Invisible Play escrita por Douglastks52


Capítulo 10
Coelhos e Espadas


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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Kurokawa esperou impacientemente do lado de fora até Lizzy sair: 

—Não podíamos ter ido diretamente pegar a missão e acabar logo com isso?  

—Não, era impossível. Você precisa ser no mínimo nível dez para aceitar a missão. -Respondeu Lizzy. -E é isso que vamos fazer agora, vou te levar para matar alguns monstros. 

—Ah...não podemos passar de nível lutando contra outros jogadores? 

—É possível, mas estamos numa zona onde a batalha entre jogadores é proibida pelo sistema. 

Kurokawa manteve a mesma expressão sem entender a resposta de Lizzy: 

—E também, no teu nível atual se consegue mais experiência lutando contra monstros... 

Ele finalmente pareceu aceitar a resposta. Os dois caminharam até outro elevador, retornaram ao térreo do prédio e correram cerca de quinze minutos até uma planície. A paisagem verde se estendia até o horizonte e Kurokawa conseguia ver vários coelhos: 

—Não estamos tão distantes assim da cidade, como é possível ter uma área dessas sem construções humanas nenhuma aqui? -Perguntou ele. -Isso faz parte do jogo também? 

—Não, essa planície existe no mundo normal. -Respondeu Lizzy. -Eu também não sei te explicar, parece que nada foi construído aqui porque as pessoas sabiam que esse era um lugar importante para IP. 

—Bem, onde estão os monstros que viemos derrotar? 

—São aqueles coelhos. -Respondeu Lizzy. 

—Você não pode estar falando sério...Eu já lutei contra um tigre mutante agressivo...não tem algo mais...interessante? 

—Você é nível um ainda, essa é a forma mais efetiva de conseguir experiência. Pare de reclamar e faça logo. 

Kurokawa, claramente decepcionado, suspirou e caminhou lentamente até um coelho. Apesar de parecer um coelho normal, suas garras eram bem maiores e havia algumas letras flutuando acima de sua cabeça: 

—” Pequeno Coelho das Planícies - Nível 1” -Leu Kurokawa. 

Sem pensar muito, ele chutou o coelho para longe e viu-o desaparecer no ar. Logo em seguida um pequeno aviso surgiu em sua frente: 

—Você recebeu 10 de experiência. 

—Lizzy...Quantas vezes eu vou ter que fazer isso?  

—Até conseguir nível dez...ou seja...umas trezentas vezes. 

Kurokawa suspirou novamente e caminhou até o próximo coelho. Ele tocou o pêlo daquele ser com seu dedo: 

—É bem macio...não consigo sentir diferença nenhuma entre isso e um coelho normal. 

—Em termos de sensação, não existe diferença entre a realidade e IP. -Respondeu Lizzy. -Mais uma coisa, não toque neles, eles costumam ser agressivos... 

—Essas bolas de pelos gordas? Agressivas? -Riu Kurokawa. 

O coelho virou lentamente sua cabeça na direção de Kurokawa enquanto mostrava seus olhos vazios, seus dentes pontiagudos e seu rosto doentio. Saliva escorria pela sua boca enquanto ele emitia um som bizarro. Antes que conseguisse reagir, a mão de Kurokawa foi violentamente abocanhada e ele gritou em dor: 

—Seu coelho maldito!!! Solta!!!! 

Ele balançava o seu braço em todas as direções, mas o coelho se recusava a largar. Kurokawa afundou seu punho no chão junto do coelho com todas as suas forças e viu aquele animal se desfazer em pequenas partículas brilhantes. Ele recebeu mais um aviso de experiência: 

—Aquilo realmente doeu... 

Ele olhou a sua volta e percebeu dezenas de coelhos se aproximando devido a comoção toda que ele havia feito: 

—Ei, Lizzy, isso é um pouco demais até mesmo para mim... 

Kurokawa olhou os seus arredores, mas não conseguiu encontrar Lizzy. Os coelhos lentamente caminhavam em sua direção. Ele percebendo que havia sido abandonado, respirou fundo e gritou irado: 

—LIZZY!!!!!! 

Muitos minutos mais tarde, Lizzy, deitada no chão a sentir a brisa da tarde, vê Kurokawa aproximando com um olhar um pouco mais morto do que o habitual: 

—Foi mais rápido do que eu esperava... -Comentou ela. 

Kurokawa simplesmente continuou a caminhar em sua direção sem dizer nada: 

—Você parece um pouco...irritado... 

Kurokawa parou em frente a Lizzy e seus olhares se encontraram: 

—Aqueles coelhos...morderam lugares do meu corpo...que nunca mais serão os mesmos... 

Lizzy viu que Kurokawa havia sofrido danos permanentes em seu corpo e alma: 

—Foi tão difícil assim? 

—Eles morriam com apenas um ataque, mas toda vez que eu era mordido, eu acabava por gritar de dor, o que atraía mais deles. Foi um ciclo praticamente infinito. Mas a partir de um certo ponto, os ataques deles começaram a ficar mais lentos e aqueles que me acertavam quase não me feriam. 

—Isso aconteceu porque você foi passando de nível e se tornando mais forte, mais resistente e mais rápido. -Disse Lizzy. -Conseguiu algum feitiço ou habilidade nova? 

—Não. 

—Não faz mal, a tua classe aparentemente tem pouquíssimos feitiços e habilidades. Vamos voltar para a Vila e pegar a tua arma com o tio Feiner. 

Eles retornaram à vila da mesma forma e pelo mesmo caminho de antes. Kurokawa dessa vez já era capaz de acompanhar a velocidade de Lizzy por mais tempo, apesar de cansar-se muito mais que ela. Os dois entraram na oficina de Feiner e desceram as escadas até a parte inferior: 

—Vejo que já estão de volta... -Comentou ele limpando o suor em sua testa e pegando uma espada encostada a parede. -Não é grande coisa, mas por enquanto deve ser o suficiente. 

Ele jogou a espada na direção de Kurokawa. Ele pegou-a enquanto observava-a com atenção: 

—Eu fiz uma espada porque ela é uma das armas mais fáceis de se usar, mas você pelo menos tem alguma noção do que fazer? -Perguntou Feiner. 

—Eu sei bater em pessoas com bastões, deve ser mais ou menos a mesma coisa. -Respondeu Kurokawa. 

Ele começou a balançar a espada pelo ar tentando entender como usá-la 

—Lizzy...por favor, esqueça essa ideia estúpida. Esse pirralho não vale a pena o teu tempo. -Sussurrou Feiner. -Olhe para ele tentar usar a espada como se fosse um bastão, aquilo serve para cortar, não para bater... 

—Ah...entendi... -Murmurou Kurokawa. -Cortar, e não bater... 

—Você está sendo exigente demais, nem todo mundo é igual ao meu pai que consegue simplesmente usar uma arma perfeitamente em sua primeira tentativa. -Respondeu Lizzy. 

Feiner suspirou mais uma já sem esperanças: 

—Espero que você saiba o que está fazendo... 

Os dois caminharam para fora e começaram a andar em direção ao lugar da missão. Kurokawa continuava a balançar a espada tentando acostumar-se: 

—Você pode guardá-la dentro do seu inventário se quiser. É só abrir o menu principal, selecionar inventário e guardar num dos espaços vazios. -Aconselhou Lizzy. -Quando precisar dela é só ir no mesmo lugar e invocá-la, tome cuidado para não guardar muitos itens lá, o seu inventário tem um limite. 

Kurokawa ouviu o conselho, mas preferiu continuar brincando com a espada. Ela parou de caminhar e apontou em direção a um aglomerado de pessoas: 

—É só seguir em frente e você vai encontrar um NPC feminina de cabelos longos e loiros, se você falar com ela, ela vai te contar uma história e depois pedir para que você derrote uns certos monstros. Se você conseguir completar a missão e retornar aqui, ela vai te dar o item que revela a posição de outros jogadores no mapa. -Explicou Lizzy. -Eu vou voltar para casa porque tenho algumas coisas para fazer, boa sorte. 

Os dois se despediram e Kurokawa seguiu em frente. Enquanto caminhava no meio de todas aquelas pessoas, ele podia ver com bastante clareza que algumas eram diferentes. Pareciam vazias e inexpressivas: 

—Então isso são NPCs... 

Ele andou por mais alguns minutos até finalmente ver alguém que tivesse a aparência que Lizzy descreveu. Kurokawa aproximou-se e ficou à espera de que ela dissesse algo. Alguns segundos de silêncio e ele decidiu agir: 

—Ah...olá? 

—Olá, senhor, desculpa ser tão direta, mas poderia me ajudar? 

—Sim. -Respondeu Kurokawa tentando acabar logo com isso e ir testar sua espada nova. 

—Muito obrigada, eu vou te levar ao meu marido e ele irá te explicar melhor a situação. Siga-me. 

Ela caminhou até uma casa rústica próxima daquele lugar e entrou. Kurokawa seguiu-a sem fazer muitas perguntas. Dentro havia uma mesa no centro daquele cômodo e um homem estava sentado numa das quatro cadeiras disponíveis. O homem tinha curtos cabelos vermelhos, vestia roupas típicas de um camponês e tinha em suas mãos uma xícara de café. Mas havia algo diferente sobre ele que Kurokawa não conseguia bem entender. Ele levantou-se e estendeu sua mão a Kurokawa: 

—Eu sou o marido dela, obrigado por vir até ouvir o nosso pedido egoísta. 

Kurokawa aceitou o aperto de mão mesmo que se sentisse meio desconfortável: 

—A Lizzy falou algo sobre uma história, então suponho que esse cara faça parte disso...Mas mesmo assim, os movimentos, expressões e voz dele... parecem muito...humanos... -Pensou ele. 

—Sente-se por favor, gostaria de um pouco de café? 

Kurokawa recusou e o homem começou a explicar a situação: 

—Há uma dupla de criminosos que recentemente se mudou para um lugar próximo daqui e eles têm nos causado muitos problemas. Se você puder afugentá-los, nós ficaríamos muito gratos. Claro, se eles fossem mortos, também não haveria problema nenhum. 

—Sim, eu aceito fazer isso. -Respondeu Kurokawa. -Só preciso saber onde eu tenho que ir. 

—A posição já está marcada no teu mapa, assim que terminar, regresse aqui e te recompensaremos. -Disse a mulher loira. 

Kurokawa balançou sua cabeça para mostrar que havia entendido e saiu porta a fora. Ele abriu seu mapa e começou a se dirigir à posição marcada. O homem ruivo sentado dentro daquela casa, ao perceber que Kurokawa já estava longe, levantou-se e materializou um terno em seu corpo. Ele caminhou na direção de sua suposta mulher e tocou-lhe a cabeça: 

—Executar procedimento normal. -Ordenou ele. 

Ela caminhou para fora da casa, dirigiu-se para o lugar onde costumava ficar e lá permaneceu parada. O homem tocou uma das paredes da casa e sussurrou: 

—Deletar construção. 

A casa desapareceu como se nunca tivesse existido: 

—Espero que isso seja o suficiente para acelerar o crescimento de Kurokawa. Toki provavelmente vai descobrir tudo em breve e terei que lidar com isso. Tantos problemas. Bem, independente de quantas vezes eu precise recomeçar, eu vou criar a nossa utopia.  


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Notas finais do capítulo

E um personagem misterioso é introduzido! Próximo capítulo haverá batalhas! Eu adoro escrever batalhas...