Ben sentiu o impacto de seu corpo batendo contra o chão com força ao ser lançado por Palpatine. O ar lhe faltava e uma dor quase dilacerante tomava conta de si. Perdera os sentidos por alguns segundos, permanecendo estendido ao longo do chão gélido, completamente desnorteado. No entanto, tudo mudou ao sentir Rey afastando-se cada vez mais, como se sua presença estivesse se esvaindo aos poucos. Como se fosse deixá-lo a qualquer momento.

Desesperou-se com a mera possibilidade de perdê-la, e não estava disposto a aceitar aquele destino. Não quando haviam lutado tanto para que chegassem aonde estavam. Era inaceitável que ela o deixasse sozinho, fadado a viver em um mundo sem sua presença. Aquela sim seria a maior punição que Ben Solo poderia sofrer, totalmente cruel e impiedosa.

Com dificuldade, colocou-se de pé, conforme toda a estrutura ao seu redor desmoronava. O som estridente dos estilhaços batendo contra o chão invadia seus ouvidos e, por vez ou outra, alguns cascalhos ameaçavam cair em sua direção. Olhando ao seu redor, com todo aquele cenário desesperador e caótico, a urgência tomou conta de si, enquanto cambaleava em direção a ela, em passos desajeitados e dificultosos, tudo como uma consequência da bruta queda que experimentara anteriormente.

Ajoelhou-se no chão áspero e, com total cautela, envolveu Rey em seus braços, sem crer naquela visão, ainda que estivesse bem diante de seus olhos. Em um ato de desespero, ele a abraçou, como se fosse a sua única e última chance. Ben segurou-a com firmeza e, ao mesmo tempo, delicadeza, como se sua vida dependesse daquele único gesto. Um aperto tomou conta de seu coração, quase sufocando-o enquanto lutava contra as lágrimas da mais pura e genuína angústia.

Naquele exato segundo, como nunca, Ben Solo sentiu medo. Mais do que quando sentira a escuradão tomar conta do seu coração; mais do que quando se rebelara contra Luke ou do que quando decidira mudar de lado novamente. Na verdade, mais do que em qualquer momento de toda a sua vida. Estava mais assustado do que nunca, simplesmente porque não saberia lidar com o fato de perdê-la. Não era nem um pouco justo. Nem sequer era uma hipótese considerável.

Afastou a menina de si novamente, fitando a feição serena que tomava conta de seu rosto, mesmo sob aquela circunstância tão cruel. Inevitavelmente, sentiu os olhos encherem-se de lágrimas, resultado de toda a angústia e tristeza que o consumia, despedaçando-o aos poucos. Perdido em meio aos próprios pensamentos desorganizados, percebeu que ainda possuía uma chance. Uma única chance que não estava disposto a desperdiçar.

Repousou uma de suas mãos sobre o corpo da jedi e, concentrando-se e reunindo toda a força que tinha, pensou em como não suportaria perdê-la. Em como Rey merecia viver, mais do que ele mesmo. Em como estava disposto a ceder sua própria vida por ela, sem qualquer arrependimento. Então, pegou-se na pensando na única coisa que realmente importava naquele momento de aflição: Rey.

Com o corpo já fraco, sentiu o toque sutil e suave da mão dela sobre a sua, o que ocasionou um sorriso de alívio discreto, completamente involuntário. Apesar da fraqueza já tomando conta de si, o rapaz não pôde deixar de apreciar o tom de voz macio da jedi, chamando pelo seu nome, em um sussurro, com um sorriso delicado presente em seus lábios, parecendo verdadeiramente feliz, exatamente como ele mesmo se sentia. Por um mísero segundo, permitiu-se sentir como se fosse digno daquela felicidade, como se fosse merecedor de experimentar um sentimento tão puro e legítimo quanto o amor.

Sentiu o toque delicado dos dedos de Rey contra a pele frágil de seu rosto e, em seguida, os dedos movendo-se lentamente pela extensão de sua face, em uma carícia afetuosa. Então, de um momento para o outro, Ben sentiu os lábios macios de Rey contra os seus, em um beijo intenso, repleto de sentimentos nunca ditos, que agora o invadiam como uma verdadeira avalanche.

Ele sorriu, sincero, como não fazia há muito tempo. Na verdade, nem sequer se lembrava da última vez que sorrira daquela forma, livre de qualquer culpa ou arrependimento. Era exatamente aquele o efeito que Rey tinha sobre ele — fazer com que pudesse se sentir feliz, como se parte de sua vida tivesse valido a pena, mesmo quando não merecia qualquer espécie de amor ou afeto.

De repente, foi perdendo as forças, e era como se sua memória se dispersasse em vagas lembranças, que coletava como preciosidades. Naquele momento, sentindo-se cada vez mais distante, Ben agradeceu ao universo por ser tão generoso e conceder-lhe um último desejo. Por permitir que, mais uma vez, pudesse ver aquele sorriso encantador pelo qual se apaixonara, ainda que não merecesse. Além disso, sentiu-se grato pela oportunidade da despedida entre dois amantes de primeira viagem tão desafortunados. A última lembrança que teve foi o toque gentil da mão de Rey contra a sua, enquanto seu próprio corpo, lentamente, ia de encontro ao chão. E, apesar do final trágico, sentiu-se feliz, porque mesmo depois de todo aquele conflito, lá estava Rey, segurando a mão de Ben Solo, como ambos haviam desejado desde o início. Assim como estava destinado a ser.