I love you, but I don't like you escrita por Lux Noctis


Capítulo 1
Capítulo 1




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“It hurts me every time I see you

Realize how much I need you

I hate you, I love you”



Haruki olhava a janela, sim, a janela e não a paisagem fora de seu apê. Fixava os olhos na composição de vidro e metal nas bordas, sentia a caneca quente contra as palmas e se mantinha ali, sentado enquanto o vapor lhe tocava o queixo. Piscava os olhos de modo mais lento, cansado. Quando respirava mais pesado sentia os ombros ir e vir, o café na caneca ondulava, mas não derramou nenhuma vez. 

Havia passado quase uma semana, exatos 5 dias que não via, ou sequer tinha notícias de Akihiko. E odiava-se pela saudade que sentia, pela tristeza que lhe entorpecia e pelo resquício besta de ciúme que lhe castigava ao pensar que talvez ele estivesse em casas alheias, encontrando um “sofá amigo” para dormir após a bebedeira, ou quem sabe, uma “cama amiga” com direito à acompanhante sem roupas. 

Sentia-se um tolo por esperar tanto de alguém que sequer parecia vê-lo. Amava-o, mas naquele momento não gostava dele. 

Quando bebeu o café ele já estava frio. Um gole bastou para que a careta viesse, assim como o arrepio. “Ghr” foi pronunciado do fundo da garganta em asco pelo café frio. Deixou ali, no cantinho do sofá enquanto deitou-se exatamente onde tantas vezes Akihiko havia se deitado, na mesma posição, os olhos fechados como se pudesse senti-lo ali, o cheiro dele no estofado. Uma mistura também de bebidas e nicotina. O coque atrapalhava que se acomodasse melhor, portanto soltou o cabelo, passando a mãos no fios para jogá-los para cima da almofada. Precisava de mais, virou-se então para que o rosto ficasse próximo ao estofado, pegou outra almofada e a abraçou. Sentir falta era uma coisa atroz! 

No dia que completaria uma semana sem notícias de Kaji, viu-o entrar no café onde trabalha. O capacete em mãos, o sorriso no rosto, os olhos que pareciam dizer o mundo, enquanto dos lábios não rompia uma palavra. O jeans de lavagem escura, a camisa um tanto amassada, uma mochila em transversal de um ombro ao outro lado do corpo. Quando se aproximou do balcão, pigarreou:

—  Sentiu minha falta? —  Questionou com a certeza de sempre, a convicção de que Haruki sempre lhe sorriria de volta, do jeito envergonhado e lindo. 

—  Hn. —  Não teve o sorriso, tinha outra coisa nas feições, algo que de primeira Kaji não soube identificar. Haruki movia as mãos com habilidade a preparar o café de uma das moças sentada na mesinha próxima à bancada. —  Vai beber alguma coisa? 

—  Um café. 

Foi a primeira vez que Nakayama viu Kaji morder o lábio inferior, bem próximo ao piercing que ostentava ali. Notou-o puxar a banqueta para se acomodar sentado e colocar o capacete na outra a seu lado. Viu-o entrelaçar os dedos frente ao corpo, apoiado na bancada limpa, os polegares inquietos movendo-se um sobre o outro numa disputa besta, tal como se fazia quando criança. Respirou fundo, passou a mão na mecha de cabelo insistente em cair no rosto, prendeu-a atrás da orelha e foi servir o pedido da mesa repleta de jovens bonitas e sorridentes. 

Quando sua atenção voltou à Kaji, recebeu dele um semi-sorriso, discreto e talvez inseguro. Meneou a cabeça riscando da lista essa última parte, Akihiko não era inseguro. Podia ser um babaca às vezes, mas inseguro? Não. 

Talvez estivesse contando que ao chegar ali após uma semana seria melhor recebido, contando que Haruki esqueceria o motivo desse afastamento abrupto, mas não. Ele havia passado e repassado isso cada dia que teve livre da presença do amigo e companheiro de banda. Mas os contratempos e desavenças não o impediram de preparar um delicioso café, este por sua vez degustado por Akihiko com um sorriso maior no rosto, os olhos mais vivos. Viu-o umedecer os lábios após estalar a língua no céu da boca, um elogio basicamente não-verbal. Notou também que ele estava prestes a lhe dizer algo, mas o barulho da porta sendo aberta os impediu de mais. 

Virou o rosto e nem ao menos notou quando sorriu, e para Akihiko aquilo era um lampejo de luz do sol. O sorriso de Haruki era perfeito, os fios esvoaçantes que pareciam fios de mel enquanto movia-se para acenar ao recém chegado.

—  Take-chan! 

Havia entusiasmo, um que faltou quando Akihiko entrou, e ele notou isso, foi desconfortável, foi um baque inesperado e ele não gostou nadinha! Moveu-se desconfortável na cadeira. Tudo havia passado despercebido à Nakayama, que agora colocava de novo aquela mecha de cabelo sedoso atrás da orelha e sorria tímido, envergonhado quando Yatake sentou na banqueta ao lado do capacete de Kaji. 

—  Não vou me demorar hoje, tenho ensaio daqui a pouco, passei apenas para lhe dizer um ‘oi’, então… oi. —  Ele sorria, e para Akihiko tudo aquilo era uma baboseira desnecessária e piegas! Estava, definitivamente, odiando tudo aquilo. 

—  Oi! 

Era aquela reação que Nakayama deveria ter ao vê-lo, e não ao ver Yatake!

—  Se você não pretende demorar, por que sentou? —  a primeira alfinetada, esta notada por Haruki que lhe olhou de soslaio, a feição fria assumindo os traços suaves de outrora. 

—  Um café não consome tanto tempo assim, além do quê, vale a pena um atraso quando o barista é tão bonito. 

Era a gota d’água, para Kaji, ao menos. Quando se pôs de pé, retirando as notas amassadas do bolso dianteiro, pegou o capacete e rispiu um “nos vemos depois”, enquanto saia de lá completamente desgostoso. O café nunca fora tão forte e amargo. Ou quem sabe aquela sensação estranha não fosse pelo café, e sim por todo o resto. 

—  O que deu nele? —  Yatake perguntou erguendo a sobrancelha enquanto aceitava o café. Sorriu ao notar que o sabor da bebida era mesmo incomparável, Haruki era exímio nisso. 

—  O de sempre, deve estar atrasado para algum encontro. —  a resposta atravessada trouxe desconforto a ele, ninguém mais se feriu com aquilo.

 

Quando saiu do café estava distraído, a mente insistia em fazê-lo repassar o gelo dado em Akihiko, e sabia que era certo após aquela cena patética encenada por eles. Dois adultos se portando como adolescentes que sequer sabiam como sentir e dizer. Bufou cruzando os braços e ficou resmungando até que chegasse em casa, o ensaio do dia estava cancelado, Mafuyu e Uenoyama tinham afazeres na escola, e em seus bicos para pagar as contas aqui e acolá. Surpreendeu-se em casa.  Sequer tivera tempo de sair do carro para dar de cara com Akihiko recostado na moto, fumando enquanto claramente o esperava. Tinha uma sacola em mãos, mercado, certeza.

—  Perdido por essas bandas? —  questionou enquanto sentir-se seguido por ele, o som dos passos, o cheiro da nicotina. 

—  Pensei que Yatake fosse te acompanhar até em casa também. 

Calou. Haruki manteve o silêncio enquanto destrancava a porta e entrava, sabendo que Akihiko o seguiria ali também. Sentiu a mão ao redor de seu punho, o puxão que acarretou no desequilíbrio. Os dois cara a cara, um certamente com ciúmes, o outro vermelho como tomate. 

Deveria se afastar, fora isso que o fez se afastar dele. O beijo. Aquele dado no calor do momento em meio a uma bebedeira sem limites. Onde Akihiko alegou depois não ter passado de um erro, ferindo assim as esperanças de Haruki. E como antes não soube se afastar, naquele momento também não, quando sentiu os dedos esguios em sua nuca, em seus fios, puxando-os para que o olhasse. A sacola caída ao chão, a respiração quente em seu rosto, o prensar contra a parede próxima a porta. 

—  Estava me dando um gelo?

— Vo-você quem começou. —  Ditou evitando olhar o piercing, ou os lábios, ou os olhos… tudo em Kaji o enfeitiçava. 

Bufou, era curioso como sabiam se portar como crianças, embora Akihiko não estivesse dando um gelo, mas sim buscando formas de dizer que o beijo não foi um erro, que não repetir a dose que era. 

— Então me deu gelo e fez ciúme?

—  Sentiu ciúme?

Estava de volta aquele lampejo de luz, o rubor na face, as mãos a lhe segurar pela camisa. Estavam tão próximos. Akihiko precisava apenas se inclinar, selar os lábios aos de Haruki… tomar para si aquele que tinha com tão alta estima, antes que outro o fizesse. Puxou mais os fios, umedeceu os próprios lábios, queria beijá-lo, chegou até mesmo a resvalar os lábios aos dele, e recuou antes que Nakayama tomasse qualquer iniciativa. Não merecia-o. Não poderia tê-lo. 

—  Trouxe o jantar. —  afastou-se pegando a sacola no chão, entregando nas mãos de Haruki que ainda estava extasiado. —  Precisa se alimentar direito, nos vemos amanhã no ensaio.

Sequer deu tempo a ele de dizer qualquer coisa, rompeu pela porta batendo-a ao sair.

Era oficial, quanto mais o tinha por perto, menos na verdade o tinha. Haruki largou a sacola sobre a pia, amava aquele infeliz, mas no momento não gosta dele e da sensação de vazio e impossibilidade que o fazia sentir. Quando pensou que havia entendido a renúncia, ouviu o bater na porta. Fazendo todo o alvoroço em seu interior voltar. 

—  Não estava te dando gelo. —  começou assim que viu o rosto de Haruki. —  Não sabia como dizer que não sei como me portar, quando sei que você sente algo por mim. Você deve me amar, talvez, mas tenho certeza que agora não gosta de quem eu sou. Bem, só voltei pra-

Sentiu os dedos contra seus lábios, e o rubor estava de novo no rosto de Haruki. Os cabelos um tanto bagunçados e os olhos intensos a lhe despir das camadas de máscaras que usava. Permitia-se ser puxado, para o apartamento, para a vida de Haruki. Para a possível felicidade que o aguardava ao fechar a porta e se permitir.


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