Uma Canção de Sakura e Tomoyo: Finalmente Juntas escrita por Braunjakga


Capítulo 64
Vocês querem prender a Gotzone, sério mesmo?




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Capítulo 62

Vocês querem prender a Gotzone, sério mesmo?

 

I

Madrid, Espanha

2 de agosto de 2016

 

Bea Fanjul olhava para um papel em suas mãos quando o telefone em sua mesa tocou.

— Dona Beatriz, Dom Jordi está aqui.

— Peça para ele entrar… — disse a ministra.

Em poucos segundos, a porta se abriu. 

— Bea. — disse Jordi. Os dois ficaram se encarando por um tempo, como se falassem por aquele silêncio, sem precisar de palavras. — Espero que seja alguma coisa importante, estou discutindo os detalhes da transição agora… 

— Eu sei, considero isso importante, afinal, é um assunto da minha pasta e, de certa forma, preciso que o senhor convença o primeiro-ministro Sanchez da importância de fazer mais um pequeno sacrifício… — disse Beatriz, entregando o papel que analisava para o líder da oposição no congresso dos deputados e vice-presidente do partido conservador. 

— Mais do que os sacrifícios que a gente já pediu pra ele fazer? — disse Jordi. Ele leu a folha por uns minutos e devolveu para Bea, dando um breve sorriso.

— Isso não é um sacrifício, isso é praticamente pedir pra ele arrancar um braço ou uma perna fora. Ele nunca vai concordar com isso… Ainda mais em ano de eleição… — respondeu Jordi.      

— Por isso, eu peço sua ajuda para convencê-lo da gravidade disso. Acredito eu que, se resolvermos mais esse pequeno problema, posso atuar com mais segurança num outro assunto de minha competência que está acontecendo nesse exato momento…  

Os dois se falaram novamente com os olhos e, em segundos, saíram do despacho da ministra rumo ao escritório do Premier. 

 

II

 

Na sala do presidente de governo José Sanchez… 

— Presidente, Dom Jordi está aqui — disse um secretário do partido trabalhista. 

— Dom Jordi? Já estão chamando ele assim já, é? — disse o presidente, num tom de desconfiança — Eu não tenho tempo pra ele, já não basta ser mais de onze da noite ainda tem isso! Diz que amanhã eu falo com ele. — respondeu o presidente de governo.  

— Ele está com Dona Bea do lado dele… 

— Agora tem essa! Os assuntos dessa mulher! Era só o que faltava! — José Sanchez sentou-se na cadeira e deu um tapa na testa, frustrado. O presidente de Governo, José Sanchez, era um homem de cabelos bem aparados, bigodudo, fortinho, de dedos curtos, em pleno fim de mandato. Trabalhava melhor à noite e odiava ser perturbado sem razão, nem muito menos gostava de se meter em problemas que ele não conseguia compreender. Esfregou as mãos na nuca, agoniado com aquela surpresa. — Manda eles entrarem, manda! 

— Com licença… — disse o secretário, fechando a porta da sala só para que ela fosse aberta mais uma vez pelos dois.

— Presidente… 

— Entre, Beatriz, entre. Eu já estou sabendo de tudo, dispenso apresentações. — respondeu Sanchez. Bea e Jordi se sentaram nas cadeiras em frente à mesa deles. José Sanchez demorou-se um pouco olhando o porta-voz da oposição, comparando as feições dele com as do retrato oficial do Rei Felipe VII em seu gabinete. — É incrível como vocês são parecidos… O mesmo cabelo negro, os olhos azuis. Se você deixasse o cabelo crescer até o ombro e a barba crescer também, ficaria igualzinho à ele.

— Não me compare com o meu irmão, Presidente. Nós não somos parecidos… 

— Sei… Realmente vocês não são parecidos… É preciso ter uma malícia que a gente que é político tem. Pena que sua majestade não tem e não saiba diferenciar as cobras que ficam rondando no pé dele! — disse o presidente, esperando pela reação de Jordi. Ele não falou nada. — Já tá se chamando de “Dom”, é?— perguntou José Sanchez, mudando de assunto. 

— Não se diga santo, Ministro. — respondeu Jordi.

— É mesmo, nenhum político é santo, por mais que queiram convencer a gente do contrário, não é? Sem mais delongas, me diga, o que vocês “dois” vieram me pedir agora? Já não basta você, Jordi, quase ter afundado o meu governo há um ano atrás, me forçando a colocar Bea Fanjul no conselho de ministros? O meu partido quis me comer vivo! Além disso, vocês também me forçaram a assinar aqueles papéis contra Dona Maitê e o tal de Victor Delgado. Pelo visto, tô vendo que tem mais… — disse José Sanchez, olhando o papel nas mãos de Dona Beatriz com um mal pressentimento no peito.

— Devo recordar, ministro, que o senhor nunca teria aprovado o teto de gastos sem o apoio do partido conservador. A sua aliança com o partido liberal, seus rivais políticos desde sempre, é tão frágil quanto castelo de areia. — disse Jordi Ferrer. O presidente Sanchez se calou diante da afirmação — O senhor ainda me deve e muito. Ter a Bea como ministra é um preço muito baixo que o senhor pagou… Assinar os pedidos dela também… — disse Jordi. José Sanchez gargalhou, incrédulo.

— Quem me dera meu único problema fosse me sustentar no poder até o final do mandato, mas não! Vocês dois me aparecem, dizendo que magia existe! Pode? Além disso, vocês me falam que existe uma rede de “poder paralelo” bem debaixo do meu nariz, atuando na Guardia Civil, nas forças armadas, na polícia! Subordinada à “Dona Beatriz” ainda por cima! Só vendo as “fardas brancas” pra entender! — O presidente Sanchez gargalhou mais uma vez, desabafando. — Os independentistas teriam inveja de vocês! — Jordi e Bea não falaram nada mais, só ficaram olhando o ministro. — Será que vocês podem me entender um pouco? O que vocês acham que um homem comum, como vocês magos chamam as pessoas sem magia, um homem comum como eu pensa disso tudo? Como se lida com “magia”? Como se lida com uma ministra que você não pode nem controlar e ainda por cima comanda uma rede de “poder paralelo” na Espanha? Olha só as consequências disso: eu já tô sabendo dos policiais da Ertzaintza que morreram em Bilbao e sei que foi assunto de vocês, tudo por causa das “pulseirinhas brancas” que eles carregavam… Já conversei com o Lehendakari e prometi ajudar na investigação. Isso é patético. Eu me pergunto: que mortes foram essas? Como se ajuda a investigar uma coisa que você não tem competência nenhuma e nem sabe direito o que causou? — perguntou o presidente de governo.

— Quanto à esse assunto, a Bea sempre fez um trabalho excelente e pode deixar tudo com ela. Agora quanto ao que o senhor vai pensar do suposto “poder paralelo” da ministério de assuntos especiais, limite-se a pensar o mesmo que você pensava do seu amigo, Alfredo Bosch. Magia existe e precisamos de pessoas leais como Dona Beatriz para controlar os rebeldes que pisam fora da linha, fora dos limites do uso normal da magia… Não importa que tipo de sacrifícios precisem ser feitos… — respondeu Jordi. 

— Leais à você, é claro. Eu confiava no Alfredo. Em vocês, eu não confio. Vocês percebem o risco? A qualquer momento, vocês podem querer dar um golpe de estado  com esses agentes, que nem em 1936! E como ficam pessoas como eu, os comuns, no meio disso, se os magos resolvem que são melhores que gente? — perguntou o presidente.

— O senhor quer falar de 1936? Então vamos! Vamos lembrar, ministro, que foi o seu partido trabalhista quem deu asas pros Republicanos primeiro. Deram tanta asa que eles mataram o meu tio, Dom Albert I. Se não fossem o partido conservador agindo para manter a Ordem, o senhor não seria presidente de governo de uma Espanha unida como temos hoje, nem colocaria o traseiro nessa cadeira. — retrucou Jordi. José Sanchez não quis continuar a discutir.

— Me dá esse papel, Bea, vamos ver quem vocês querem ferrar dessa vez… — disse o ministro, pegando o papel que Beatriz mostrou para ele. O presidente de governo analisou a folha por um tempo, fez uma cara de estranheza enorme e devolveu para a mulher. — Desculpa, mas eu não vou concordar com isso! Jamais! Basta vocês dois! 

Bea e Jordi se olharam. 

— Presidente, esse é um passo importante para evitar que o caos se espalhe por Espanha. — disse Bea. 

— Sei, sei, que a polícia lide com isso, se for o caso! Você me disse a mesma coisa ano passado e cadê? Você jurou que acabaria com o “caos” em Espanha se eu assinasse aquela ordem de prisão contra a princesa Maitê. Me explica: O caos voltou e você não conseguiu segurar a barra agora, é? Não! Basta! Eu não vou assinar essa ordem absurda!

— Você está cometendo um grave erro, ministro. — disse Jordi.

— Se “Dona Bea” é tão competente assim nos assuntos dela, ela que resolva isso, não? — Jordi e Beatriz não falaram mais nada diante da tréplica do presidente Sanchez —  Grave erro vai ser eu me deixar controlar pelo partido conservador pelas sombras mais uma vez! Isso eu não vou aceitar! Vocês tem ideia de quem tem o nome nessa lista? Vocês querem prender a Gotzone, a Gotzone! Sério mesmo? Prender ela e atrair a fúria do PNV, atrair a fúria dos separatistas bascos? Nem você faria uma coisa dessas no meu lugar! Ela ganhou a Copa de futebol feminino ano passado, vocês fizeram o que pelo nosso país nesse tempo, além de dar o golpe no nosso Rei que o senhor tanto sonhou, “Dom Jordi”? — disse José Sanchez, com ironia.             

— O que o senhor chama de golpe, eu chamo de salvação. Fizemos pelo reino mais que o senhor e o partido trabalhista fazem, isso eu posso ter certeza! Estou preparando uma transição de chefe de estado nesse instante, enquanto que senhor pede pro Rei continuar, apesar de que o filme do “seu Rei” está mais queimado que carvão na churrasqueira! Estou tratando de dar a pele pra salvar nosso poder executivo dos ataques dos separatistas, enquanto que o senhor faz afago neles! Faz concessões ao PNV, ao Bildu, à ERC e pro CiU só pra salvar seu orçamento! Se não fosse o partido conservador mais uma vez, dando seu voto ao seu favor e sacrificando a Beatriz nesse seu governinho minoritário, o País Basco e a Catalunha já teriam se separado da Espanha faz tempo! — respondeu Jordi. José Sanchez ficou realmente irritado ouvindo aquilo. 

— Não vou ficar engolindo porcaria de vocês onze horas da noite! Cai fora daqui, vai! Os dois! — gritou José Sanchez. Jordi e Bea ficaram encarando o presidente. — Absurdo vocês usurpar as funções do meu ministro do interior e da minha ministra da justiça que valem muito mais que vocês! Até hoje eles me perguntam se aquela droga plantada no palácio da princesa era malhada ou não! Imagina o que não vão perguntar vendo essa ordem de prisão absurda contra a Gotzone Bengoetxea!  

— Esse é seu último ano de governo, ministro, pode ter certeza. Não só seu, como dos trabalhistas também. Eu podia acabar amanhã mesmo com ele, com uma moção de censura contra o senhor. Mas eu não tenho pressa…  

— Quero ver com que apoio você vai fazer isso! Você não tem maioria e depende do partido liberal assim como eu! Se for pra terminar meu mandato, eu termino com dignidade! E outra: vou adiar as eleições pra dezembro do ano que vem por conta dessa palhaçada que eu tive que escutar hoje! Pra isso, eu tenho maioria no parlamento, o PNV e a CiU vão concordar comigo por conta das eleições regionais ano que vem! Pode ter certeza! — disse o presidente, antes de fechar a porta do escritório. Jordi olhou para ele com cara de quem não gostou da novidade. — Tá com raiva, é? Venha! Venha me usurpar essa minha competência pra convocar eleições se você for homem! — gritou o presidente de governo. Ele bateu a porta do escritório e sentou-se numa poltrona próxima, com um pouco de falta de ar e dor de cabeça.

 

Continua… 





   






  






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