Rios Fluem Até Você escrita por Hanna Martins


Capítulo 14
De volta à vida


Notas iniciais do capítulo

Hey, reylos! Vamos começar um novo arco neste capítulo, um que estou amando escrever ♥ Fiquei até ansiosa para começá-lo kkkkkkk



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O sangue. O sabre cor de sangue. A morte. 

Ele andava por um pântano, segurando um sabre grande e vermelho como o sangue das centenas de corpos, sem vida, caídos no chão. Uma chuva fria e constante caia, lavando o sangue de sua veste negra. O ar era tão denso que ele sentia que estava preste a ser esmagado.   

Acordou.  

Mal conseguia enviar ar para os pulmões. O coração batia tão rápido que parecia preste a explodir. Cada fibra de seu corpo, encharcado de suor, doía. Uma náusea se apossava de todo o seu ser.  

Ele levantou-se da cama. Retirou a camiseta empapada de suor, e a jogou no cesto de roupas sujas. A respiração ainda continuava descontrolada e o peito, apertado. 

O pesadelo fora tão real que o cheiro de sangue pairava no quarto, impregnado nos lençóis, em seu corpo.  

Ainda sentia na pele a toque da morte. A morte fria e vazia.  

Agora, ele estava vazio. Nenhum sentimento. E aquela sensação era demasiadamente dolorosa.  

Um corpo sem alma.  

 

******************************************** 

Rey observava os movimentos de Ben, que consertava um dos caças. Ele já errara três vezes o fio que deveria cortar. Eles se encontravam sozinhos na oficina. Morpheus havia saído mais cedo naquele dia.  

Os dois haviam assinado uma espécie de trégua silenciosa desde os eventos da última semana. Rey resolvera dar um espaço a ele. Aliás, sentia que ambos precisavam de um tempo.  

Agora, eles trabalhavam como colegas que não eram exatamente amigos, mas também não eram inimigos. Eram apenas companheiros de trabalho. Cada um fazia seu trabalho e ocasionalmente ajudavam um ao outro.  

— Precisa de ajuda? — perguntou ela, vendo-o lutar com o motor do caça.  

— Não... eu só me enganei... 

Rey voltou ao trabalho, mas continuou examinando-o com o canto dos olhos.  

— Eu terminei por aqui — anunciou ele, após mais tempo do que normalmente demoraria para consertar aquele veículo. Era um problema simples, com toda certeza, ele cuidaria daquilo com menos de meia hora, porém, gastara quase duas horas. — Quer que eu ajude você com esse caça? 

Antes que Rey respondesse, a voz de outra pessoa chegou aos ouvidos deles: 

— Vim pegar meu caça, já que na última semana não pude vir, minha agenda ficou muito cheia de repente — disse Poe, olhando para Rey. Certo, ela havia feito alguns ajustes (também conhecido como Rose) para que ele não aparecesse na oficina. — Mas, agora estou finalmente aqui! Então, onde está meu caça?  

— Está lá — contestou Rey, entredentes. — Pegue isso logo, está entulhando a nossa oficina. 

— Delicada como sempre, coração! — falou Poe.   

Ben olhou para os dois disfarçadamente, ela notou.  

— Eu bem que queria ter vindo antes, mas, minha agenda ficou muito cheia... — ele voltou a reclamar, olhando sugestivamente para Rey.   

— Você poderia ter mandado alguém para buscar. Você sempre faz isso —observou ela.  

Rey até cogitara em levar o caça de Poe para a base. No entanto, se fizesse aquilo só iria atrai-lo ainda mais para a oficina. Acreditou que se o mantivesse suficientemente ocupado, talvez ele esquecesse da sub-base de Lis. Poe não costumava manter sua atenção na mesma coisa por muito tempo. Ele se distraia fácil, como bem suas conquistas sabiam.  

— Ah, não, queria vir pessoalmente. 

— Claro — replicou ela, cheia de sarcasmo.  

— Já que estou aqui... Vocês já estão acabando o expediente, não é? — indagou, batendo nas mãos, excitado. Rey não gostou nada daquela animação. — Por que a gente não sai? — sugeriu, olhando para Ben. — Somos companheiros de equipe! Todo mundo aqui é parte da Resistência, e colegas saem juntos!  

— Não, obrigada, Poe — negou Rey, categoricamente, o convite suspeito.  

— O que acha, Yuri? Só nós dois, hein! Noite dos garotos! — falou Poe com a maior intimidade como se ele fosse o melhor amigo de Ben. — Uma noite inesquecível! 

— Eu... acho melhor não, fica para outro dia. 

— Ah, qual é, cara? Vai ser super divertido. Imagina, só nós dois lá — lançou uma piscadela para Ben —, só curtindo a noite. Você precisa sair! Precisa sentir a vida! Você é bonitão, jovem e saudável! É um crime ficar enfurnado em uma oficina. Você está precisando de diversão, amigão.  

— Poe, saí daqui agora — ordenou ela, pensando que era muita sorte de Dameron que seu sabre não estivesse ali. — Não dê ouvidos a Poe! Ele é um idiota! 

— Com licença, coração, esse é um assunto particular — rebateu. — Não escute ela, cara. Você precisa sair. Uma boa noite de diversão resolve muitos problemas. Eu sei disso, sou especialista nestes assuntos.  

— Poe!  

— O que acha? Conheço um lugar que você vai curtir demais — falou ele, jogando o seu charme persuasivo. — O que me diz? 

— Tudo bem — assentiu Ben. 

Os olhos de Rey vagaram de Poe para Ben sem compreender o que acabara de acontecer bem em sua frente.  

 

******************************************** 

O barulho, as luzes coloridas e irritantes. Yuri havia se arrependido de ter aceitado o convite do General no exato instante em que concordara. Nem ele mesmo sabia o motivo de ter aceito. De repente, virasse lá, pronunciando aquelas palavras. Talvez, o fato de que desejava irritar Rey — não sabia o motivo, mas vê-la com Poe, o deixara com vontade de perturbá-la —. Talvez, porque desejava sair daquela espécie de torpor em que se encontrava.  

A verdade é que passara o dia perdido em outra dimensão. Aquele pesadelo e a sensação que havia provocado continuava em sua pele, formigando, rastejando por seus ossos. A boca do seu estômago doía. A náusea não havia o abandonado o dia inteiro.  

Agora estava naquele lugar, sentado em uma mesa, entre Rey e Poe. O General estava muito animadinho, cantando canções, contrastando drasticamente com a figura da última Jedi que resmungava uma vez ou outra. Ela resolvera se juntar a eles também, não fazia a mínima ideia da razão da mudança tão súbita de opinião da garota.  

— Ânimo! — pediu Poe. — Isso aqui é uma festa. 

Rey lançou um olhar desdenhoso a Poe.  

 — Olha só aquela gatinha ali — falou ele, apontando para uma jovem que dançava no meio da pista. — Ela está totalmente na minha — afirmou, atirando uma piscadela para a moça.  

— Então, Poe, você disse que esse lugar era sensacional, não estou vendo nada disso — reclamou Rey.  

— Coração, você precisa sorrir mais! — afirmou o General. — E saber se divertir também. Eu sei que você veio de Jakku e aquele planeta só tem areia e nada de diversão, mas agora, chegou a hora de curtir a vida! Amigão, você veio de Jakku também, não é? — perguntou, passando os braços pelo ombro de Yuri de maneira casual, como se fosse o melhor amigo dele e não o cara que ele mal tinha visto duas vezes na vida. 

— É, sou — respondeu Yuri, um tanto desconfortável com toda aquela intimidade do General.  

— Minhas pobres crianças! O papai aqui precisa mostrar para vocês o que é diversão. 

— Poe! — resmungou Rey.  

O General ignorou a Jedi deliberadamente.  

— Tome aqui — falou, pegando uma bebida vermelha de um garçom que passava e a entregando para Yuri. — Você vai amar esse coquetel.  

Yuri olhou para a bebida espessa e vermelha... vermelha como o sabre que ele carregava nas mãos naquele pesadelo.  

Sentiu um calafrio.  

A dor. O vazio. A morte.  

O nada.  

Jogou aquela bebida amarga e espessa na garganta, que desceu queimando até o estômago. Porém, o vazio não foi preenchido. A bebida não o aqueceu. O frio se apossava de seu corpo.  

— Uau! — exclamou Poe, completamente surpreso. — Você bebeu isso de um gole só? Nem eu consigo fazer isso! Meus parabéns, amigão! Ganhou o meu respeito! Tá vendo, coração? Esse é um cara que sabe como se divertir, você precisa aprender com ele. 

Rey lançou a Yuri um olhar preocupado. Ele apenas deu de ombros como resposta.  

— Poe... — começou ela. 

— Olha só, o dever me chama — disse ele, se esquivando da Jedi. — Aquela gatinha ali tá muito na minha!  

O General saiu imediatamente da mesa em que eles estavam e sumiu na pista de dança. 

— Típico do Dameron — resmungou ela, olhando para a direção em que Poe desaparecera.  

Os olhos dela voltaram-se para ele. Aqueles olhos tinham algo... Eles continuavam a lhe chamar, havia promessas neles. Talvez... Desviou os olhos e também seus pensamentos de Rey.  

— Você está bem? — indagou ela.  

— Estou... por que eu não estaria? — respondeu, tentando parecer divertido.  

Ela suspirou, mexendo os dedos distraidamente na mesa.  

— Você está... diferente hoje... 

— Diferente?  

— Distraído... — respondeu ela, olhando-o furtivamente.  

— Não é nada — mentiu, sentindo a náusea ficar mais forte e a sensação de que havia um buraco no peito aumentar.  

O vazio e a sensação de que sua pele formigava estava o deixando louco. Parecia que nada era real, que estava preso em um pesadelo, em que não podia se mover ou sentir qualquer coisa, apenas assistir as coisas ocorrerem em sua frente.  

Havia se tornado um completo vazio.  

Ele levantou-se. 

— Aonde você vai? — perguntou ela. 

— No banheiro. Volto logo.  

Ele jogou a água fria na cara. Porém, isso não ajudou.  

Olhou no espelho, a figura de um rosto pálido retribui seu olhar. Ele parecia um fantasma. Talvez, fosse mesmo um fantasma. Um fantasma nada sentia.  

Não soube quanto tempo ficou no banheiro, olhando para a figura refletida no espelho, parecia que havia sido sugado para outra dimensão, caído em um buraco negro.  

— O que aconteceu com você? — perguntou Rey, que se encontrava perto da porta do banheiro.  

— O que você está fazendo aqui? 

— Fiquei preocupada, você ficou quase uma hora aí dentro! 

— Ah...  

— Vamos lá fora — disse. 

Ele a olhou, sem certeza do que deveria fazer.  

Alguém passou por perto e esbarrou em Rey. Ela se desequilibrou e segurou-se nos braços dele. Os olhos deles se encontraram. Os dois estavam tão próximos. O corpo dela era quente e suave e pela primeira vez no dia, havia sentindo algo bom.  

Rey começou a se afastar. Não. Ele não queria que ela se fosse. Antes que pudesse formular um pensamento coerente, passou o braço pela cintura dela, trazendo-a para mais perto. Os corpos de ambos se chocaram. Um calor começou a aquecer seu corpo, afastando-o do frio que o dominava. Envolvido pelo calor, ele a apertou mais em seus braços. Inclinou-se. 

Seus lábios encontraram os de Rey.  

O calor se espalhou por seu corpo. Já não estava mais no naquele lugar vazio, frio e escuro. 

Seu sangue fluía quente por suas veias novamente.  

Estava vivo. 


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Notas finais do capítulo

O que acharam? Ben/Yuri finalmente começou a se lembrar de algo, mas as coisas foram bem dolorosas para ele. O que acontecerá quando ele descobrir que aquilo não se trata de apena um pesadelo?



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