POV RENEESME

Eu estava tonta, mas ainda não havia parado de correr. Sentia o vento no meu rosto e a sensação fazia o enjoo no meu estomago cessar um pouco. Eu não podia ir para casa então decidi apenas correr por um tempo, ou meus pés decidiram por mim. Senti o baque de uma pedra socando o meu tornozelo e eu cai. Continuei na mesma posição que havia ficado e rolei a cabeça no chão de folhas molhadas enquanto encarava o céu escurecer. Eu me sentia como uma marionete ou um fantoche, minha vida estava predestinada por causa daquele imprinting e todos ao meu redor sabiam, menos eu. Todas as pessoas que eu conhecia, que me viram crescer, nas quais eu confiava... a matilha, minha família, até vovô Charlie, Sue, Billy... minha vida já havia sido escrita por todos, menos por mim. Era como se eu não tivesse opção a não ser viver a vida que todos haviam planejado, menos eu. E eu nem sequer sabia de toda a história sobre a pessoa que eu achava que mais conhecia no mundo. Eu contei tudo pra Jake desde que nascera, confiava minha própria vida a ele, e nem sequer o conhecia. Eu conhecia o Jake que estava sempre do meu lado, me ouvindo falar sobre qualquer coisa idiota e me apoiando sempre, mas não conhecia o Jacob Black que amava minha mãe, não sabia quem ele havia sido, não sabia o que ele havia passado, por que ele decidiu esconder tudo de mim. Eu me sentia traída, me sentia estúpida por ter acreditado tanto em todos. Senti meu celular vibrar algumas vezes no meu bolso, mas não queria me mexer, as mensagens não paravam de chegar, mas eu só queria o silencio daquela noite. Então meu telefone tocou uma, duas, três... cinco vezes, até que eu decidi pega-lo. Haviam ligações de meus pais, minhas tias e de Jacob, mas agora quem ligava era vovô Carlisle.

— Nessie, querida, que bom que atendeu. – Ele estava aliviado, assim como eu, era fácil conversar com ele, muito mais do que com meus pais ou meus tios. – Jake ligou dizendo o seu estado e que você já havia deixado La Push a mais de uma hora. – Eu não tinha me dado conta do tempo.

— Sinto muito. – Suspirei. – Eu só precisava de um tempo sozinha.

— Claro, volte para casa quando estiver bem. Apenas tome cuidado, querida.

Olhei as mensagens no celular, haviam 10 de Jake que eu não queria ler então as ignorei, as próximas eram de meus pais, mas eu também não leria agora. As outras eram da minha amiga Charlie. Abri.

Nessie, vamos pra festa com a gente, poooor favor!!!

Preciso de você lá, acho que vou ficar com Arthur pela primeira vez...

Por favor!!!!!

Respondi antes que pudesse mudar de ideia.

Encontro vocês lá!

Era o que eu precisava, não ia mais deixar que alguém me controlasse ou decidisse as coisas por mim, ninguém mais poderia escrever a minha história. Convencer meus pais a me deixar ir foi fácil, eles não queriam me ver para baixo e qualquer coisa que distraísse minha cabeça seria de grande ajuda. Controlei ao máximo meus pensamentos, qualquer vacilo meu pai perceberia. Me arrumei¹ rapidamente, se passasse muito tempo ali ele provavelmente perceberia o caos que eu estava.

Quando cheguei, a casa de Connor já estava cheia, mas Charlie me esperava na porta. Seu vestido era muito mais comportado que o meu, mas a deixava ainda mais bonita. ²

— Nessie, graças a Deus você veio! Você está maravilhosa – Ela disse me abraçando e eu retribui o elogio. – Connor e Amber provavelmente estão se agarrando em um dos quartos e Landon não estava muito afim de vim sem você... não sei se ele soube que você mudou de ideia. – Charlie percebia que eu não retribuía Landon da forma que ele esperava, então ela disse a última parte com um pouco de pena na voz. – Eu não podia ficar sozinha com Arthur, estou morrendo de vergonha! – Ela exclamou enquanto entrávamos.

A casa estava lotada e consegui reconhecer alguns rostos, algumas meninas olhavam para o meu vestido e cochichavam algo que mesmo para os meus ouvidos era difícil distinguir com aquela música alta. – Elas estão morrendo de inveja. – Charlie falou no meu ouvindo e gargalhou.

— Dou o vestido e elas podem brigar por ele, se quiserem. – Eu disse fazendo Charlie rir ainda mais.

— Elas não estão com inveja só do vestido, Nessie! Todos os caras daqui estão te olhando. – Corei e dei de ombros. – Eles não fazem meu tipo.

— E qual é o seu tipo? – Ela perguntou rindo mais uma vez, o bom humor de Charlie podia ser contagiante, eu já estava me sentindo um pouco melhor. Dei de ombros de novo. – Não faço ideia! – Rimos juntas dessa vez.

— Tequila! – Charlie deu um gritinho quando a bandeja com copos cheios passou por nós. – Ela pegou um copinho e virou. O cheiro era extremamente forte e desagradável para os meus sentidos supersensíveis.

— Nessie, você precisa tomar! – Ela exclamou me passando um copo mas fiz uma careta. – Eu nunca tomei isso antes. – Isso pareceu incentivá-la ainda mais e ela insistiu mais uma vez. Fechei os olhos e virei o copo sentindo o líquido ardendo na minha garganta, o gosto era ainda pior que o cheiro. Mas então uma sensação boa invadiu o meu corpo, era quente, quase tão quente quanto... afastei o pensamento. Eu me sentia muito mais leve. Alcancei a bandeja antes que sumisse de minha vista e virei outro copo enquanto Charlie ria animada.

Quando Arthur finalmente apareceu eu já havia tomado outra dose e nós três estávamos dançando animados alguma música que eu não reconhecia. Nós riamos uns dos outros e tudo estava muito mais leve do que antes. Meus cabelos soltos agora pregavam nas minhas costas nuas por causa do suor, a tequila e a dança haviam sido combinação o suficiente para me deixar corada e quente. Estava animada e quase não percebi quando Arthur e Charlie saiam pela porta da frente de mãos dadas. Continuei dançando pelo que parecia horas até que senti alguém se aproximando por trás. Dei um salto e percebi que era apenas Connor. - Ah, oi Connor! Festa legal.  

— Que bom que veio, Nesssssie! – Ele estava claramente bêbado e se aproximava demais.

— Tá tudo bem? – Perguntei mesmo sendo evidente que não.

— Claro, estou ótimo! E você está uma gata. – Ele me olhava de cima a baixo e eu já estava ficando desconfortável com aquilo.

— Preciso ir procurar a Charlie. – Tentei sair, mas ele parou na minha frente. – Eu podia facilmente empurrá-lo, mas faria uma cena.

— Qual é, Nessie? Dança comigo e eu prometo que te deixo em paz. – Ele pediu fazendo cara de coitado, aquilo era ridículo. Tentei passar por ele, mas suas mãos me agarraram pela cintura. Eu havia bebido demais e meus reflexos impecáveis estavam agora afetados pelo álcool.

— Me solta agora! – Eu gritei, mas ele apenas riu enquanto descia uma das mãos para minha perna. Eu tentava calcular o tanto de força que deveria usar para quebrar seu nariz, mas não quebrar seu crânio quando alguém o atingiu pela lateral de seu rosto com um soco. Connor caiu cambaleando e todos pararam para olhar, olhei para o lado e me surpreendi ao ver Landon com ódio nos olhos encarando Connor. – Nunca mais encosta nela! – Ele gritava enquanto chutava suas costelas e então me encarou. – Nessie, Nessie meu Deus, você está bem? – Ele me envolveu num abraço e eu me desfiz em seus braços, só agora havia percebido o quanto estava abalada.

— Vamos sair daqui. – Ele disse me puxando para fora. Quando a brisa gelada me encontrou foi um alivio no meu corpo quente. Ele estendeu seu casaco para mim, para os humanos deveria estar muito mais frio, recusei sem me importar em fingir agora.

— Ele te machucou? – Landon estava muito preocupado me encarando enquanto sentávamos em um banco da varanda. Eu não podia dizer a ele que estava mal por outros motivos e que Connor era a menor de minhas preocupações, que eu provavelmente teria arrancado sua cabeça se ele não tivesse chegado a tempo. – Não, estou bem. – Ele passou os braços pelos meus ombros e eu instintivamente deitei a cabeça em seu corpo macio. – Eu queria ter vindo antes. – Ele suspirou fazendo carinho no meu cabelo agora embaraçado pelo suor e a dança. – Que bom que veio. – Disse com sinceridade, sem ele provavelmente haveria uma cena muito pior lá dentro.

Ele me abraçou ainda mais. – Você está muito linda. – Ele sussurrou no meu ouvido e abriu um enorme sorriso para mim. Corei e agradeci. Ele também estava bonito, usando um jeans escuro e uma camiseta azul escura que contrastava com a pele e combinava com os olhos. Mas olhando para sua beleza óbvia eu sentia que faltava algo. Desfiz o pensamento. Meu corpo ainda estava mole por causa da tequila e eu continuei escorada nele por um tempo enquanto o ouvia. – Nessie... eu gosto tanto de você. Sei que só saímos uma vez, mas você é diferente, eu sinto isso.

Fosse pela bebida ou por toda a raiva que eu sentia por Jacob, eu levantei meus olhos para Landon e o vi extremamente perto de mim. Dessa vez não fechei os olhos e apenas me aproximei dele com cuidado enquanto ele vinha empolgado em minha direção. Nossos lábios se encontraram com delicadeza, não era como beijar Jacob, era diferente, não tinha a mesma emoção, mas também não era ruim. Ouvi um uivo muito perto dali e me assustei separando nossos lábios e meus olhar foi de encontro com a floresta. Então eu vi, algo que nenhum olho humano ali seria capaz de ver com tantas limitações, vi a pelagem castanho-avermelhada e os olhos me encarando. Arfei. Olhei de novo e ele já havia ido embora. Senti um nó na garganta.

— Meu Deus, esse barulho foi um lobo? – Landon perguntou assustado e eu assenti. – Acho melhor irmos embora. – Pedi me levantando e ele me ajudou. Ele se ofereceu para me levar, mas eu precisava correr e sentir o vento no rosto para acordar daquele transe deixado pela bebida. – Meu pai vai me buscar. – Menti. – Preciso ir encontra-lo agora.

Antes que eu pudesse ir ele me abraçou forte e deu um beijo na minha bochecha. Agradeci mentalmente por ele não ter tentado me beijar de novo e fui andando em uma velocidade humanamente aceitável até está fora das vistas de todos e então corri de volta para a floresta onde havia visto Jake. Eu precisava falar com ele... parei. O que eu iria falar para ele? Não tinha nada para dizer. Me encostei em uma árvore e respirei fundo antes de voltar para a casa. Evitei a entrada principal e simplesmente pulei janela a dentro para o meu quarto enquanto pensava “Cheguei, vou dormir” e rezava para que isso fosse o suficiente para eles me deixarem sozinha.

Olhei o envelope branco sobre a escrivaninha e suspirei sentando na cama, havia me esquecido do casamento de Rachel e Paul daqui 2 dias, eu entraria como madrinha ao lado de Jacob. Coloquei o travesseiro no rosto completamente frustrada, minha família estava evitando estar no território dos lobos desde que Sam parara de se transformar e Paul e Jared também estavam tentando, sempre que eles se aproximam dos vampiros perdem o controle e nós não queríamos isso. Minha presença não tinha a mesma reação, por isso eu sempre ia a La Push. Eu teria que encará-lo sozinha.