Os imperdoáveis escrita por Lucretia Elisa


Capítulo 1
Capítulo 1 - A luta que não pode ser vencida




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New blood joins this earth

And quicky he’s subdued

Through constant pain disgrace

The young boy learns their rules

With time the child draws in

This whipping boy done wrong

Deprived of all his thoughts

The young man struggles on and on he’s known

A vow unto his own

That never from this day

His will they’ll take away

 

Will apoiara-se no cabo da sua enxada. Secara o suor de dua testa com as costas das mãos e olhara o horizonte árido do interior do Texas.

Ao longe, o Sol se punha. Sentira-se orgulhoso do seu trabalho de hoje; a terra toda arada, preparada, apenas esperava para receber as sementes, que dariam origem às novas mudas de tabaco. Sentia, pela primeira vez em muitos anos, que esse ano a colheita seria bem melhor do que fora no ano passado. Sorriu esperançoso.

Uma mão forte, velha e calejada pousara levemente em seu ombro.

— Por hoje é só, filho. Vamos descansar. - seu velho pai olhara para seu filho Will com um olhar cansado, porém cheio de orgulho por ter seu filho honesto e trabalhador ao seu lado.

Will colocara a enxada sobre o ombro e seguira seu pai até a casa, onde, com toda certeza, sua mãe e sua irmã Júlia, estariam esperando-os com o jantar quase pronto.

 

— Acredito que esse ano vamos ter uma boa colheita, mãe – anunciara, entusiasmado Will assim que ficara diante da mãe da varanda de sua casa.

Sua mãe segurara o belo rosto do seu filho entre as mãos e sorrira; seus olhos cheio de um brio por ver seu filho mais velho tão dedicado ao trabalho na cultura do tabaco ao invés de desejar outros tipos de prazeres. Puxara-o para mais perto e dera um beijo amoroso e maternal no meio de sua testa. Seu bebê crescera e, graças ao bom Deus, não se desvirtuara nem um minuto do caminho que ela gostaria que ele seguisse.

— Ah, o entusiasmo dos jovens… - logo atrás de Will, vinha o seu pai. Divertia-se com o ânimo do seu filho.

Embora estivesse com esperanças de que esse ano fosse mais generoso para com ele e sua família, o futuro era sempre uma incógnita; qualquer coisa podia acontecer. O certo era que precisava que esse ano a colheita prosperasse mais do que ano passado ou mais uma vez teria que ir as minas. A única coisa certa em sua cabeça é que não podia deixar a sua família sem sustento e não podia deixar de pagar o que devia a quem devia.

— Deixe o rapaz! - brincando a mãe de Will dera um safanão no ombro do marido, rindo, mas, no fundo, ela sabia dos anseios e temores do seu esposo.

O que não queria era que Will soubesse ou se perturbasse com isso. Se caso seu marido tivesse que voltar as minas, ambos não queriam esse mesmo destino para o filho, não foram para isso que eles cruzaram o Atlântico, e eles sabiam que, se Will soubesse das necessidades deles, partiria para as minas junto a seu pai sem nem pestanejar.

— Vão os dois tomar um banho. O jantar está quase pronto.



Will descera poucos minutos de seu pai. De banho tomado e roupas limpas, sentara-se a mesa ao lado do patriarca da família, que sentava-se a cabeceira da mesa. Sua irmã surgira logo depois, trazendo em suas mãos uma travessa com legumes cozidos, enquanto a sua mãe vinha com a carne. Ambas se sentaram a mesa do lado oposto de Will. Como bons cristãos que era, deram as mãos, abaixaram levemente a cabeça, fecharam seus olhos e começaram uma oração:

—Senhor, abençoe sempre a nossa família, os alimentos nessa mesa e, se essa for a sua vontade, abençoe também a nossa plantação de tabaco. Que ela seja melhor do que a que foi ano passado! Amém!

— Amém! - repetiram em uníssono Wil, sua mãe e sua irmã.

De repente uma batida forte na porta fez ela vir abaixo e rapidamente a sala de jantar encheu-se de homens, todos com suas pistolas na mão, alguns até com duas. Eram todos mal encarados. Alguns sorriam sarcasticamente, mostrando seus dentes de ouro, outros olhavam para as mulheres sentadas na mesa de jantar e passavam suas língua nos lábios. Pareciam fora da lei, bandidos da pior espécie. Will ensaiou levantar-se da mesa e confortar aqueles sujeitos que invadiam a sua casa, mas seu pai, rapidamente, percebendo o movimento do filho, tocou-lhe levemente no pulso e fez um sinal negativo com a cabeça, o que fez o rapaz voltar a sua posição inicial. Olhou para sua mãe e sua irmã, viu-as tremer dos pés a cabeça e fez uma prece mentalmente para que nada de mal acontece com ela.

Atrás daqueles bandidos armados, entrou um homem bem vestido. Usava um blazer preto e calças e colete igualmente da mesma cor, debaixo uma camisa impecavelmente branca. Notava-se que era peças novas de roupas, coisa que nenhum morador daquela região tinha. As roupas, além de parecerem novas, também estava incrivelmente limpas, como se aquele homem não tivesse vindo pela estrada empoeirada até aquela casa. Mantinha a cabeça levemente baixa, como se tomasse cuidado onde pisava para não sujar as perfeitas e lustrosas botas de couro, o que permitia que o seu chapéu branco cobrisse os olhos, por baixo dele via-se uma fumava. O homem fumava um charuto. Aparentava ser um homem rico e bem nascido, mas, na verdade, ele era o chefe aquele bando. Ele parou diante a família, tirou o chapéu e pousou-o na mesa, puxou uma cadeira e sentou-se.

— Vim pegar o meu dinheiro pessoalmente. - declarou, tirando o charuto na boca e olhando fixamente para o pai de Will.

— Por favor, senhor Muñoz, preciso de mais tempo. Alguns meses para ser mais exato. Espere até o fim da colheita. Acredito que esse ano será melhor do que ano passado. Posso até te pagar mais do que estou devendo. - pediu o pai de Will.

A terra em que vivia a família de Will era deles, desde que chegaram da Irlanda a cerca de uns 5 anos, mas, infelizmente, com a chegada de Juan Muñoz a cidade de Elm tudo mudou. Ninguém mais vivia em paz, pois este senhor instituiu que era o dono de tudo e que, se as pessoas daquela cidade quisessem viver ali, elas teria que pagar uma espécie de taxa a ele. Como o ano anterior não havia sido um ano generoso para o pai de Will, nem o trabalho nas minas ajudou a pagar o que precisava, então a sua dívida para com aquele senhor aumentava a cada mês que passava. Ele tinha pedido um adiamento, mas esse prazo já tinha passado e agora o senhor Muñoz batia a sua porta exigindo o seu pagamento. Contudo esse dinheiro não existia. Achava que se pedisse e lhe contasse as suas dificuldades, aquele homem compreenderia e, assim, conseguiria mais algum tempo, por isso, esperançoso, gastou as suas últimas moedas comprando as semente para sua plantação.

— Infelizmente não são assim que as coisas funcionam. - foi a resposta de Muñoz e, sem dizer mais nada, sacou a sua pistola e, mais rápido que alguém pudesse protestar, um tiro foi disparado, acertando em cheio a testa do pai de Will.

A mãe de Will e sua irmã, Júlia gritaram assustadas e tremendo de pavor com aquela cena, enquanto assistiam o pai tombar para a frente com rosto no prato. Will levantou-se com o susto e até pensou em pegar a espingarda de seu pai, que ficava bem atrás dele, presa sobre a lareira, mas os homens do senhor Muñoz seguraram sua mãe e sua irmã pelos cabelos e apontaram armas para a cabeça das duas.

— Eu ficaria bem quietinho se fosse você, rapaz. - falou o senhor Muñoz, apontando um dedo para Will. Depois colocou sua arma sobre a mesa e virando-se para a mãe de Will, perguntou: - Então, senhor, onde seu marido escondia o dinheiro?

As lágrimas encharcavam o belo rosto da mãe de Will. Ela, contudo, não conseguia falar nada, apenas soluçava e com a cabeça fazia sinal de não, porque não havia esse lugar, já que não havia dinheiro.

— Não? Não sabe? - insistiu Muñoz, demonstrando um pouco de impaciência, apesar do seu tom de voz frio ser o mesmo o tempo todo. - Talvez se eu matar um dos seus filhos a senhora se lembre. Que tal o garoto? - Então, um dos homens de Muñoz aproximou-se de Will e apontou sua arma.

— NÃO! - gritou a mulher – NÃO HÁ DINHEIRO! NÃO HÁ! - Então encarou o senhor Muñoz e, tentando acalmar a respiração, continuou – Eu juro. Não há mais nada. Meu marido comprou as sementes com o resto que tínhamos.

Muñoz encarou a mulher, tamborilou os dedos na mesa, enquanto apertava o maxilar com os dentes, controlando a raiva que tomava conta de seu corpo. Um silêncio repentino encheio o ambiente e parecia paralisar a todos os presentes. Os homens de Muñoz olhavam-se entre si, esperando as ordens do seu chefe. Pareceu uma eternidade até que Muñoz, finalmente, levantou-se, colocou o seu chapéu e se dirigisse a porta sem proferir uma só palavra. Antes de sair, parou diante do umbral e olhou de soslaio para o resto da família. Depois virou-se para um dos homens que estavam perto dele e disse:

— Façam o que quiser com eles.

Então, saiu, deixando Will, sua mãe e sua irmã a mercê daqueles homens cruéis. Não se virou quando ouviu os gritos das mulheres, que foram arrancadas pelos cabelos da mesa e nem quando ouviu o apelos do jovem Will. Apenas subiu em seu cavalo e saiu dali, acompanhado de dois homens.

— LARGUEM ELAS! LARGUEM A MINHA IRMÃ, SEUS BASTARDOS! - protestou Will aos berros, antes de ser acertado na nuca com o cabo da espingarda de seu pai.

Com o choque da dor que sentiu, Will caiu no chão. Tudo, imediatamente, ficou preto a sua frente. Quando conseguiu voltar a si, viu a sua irmã deitada no chão próxima a ele. Suas roupas estavam rasgadas e seus belos olhos verdes arregalados, pareciam olhar para ele, contudo, logo Will pode comprovar que já não havia mais vida neles. Arrastou-se, então até ela e a puxou para seus braços, cobrindo a sua nudez. Uma dor lacerante cruzou o seu peito e uma lágrima caiu de seus olhos, molhando o belo e pálido rosto de uma irmã em seu colo. Sua pequena irmã… sua irmã tão inocente...

— Oh, Júlia… - sua voz saiu num sussurro. A garganta seca. Tudo doía. Sua alma estava destruída. Apertou-a contra seu corpo com toda a força que conseguia.

Por baixo da mesa, do outro lado, Will viu o corpo de sua mãe. Sentada no chão, o olhar baixo e uma enorme ferida aperta em seu peito. O sangue escorria pelo chão, manchando o piso. Estava morta. Assim como sua irmã que jazia entre seus braços. Uma ira cresceu dentro de Will e seus olhos não param de verter lágrimas, sem que percebesse ou pudesse fazer algo para evitar. Levantou-se, as mãos fechadas em fúria.

— Bastardos! - falou, a voz cheia de ira como se pudesse matar aqueles homens com os próprios punhos nus.

— Olha quem acordou?! - um dos homens falou, olhando para Will e chamando a atenção dos outros. Seu ar era de puro deboche.

— Eu vou matar vocês! - declarou Will entre os dentes. A raiva estampada no rosto.

— Como? - perguntou um dos homens em meio a risadas de deboche.

Todos os homens riram, gargalharam alto, debochando de Will. Como aquele rapaz iria fazer aquilo? Com as mãos limpas? Era apenas ele contra seis homens bem armados e que ainda tinham se apossado da espingarda de seu pai. Só uma pessoa tomada pela ira poderia fazer esse tipo de declaração assim. Era até cruel pensar na desvantagem em que se encontrava Will. Contudo, a loucura que havia tomado conta de seu corpo não deixou que ele pensasse direito e ainda mais irado com as risadas, partiu para cima de um daqueles homens aos berros como um lunático. Um tiro foi ouvido, acertando Will bem no ombro direito, fazendo-o tombar para trás. O homem que atirou, aproximou-se dele e apontou a arma para a sua cabeça, iria terminar logo com aquilo sem a menor cerimônia, mas foi impedido por um de seus companheiros:

— Não! Não o mate ainda! - pediu, colocando a mão sobre o pulso daquele que apontava a arma para o Will. - Não assim tão rápido. Vamos nos divertir com ele antes.

Os outros concordaram com ele. Alguns balançavam a cabeça, um outro sorria pervesamente. O que estava com a arma em mãos, colocou a arma no coldre e piscou para Will. Enquanto o que falou fez um movimento de cabeça para os outros, que logo colocaram as mãos sobre o rapaz ferido no chão e o puxaram para cima da mesa. Colocaram-no de barriga para baixo, as mãos esticadas, enquanto elas eram seguradas por um homem de cada vez.

— Será que ele era rosadinho como a irmã? - perguntou uma voz vinda de trás e Will não teve tempo de protestar quando teve a sua calça arreada até os joelhos e sentiu as suas pernas sendo afastadas.

— Não! - clamou, puxando uma das mãos que escapou de um dos seus algozes, mas ela não permaneceu livre por muito tempo, pois fora agarrada novamente e dessa vez uma faca cravada bem no centro dela, ocupou-se de mantê-la no lugar. Will dera um berro de dor.

— Quietinho aí. - ordenou o homem que estava bem atrás dele, puxando a sua cabeça pelos cabelos e debruçando-se sobre o seu corpo.

Will engoliu o choro a seco, mas não conseguiu evitar que uma lágrima escorregasse pelo seu rosto, então, sem qualquer cuidado ou aviso sentiu alguma coisa quente entrando em seu corpo. Uma dor atravessou o seu corpo, como se uma espada o queimasse por dentro. Tentou se mexer, sair daquele aperto. Forçou-se contra quem o estava penetrando, mas alguém puxou novamente o seu cabelo e bateu com força a sua testa contra a mesa. Quase desmaiou com a dor e sentiu-se sem forças para lutar. Fora assim que a sua irmã se sentira até morrer? Percebeu, então, seu corpo sendo sacudido com a força das estocadas e se deu conta das risadas dos homens, sabia que eles faziam comentários, talvez palavras de incentivo para aquele que o estuprava, mas não conseguia compreender ou, simplesmente, a sua mente quisesse o poupar daquele sofrimento. Virou a cabeça para o lado e viu o seu pai ainda ali na mesa, a cabeça enfiada no prato cheio de sangue. Seu estômago embrulhou numa ânsia de vômito e, sem vergonha de chorar, deixou que as lágrimas fluíssem livre. Encarava a cabeleira negra de seu pai apenas esperando que aquilo logo acabasse e que ele pudesse se juntar a sua família no pós-vida. Contudo, pareceu uma eternidade até que tudo aquilo acabasse e um por um, aqueles homens aproveitaram-se dele ali, naquela posição, em cima da mesa, entre os seus parentes mortos. Foram seis homens dentro dele, forçando-se, sacudindo o seu corpo com força, até que o seu sangue escorresse por entre suas pernas.

Quando todos os homens havia se saciado de Will, ele fora deixado ali na mesa. Um cadáver vivo, sem força de vontade. Sua mente o deixara e ele olhava fixamente na direção do pai, mas sua visão estava perdida em algum lugar fora dali. Will só saíra de seu transe quando sentiu a dor da faca sendo retirada para logo em seguida ser substituída nova dor; uma facada do lado direito do seu corpo. Gritou surpreendido pela dor do corte e os homens saíram de sua casa, rindo e falando vulgaridades sobre ele e sua irmã, deixando o belo rapaz loiro jogado no chão, sangrando.


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Notas finais do capítulo

Todos os personagens e ambiente deste capítulo foram criados por mim e, por isso, são originais e pertencem a mim, Lucretia Elisa.



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