Luzes de Natal escrita por Izabell Hiddlesworth


Capítulo 1
Uma família


Notas iniciais do capítulo

Hey!

Eu estava muito, muito, muito desejosa de escrever algo com temática natalina. Então, surgiu a oportunidade de escrever para a menina Clarabólica e cá estamos nós. ♥
Se você for a Clara: Foi uma delícia escrever para você com esse ship. Usei uma planilha antiga de AS para descobrir mais sobre seus gostos, haha. Espero que você se divirta por aqui. ♥
Se você não for a Clara: É a minha segunda vez escrevendo Wolfstar. E embora eu ame muito (MUUUUUITO) esse ship, sempre fico com receio de escrever sobre os dois. Espero que eu possa te alegrar um pouquinho nesse fim de ano!

Boa leitura!



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 As luzes piscaram alegremente uma única vez, então se apagaram. Sirius ficou esperando que elas voltassem, mas isso não aconteceu. Ele forçou o cabeçote na tomada, retirou e o colocou de volta repetidas vezes, e nada. O pisca-pisca tinha morrido.

— Oh… — suspirou, encarando o fio branco, desolado. — Eu deveria ter testado antes de colocar a corrente inteira no lugar.

 Ele passou os olhos pelo pisca-pisca no guarda-corpo do mezanino. Tivera um trabalhão para ajeitá-lo lá, e agora teria de tirar tudo e trocar por outra corrente. Além disso, ainda precisava arrumar as bolas no cordão do corrimão da escada, as meias no aparador da lareira – uma mais torta do que a outra – e os presentes sob a árvore de novo.

 Era a primeira vez que armava decorações de Natal. Porém, em suas doces expectativas, esperava se sair muito melhor. Afinal, tinha assegurado a Remus e a si mesmo que seria um bom garoto e faria um bom trabalho.

— Se fosse o Remus, teria dado certo — murmurou mal-humorado, finalmente desistindo e tirando o cabeçote da tomada.

— Não é sua culpa que as luzes tenham queimado — disse Remus, surgindo na sala lá embaixo.

— Mas é minha culpa que todo o resto esteja uma droga.

 Remus revirou os olhos e subiu a escada. Havia um sorriso gentil em seu rosto, o tipo de sorriso que fazia Sirius se sentir um adorável caso perdido. Ele ergueu uma sacola de papel, de onde puxou uma caixa de pisca-pisca.

— Eu me lembro de ter deixado um recado dizendo “Não usar essa: está queimada” — disse, indicando as pequenas luzes com a cabeça e estreitando os olhos. Ele chegou mais perto e pôs a caixa no guarda-corpo. — Por isso fui comprar uma corrente nova.

— Eu sou particularmente bom em ignorar os avisos de “não faça isso”, sabe? — Sirius fez graça, sorrindo de lado. — Mas acho que realmente não tenho jeito para essas coisas. Talvez o Natal não goste de mim.

 Ele pretendia soar engraçado, mas sua própria fala fez algo em seu âmago se apertar. Então, sorrateira, uma lembrança venenosa esgueirou-se para o foco de sua mente, evocando arrepios gélidos por sua pele – mesmo que estivesse vestindo seu suéter de Natal favorito.

 Pessoas como você não têm família! Pessoas como você devem ficar sozinhas!

 Ele se encolheu, recuando um passo.

— Padfoot? — Remus tocou seu braço suavemente. Estava com o rosto corado do tempo lá fora. — Tudo bem?

 Os lábios de Sirius tremeram. Mesmo depois de cinco anos, a memória daquela noite terrível ainda o assombrava. Estava entranhada em sua pele, literalmente. Sempre teria a queimadura no antebraço para se lembrar, não importava que tivesse feito uma tatuagem para cobri-la.

— Ei — Remus chamou. A mão subiu exatamente para o lugar de sua queimadura, escondida sob a manga do suéter. Ele parecia saber exatamente por onde seus pensamento estavam rondando. — Nós vamos trocar a corrente queimada pela nova, ok? Não tem problema.

 Sirius ergueu os olhos para ele, sentindo um bolo se formando na garganta.

— Desculpe... Eu não queria estragar nosso primeiro Natal como uma família.

 Remus inclinou a cabeça para o lado, um tanto confuso. Devagar, despiu-se das luvas de lã e tomou o rosto de Sirius entre as mãos calejadas.

— Você não está estragando nada, entendeu? Só não tem muito jeito para essas coisas… ainda! — Ele beijou sua fronte, enquanto os polegares acariciavam-lhe o rosto. — Mas nós vamos aprender o nosso próprio jeito. Porque somos uma família agora.

 Pessoas como você..!

— Sim, uma família — disse Sirius, derretido, pondo as mãos sobre as dele.

 Já fazia quatro meses que haviam encontrado a casa dos sonhos, num bairro calmo, decente e acolhedor. Quatro meses num novo lar, com a família que tinham escolhido. Em algumas manhãs, quando Sirius era o primeiro a despertar – invariavelmente por causa de um pesadelo – e encontrava o namorado ainda ressonando baixinho, ele custava a acreditar que a vida pudesse ser tão boa, tão feliz.

 Suas experiências familiares na casa dos pais gritavam o mais completo contrário.

— Nós vamos ajeitar isso e começar a preparar o jantar. — Remus encostou o nariz gelado em seu rosto.

 Os dois ficaram em silêncio por alguns instantes, respirando juntos. Então, beijaram-se com calma e ternura. Porém, apartaram-se quando o cotovelo de Sirius esbarrou na caixa de pisca-pisca e a fez balançar perigosamente.

— Ok, hora de trabalhar — Remus declarou, dando-lhe um último beijo na bochecha ligeiramente barbada. — Temos que terminar tudo antes de os Potter e os outros chegarem.

— Sim, senhor. — Sirius soprou um suspiro teatral, roubando-lhe um beijo em seguida. — Vou ser um bom garoto e fazer a minha parte.

 E durante o resto da manhã e pela maior parte da tarde, Sirius realmente esforçou-se para fazer a sua parte. Empilhou os últimos presentes sob a árvore, cortou os legumes para o jantar, escolheu o vinho, terminou de decorar o espaço aberto nos fundos da casa. Estava se saindo bem, até que Remus pediu que preparasse a lareira.

 Ainda estava tudo bem enquanto ele apanhava o saco de carvão e o feixe de lenha. E tudo continuou bem quando começou a preparar a cama de carvão.

 Mas, então, depois que a grelha de jornais e lenha ficou pronta e Sirius riscou um fósforo, sua mente anuviou-se. A sala aconchegante e bem iluminada desapareceu, dando lugar a uma de paredes acarpetadas e móveis pesados. Ele fechou os olhos depressa, tentando se proteger. Porém, cada pequeno detalhe da lembrança estava enterrado em suas veias.

 Era uma véspera de Natal, um jantar em família com todos os Black. Sirius acabara de deixar escapar que estava saindo com um rapaz – com Remus Lupin – há anos, e que ser gay não era uma fase. Foi o que bastou para fazer a música na vitrola parar e a casa ficar em silêncio.

 A mãe surgiu com os olhos faiscando em sua direção. O dedo em riste, a boca cuspindo ódio. Espalhados pela sala, esgueirando-se da mesa do jantar, os outros parentes assistiam àquela performance em silêncio. Mas no fundo, Sirius apostava que estavam lhe gritando o mesmo.

 “Um filho meu, um Black, não pode ser uma bicha. Eu não tenho filhos bichas! Entendeu, Sirius?!”. A árvore de Natal parecia balançar com o timbre da voz dela. “Você não é mais meu filho, não é! Pessoas como você não têm família!”

 O gosto amargo de bile subiu à boca de Sirius. Na lembrança, ele ergueu a voz e esbravejou que deixaria aquela casa. Então, sem hesitar, a mãe apanhou a pá da lareira e lhe atirou um carvão em brasa.

 Por reflexo, Sirius inclinou-se para trás e caiu sentado no assoalho na sala. Uma mão voou direto para o lugar da queimadura. Teve a ligeira impressão de que a pele sob o suéter estava quente, como se o carvão tivesse acabado de acertá-lo. “Pessoas como você deveriam morrer!

— Ahh! — ele berrou, os olhos vidrados no fogo que nascia na lareira.

— Sirius?!

 Os dedos enrolaram-se firmemente ao redor de seu braço. E Sirius só percebeu que tremia quando Remus jogou-se às suas costas e pôs os braços ao seu redor.

— Shh, está tudo bem. Eu estou aqui — disse baixinho, numa voz que era um misto de leite e mel. — Estou aqui, Padfoot.

 Sirius choramingou e sentiu-se patético. Estava em cacos, mais uma vez, e ia enroscar-se na lã do pulôver de Remus, cortá-lo mesmo sem querer.

— Vem, não é bom ficar tão perto do fogo.

 Remus o aninhou no meio de suas pernas, devagar. Sirius permaneceu estático, envergonhado por fraquejar mais uma vez. Mas o namorado deitou beijos delgados sobre seu cabelo e ombros, e o apertou com toda a gentileza do mundo.

— Quer falar sobre?

 A pergunta flutuou no ar por alguns instantes. A grelha na lareira começava a tostar, e Sirius forçou-se a calcular quanto tempo até que fosse necessário buscar mais lenha no galpão.

— Não sei… — suspirou, arrefecendo o corpo contra o de Remus. — Não quero te aborrecer falando do mesmo problema pela milésima vez… Ainda mais hoje, quando você —

— Eu estou aqui para ouvir se você quiser me contar — Remus o interrompeu. Tranquilo, ele fez uma festa suave em seus cabelos. — Sempre vou estar. E se não quiser falar nada, vou continuar aqui.

 Sirius engoliu em seco e respirou fundo.

— Estava só pensando… na minha antiga família…

— Ah…

 Ficaram algum tempo em silêncio. Remus conhecia bem a história. Naquela noite, logo depois de Sirius ter arrumado duas malas às pressas – tudo o que sua Harley podia aguentar – e saído de casa, ele fora encontrá-lo na casa dos Potter. Lily cuidara da queimadura, mesmo com Sirius repetindo que estava bem. Depois, quando a madrugada já estava virando dia e todos tinham se deitado, Remus o viu e o ouviu se desmanchar em seus braços. E não pôde deixar de pensar que se não fosse por ele, os Black ainda teriam o filho.

— Eu sou sua família agora. — Remus o fez se virar para que pudesse encará-lo. — Eu, meus pais, James, Lily, Molly, Arthur, Tonks… Nós somos sua família e te amamos muito, Sirius. — Beijou-o no topo da cabeça. — Sua mãe estava terrivelmente errada. Você tem uma família grande, amorosa e divertida. Bom, um pouco maluca também.

— Bastante maluca.

 Os dois riram, reverberando um para o peito do outro.

— Se você quiser, podemos cancelar o jantar. Não tem problema.

 Sirius arregalou os olhos.

— O quê? Não, não, não! — Ele derrubou o namorado no tapete, quase sem querer. — Você está planejando isso há semanas, por favor. Não quero ser um estraga-prazeres.

— Eu prefiro você a uma festa de Natal, Padfoot. — Remus sorriu, abraçando-o. — Sempre temos o ano que vem.

— Ah, Moony, o que eu faria sem você?

 Trocaram um beijo apaixonado e vagaroso. E na sala quente e decorada, Sirius supôs que nunca estivera tão seguro na vida.

 

 Quando ele pensou na quantidade de amigos que receberiam para a ceia, a casa ficou pequena. No entanto, uma vez que estavam todos acomodados, o espaço se mostrou ideal.

 Os pequenos Harry e Rony experimentavam as bolas nos galhos mais baixos da árvore, assistidos por Tonks e Molly. À mesa de jantar, Lily e Remus terminavam um cordão de pipocas, enquanto seus sogros os agraciavam com uma cantiga de Natal. Na cozinha, ele, James e Arthur preparavam as taças de vinho e a travessa com o cordeiro. E mesmo dentro da casa era possível ouvir as brincadeiras dos outros filhos Weasley lá fora, no quintal.

— Muito bem. Vou levar estas aqui para a mesa — Arthur anunciou, ajeitando uma bandeja de tortas de abóbora nas mãos.

— Moony fez um bom trabalho com a decoração — James comentou, gesticulando para a sala por sobre a bancada da cozinha.

— Bem, talvez você não acredite, Prongs, mas eu fui o responsável por essa parte da decoração. — James empertigou o peito com seu novo suéter, presente dos Weasley. — Queria Remus ser tão artístico e criativo quanto eu.

— Oh, queria mesmo. — Remus apareceu na cozinha com um sorriso irônico, segurando a tigela de pipocas. — Mas acho que ninguém nunca vai te superar, Padfoot.

 Ele aproximou-se devagar, quase brincando, e deitou um beijo no lóbulo da orelha de Sirius. Os dois riram cúmplices, ardorosos. O que arrancou um pigarro de James.

— Ugh. Vocês não podem esperar até a ceia terminar? — Ele revirou os olhos, rindo-se, e saiu para a sala com a panela de ensopado.

— E então, Moony? — Sirius ronronou, enlaçando a cintura do namorado. — Você pode esperar?

 Remus derreteu-se em meio a uma risada frouxa, agarrando a frente de seu suéter.

— Oh, Sirius, por favor. Nossos amigos estão aqui.

— Nossa família — ele corrigiu, beijando-lhe a ponte do nariz. — Nossa família está aqui.

— Feliz Natal, Sirius. — Remus o abraçou, enterrando o rosto na volta de seu pescoço.

— Feliz Natal, Remus.

 E estavam para se beijar quando Hope Lupin bateu uma palma aguda na sala.

— Ah, rapazes. Na frente das crianças?

— Arthur! Olhe só o que os seus filhos estão aprontando! — Molly gritou por cima dela, e todos apressaram-se para fora.

— Como eu disse, temos uma família bastante maluca. — Sirius gargalhou, puxando Remus para que também fossem ver a nova peripécia dos garotos Weasley.

 Havia uma sensação doce e calorosa no ar enquanto atravessavam a casa. Parecia a Sirius que uma lareira tinha se acendido em seu peito, e que estava inteiro, com tudo no lugar. E quando chegaram ao quintal, em meio aos amigos que riam e corriam sob as luzes de Natal, ele soube que realmente estava tudo bem.

— Obrigado, Remus. Eu amo você — sussurrou, deixando o namorado um tanto confuso.

 Pessoas como Sirius, afinal, tinham famílias. E a sua, ele arriscava a dizer, era a melhor que poderia ter naquela vida.


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Notas finais do capítulo

Wolfstar é o melhor ship de Harry Potter, gente. É isso.

Obrigada pela leitura! ♥

Lollallyn



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