Matt conseguiu chegar inteiro à casa de Leão, mesmo após ter se encontrado com dois deuses no caminho.

                        A noite envolvia o Santuário. O céu estrelado reluzia com os espíritos dos cavaleiros mortos nas estrelas. Os Elísios deviam estar cheios.

                        O cavaleiro achava que iria aproveitar o resto do dia para descansar. Mal havia pensado nisso, deparou-se com uma energia familiar vindo em sua direção.

                        O Santuário está movimentado hoje.

                        Ele observou. Um homem de estatura mediana, olhos claros e cabelo castanho, com uma armadura de cor laranja e aspecto marinho, vinha em direção a Casa, com uma maleta pendurada ao ombro. Matt esperou até ele se aproximar o suficiente para escutá-lo.

— Comandante Antenor de Leviatã. Bem-vindo à Casa de Leão.

                        O homem ergueu a cabeça e sorriu. Era o ex-professor de Física da escola do Santuário. À época, era um espião oportunista de Poseidon. Hoje, era um amigo dos cavaleiros de Ouro.

— Meu rapaz – disse Antenor, e apertou a mão de Matt. – Que bom vê-lo. Estive acompanhando o Imperador Poseidon, mas ele queria falar-lhe a sós, então esperei para podermos conversar.

— Acomode-se – disse Matt; o marina sorriu e depositou a maleta sobre a escadaria.

— Estou bem. Apenas passeando.

— O que o traz aqui, Antenor? – quis saber o cavaleiro.

                        O comandante marina começou a abrir sua maleta.

— Um bom físico nunca descansa! Preciso estar sempre viajando para aprimorar o conhecimento. Sendo útil ao senhor Poseidon e ao Olimpo... Nesses tempos, hein?

— Não entendo – admitiu Matt.

                        Antenor ficou sério de repente.

— Meu senhor sente uma perturbação cósmica. Algo forte e antigo. Talvez tenha algo a ver com o que Hades descobriu.

— Mas afinal, o que Hades descobriu? – indagou Matt.

— Um odor fétido está escoando pelo Mundo Inferior. O senhor dos mortos está irritado e tenta descobrir a razão. O Cavaleiro de Sagitário estava buscando informar alguém, quando me encontrou. Essa é outra razão de eu estar aqui. Sagitário foi avisar Atena e seu Grande Mestre, e eu vim enviar uma mensagem de Íris para Quíron. Não há interferência no Santuário, e ele precisa pelo menos tentar alertar Dioniso.

                        Matt contemplou o céu e coçou o queixo.

— Só pode ser algo grave.

                        Antenor assentiu. Finalmente, conseguiu abrir a maleta.

— Tem razão. Ufa! Vim apressado de Mênfis para cá. Hora do lanche.

                        Na maleta havia garrafas com suco gelado de uva e sanduíches. Ele pegou um e ofereceu a Matt.

                        O cavaleiro aceitou de bom grado, e sentou-se para comer. Antenor pegou outro sanduíche e deu uma grande mordida.

— Excelente – comentou. – Josélia faz ótimos sanduíches.

            Josélia era uma das professoras no Santuário.

— Também tive um dia cheio – admitiu Matt. – Fui dar aulas à minha irmã e aos coleguinhas dela.

— Como vão os outros cavaleiros de Ouro?

— Vão bem, no geral. Gustavo também deve estar dando aulas. Thiago deve estar trancafiado com seus livros. E o senhor já viu Betinho...

— Apressado, de fato, mas parecia bem sob um aspecto geral.

                        Matt deu uma dentada no sanduíche. Antenor terminou de comer o dele e ficou admirando as estrelas.

— Agora me ocorreu – disse de repente. – Você têm tido notícias de Londres, Matt?

                        O cavaleiro de ouro franziu a testa.

— De Londres? O senhor se refere... Ao Ministério da Magia?

— Precisamente. Acho que não tardaremos a encontrá-los. Teve algum contato com eles?

— Ultimamente, não. Por quê?

                        Antenor hesitou.

— É algo que preciso comentar com Quíron. Essa tensão parece um prenúncio de guerra, e os sete generais estão ficando inquietos.

— Espere. Os sete generais sobreviveram à luta contra Nêmesis? A última notícia que havíamos tido era de que as tropas de Poseidon haviam tido graves baixas naquela batalha.

                        O comandante marina riu.

— Sinceramente, meu rapaz! Aquela deusa do destino foi muito ingênua. Ela achou mesmo que o exército de Nêmesis seria capaz de matar os Generais Marinas?

                        Ele continuou gargalhando. Matt recordou-se de sempre mostrar respeito pelos Marinas.

— Enfim, é isso – disse Antenor após recuperar-se do riso. – Só mais uma coisa, jovem. Algum de vocês está pesquisando sobre Ares?

                        Matt pensou um instante.

— Acho que Gomes de Altar deve ter incumbido alguém de fazer uma pesquisa... Thiago, talvez. Ainda estão suspeitando de Ares?

— Poseidon e Zeus estão – afirmou Antenor. – Ele agiu como se estivesse sendo manipulado. Como da última vez em que isso aconteceu com os olimpianos... Um desastre quase bem organizado. Querem impedir a qualquer custo que haja alguma semente podre do nosso lado, seja Ares, seja mais alguém.

                        O cavaleiro de Leão refletiu a preocupação de Antenor. Este se levantou e fechou a bolsa.

— Se me dá licença, vou até o Templo de Atena – informou. – Vou falar com Quíron. Foi um prazer conversar com você, Matt de Leão.

— Igualmente – respondeu o cavaleiro.

                        O comandante pendurou a bolsa novamente ao ombro e foi completar a passagem pelas 12 Casas. Matt ficou olhando o céu por alguns instantes, então se virou para entrar na Casa de Leão.