou a valsa. As duas continuaram no mesmo ritmo, um passo para lá e dois para cá, e oh, todo mundo estava olhando. Duas mulheres, uma nascida-trouxa e outra sangue-puro, lésbicas, esbanjando romance enquanto uma delas parecia completamente apaixonada. Não importava o quanto Dorcas tivesse se sentido desconfortável com os cochichos, os olhos azuis da namorada, tão intensos quanto o seu sorriso, tinham a desarmado por completo.

Lembrava de ter perguntado por que ainda dançavam valsa; Marlene tinha deitado em seu ombro e beijo a curva do seu pescoço.

─ Estou feliz. Dançar com você assim... Parece tão certo... ─ Ela sussurrava. E apesar da música alta, conseguia ouvi-la com nitidez. ─ Eu te amo muito, Dorcas... E não ligo se meus pais vão aceitar você ou não.

Ouvir aquilo foi especial para Dorcas. Temia desde o primeiro beijo que ser uma nascida-trouxa poderia arruinar o que tanto queria com Marlene, mas depois do baile sentiu forte o gosto do alívio. Durante a noite, enquanto trocavam carícias e promessas no dormitório, pôde jurar a si mesma que conseguiriam ser felizes juntas. E não tinha se enganado no fim das contas.

Até o último suspiro de Marlene, não houve um dia sequer que Dorcas não se sentiu grata por ter ela ao seu lado.

A forma como Sirius via Remus desde os primeiros anos de Hogwarts, como se manteve ao lado dele quando Voldemort ascendeu, mesmo sob o nome da família Black, fazia Dorcas ter uma confiança quase cega nele. Ainda que fosse a nascida-trouxa, sentia como se só ele pudesse entender o quanto tinha perdido. Marlene insistia na ideia de que ela deveria ser grata pelas coisas, por mais catastrófico que as coisas fossem. E ah, se sentia tão grata por Sirius ter entrado ali. Um pouco mais e teria largado o esconderijo para andar por aí desprotegida para respirar fundo.

Inspirou calmamente e se permitiu sorrir depois do acesso de riso.

─ Sem contar que colocaria aquelas músicas horríveis dela e faria um brinde a nós. ─ Uma leve malícia surgiu em seus olhos. ─ É estranho como vocês se parecem em alguns pontos... Pobre, Remus.

─ Ei. Não compare minhas músicas trouxas com aquilo que a Lene gostava. ─ A sombra de um sorriso apareceu, morrendo espontaneamente quando percebeu a palavra gostava. Estava começando a falar como se ela não estivesse mais ali afinal. ─ Sinto falta dela. Minha ficha não caiu ainda. E a sua?

Dorcas negou. Serviu mais conhaque para os dois.

─ Às vezes me pego pensando: daqui a pouco eu vou deitar, espero que a Lene não esteja ocupando a cama toda de novo. ─ Bebeu um pouco antes de forçar um sorriso. ─ A Lene amava dançar, não é? ─ Suspirou. ─ Acho que eu daria tudo para ter mais uma valsa cafona com ela.

Na sala principal da Ordem, houve mais um brinde. A música natalina bruxa aumentou e os sons de passos ficaram mais recorrentes. Já tinha passado da meia-noite, então deveria ter começado as trocas de presentes. Às vezes uma sombra ou duas aparecia por debaixo do vão da porta, deixando a suspeita no ar de que estavam curiosos sobre o sumiço dos dois membros. Nem Moody se atreveria a abrir a cozinha, no entanto.

Sirius virou o resto da bebida de uma só vez antes de se levantar, torcendo o nariz com a sensação do álcool descendo. Ignorou o olhar interrogativo de Dorcas quando pegou a varinha. Rodopiou ela no ar em direção à mesa, transformando a garrafa vazia num rádio musical mágico.

─ Que isso...?

─ Um rádio. ─ Sirius respondeu com um meio sorriso, vendo Dorcas revirar os olhos. ─ É para ouvir essas músicas meio bregas.

Mirando de novo a varinha no rádio, um som harmonioso preencheu a cozinha outrora morta. Era uma música leve, bonita, mas igualmente cafona. Um ideal para danças clássicas e de salão. E, a passos sutis, Sirius se aproximou de Dorcas e ergueu a mão para ela.

─ Madame?

─ Sirius, o que...

─ Eu posso não ser a Marlene, Dorcas, e nem ter os decotes memoráveis dela, mas sou um pouco mais bonito e meu sorriso é igualmente encantador. Se você não pode dançar com ela e nem pode suportar o Natal, podemos pelo menos honrar a memória dela. ─ Com um movimento carinhoso, Sirius segurou a mão da bruxa. ─ E como fazer isso da melhor forma senão no Natal e com uma dança ridícula?

Dorcas se demorou a reagir. Parecia mesmo surpresa com o convite repentino, nem sequer  percebendo as brincadeiras ‘ofensivas’. Quando sentiu a mão ser pressionada, se viu se levantando e se deixando ser envolvida pelos braços de Sirius. Com a mesma maestria de Marlene, ele começou a conduzi-la. Um passo para lá e dois para cá.

Um passo para lá e dois para cá.

Um passo para lá e dois para cá.

No meio da música, Sirius rodopiou lentamente Dorcas como Marlene fazia, então recomeçou os passos, ambos se movimentando para lá e para cá pela cozinha. Em algum momento, Dorcas se rendeu à sensação nostálgica e ao mesmo tempo desigual, deitando a cabeça no ombro dele. Se Sirius não estivesse cheio de agasalhados por conta do frio de dezembro, teria sentido as lágrimas se espalhando por sua pele. Os soluços vieram à medida que a sinfonia trazia todas as boas lembranças novamente.

Para o além, Marlene abriu um sorriso terno.

Sirius beijou o topo da cabeça de Dorcas e deixou que ela chorasse durante a música. Também deixou quando veio a segunda e a quarta.

De repente não importava mais se a Ordem comemorava o Natal ou não. A cada brinde forçado, a cada sorriso triste e a cada riso fraco, Dorcas se afundava mais e mais nas memórias de Marlene. Estava na hora de aceitar que nunca mais teriam danças e promessas juntas novamente. E Merlin, se sentiu tão grata por ter Sirius ali.

Dançaram a noite inteira até as solas dos pés pedirem por socorro. Com agradecimentos saltando a cada segundo de sua boca, Dorcas se despediu de Sirius ao fim da madrugada e foram dormir.

Enquanto Sirius se aconchegava com Remus, Dorcas sonhou com Marlene. Sonhou a semana inteira e todos os dias anteriores à sua morte. Um mês depois, quando definhou sob o feitiço do próprio Lorde das Trevas, o apagão da morte pareceu durar um mísero segundo.

Enquanto a Ordem lamentava o seu assassinato, Dorcas pôde reencontrar Marlene. Sua antiga namorada a esperava. Juntas, ambas seguiram para a luz, prontas para continuarem suas promessas.

E finalmente puderam valsar uma vez mais.


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Notas finais do capítulo

E aí, gostaram? :D

Gente, juro que só percebi a leve semelhança com a cena da Hermione e do Harry no meio da one. OPDSAKDASPOKDASPODASKPODA Eu vejo muito a Marlene como aquela pessoinha cafona e animada, que vive puxando geral pra dançar, especialmente a Dorcas. Então veio a ideia, mas... É, lembrou Harry e Hermione. OIDSAJODASJDOASDJAS Mas espero que tenha passado a essência da Dorcas e do Sirius mesmo assim. ♥

Eu revisei uma duas vezes, mas erros sempre passam. Caso achem algum, me corrijam, por favor. ♥

Fique à vontade para deixar sua opinião caso queira. Obrigada por ler até aqui. ♥

'Té a próxima. E ah! Feliz Natal! :D

Beijos no rabetão ~ ♥



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