Girassol escrita por they call me hell


Capítulo 15
Manchete


Notas iniciais do capítulo

Emmeline é uma das personagens que conecta essa história à "Listen", minha drastoria. Se ainda não a conhece, dê uma chance. ♥



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— 15 —

 

No dia seguinte, acompanho Fred até o portão e vemos que os aurores continuam trabalhando. Ele beija minha testa e pergunta se realmente não quero acompanhá-lo, mas eu nego, então promete que voltará logo. Depois que ele aparata até a loja para pegar algumas roupas e avisar George de que me fará companhia por conta do ocorrido, uma moça que parece não ser muito mais nova do que eu se aproxima.

— Bom dia — diz, segurando um bloco de anotações e uma pena. — Meu nome é Emmeline e sou repórter do Profeta Diário. Poderia fazer algumas perguntas rápidas?

Detesto entrevistas, mas concordo. É apenas uma pessoa fazendo o seu trabalho em busca de uma oportunidade melhor e eu entendo isso muito bem.

— Claro, o que deseja?

Ela escreve algo que não consigo ler.

— Você conhecia a pessoa que morava aqui?

— Não — minto, não querendo atrair qualquer atenção para mim. — Me mudei há apenas alguns meses e sempre achei que a casa estivesse vazia.

— Certo — ela diz mais para si mesma do que para mim, fazendo mais anotações. Parece perceber que não tenho as informações que ela quer, então guarda o bloco e a pena na bolsa e sorri para mim. — A movimentação dos aurores é frequente por essa área?

— É a primeira vez em que os vejo no bairro desde que cheguei.

Ela curva os lábios em um sorriso gentil.

— Obrigada pelo seu tempo.

Quando dois Aurores saem pelo portão, ela corre até eles na expectativa de obter algo interessante. Depois deles surge Harry que ao fugir dela me vê e se aproxima.

— Ela está tentando me entrevistar desde as cinco — seus olhos rolam e eu rio. — Como você está?

— Mais tranquila. Fred passou a noite aqui e foi buscar algumas coisas, além de avisar George, deve voltar logo — respondo, me encostando no pequeno muro de pedra atrás de mim. — Você está péssimo.

Ele esfrega as mãos no rosto e só consigo imaginar como passou a noite.

— Eu daria cem galões por um café agora.

— Não precisa dizer duas vezes.

O deixo onde está e entro, indo até minha cozinha. Preparo um café e esquento alguns biscoitos no forno, e quando estão prontos os levo para fora. Harry, que foi finalmente pego pela jornalista, está visivelmente incomodado.

Ofereço café e biscoitos aos outros aurores. Ron está entre eles e me agradece, entrando para chamar os demais. Eles trazem copos descartáveis e sirvo café para todos. Quando é liberado, Harry se junta à nós mais aliviado. Até mesmo a jornalista prova meus biscoitos, agradecendo pela gentileza. Fred retorna bem a tempo de ver minha política da boa vizinhança.

— Harry parece um morto-vivo.

Eles acenam um para o outro de longe. Deixo a bandeja de biscoitos e a garrafa de café, e sigo com Fred para dentro da minha casa.

Para afastar a ansiedade que me consome, decido cozinhar e recruto Fred como meu ajudante. Ligo o som de fundo e coloco alguns ingredientes sobre a pia, decidindo que farei pães. É a segunda vez que os estou fazendo e devo confessar que a cada nova receita a paixão por cozinhar cresce um pouco mais dentro de mim.

Estou fracionando os ingredientes enquanto Fred procura uma forma retangular dentro do meu armário, quando uma coruja surge em minha janela.

— Está tudo bem? — Fred questiona, preocupado.

— É apenas Gina querendo saber se estamos bem.

Seu rosto expressa tranquilidade e ele esquece a forma por um momento para ficar ao meu lado.

— Diga a ela que estamos bem, vai evitar que fique mais preocupada.

Paro outra vez o que estou fazendo e olho para ele. Se estava lutando para não chorar, agora estou falhando miseravelmente e esfrego as costas das mãos no rosto.

— Vou fazer isso agora.

Fred me puxa para um abraço, beijando o topo da minha cabeça.

— Vai dar tudo certo. Harry disse que vão investigar até descobrir o que aconteceu.

— Eu sei, mas é assustador saber que seja lá o que aconteceu, foi ao lado da minha casa — minhas lágrimas aumentam e me sinto como uma criança, devolvendo o abraço. — Não me sinto mais tão segura agora.

Ele afasta o tronco para poder levantar meu queixo e me olhar nos olhos.

— Vai ficar tudo bem, Mione. Se te fizer sentir melhor, posso ficar aqui com você pelo tempo que precisar, você pode ficar com Gina ou com os seus pais também, se preferir.

Eu o beijo, mesmo que provavelmente exista farinha de trigo no meu rosto e eu esteja péssima depois de chorar. Ele retribui, apertando minha cintura, e eu fico feliz em ter seguido o conselho de Molly e Gina. É bom ter alguém em um momento como esse. Quando nos afastamos, ele tira o guardanapo que descansa no meu ombro e diz:

— Se vista, vou te levar para dar uma volta.

— Onde vamos?

— Você descobrirá quando chegarmos.

Sem saber se devo vestir algo formal ou informal, escolho uma calça jeans e camiseta preta, calço sandálias baixas e confortáveis para o caso de precisar caminhar, e apanho um casaco. Fred pega o gorro que está pendurado no meu cabideiro e o coloca na minha cabeça.

— Está linda.

— Você também não está nada mal.

Ele dá uma volta no próprio eixo, me fazendo rir. Seguro sua mão enquanto saímos para o lado de fora da minha casa e antes de irmos verifico se todas as portas e janelas estão fechadas, mesmo que Molly tenha me garantido que o feitiço que estou usando as mantém trancadas durante a minha ausência e não pode ser desfeito por nenhuma outra pessoa.

Fred não diz nada e me leva até o portão. Quando estamos do lado de fora apenas caminha comigo pela rua. Andar um pouco e sentir o ar fresco longe de casa me faz bem.

— George disse que se precisarmos podemos ficar no apartamento. É um gesto nobre da parte dele, mas sei que também serve de desculpa para passar uns dias na casa de Angelina.

Não consigo evitar o riso, vendo a sua expressão inconformada. Parecem dois adolescentes fazendo birra um para o outro.

— Vou considerar um gesto nobre, pois ele poderia ir de qualquer forma.

— Meu irmão não merece uma cunhada tão gentil.

Pensar que sou a cunhada de George, ainda que não oficialmente, é algo novo por mais que faça sentido e apesar de poder ser considerado um próximo passo dentro do que temos, não me sinto incomodada.

— Mas também posso ser maldosa se necessário, é claro.

— Essa é a minha garota.

 

Paramos em uma casa de chá muito bonita. Nunca entrei ali antes, mas Fred parece conhecer bem o lugar. Apesar de pequena é aconchegante e me sento em uma das mesas de madeira enquanto ele vai até o balcão. Quando volta depois de alguns minutos traz consigo pãezinhos doces, uma fatia de bolo de caldeirão e sapos de chocolate. Me lembro de quando comprava doces no carrinho do expresso de Hogwarts.

Comemos devagar, rindo vez ou outra.

— George e eu costumávamos tomar café da manhã aqui todos os dias. É uma pena que vá fechar em breve. A dona tem todos os anos do planeta e acho que acabou de perceber que já trabalhou o suficiente. Terei que encontrar outro lugar.

— Vamos encontrar, não se preocupe. Ou eu posso fazer o café para você.

— Eu não acharia isso nada ruim.

Fred me faz querer fazer mais e tê-lo comigo além do que eu poderia imaginar. Ainda que seja cedo para pensar nisso, consigo imaginar uma vida com ele e ela me parece agradável.

Quando deixamos a loja, ele me guia até Hogsmeade onde exploramos as lojas e fazemos compras. Aproveito para comprar alguns presentes para o natal que será na próxima semana.

— Qual desses é o meu? — ele questiona curioso, olhando as sacolas que tenho em mãos.

— Nenhum deles. Vou comprar o seu presente quando estiver sozinha, senão estrago a surpresa.

— Não ganho sequer uma dica?

— Não, nada de dicas.

Ele resmunga contrariado.

— Você realmente sabe ser maldosa.

— Eu te disse.

Passamos por algumas casas muito bonitas e penso se seria melhor me mudar. Por mais que goste de estar perto de Gina e da loja, não tenho me sentido mais tão confortável ali. Talvez isso passe depois de algum tempo.

 

Almoçamos em Hogsmeade e deixamos o lado bruxo da cidade para trás, assim posso mostrar para Fred alguns lugares de que gosto no lado trouxa. Levo ele para ver o rio Tâmisa, uma praça muito bonita perto da casa dos meus pais e o bairro boêmio da cidade, onde tomamos uma cerveja. Ele gosta, dizendo que devemos fazer isso de novo num outro dia. Voltamos de ônibus e ele escolhe um lugar no segundo andar para apreciarmos a vista.

Quando já é fim de tarde, voltamos abraçados pela rua e paramos na casa de Gina para ver como ela está.

— Harry chegou agora pouco — ela diz enquanto estamos no seu sofá. — Comeu algo, conversamos um pouco, tomou um banho e dormiu. Deve estar exausto, mas vai ficar feliz quando eu disser que se divertiram longe de casa hoje, vocês fizeram bem.

— Ele disse se descobriram algo?

Gina olha para o irmão por um tempo antes de responder, como se estivesse debatendo internamente se devia contar ou não.

— Harry disse que a análise dos corpos levará mais alguns dias, ainda não indentificaram nem as vítimas nem o responsável.

Isso me dá um arrepio.

— Ele está confiante de que descobrirão algo. Me disse que a equipe duplicou em número para agilizar as coisas.

— Tenho certeza de que estão fazendo o melhor que podem — digo, olhando para ela e o irmão.

 

Quando a deixamos descansar para voltar para casa, Fred pega minhas sacolas e me abraça outra vez para caminharmos as duas quadras que faltam. Há uma coruja bicando minha janela e ao entrar ofereço água para ela enquanto leio o pergaminho.

— Sua mãe está perguntando se estou bem, Gina deve ter comentado algo com ela.

— Ela se preocupa, você é da família — talvez para garantir que eu não interprete errado, acrescenta: — Sempre foi.

— Eu sei. Vou responder que está tudo bem e que você está me fazendo companhia.

Ele fica sem reação por um instante, mas então sorri. Isso não quer dizer muita coisa na prática, já que qualquer um dos meus amigos poderia estar me fazendo companhia, mas parece significar muito para ele, então sorrio de volta. 

Respondo o pergaminho e decido tomar um banho. Apanho meu pijama e minhas pantufas no quarto, ligo a tv para Fred e vou para a ducha. Com todos os acontecimentos dos últimos dias estou com a cabeça cheia, então acabo passando mais tempo embaixo da água do que o comum. Quando termino, seco meus cabelos com a toalha e os desembaraço, o que demora um pouco.

Já vestida, deixo o banheiro para encontrá-lo cozinhando macarrão com molho branco. O cheiro está maravilhoso e me aproximo para conferir, parando atrás dele e o abraçando.

— Você nunca me disse que sabia cozinhar.

— Você nunca perguntou — diz ele, tendo um ponto. — Mas não sei fazer muitas coisas, apenas o suficiente para não falir comprando comida pronta todos os dias.

Coloco os pratos e talheres na mesa de jantar, e decido abrir uma garrafa de vinho para acompanhar. Comemos pouco depois e sinto que já estou me acostumando em tê-lo ali. Gostaria de poder dizer isso sem soar boba ou desesperada, mas não consigo, então guardo para mim.

— Obrigada por me fazer companhia. As coisas devem estar corridas na loja e sei o quão importante ela é para você e para George.

— Gosto de estar com você, Hermione. E George vai sobreviver, está tudo bem.

— Eu também gosto de estar com você, Fred. É ótimo ter a sua companhia e conversar, cozinhar, ouvir música, esquecer do mundo lá fora. Queria poder fazer isso sem me preocupar.

— Não se preocupe hoje, já é um começo.

 

No domingo, perco o sono de madrugada e faço chá, deixando Fred no quarto. Enquanto a água ferve, vejo no relógio de parede que são quatro e meia, e me aproximo da janela para ver a rua lá fora. Há uma porção de luzes, pois os aurores estão intercalando duas equipes ao longo do dia. Vejo a movimentação de pessoas e torço para isso acabar logo.

Quando o chá está pronto, faço uma massa de bolo e o coloco para assar. Pego um livro e me sento no sofá, e depois de meia hora vejo o rosto sonolento de Fred surgindo pelo corredor.

— Perdi o sono — digo, assim ele não se preocuparia. — Fiz chá e estou terminando de assar um bolo.

Ele dá um sorriso torto, ainda meio adormecido e entra no banheiro para depois voltar a dormir.

Com o bolo pronto depois de alguns minutos, desligo o forno e deixo o livro de lado. O quarto ainda está escuro por conta da cortina e entro embaixo das cobertas para abraçar Fred. Ele dorme como uma criança, uma criança que ronca, e fico ali com meus olhos fechados esperando o dia clarear.

Quando abro os olhos, percebo que peguei no sono e que Fred está tomando banho. Esfrego os olhos e me pergunto quanto tempo se passou, então vou verificar o relógio e vejo que são oito horas. Há um pergaminho preso na janela e eu o pego, confirmando ser a resposta de Molly.

Fred deixa o banheiro e seca os cabelos, fazendo a água espirrar em mim. Dou risada, batendo de leve no seu ombro e ele finge que doeu.

— O que mamãe disse? — pergunta, vendo o pergaminho em minhas mãos.

— Que ao menos um dos seus filhos é um cavalheiro.

— Ela não disse isso.

Passo o pergaminho para ele que o lê e ri alto.

— Você poderia ter dito sobre a parte em que ela me agradeceu ao invés dessa.

— Poderia, mas achei mais engraçado.

Comemos bolo de chocolate e tomamos chá com leite no desjejum. Depois do café vamos até a loja para ver como estão as coisas e descobrimos que os dois novos funcionários estão indo muito bem, garantindo que George não passe sufoco. Ele diz que podemos avisá-lo se precisarmos de algo e eu agradeço.

Enquanto ele conversa com Fred, ando pelas prateleiras lendo os nomes e descrições dos produtos.

— Pode escolher o que quiser — Fred diz quando volta ao meu lado. — Ainda que eu não ache que esses são muito o seu tipo.

— Talvez eu queira zombar de alguém um dia desses.

Ele ri, não acreditando muito, e me guia pela mão até o lado de fora. Com tudo indo bem na loja, ficamos livres para aproveitar o dia e decidimos passar em uma loja próxima para escolher os ingredientes do almoço. O dia passa devagar e aproveitamos cada minuto dele. 

Construímos um boneco de neve no meu quintal e o apelidamos de Eustáquio, tirando uma foto dele com seu belíssimo cachecol. Fred me ajuda a colocar as luzes na sala, bem como as meias penduradas na lareira. Terminamos montando a árvore de natal perto do fim do dia e me sinto feliz, como se nada de ruim tivesse acontecido. O bom humor de Fred me contagia de um jeito tão intenso que não consigo pensar em Zach ou em Calliope.

 

Quando a segunda-feira chega, tomamos café juntos e Fred vai para a loja enquanto eu sigo para o Ministério. Sem ele ao meu lado fazendo suas piadas bobas e me encorajando ao segurar a minha mão, fico um pouco nervosa. Não passo na sala de Ron para tomar café, pois sei que ninguém estará ali e isso apenas colabora para a minha sensação crescente de desconforto.

Sigo diretamente para o DDM e me sento na minha cadeira esperando por Calliope e Lodge. Por mais que meu rosto esteja péssimo pelo final de semana tenso, fico feliz em vê-los.

— Vamos além hoje — ela diz, se sentando ao meu lado. — O primeiro teste foi muito bem, então não teremos maiores problemas.

Fico apreensiva ao ouvir isso. Sei que o primeiro teste acabou sendo positivo, mas isso também se deve, em parte, por não termos assumido grandes riscos. Se formos além, podemos acabar como o projeto de anos atrás e podemos ser vítimas fatais, ou pior, sermos enviada para Azkaban.

— Não acho que devemos fazer isso, não podemos garantir a segurança do teste se dobrarmos os valores.

Dizer isso em voz alta me faz sentir melhor, mas Calliope imediatamente se vira para mim e posso ver a fúria por detrás dos seus olhos. Ela não parece ser contrariada com frequência. 

— O que disse? — ela questiona, me fazendo engolir seco. Não sei dizer se ela realmente não ouviu ou se apenas quer ver se repetirei a frase.

— Eu acho que nós deveríamos... 

Ela olha para Lodge que se cala imediatamente. Acho isso absurdo e extremamente não profissional da parte de Calliope, então, sem pensar muito, deixo minha indignação transparecer.

— Eu imagino o quanto essa experiência possa ser importante para você, já que o seu pai, avô ou quem quer que seja foi o responsável pelo primeiro projeto e eu imagino que o acidente deva ter destruído a sua carreira, mas a sua honra familiar ou o seu desejo de ver até onde pode ir com sucesso não é o suficiente para que eu concorde em assumir o risco de um novo acidente como aquele. Não somos os únicos em risco no prédio, isso é irresponsável.

Sinto todos os olhos fixos em mim, mas não me abalo. Eu já encarei coisas muito piores do que bruxos engomados, então ergo meu rosto com orgulho. O queixo de Lodge cai e eu consigo ver o pânico nos seus olhos.

— Sua opinião deve ser muito importante para os seus amigos e a sua família, Granger — Calliope começa a dizer, dando a volta na mesa que nos separa. — Mas aqui você não é uma heroína, não nos importa o que você tenha feito. Você se acha tão esperta, mas levou dias para passar no teste apenas porque eu fui generosa e te dei outras chances por acreditar que você tinha potencial.

Isso fere meu ego mais do que eu gostaria de admitir. De repente, não me sinto mais confiante.

— Todos os seus colegas de departamento deram duro para estar onde estão, eles possuem formações acadêmicas brilhantes, teses publicadas, longa experiência, mas eu escolhi você para esse projeto, mesmo que você não tenha nada disso no seu currículo. 

Eu sei onde ela quer chegar e eu deveria ser mais grata pela oportunidade de realizar o sonho da minha vida, mas não consigo nesse momento. 

— Mesmo que ninguém tenha sido gravemente ferido no projeto original, ele foi banido por um motivo. Eu não posso fazer parte disso, desculpe.

Me levanto da minha cadeira e retiro o jaleco, o colocando sobre a mesa. Ao seu lado coloco meu cartão de identificação e o olho por alguns instantes, profundamente decepcionada comigo mesma. 

— Você tem certeza do que está fazendo, Granger?

Apenas balanço a cabeça em concordância, então levo comigo apenas a minha pasta e o girassol que decorava minha mesa. 

— Agradeço a oportunidade.

Lodge tenta se aproximar quando estou deixando a sala, mas me adianto até deixar o departamento rumo à área de aparatação e dou um sorriso, querendo dizer que está tudo bem, antes de partir.

 

Ao invés de passar na loja, vou direto para casa e depois de deixar o girassol na minha mesa de centro, me jogo na cama e choro.

Sei que o universo fez as coisas acontecerem dessa forma por uma razão e que este não é o fim da minha vida, mas a morte de um sonho é dolorosa. Eu deveria ter pensado melhor antes de agir, mas meu ímpeto por justiça era mais forte e eu não me ressentia por tê-lo colocado em primeiro lugar. O que eu achava correto valia mais do que uma vaga de emprego. Calliope que se explodisse com seu projeto que ia contra as regras do Ministério. Pensando melhor, me aliviava não fazer parte de algo que poderia destruir o mundo como o conhecemos.

Passo o resto da manhã jogada na cama e quando é hora do almoço, Fred grita do lado de fora da minha porta, provavelmente tendo sido avisado por Harry e Ron de que não apareci no refeitório do Ministério. Me levanto sem ânimo e abro a porta, vendo o seu olhar preocupado. Ele não briga comigo por não ter ido até a loja, apenas entra e me abraça em silêncio. Choro novamente com a cabeça em seu peito e ele permanece ali, acariciando meus cabelos.

Quando estou pronta para falar, conto tudo o que aconteceu.

— Você deveria denunciar esse projeto se é mesmo tão perigoso, sem alguém como você lá é impossível saber o que farão com isso. 

— Eles não vão chegar muito longe — digo, mais calma. — Há limites nas leis da magia que não podemos cruzar.

Eu poderia explicar para Fred como cheguei à essa conclusão depois de deixar o Ministério, mas decido deixar isso para um outro momento. Ele compreende e não insiste, conversando comigo sobre outras coisas na tentativa de me distrair.

Não quero mais pensar, então apenas o beijo e guardo minha mágoa no fundo do peito.


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Notas finais do capítulo

Doeu tirar a Hermione do Ministério? Doeu, mas a vida é assim às vezes. Sempre existirão outras coisas interessantes por aí.



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