POV RENEESME

A primeira coisa que fiz quando desci da moto foi pegar meu celular para mandar uma mensagem pra Jake. Olhei no visor e já havia uma dele.

Bom dia, linda. Boa aula, você vai se sair bem :)

Bom dia, Jake! Depois da aula passo aí, ok? Saudades

Claro Nessie, hoje é dia de fogueira. O pessoal vai gostar de te ver.

Eu com certeza conseguiria aguentar melhor o dia agora, amava participar da fogueira com os Quileutes e me sentia lisonjeada de ser convidada para ouvir tantas histórias pessoais da tribo. La Push era minha segunda casa, cresci com os vampiros e com os lobos como se fossem uma enorme família para mim.

Guardei o celular no bolso e caminhei para a minha primeira aula de Inglês enquanto tentava ignorar os cochichos bastante altos e claros em meus ouvidos.

— Oi, meu nome é Charlie. – Me assustei ao perceber que havia uma garota morena e baixinha ao meu lado falando comigo. Eu não sabia o que dizer, mas provavelmente pareceria muito mais estranha se deixasse ela falando sozinha.

— Oi, Reneesmie ou só Nessie. – Respondi timidamente, o que não pareceu afugentar a estranha animada ao meu lado.

— Você é a novata, sobrinha do Dr. Cullen, não é mesmo? – Ela não parecia ser uma curiosa tentando sondar minha vida para sair espalhando a fofoca na primeira oportunidade, então fiz um movimento com a cabeça confirmando a história.

— Qual a sua primeira aula? – Ela perguntou tentando olhar o papel com o horário das aulas que estava em minhas mãos.

— Inglês, no último prédio. – Respondi enquanto caminhávamos na mesma direção.

— Ótimo, eu também estou indo para lá. – Charlie tinha um entusiasmo na voz que deixaria qualquer um para cima. Andamos juntas até a sala de inglês, comentando sobre algo vez ou outra. Na sala Charlie me apresentou a alguns amigos Connor e Landon mas assim que o professor chegou fiquei em silêncio e voltei a tentar passar despercebida. Landon me acompanhou até a aula de Biologia onde ele me apresentou outros de seus amigos cujos nomes eu não conseguia me lembrar. A manhã passou arrastando até a hora do almoço onde me sentei ao lado de Charlie que me chamou para perto deles fazendo movimentos exagerados com os braços para chamar minha atenção. Na mesa reconheci os rostos que ela e Landon haviam me apresentado e tentei prestar atenção no assunto que estavam conversando.

— Precisamos voltar pra La Push assim que fizer sol de novo. – Uma garota chamada Amber falou para o pessoal, mas com o rosto virado para Connor em um gesto claro de interesse.

— Totalmente, lá é mágico. – Concordou Charlie. Mágico com certeza seria a palavra perfeita para descrever aquele lugar. – Você já foi até lá, Nessie? – Ouvi a voz de Landon perguntando e dispersei os pensamentos das águas azuis escuro, das rochas negras que surgiam no horizonte, e do cheiro amadeirado dos lobos. – Ah sim, La Push é incrível.

A conversa se seguiu até que eu já não prestava atenção, o assunto só me deixava ainda mais aflita para acabar com isso logo e voltar para a reserva. Respondi algumas perguntas para as quais nem consegui dar atenção e me arrastei preguiçosamente entre as aulas até que finalmente chegou a hora de ir embora.

— Tchau Nessie, até amanhã! – Charlie, Connor, Landon, Amber e algumas outras pessoas cujos nomes eu não conseguia lembrar acenaram para mim enquanto eu ia em direção a minha Harley e ia com tudo para a estrada.

Mesmo tendo visto meu melhor amigo a tão pouco tempo eu sentia sua falta toda vez que ele ia embora, era como se uma parte de mim fosse junto. Eu não entendia bem como Jake entrara em minha vida, bem, eu sei que ele e minha mãe eram melhores amigos desde quando ela ainda era humana, mas isso não explicava como os lobos deixaram de lado a inimizade com lobisomens tantas vezes mencionada nas histórias da tribo, mas com o tempo eu parei de fazer perguntas quando percebi que ninguém iria respondê-las e passei a me preocupar apenas em ter ele na minha vida.

— Nessie! – Ouvi sua voz me chamando com empolgação quando parei a moto em frente à sua oficina e ele correu até mim.

— Jake, eu já estava com tanta saudade – Falei enquanto o abraçava. – Eu também estava, linda. Que bom que veio.

— Nessie, como está linda. Edward que se cuide. – Ouvi a voz de Billy na porta e corri para abraça-lo. Billy era como um avô para mim, como Charlie, até por que eles pareciam ser irmãos até na hora das brigas. – Billy, nem parece que fiquei só uma semana sem vim em La Push. Não aguento ficar longe daqui. – Nós dois sorrimos e Billy me convidou para entrar.

— Deixa ela pai, você vai poder ver ela na fogueira, agora é minha vez de ficar com Nessie. – Jake respondeu enquanto puxava minha mão em direção à praia e Billy não se opôs, nos olhando da varanda com um sorriso no rosto enquanto nos afastávamos.

— Como foi o primeiro dia de aula, linda? – Ele me perguntou enquanto nos sentávamos em um tronco de árvore caído à beira da praia e ao invés de responder eu apenas coloquei minha mão em seu rosto e lhe mostrei todos os “novos amigos” que havia feito e como as aulas eram chatas. Durante meu crescimento tive aulas particulares com a minha família e elas com certeza eram muito melhores do que isso. - Eu sabia que você ia se sair bem e fazer amigos, é impossível não gostar de você, Nessie. – Ele disse abrindo o enorme sorriso para mim. – Eu não preciso de mais amigos. – Murmurei rabugenta enquanto escorava a cabeça no seu ombro e pude ter certeza de que seu sorriso se alargou ainda mais.

— Como foi seu dia? – Perguntei e enquanto ele me contava sobre o movimento na oficina observei de longe Quil chegar na praia com Clair, uma garotinha linda de 11 anos, ela lia alguma história para ele e ele realmente parecia fascinado com cada palavra.

— Deve ser difícil – Eu murmurei baixo o suficiente para que sua audição de lobo não captasse minhas palavras. Jake deu de ombros do meu lado. – Ele está completamente feliz.

Já havia ouvido sobre o imprinting algumas vezes quando ia na fogueira e eu achava fascinante toda a história das almas gêmeas e do amor puro que havia por trás daquela ligação. Eu invejava os lobos por isso, e também invejava Clair, Rachel, Emily e Kim. Quem não gostaria de sentir ou ser alvo de um amor tão bonito como esse? Mas todas as vezes que pensava no assunto sentia meu peito arder.

— O que foi Nessie? – Sabia que devia estar fazendo uma cara ruim, mas não conseguia evitar.

— Me promete uma coisa? – Perguntei e ele assentiu na mesma hora. – Promete para mim que quando acontecer com você nós não vamos nos afastar, eu não posso perder você.

Jake riu. – Linda, você não precisa se preocupar com isso. Você nunca vai me perder. – Ele disse olhando nos meus olhos e eu pude sentir que ele estava falando a verdade. – Jake, eu sei que quando você tiver o seu imprintig as coisas vão mudar e eu prometo que vou entender por que tudo o que eu mais quero é te ver feliz, mas eu vou sempre precisar de você. – Ele me abraçou forte e beijou o topo da minha cabeça. – Nessie, não se preocupa com isso, por favor.

Eu sabia que estava sendo irracional, eu nunca ficaria entre ele e sua alma gêmea, mas já havia algum tempo desde que eu desenvolvi esse medo de perdê-lo como se ele realmente fosse meu. Perdê-lo com certeza seria a pior forma de morrer e ainda continuar vivendo. Suspirei.

— Nessie! – Ouvi uma voz conhecida gritando com um entusiasmo único. Eu e Jake nos viramos para olhar enquanto Charlie e seus amigos vinham em nossa direção.  – Oi, Charlie! Olá pessoal.

Junto com ela estavam Connor, Landon, Amber, um garoto baixinho cujo nome eu achava que era Arthur e uma outra garota da qual não me lembrava muito bom. Me levantei para cumprimenta-los. – Esse é o seu namorado, Nessie? – Connor perguntou fazendo cara feia pra Jake e pude ver Amber revirar os olhos e sair um pouco de perto dele. Percebi então que todos os olhares estavam em Jacob.

—Ah não. – Ri. – Jake é o meu melhor amigo, fomos criados como irmãos.

— Jake? Prazer, Landon Scott. – Landon era o único que não parecia realmente intimidado com o tamanho dele.

— Jacob Black. – Jake respondeu mais seco que o normal e pude notar a força excessiva que botara em seu aperto de mão.

— Ah Nessie, vamos andar um pouco e depois procurar algum lugar para jantar, você e seu amigo não querem se juntar? – Landon perguntou, mas antes que eu pudesse responder Connor completou. – É Nessie, vamos!

— Obrigada pessoal, mas já temos compromisso para hoje. – Agradeci e eles se despediram enquanto continuavam sua caminhada pela praia e de longe consegui observar melhor o quanto Charlie e o garoto baixinho possivelmente chamado Arthur eram próximos e ficavam bem juntos.

— Quem era aquele garoto? – Jake perguntou em um tom crítico. – Connor? Eu não sei, acho que tem alguma coisa com a Amber. – Respondi enquanto voltávamos a nos sentar no tronco de árvore.

— Esse não! O outro que não parava de te secar, Landon. – Jake revirou os olhos e bufou.

— O que? Landon foi super educado com nós dois. – Argumentei, eu realmente não havia reparado em qualquer olhar. Jake as vezes parecia o meu pai com esse ciúme bobo.

— Claaaaro que foi, ele está doido por você. – Jake realmente estava mal-humorado enquanto falava e revirava os olhos. – Vamos sair daqui, não quero que eles voltem, pode ser? – Ele levantou e me chamou.

— Podemos ir visitar a Emily? – Sugeri animada, adorava passar o tempo com a Emily e com o Sam, ainda mais depois da chegada do pequeno Levi. Sam e Emily eram aquele tipo de casal referência em toda a tribo, graças ao seu amor por Emily e seu filho Sam finalmente conseguiu parar de se transformar para envelhecer ao lado deles e toda a tribo admirava isso. O autocontrole dos lobos com a transformação era algo incrivelmente difícil. Não consegui evitar pensar em Jake e se um dia ele deixaria de se transformar e envelheceria com alguém. Senti a bile na boca pouco antes de adentrar o jardim dos Uley. Eu podia conviver com ele se casando, tendo filhos e se afastando, eu ainda poderia ver ele as vezes, mas morte? Isso eu não podia aceitar. Senti meu coração se acelerando.

— Nessie, ta tudo bem? – Ele parou antes que Sam e Emily pudessem ouvir alguma coisa. Apenas o abracei, não podia voltar novamente na história do imprintig sem parecer descontrolada. – Está tudo bem, Jake. – Ele beijou o topo da minha cabeça mais vezes até meus batimentos cardíacos diminuírem.

A tarde com Emily, Sam e Levi foi ótima e me fez esquecer um pouco as minhas preocupações. Olhando a forma com que Sam cuidava do filho era fácil entender de onde ele tirou forças para conter as transformações, o amor que ele sentia o deixava bobo por aqueles dois, Levi tinha Sam na palma de suas mãos pequenas e gorduchas. Ficamos algum tempo conversando e quando deu a hora da fogueira fomos todos para lá. Sam era um ancião e Emily a escrivã, por isso coloquei Levi em meu colo. O garotinho que antes não parava quieto agora prestava atenção nas palavras de seu pai e na dança que o fogo da fogueira fazia, não demorou para que eu tivesse um bebê dormindo com uma paz admirável em meus braços.

Com a cabeça escorada no ombro de Jake, seus braços ao redor de minha cintura e com aquele lindo bebê que mais parecia um anjo no meu colo eu ouvi cada palavra dita pelos anciões com a mesma emoção da primeira vez, ouvira aquelas histórias várias e várias vezes, mas ainda preferia quando era Jake que me contava para eu dormir. Quando acabou me despedi de todos e acompanhei Jake, Sam e Emily até em casa para colocar Levi em seu berço, sentia um pesar de tirar o pequeno do meu colo. Coloquei-o no berço enquanto os três conversavam na varanda e me despedi de Sam e Emily enquanto Jake me acompanhava até minha moto.

— Você vai ser uma ótima mãe um dia. – Jake disse me fazendo rir. – De onde veio isso? – Jake deu de ombros. – Eu vejo o carinho que você tem pelo filho de Sam, você leva jeito. – Suspirei. – Não sei se um dia terei o que eles têm.

Jake parou e me encarou contrariado. – Por que não?

— Eu não posso simplesmente me casar com um humano como meus pais fizeram sem esperar que isso não tenha consequências com os Volturi. – Um arrepio passou pela minha espinha, acontece sempre que os menciono. – E se eu me casar com um vampiro nunca vou ter o que eles têm, nunca vou poder ser mãe.

— Você ainda pode se apaixonar por um lobisomem. – Jake brincou mas senti uma pontada de seriedade na sua voz.

— Ah claro, Seth ainda está solteiro? – Brinquei e ele revirou os olhos e deu de ombros. – Você vai encontrar alguém, linda. Você vai ter a sua família assim como Sam e Emily. – Ele disse enquanto nos aproximávamos da moto e eu o abracei sem querer tirar a cabeça do seu peito. – Você também vai, Jake. – Eu disse sem realmente acreditar que algum dia eu teria tudo aquilo, não se pode ter tudo, sacrifícios devem ser feitos.

— Eu já tenho tudo que eu preciso, Nessie. – Jake disse beijando o topo de minha cabeça. Nos despedimos e ele insistiu algumas vezes para me levar em casa, mas apesar de amar a companhia dele eu queria ficar sozinha com meus pensamentos sobre o seu imprinting e o meu futuro sozinha, fadada ao fracasso. Não, eu não tinha a menor vontade de conhecer um humano e me apaixonar, nunca colocaria a vida de alguém em risco assim e também não conhecia nenhum vampiro que não tivesse a idade do meu pai ou do meu avô, talvez eu ainda precisasse viver muitos séculos sozinha para encontrar alguém.

O sonho daquela noite foi diferente...