O sino de saída soou e todos os alunos começaram a preparar-se para sair da sala. Kurokawa com sua habitual preguiça acabou por sair por último. Enquanto passava pela porta, a professora interrompeu-o: 

—Você parece mais feliz recentemente, algo bom aconteceu? 

—Não, deve ser apenas a tua imaginação. -Respondeu ele indo embora. 

Ele retornou a casa pelo mesmo trajeto que sempre fazia e ao aproximar-se de seu destino sentiu um aroma delicioso. Kurokawa adentrou sua casa e viu Lizzy na cozinha: 

—Como você tem a determinação de fazer comida todos os dias? -Perguntou ele. 

—Eu costumava ajudar a minha mãe então é uma espécie de hábito. -Respondeu ela. -Eu realmente me questiono como você consegue sobreviver apenas com caramelos e miojo. Os teus pais não se preocupam? 

—Eu já sobrevivo assim há muitos anos e eu duvido que eles se importariam. -Respondeu Kurokawa abrindo o armário dos caramelos. 

Lizzy viu aquele movimento e rapidamente segurou a frigideira com força enquanto encarava-o: 

—Você não aprende, não é mesmo?  

—Tsc... -Reclamou ele desistindo dos caramelos e sentando–se à mesa. 

—Eu fiquei impressionada que você foi a escola, considerando que não tinha se curado completamente dos ferimentos de ontem. -Comentou Lizzy preparando o almoço. 

—Eu não queria ir, mas estou muito perto de reprovar por faltas então estou me forçando ao máximo para não faltar. Se eu reprovar esse ano é provável que desista da escola. 

—O quê? Você não pode desistir da escola assim! 

—Ahn? Porque não? 

—Porque a escola é o lugar onde os sonhos dos adolescentes tornam-se realidade! Enquanto você caminha distraída pelo corredor no primeiro dia de aulas, carregando os livros em sua mão, você acaba por esbarrar no Brad do clube de rúgbi. O impacto contra os braços musculados dele faz com que você derrube os teus livros, mas ele gentilmente te ajuda a pegá-los e por acaso as vossas mãos se encontram, os vossos olhos lentamente se encontram e então ele diz... 

—Para! -Interrompeu Kurokawa. -Essa tua visão escolar de fanfic não faz sentido nenhum. Ninguém carrega livros na mão, as pessoas usam mochilas. Na maioria das escolas nem sequer existem clubes de rúgbi. A escola de verdade é apenas um lugar onde as pessoas vão para serem psicologicamente torturadas diariamente. 

—Mas e todos os amigos? Todos os namoros? Todas as festas? Todas as danças coreografadas? 

—Nada. Tudo são mentiras criadas pela sociedade para tentar te enganar a ir à escola.  

—Tem certeza? Eu achava que a maioria dos adolescentes gostava de ir à escola. -Disse Lizzy carregando as panelas para a mesa. 

—A maioria dos adolescentes são estúpidos. -Respondeu Kurokawa se servindo. 

 –Pelo menos nisso podemos concordar. -Respondeu Lizzy observando Kurokawa. 

—O que você quis dizer com isso? 

—Nada, apenas coma. 

Kurokawa fez como o aconselhado enquanto ela juntava-se a mesa: 

—Ah, Kurokawa, você não recebeu nenhuma notificação? 

—Notificação? 

—Sim, abra a tua interface de IP. 

—Está falando de uma bolinha vermelha no canto da interface? -Perguntando Kurokawa abrindo sua interface. 

—Sim, toque nisso. 

—Ah...muito texto...bla bla bla evento alguma coisa. -Leu Kurokawa desempolgado.  

—Sim, em 9 dias, na próxima sexta vai ter esse grande evento em Kepler. Se você quiser vir comigo poderia ser- 

—Calma, o que é Kepler? 

—Ah, é uma cidade próxima a Vila que só existe no mundo de IP. -Respondeu Lizzy. 

—E esse evento é sobre o que? Vamos ter que unir centenas de jogadores para derrotar um monstro gigantesco? 

—Não...é um pouco mais calmo, vários NPCs vão aparecer e distribuir as mais variadas missões. E as recompensas das missões costumam ser bastante boas. 

—Isso parece entediante... -Comentou Kurokawa. 

—E normalmente há sempre duelos entre jogadores. 

—Nós vamos, certo? 

—Você é tão fácil de se manipular... -Pensou Lizzy enquanto observava Kurokawa com desprezo. -Até lá as tuas feridas já devem estar melhores e você pode usar esse intervalo de tempo para conseguir alguns níveis. Só entenda que a experiência necessária para passar de nível aumenta exponencialmente com cada nível.  

—Não se preocupe, eu entendo perfeitamente bem como jogos funcionam. -Respondeu Kurokawa levantando-se da mesa e pondo seu prato na pia. 

—Eu tenho grandes dúvidas sobre isso... 

Kurokawa caminhou lentamente para fora da cozinha: 

—Ei...Kurokawa onde você pensa que está indo? 

—Eu vou dormir, minhas feridas ainda doem. -Respondeu ele. 

—Eu estou vendo o teu prato na pia e ele não está lavado. 

—Eu não vou lavá-lo, eu tenho preguiça. 

Lizzy agarrou ameaçadoramente a frigideira: 

—Eu estou ferido, Lizzy! Isso é covardia! 

Lizzy apenas apontou para o prato e Kurokawa recuou lentamente para a cozinha: 

—Quando minhas feridas sararem...eu vou te expulsar da minha casa... -Murmurou ele.