Espírito Natalino?

Já tive.

Quando eu era criança, não via a hora de chegar o natal… a família toda junta em harmonia e alegria.

Ansiosa para ver os presentes e degustar as guloseimas.

Contente por poder brincar até cansar com os muitos primos que eu tinha por perto, correndo pela rua enquanto a melodia de natal tocava ao fundo repetidas e repetidas vezes.

Vovó se vestia de mamãe noel e dava pra cada um uma lembrança, podia ser a coisa mais simples do mundo, como uma caixinha de doces, mas era dado com amor e aquecia o coração.

Esperávamos ansiosos pela ceia, e pela virada do dia, dávamos abraços calorosos e mensagens de carinho e prosperidade.

Brincávamos de amigo secreto e nos divertíamos com cada descrição. E tinha dois, o de adulto e do de criança. Ninguém ficava triste com o que ganhava.

Os anos foram passando e cada vez menos pessoas compareciam, e se compareciam, o espírito não era o de antes, a alegria não era a de antes, e o carinho também não.

Até mesmo quando tentavam recuperar o natal que guardávamos na memória afetiva, fazendo outro amigo secreto, reunindo-se para a ceia, e fazendo vovô distribuir presentes… mesmo assim, estava frio…

Mas não aquele frio gostoso onde você vê neve lá fora, faz guerra de bolas de neve, monta bonecos, se aquece na lareira tomando chocolate quente… não… Frio de amor.

Mais anos se passaram e o natal virou um dia comum, como qualquer outro, sem significado…

Não sei mais o que é uma família reunida, foi cada um pra um lado, e pensar que… nada posso mudar.

Já chorei com as lembranças que não voltam, mas de novo… nada posso mudar.

Esse ano, estou sozinha. O som alto rodeia a minha casa, com as celebrações e fogos de todos os vizinhos. Gritos, risadas e cantoria… e no meu peito o vazio.

A animação passou longe de mim. Roupa pra ficar sentada na sala como dizem? Não precisei comprar.

E nem com os amigos eu quis passar. Convites foram feitos, mas todos recusei.

Espírito Natalino?

Já não tenho mais.