Nosso Último Ano escrita por Sirena


Capítulo 7
Capítulo 7




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Já haviam acabado de comer fazia tempo, a noite começava a cair lentamente em Auradon. Mas, o belo par continuava sentado a mesa do pátio. As pernas de Gil estavam no colo de Jay.

O loiro puxava Jay para ainda mais perto pela camisa e Jay apertava o quadril do garoto. Deviam estar ali a tanto, tanto tempo, mas, quem é que se importava? Eram só dois garotos se beijando numa mesa, debaixo de uma árvore. Enquanto ficassem só nos beijos ninguém ligaria.

— Você não faz ideia de a quanto tempo eu queria fazer isso. – comentou de repente entre um beijo e outro.

— Desde antes ou depois de quebrarem a barreira?

— Quando quebraram e a gente dançou junto... – Jay passou a mão pelo cabelo comprido antes de continuar. — Eu tava me segurando tanto pra não te agarrar na frente de todo mundo...

Gil não pode conter uma risada.

— Achou graça, é? – perguntou dando um puxão leve nos cabelos claros dele.

— Não, é só que... Eu quero te beijar tem muito mais tempo que isso.

— Hum, é? Quanto tempo mais ou menos?

Gil franziu os lábios pensando. — Quando Harry e eu saímos da barreira, eu vi que podia ter uma chance de me aproximar de você, mas... Acho que sempre, ou... Sei lá. Eu sempre prestei atenção em você. Você é... Charmoso e andava pelos corredores todo confiante, flertando com qualquer garota que passasse... Era meio irresistível, sabe?

— Meio? Eu sou totalmente irresistível. – Jay deu risada, fazendo carinho nos cabelos dele. — E você é um doce e eu não sei como não reparei em você quando a gente tava em Dragon Hall.

— Realmente. - o loiro deu risada antes de beijá-lo de novo. — Além do mais, tirando você e Harry, não tinha muita gente pra eu prestar atenção na Ilha. Talvez o Anthony, mas... Ele era insuportável!

— E beijava mal. - Jay franziu os lábios enquanto falava, tentando se lembrar de quem mais achava atraente quando estava na Ilha.

— Você já beijou Anthony Tremaine? Eca!

— Todo mundo já beijou Anthony Tremaine! - Jay argumentou, cerrando os olhos.

— Eu nunca beijei ele!

— Ah, mas isso é porque ele nunca te deu uma chance!

— Que grosseria! - Gil resmungou, empurrando o moreno e revirando os olhos ao mesmo tempo. — E eu tive chance sim! Todo mundo já teve chance com o Tremaine!

 — Ah, também tinha a Ginny! Ela era bonita... Uma praga, mas era bonita.

Gil revirou os olhos. — Ela roubou meu chapéu pirata quando era criança. Harry nunca quis me dar outro quando soube que perdi pra uma Gothel.

—... Gil, Ginny era uma péssima ladra.

— Eu sou ruim cuidando das minhas coisas! - ele resmungou cruzando os braços. Jay deu risada voltando a beijá-lo. — E a Ginny não era bonita!

— Claro que não... - Jay revirou os olhos atacando o pescoço do garoto com beijos e mordidas. — Você beija melhor do que ela!

— Você é podre! E pensar que eu achei ruim quando você saiu da Ilha!

— Ah, você achou? - o moreno fez bico, se achando. Bom, mais do que já se achava normalmente.

Gil não falou nada, apenas desviou o olhar, parecendo sem graça e escondeu o rosto no ombro do garoto que simplesmente dava risada de sua reação.

— Vamos sair amanhã? – Jay perguntou se afastando devagar.

O loiro não respondeu, amanhã teria aula de biologia com Uma. Podia conseguir escapar das aulas da Mal, mas... Fugir da Uma era mais difícil, afinal, ela era sua capitã. Um bom pirata não fugia de seus superiores.

— O que você fica fazendo todos os dias afinal? – Jay suspirou, chateado, percebendo que ele iria negar.

Passando as mãos pelos cabelos loiros, Gil engoliu em seco e desviou o olhar, pensando.

— Tenho que fazer uma coisa amanhã... Compromisso com a Uma. Ela... Se eu furasse, ela provavelmente me jogaria para nadar com tubarões ou crocodilos, ou tubarões e crocodilos.

Jay suspirou novamente, dessa vez em sinal de rendição.

— É, com a Uma não se brinca.

— E se a gente sair na sexta? Ou você tem algum outro jogo?

— Pode ser. - deu de ombros. — Já que você gosta de flores, dessa vez vou te levar na estufa real. Você vai adorar!

— É mais vazio que o shopping?

— Bem mais vazio! – Jay observou a expressão de Gil e entendeu. — Você não gosta de lugares cheios, não é? Por isso ficou tanto tempo calado quando a gente saiu.

— Lugares cheios de estranhos me deixam nervoso. Cheios de gente conhecida é okay. Estranhos... Não. Na Ilha todo mundo conhecia todo mundo e aqui... Sei lá. É tão esquisito! – Gil admitiu desviando os olhos e começando a prestar atenção no céu. — Estrelas são bonitas.

Jay olhou para cima, surpreso com a mudança de assunto, mas resolveu que era melhor aceitá-la. Esse tipo de coisa parecia uma mudança típica de Gil e ele achava que o garoto não queria continuar sua explicação sobre porque sair pra lugares com gente de Auradon era estranho e nem precisava, conseguia supor sozinho.

Na Ilha, ninguém olhava de cima, tinha que estar atento por onde andava pra não cair em nenhuma vala e em quem passava perto pra não perder nada do que carregava, os olhares estavam sempre ou no chão ou no mesmo nível. Mesmo Mal, que costumava olhar de cima sendo filha de Malévola, sabia manter os olhos no chão e encarar nos olhos quando era necessário.

Já em Auradon, todos pareciam meio nariz em pé, como se dissessem "é, estamos bem acima de vocês, lidem com isso." Sabia que não era de propósito, mas, era fácil se sentir deslocado no começo.

— São sim.

— Tem tantas, como as pessoas sabem qual é a segunda à direita?

O moreno achou graça da pergunta, mas puxou o queixo de Gil e apontou na direção certa.

— Porque é aquela.

— Ah.

A primeira e segunda estrela direita pareciam maiores em comparação as outras, além de serem extremamente mais brilhantes e estarem estranhamente isoladas, como duas moedas de prata num lago. Eram inconfundíveis no mar do céu noturno. Lindas.

— Tem que ser inigualáveis. – Jay explicou, enquanto Gil continuava a olhar admirado e boquiaberto para as estrelas acima. — Ou ninguém saberia o caminho para a Terra do Nunca.

— É por ela que se chega na Terra do Nunca?

— Você divide o quarto com o filho do capitão Gancho e não sabia disso?

— O Capitão nunca falou! A gente sabia que a segunda estrela era importante, só que ele nunca disse por quê. – Gil se defendeu rapidamente. — Mas, sempre repetia... Segunda estrela a direita e direto até o amanhecer.

— Esse é o endereço da Terra do Nunca. – o moreno sorriu passando um braço sobre os ombros de Gil. — Um dia, a gente vai lá. Explorar tudo que se tem para explorar e vamos nos divertir que nem loucos. Vai ser tão divertido! Claro que você vai antes com o Harry e a Uma, mas,  nem pense que eu não vou querer ir lá também!

— É, vai ser legal. – Gil concordou deitando a cabeça no ombro de Jay, mas não havia animação em sua voz.

Sempre que falavam da viagem, só o que lhe vinha a cabeça era seu boletim, tão vermelho que poderiam ter derramado sangue nele. Ele não queria se lembrar disso nem um pouco, não queria aquelas notas passando por sua cabeça de novo e de novo, tão sufocantes que poderiam enforcá-lo.

— Já deve ser hora de jantar. – falou por fim. — A gente devia entrar.

— Tá bem.

Nenhum dos dois se mexeu.

Mas, passados alguns instantes, Jay respirou fundo e se levantou se espreguiçando. Ele fez sinal com a cabeça para que Gil também se levantasse e o seguisse para o refeitório. Mas, como ocorreu mais cedo, o loiro o segurou.

— Que foi?

— Talvez... – ele hesitou, se sentindo tomar pela mesma necessidade de falar de mais cedo e fechou os olhos. — Talvez eu repita de ano. – murmurou.

Jay voltou a se sentar do seu lado, pousando as mãos sobre as dele.

— Como é?

— Eu... Não consigo acompanhar a matéria, tenho dificuldade em ler as questões e não consigo nem mesmo colar! Minhas notas tão horríveis, eu não sei se vou conseguir me formar... – ele puxou as mãos e cobriu os olhos, nervoso.— E... Não sei se vou conseguir ir viajar com você. Mas... Mas, eu to tentando, Jay! A Evie me fez um cronograma enorme de aulas extras e livros que tenho que ler e me passam uma prova todo final de semana... Eu to tentando de verdade aprender e conseguir, porque eu quero mesmo ir nessa viagem com você e... Se você não falar nada agora, eu juro que vou entrar em desespero porque...

Jay o beijou, interrompendo o monólogo desesperado do mais alto.

— Eu não ligo. – murmurou por fim, se afastando.

— Como é?

— Não ligo. – Jay sorriu. — Digo... Claro que eu quero que você se forme e, fico feliz que meus amigos estejam tentando te ajudar e se quiser eu também tento te ajudar. Mas, se você repetir, eu não ligo de adiar nossa viagem.

— Mas...

— Mas, o importante, é que você vai se formar e eu vou te dar todo o apoio que precisar para que isso aconteça. – Jay garantiu antes de dar um selinho no loiro. — Tá bom?

— Tá... Obrigado. – Gil piscou confuso, ainda processando a maneira com que Jay estava levando aquela notícia.

Na sua mente, o garoto surtaria e seria horrível, mas... Ele estava tão relaxado. Gil não tinha certeza se isso era bom ou se era ruim. Talvez ele já tivesse imaginado que Gil poderia repetir? Isso sim seria vergonhoso! Ou talvez fosse só mais algo típico de Jay. Não se estressar realmente com nada e levar tudo da maneira mais relaxada possível. Era tão o oposto da maneira de Gaston, da Úrsula ou do Capitão Gancho, ou dos outros piratas e bruxas do mar da Ilha...

Era bom, de uma forma estranha.

Igual sorvete. Sorvete era estranho, era doce e gelado, gostoso mas, dava dor de cabeça. Era bom, mas tão diferente de tudo que estava acostumado, que era simplesmente estranho.

— Vamos jantar agora?

Gil concordou.

 

No refeitório, seus amigos já estavam sentados, jantando e conversando.

Harry foi o primeiro a vê-los.

— Ora, ora, ora... Olha quem resolveu aparecer! – cumprimentou fazendo um floreio com o gancho.

— Fala, Harry. – Gil sorriu para o amigo.

— Estávamos começando a nos perguntar por onde é que vocês andavam, pombinhos.

Jay não pode conter um risinho debochado.

— Vou pegar o jantar. – disse por fim e deu um beijo na bochecha de Gil. — Trago o seu também.

O loiro sorriu se sentando no banco enquanto o companheiro saia. Seus amigos o fitaram de forma ao mesmo tempo alegre e questionadora, praticamente implorando por detalhes.

— A gente se beijou. – declarou por fim.

— Finalmente! – Uma gritou e riu, batendo palmas. Às vezes, ela fazia aquelas coisas que a faziam parecer meio infantil e um pouco fofa, Gil adorava quando ela deixava esse lado escapar, não era sempre que podiam ver a faceta mais dócil de sua capitã. — Já estava pensando que teria que embebedar os dois e trancar sozinhos num quarto.

— Ou desafiá-los para os sete minutos no paraíso. – Mal declarou. — Também seria eficiente.

Gil cobriu o rosto, corado.

Evie o felicitou com um tapinha nas costas e Carlos sorriu pra ele.

Jay voltou com duas bandejas igualmente cheias, uma para ele e outra para Gil, exatamente como havia dito.

— Você deve mesmo estar apaixonado, Jay. Nunca te vi pegar comida pra ninguém antes. – Carlos comentou.

Jay jogou uma batata assada nele, totalmente alheio ao sorriso que Gil deu ao seu lado.

— Bela pulseira, Uma. – Lonnie falou se sentando ao lado da capitã pirata.

Gil ergueu os olhos e engasgou vendo a pulseira de pedras turquesas no pulso da Uma.

— Me deixa ver! – pediu, fazendo bico.

Harry e Uma deram risada e ela lhe entregou a joia, afastando os cabelos azuis dos ombros.

Gil não deu atenção as pedrarias caras e raras, ou ao fio de ouro trançado que envolvia a joia ou mesmo a forma que refletiam a luz. Ao contrário, ele só deu atenção a pequena inscrição que tinha no lado de dentro.

Meu amor por você é tão profundo quanto as profundezas do oceano, minha rainha dos mares.— ele leu e se esticou para poder dar um tapa no braço de Harry. — Essa é a pulseira da sua mãe?

— Linda e perfeita, feita para uma mulher maravilhosa como minha mãe e agora, passado para uma rainha tão merecedora quanto.

— Argh, que meloso! – Gil resmungou, devolvendo a pulseira para Uma. — Então é oficial agora?

— É sim, você devia ter visto a reação dele quando o pedi! – ela riu batendo palmas novamente.

— Eu consigo imaginar! Ele largou o gancho e te pegou no colo?

— Como você sabia? – Uma riu.

— Harry Gancho é incrivelmente previsível. – o loiro riu, piscando para o amigo que apenas fez um gesto ameaçador com o gancho em sua direção, muito mais por reflexo do que por quaisquer outra coisa, Gil se inclinou para trás.

— E vocês dois? – Evie ergueu os olhos, apontando de Jay para Gil. — É oficial agora?

Jay franziu os lábios, pensando. Podia simplesmente jogar um pedaço de batata assada na amiga e mudar de assunto, não era algo que ele realmente precisasse responder, mas, olhando para o loiro pelo canto do olho, aquela questão pareceu ecoar nele.

 “É oficial?” Era uma pergunta tão simples, mas, percebeu que tinha que pensar um pouco sobre isso. Nunca gostou muito da ideia de namorar, corações vinham com muitas amarras e sempre foi um apreciador da liberdade, mas, com Gil tudo era tão simples, tão fácil, tão livre...

Tão diferente do que havia sido com Anthony, Ginny, Audrey, Jordan ou Lonnie... Tão melhor!

Então, respirando fundo, se virou sorrindo da forma mais sedutora que foi capaz para o garoto ao seu lado.

— Gil, quer namorar comigo?

O loiro abaixou o garfo cheio de macarrão e tentou limpar o molho envolta de sua boca, o rosto vermelho. Ele não estava esperando por uma pergunta dessas tão de repente, ainda mais vindo de Jay, que sempre lhe pareceu ser o tipo que foge da palavra namoro. Mesmo que tivessem passado a tarde inteira se beijando, aquela não era uma pergunta que estivesse esperando.

Harry revirou os olhos jogando um guardanapo para o amigo. — Nem ouse esconder o rosto na mesa de novo, já foi vergonhoso quando ele te chamou pra sair. - advertiu.

— Aham. - Uma concordou olhando com seriedade para Gil.

O loiro resmungou qualquer coisa para os dois antes de se virar para Jay, tentando parecer o menos envergonhado e o mais digno possível. Mas, ainda tinha um pouco de molho em seu queixo, então se o perguntassem, ele provavelmente diria que não estava agindo com tanta dignidade.

— Quero. - murmurou, resistindo bravamente ao impulso de esconder o rosto.

Jay sorriu e lhe deu um beijo rápido antes de se virar de volta pra Evie. — Então é oficial agora!

A garota de cabelo azul deu risada e revirou os olhos, enquanto Jay e Gil trocavam um sorriso cúmplice.


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