E então é N-atal! escrita por Meizo


Capítulo 1
Uma festa Kristan


Notas iniciais do capítulo

Postando aqui morrendo de sono antes que me falte coragem de postar essa história iudsaiuhd



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/785046/chapter/1

 

Havia muito azul na decoração, luzes brilhavam por todos os lados nas cores do céu de Ynhar, comes e bebes estavam dispostos à vontade, e a música Tronesa soava sutil pelo ambiente. O evento organizado no Grande Salão da nave era em homenagem ao próximo ponto turístico que iriam visitar: a Terra. Não havia um único ser a bordo do cruzeiro espacial 00Σ65 que não estivesse animado com a visita. Já tinham ouvido muitos boatos e lendas a respeito do pequeno planeta localizado nas margens do universo, mas nenhuma informação muito concreta. Por isso quando a Guia da noite, uma importante pesquisadora especializada na cultura humana, apareceu diante o palquinho montado, as pessoas começaram a se dirigir rapidamente em sua direção.

A Guia apertou o botão de um controle remoto que tinha em mãos e a cobertura metálica da imensa janela do salão começou a se erguer. Logo todos podiam visualizar o pequeno planeta azulado através do vidro resistente e polido da janela.

— Bem-vindos ao principal ponto da nossa viagem! — começou ela, lançando um olhar para os rostos atentos de sua plateia. Muitos vestiam trajes finos e uma em especial chamou sua atenção. Era uma bela Xemm de olhos lilases e pele azul. A Guia respirou fundo e continuou. — Infelizmente não poderemos pousar nesse planeta, pois ele tem um longo histórico de ameaças a seres de outros mundos. Muitos anos atrás uma unidade da Tropa Estelar encontrou discos com estranhas mensagens dentro de uma cápsula e depois de muito estudo para decifrar seu conteúdo, os cientistas conseguiram traduzir algumas partes da mensagem. Resumindo a ideia, a mensagem dizia algo como: “Não entrem aqui.”

Achou melhor não mencionar que junto a esses discos informacionais também havia diversos discos com vídeos de humanos se acasalando de maneiras estranhas. O objetivo por trás do envio desses vídeos permanecia um mistério, mas para ela esse era o tipo de informação inútil e desprezível que não valia a pena mencionar. Sem falar que poderia causar incômodo em alguns passageiros de cultura mais recatada. Ou até mesmo vômito.

— Então não teremos como experimentar dos alimentos deles? — indagou um jovem biclopes, dando um passo adiante e balançando o corpo arredondado em revolta. Em todas as culturas que haviam passado ele experimentara avidamente seus pratos típicos.

— Para evitar um problema interplanetário, não aportaremos. Os humanos possuem uma política estrita de mandar para o exílio todos aqueles que consideram inadequados. Vocês devem lembrar do caso daquela criatura peluda que foi abandonada dentro de uma minúscula nave espacial e encontrada, com vida, pela princesa de Netuno. Alguns especialistas acreditam que a criatura faz parte de uma espécie chamada de “cachorrinha”. — acrescentou espertamente. — Enfim, não sabemos que tipo de práticas violentas eles teriam para estrangeiros como nós. Mas os comestíveis servidos na mesa três contêm alimentos similares aos dos humanos, baseados na informação de um dos discos que mencionei anteriormente. Sintam-se livres para experimentar.

Os olhares atentos e abismados da plateia eram um ótimo banquete para a Guia que almejava atenção. Tinha vontade de gargalhar, mas essa atitude não seria bem vista pelos seus superiores — que assistiam a tudo por meio de câmeras multifocais. Contendo-se, ela abaixou a cauda e manteve o sorriso amistoso enquanto alguns passageiros iam até a mesa buscar petiscos estranhos.

Mal podia acreditar que seu sonho estava finalmente se realizando! Tinha passado tanto tempo estudando e se esforçando para alcançar algum nível de destaque, e agora finalmente iria expor seus vastos conhecimentos ali. Bem, não eram o público que sempre almejou, mas era um grupo de indivíduos ricos que poderiam financiar suas pesquisas caso os interessasse o suficiente e isso era primordial.

— A Terra é um planeta de 4,5 bilhões de anos, repleto de água, — um trio da espécie sensível a água deu gemidinhos de pavor. — tem somente uma lua e possui uma população primitiva de longevidade breve. Os humanos tem um comportamento selvagem e cultuam uma estranha divindade chamada Kristo Nöel. Essa divindade, segundo a religião deles, passa o ano inteiro adormecida e desperta somente num único dia para reivindicar seus tributos. Esse dia é chamado de N-atal, e a barbárie nele é extrema...

— Ouvi falar que uma grande chacina acontece nessa data. — comentou alguém não muito importante.

Observando o nítido interesse nas expressões de seu público, a Guia decidiu investir mais no assunto. O show precisava continuar.

— Antes de explicar sobre o N-atal, é importante que saibam sobre a história de Kristo Nöel. Ele é encarnação da divindade que uma vez, como forma de punição, matou pessoalmente alguns criminosos com uma arma chamada “cruz”. Então, para garantir que os humanos se comportem segundo seus mandamentos, o Kristo Nöel desperta e visita todas as moradias do planeta numa única noite ao ano. Para os que se comportaram bem, ele avalia os tributos adocicados, deixa uma marca na entrada com suas garras e vai embora. Para aqueles que se comportaram mal, ele espalha carvão e incendeia suas casas. Mas antes de incendiar de fato, ele tem o hábito de castigar os humanos com a cruz. Suas roupas são vermelhas por esse motivo, para ocultar as manchas de sangue provenientes da tortura. Quando termina, ele parte para a moradia seguinte murmurando um “ho ho ho” que, como todos devem saber, na linguagem Sbinen significa: Sangue, sangue, sangue.

Um coro de sons exclamativos saiu da plateia. Um componente do trio hidrofóbico desmaiou.

— Que povo bárbaro! São terríveis com os de sua própria espécie! — indignou-se o emissário de alguma madame.

A Guia assentiu, fingindo uma contida consternação.

— Sim. E devido as características violentas e dominantes do Kristo Nöel, supõe-se que ele seja na verdade da raça Sbin e que os humanos o cultuem erroneamente. Ainda não se tem muitas teorias de como ele teria ido parar na Terra, mas em breve se espera que mais detalhes sejam descobertos.

— Pobres coitados! E ninguém irá salvá-los desse Sbin?

A Guia negou com a cabeça.

— Isso não é necessário. Os humanos demonstram uma animação ímpar durante esse dia, indicando que gostam muito do dia do N-atal. O que os levam a gostar desse tipo de crueldade, permanece um mistério até os dias de hoje. — seu sorriso aumentou a medida que o horror voltava a tomar as expressões que tinha se tornado solidárias por um breve momento. — E sabem que dia, coincidentemente, é hoje?

— É N-atal! — gritou a cria de alguém.

Isso foi o estopim para a plateia iniciar uma onda de exclamações amedrontadas e de começarem a cogitar se era realmente seguro estarem tão perto da Terra numa data tenebrosa como aquela. E se o Kristo Nöel existisse de verdade e tivesse algum meio de encontrá-los e torturá-los com sua famigerada cruz? Alguns ali tinham sangue azul ou verde, mas provavelmente o Kristo Nöel não se importaria com esse detalhe quando estivesse massacrando-os aos montes.

Os funcionários da nave tentavam conter a histeria que passava gradualmente a ser coletiva, salvo alguns indivíduos que apenas observaram o alvoroço a distância.

Nesse meio tempo a Guia lançou um segundo olhar para a bela Xemm que sabia ter capturado a atenção desde o início da apresentação. A Xemm piscou um dos três olhos para a Guia e saiu rastejando sedutoramente para uma das saídas do local. A Guia a seguiu momentos depois, tendo o cuidado de camuflar-se para sua saída não ser percebida tão cedo. Seria célere no ato e logo mais voltaria para continuar sua palestra. Divertia-se só de imaginar a reação de sua plateia quando explicasse uma data terrestre ainda mais hostil que o N-atal: O Réveil-lon.

Se eles ficaram assustados com o Kristo Nöel, como então reagiriam quando soubessem da prática de exibir mensagens luminosas — ameaçadoras e preconceituosas para os estrangeiros planetários — por todo o céu da Terra no último dia do ano? Ainda não tinha descoberto a origem do também conhecido como Ano Novo e o porquê dos terrestres odiarem tanto os estrangeiros, mas certamente devia ser um motivo terrível e obscuro.

Ah, os humanos... Que espécie mais interessante eram eles!

A Guia riu e entrou no cômodo onde a Xemm lhe esperava já sem vestes.

The End.

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

A ideia tinha ficado mais legal na minha mente, mas a gente tenta né :v VEM N-ATAL!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "E então é N-atal!" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.