Quem lhe ensinou a amar? escrita por La Rue


Capítulo 7
Sentimentos


Notas iniciais do capítulo

Olá meus semidivos, tudo bem com vocês?

Passando para postar mais um cap. antes de postar o de Fios do Destino.
Essa semana foi bem complicada pra mim então eu não sei se revisei da forma devida, mesmo assim espero que gostem!

Gente desculpa a autora meio lenta de vocês, eu me esqueci de avisar que tinha uma passagem de tempo, mas creio que todo mundo tenha notado. Se passa pouco antes do Percy chegar ao acampamento... Lembrando que eu utilizo a idade do filme, ou seja, eles são aqui um pouco mais velhos que nos livros.


Boa leitura a todos!!!



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"Quando o meu mundo era mais mundo

E todo mundo admitia

Uma mudança muito estranha

Mais pureza, mais carinho mais calma, mais alegria

No meu jeito de me dar"

 

~***~

Os estábulos não era exatamente o seu lugar favorito no acampamento, mas começara a frequentar o local com mais frequência desde que Silena lhe convidou para as aulas de equitação e bem… A garota conseguia ser bem convincente quando queria, disparando contra ela o "Uma filha de Ares que não sabe cavalgar?!", "Você deveria aprimorar outras habilidades" ou também "o que você vai fazer se estiver em uma guerra e precisar de um cavalo ou pégaso?".

Estava se sentindo muito confusa principalmente pelo fato de que desconfiava que Beauregard soubesse de seus sentimentos embaralhados e mal classificados - seja por ela, ou pela outra pessoa que preferia não pensar, mesmo que silenciosamente sempre estivesse lá. Também possuía lá seus receios com tal aproximação, não queria que a outra lhe dando alguma atenção por pena ou qualquer coisa do tipo, mas não… Não era justo pensar isso da "amiga" se é que podiam se rotular dessa forma.

Silena se aproximara quando ainda eram crianças, poucos meses após se estabelecer como uma campista do chalé de Ares. Sempre lhe tratou com gentileza, mesmo que não merecesse; sempre lhe ofereceu palavras de amizade, mesmo que pouco se falassem e quando o faziam era por insistência da filha de Afrodite; sempre esteve lá, mesmo que não entendesse o porquê… Mas aquilo significava que a garota possuía algum sentimento por ela? Pouco provável.

Ela não era de "todo o mal", deveria ter algum par de qualidades mesmo que não pudesse enumerá-las com facilidade, o físico estava "ok" e um sorriso que talvez fosse charmoso graças à linhagem do seu pai; ela não era exatamente uma "porta" como a maioria de seus irmãos, era até um pouco mais inteligente com certo esforço, mas se fosse comparar talvez não fosse tão bonita quanto o conselheiro de seu chalé, Mark… O irmão sempre chamava atenção e ela quem sabe atraía algo graças ao olhar, isso ela conseguia reconhecer, tinha olhos bonitos. Entretanto não poderia afirmar que esse conjunto seriam ultra qualidades capazes de chamar a atenção de alguém exuberante como Silena, talvez fosse um pouco demais até para ela.

Onde estava? Ah, os estábulos e a sua falta de afinidade com o local, pelo menos a princípio... Beauregard lhe fizera voar duas vezes em Pongo - foi seu presente de aniversário enviado por Afrodite - um pégaso dócil, veloz, robusto e sarapintado, era majoritariamente branco com pintas pretas pelo corpo. Tentou se mostrar corajosa, mas com certeza havia deixado marcas de seus dedos na pele de Silena de tão forte que lhe segurou - não que a garota tenha achado ruim. Pongo era dócil e muito bem treinado, mas Clarisse não era muito fã dos pégasos, apesar de que eles eram a maioria por ali, os seres alados sempre pareciam lhe olhar de uma forma desconfiada e ela sequer poderia imaginar o porquê. Contudo seu último presente de aniversário era um motivo a mais para permanecer mais tempo ao lado de Silena, mesmo com sua meia dúzia de ressalvas.

Falando em presente de aniversário ela nunca vira Ares efetivamente, apenas à intimidadora estátua central de seu templo. Era Quíron que sempre se encarrega de lhe entregar algo que fosse referente ao deus da guerra, da primeira vez fora sua lança elétrica a qual batizara com o nome de "mutiladora", já o segundo… Bem, era algo bem Ares e que com certeza causaria medo a muitos dos semideuses de Deméter que ali se revezavam para manter tudo em ordem.

Tratava-se de um dos cavalos imortais de seu pai, para ser mais exato era o mesmo que havia lhe direcionado até o Acampamento Meio-Sangue, sabia disso, pois conseguia se comunicar com o animal ou talvez ela tivesse alguma afinidade para falar com aquele tipo de raça, chegara até mesmo a tirar dúvidas com Mark, mas chegaram à conclusão que só ela conseguia tal façanha, e provavelmente deveria ser apenas com aquele animal em específico.

Ele era mais robusto que os outros e mais alto também, mesmo que fosse constituído apenas de ossos pesados e brilhantes, no lugar dos globos oculares havia esferas de fogo como os do senhor da guerra e sua crina e rabo eram de fogo intenso, porém Clarisse constatara que não se machucava ao lhe tocar em tais pontos se o mesmo tivesse confiança. Acabou por batizar o mesmo de Phobos e o animal parecia gostar da nova alcunha. Os primeiros dias foram terríveis, pois o cavalo parecia não se dar bem com os pégasos e demais - ou em sua maioria os outros animais também tinham medo de se aproximar -, por fim ela e Silena tiveram de arrumar uma baia mais afastada e assim evitariam problemas.

 

~***~

 

Aquela manhã a filha de Ares chegou um pouco mais cedo do que de costume para cuidar dos arreios e acessórios que usava para Phobos. Beauregard já estava lá com a nova turma de equitação, era sempre a primeira a chegar ali, mesmo que algumas atividades fossem designadas para os semideuses da deusa Deméter.

Por muitas vezes durante os últimos dias se recriminou pela forma que olhava para a morena e tinha receio de que mais alguém notasse o seu interesse, mas era difícil não se distrair com o sorriso bonito, o olhar doce e o cheiro envolvente. Clarisse não era do tipo que procurava por relacionamentos ou qualquer coisa do tipo, ela não tinha "cabeça" o suficiente para aquilo, tampouco tivera interesse em outros semideuses, seja garotos ou garotas… Bem, Annabeth não contava, certo?! Deveria ser apenas uma maluquice ou delírio seu, por mais que aquela "ligação" entre elas sempre lhe trouxesse questionamentos dos quais duvidaria ter respostas algum dia.

"Você é patética… "  

A voz de Phobos se fez presente em sua mente aérea enquanto ela se perdia em pensamento, já deixara até mesmo de contar quantas vezes isso havia acontecido somente naquele curto período da manhã.

—Quem você está chamando de patética sua carcaça de museu? - rebateu talvez rápido ou alto demais, pois alguns semideuses que estavam mais próximos lhe olharam como se estivesse louca.

Estreitou o olhar para o animal que estava ao seu lado como se o recriminasse, porém tudo o que recebeu foi uma leve lufada de ar quente que saíram das narinas vazias, como se lhe desafiasse a provar o contrário.

"Você é filha de Ares, pare de agir como se fosse uma garotinha insegura" insistiu o cavalo olhando de sua mestra para depois apontar para a direção de onde estava os outros, no caso a filha de Afrodite. "mostre que tem um pouco de sangue do deus da guerra e dignidade em você… Ela que deveria agir como uma garotinha insegura ao seu lado".

Clarisse balançou a cabeça como se fosse a coisa mais estúpida que já tivesse escutado, era um absurdo que ela estivesse recebendo conselhos amorosos de um cavalo, um cavalo imortal, mas ainda sim um animal… Até mesmo um cavalo tinha mais tato do que ela, contudo, apenas talvez, ela concordasse que fosse um tanto patética nesse sentido.

—Fique quieto, ou nada de exercícios nem carvão pra você hoje. - resmungou a semideusa checando novamente os acessórios, mesmo que eles se ajustassem magicamente ao animal como se possuísse uma cobertura invisível.

Phobos pensou em contestar um pouco mais, ajudava há passar seu tempo implicar com a semideusa de temperamento curto, mas ficar sem seu carvão já era demais. Entretanto o barulho na área livre dos estábulos onde eram realizados os exercícios lhe chamou a atenção.

—Volto logo. - comunicou a garota deixando o parceiro de lado e se encaminhando rapidamente para a área externa, havia sentido algo estranho e seu corpo agiu quase que por impulso.

Dois pégasos pareciam irritados um com o outro enquanto havia alguns semideuses assustados ao redor e outros dois tentando contê-los pelas rédeas. Correu quando viu a morena ao chão, estava com dor demais para conseguir se levantar sozinha.

—Saiam de cima seus imprestáveis! - praticamente rosnou para os outros campistas que se afastaram imediatamente, ser filha de Ares tinha lá suas vantagens em certos momentos. - hey, está tudo bem… - completou com a voz branda e tranquila, ao acariciar os cabelos negros, sequer parecia ter saído de si.

—Clarisse… - disse a garota tentando esboçar um pequeno sorriso para lhe tranquilizar assim que reconheceu a sua voz.

—Está tudo bem, vou te levar até a enfermaria. - continuou a falar passivamente enquanto analisava com extremo cuidado o braço esquerdo da garota, não queria lhe causar ainda mais dor. - acho que está quebrado, não se preocupe, vamos dar um jeito.

Ninguém ali deveria ter néctar ou ambrósia, nem ela havia trazido qualquer tipo de provisões de emergência naquele dia, afinal era muito difícil qualquer acidente mais grave vindo dos estábulos. Clarisse passou os braços por baixo das suas pernas e pelos ombros, Silena mantinha o braço machucado imóvel sobre o seu estômago e soltou apenas um gemido ao ser erguida. A garota não era pesada e graças aos treinos mais lhe parecia um saco de arroz, mas procurou conter seus passos para balançar o mínimo possível.

—Eu poderia me acostumar com isso facilmente. - comentou de forma um tanto sugestiva enquanto mantinha o rosto aninhado ao ombro da mais alta.

—Que engraçadinha… - bufou se amaldiçoando por sentir seu rosto queimar, sabia que a garota notaria ou que teria feito de propósito só para poder lhe ver sem graça. - já está fazendo piadas, deve estar melhor.

—Desculpe-me, minha heroína. - as palavras saíram seguidas de uma risadinha contida.

Clarisse fechou a cara como normalmente fazia, focou no caminho e tentou controlar os batimentos ao sentir o hálito quente próximo ao seu pescoço, Beauregard não continha suas brincadeirinhas quando bem se encaixavam, porém ela não sabia até quando conseguiria de fato se conter sem revidar.

Agradeceu a qualquer um dos deuses quando chegaram a Casa Grande, não havia muitos semideuses machucados, de forma que foram atendidas assim que chegaram à ala da enfermaria.

Além da ambrósia, teve de enfaixar o braço e ficaria de repouso por pelo menos o restante do dia. Com a queda repentina que sofrera do pégaso que conduzia, a filha de Afrodite havia quebrado o pulso e o rádio, porém nada de grande gravidade.

—Nada de atividades mais arriscadas pelos próximos três dias, Srta. Beauregard. - falou Abigail em tom de advertência, mal parecia que possuíam apenas poucos anos de diferença.

Silena soltou um muxoxo de indignação, aquilo significava que estaria fora da captura da bandeira naquela semana, justamente uma das atividades mensais que mais gostava, por mais que o chalé de Afrodite passasse mais tempo na torcida do que na linha de frente como os outros.

—Nem faça essa carinha, isso não funciona comigo. - continuou a garota de olhos azuis límpidos como um dia claro. - ou é isso ou terá de passar bem mais tempo sem suas atividades e eu sei o quanto você adora cavalgar.

A morena deu-se por vencida e deixou-se afundar nos travesseiros bem alinhados às suas costas. A filha de Apolo e também responsável interina pelos acidentados, sorriu para as duas semideusas e as deixou sozinhas.

—Tenho que ir, antes que Mark encontre métodos novos e mais satisfatórios para me torturar. - somente agora ela havia notado que os dedos da amiga estavam entrelaçados aos seus.

Silena lhe olhava daquela forma intensa que fazia seu coração dar um solavanco, sentia o polegar acariciando o dorso da sua mão e era quase como se suas pernas fossem derreter a qualquer momento… Mas que droga era aquela? Era algum tipo de feitiço? Era "coisa de Afrodite"?

—Descanse… - disse ao lhe dar um abraço sem jeito. - nos vemos mais tarde.

Clarisse não era de abraçar pessoas, mas a tensão inicial se dissipou quando seu pescoço foi envolvido pelo braço que não estava machucado. Podia sentir a respiração tranquila contra a sua pele, deixou se inebriar pelo perfume delicado por alguns instantes antes de se apartar dando-lhe um beijo rápido no topo da cabeça.

 

~***~

 

Clarisse estava exausta, havia retornado aos estábulos assim que deixara a Casa Grande para o treino de Phobos, bem sabia como ele ficaria de mau humor e da última vez lhe fizera o favor de queimar parte dos campos de Deméter e a semideusa tivera de lidar com os estragos após isso; depois de manter o companheiro satisfeito teve que se concentrar nas aulas e nos treinos, o que não foi muito fácil, mas sobreviveu.

Todas as dores e hematomas extras serviram para lhe manter com a mente ocupada o suficiente pela maior parte do tempo, mas não importava como, ela sempre sentia aquela sensação que não compreendia e que com o tempo parecia ficar mais forte. 

Mais uma vez ela estava lá, dividindo as inquietações com o mar, não era exatamente o primeiro local onde se encontraria um filho de Ares, mas funcionava com ela. O estreito de Long Island se tornara um dos seus lugares favoritos desde que chegara naquele acampamento.

—Fico feliz que tenha melhorado. – disse sentindo a presença da garota morena de olhos azuis.

Era algo engraçado até, Silena sempre sabia quando estava se sentindo mais incomodada, sufocada, inquieta ou até mesmo precisando de algum conforto, mesmo que tal conforto fosse apenas ficar ao seu lado, sem dizer nada… Clarisse também sentia quando a garota estava por perto, mesmo que isso não fizesse tanto sentido assim, mas muitas coisas ali não faziam.

Antes de a garota sentar-se ao seu lado ela já havia notado a sua presença, passou imediatamente a mão pelo rosto, talvez estivesse com os olhos irritados e não queria que Beauregard pensasse qualquer asneira sobre ela. Manteve os olhos presos ao mar, era sempre muito bonito quando os tons se mesclavam com o vermelho do crepúsculo, quase como se Ares encontrasse Afrodite. A mão da morena de olhos azuis alcançou a sua na areia, não se afastou ou tratou como se aquilo fosse algum tipo de brincadeira, a forma que a semideusa lhe encarava lhe deixava sem ar… Silena sabia de seus sentimentos, tinha certeza disso, talvez todos eles, talvez em uma intensidade maior ou menor, mas sabia.

—Obrigada por me ajudar. – agradeceu sem se desviar do olhar intenso e um tanto perdido da guerreira, lhe doía ver Clarisse daquela forma quase vulnerável. - não tive tempo para poder te agradecer de forma mais apropriada.

Os sentidos de La Rue dispararam quando a morena se aproximou devagar, ela não conseguiria retroceder vendo aquela imensidão azul cada vez mais próxima, sentiu os lábios nos seus de forma terna e mais uma vez era como se suas pernas fossem derreter a qualquer momento, agradeceu mentalmente por estar sentada.

Aquela fora a forma que Silena encontrara para selar o compromisso de que sempre estaria ao seu lado… Contudo Clarisse só conseguia pensar em não agir como uma completa ameba e estragar tudo.

—Apenas relaxe… - sussurrou Beauregard contra os lábios que há algum tempo desejara provar, antes de deslizar a ponta da língua de forma levemente provocativa.

Ela realmente desejou que a filha de Afrodite não fosse capaz de ler pensamentos, mas procurou "relaxar". Sentiu-se leve pela primeira vez em muito tempo, mesmo que seu coração ainda estivesse batendo como um tambor de guerra. Deixou a insegurança de lado e institivamente deslizou os dedos curiosos pelos fios negros e sedosos, aprofundou um pouco mais o toque gentil entre os lábios e foi agraciada por um gemido baixo ao tocar a língua da garota com a sua.  

Permaneceram um longo tempo imersa naquela sensação tão esperada por ambas até que Silena diminuiu a intensidade gradativamente quando precisaram de ar, mas não se afastou por completo dos lábios de Clarisse.

—Espero não ter arruinado suas expectativas… - brincou La Rue enquanto recebia pequenos beijos.

—Bem melhor… - confessou Beauregard lhe mordendo o queixo com carinho.

Clarisse suspirou sentindo os lábios da filha de Afrodite em seu pescoço enquanto era envolvida por seus braços… Era estranho e bom ao mesmo tempo, não estava acostumada a ser tocada, muito menos daquela forma tão gentil, doce e sem medo, mas se existia algum lugar melhor que o abraço de Silena ela desconhecia completamente e talvez não tivesse interesse algum em conhecer. 


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Notas finais do capítulo

Esse cap. foi mais curtinho, mas eu acho ele fofinho e é importante para o próximo de Fios do Destino, queria não ter atrasado o cronograma e ter postado pelo menos mais uns dois, mas infelizmente não vou poder atrasar tanto FdD assim.

Queria deixar algo meio claro aqui, nesse capitulo a Clarisse é meio desconfiada com a aproximação da Silena, mas isso se deve ao rito de Afrodite - o único que é realmente citado na obra - que é o de “quebrar” o coração de alguém, mas que na ora original Silena interrompeu isso quando se apaixonou pelo Beckendorf.

Obrigada por acompanharem mais um cap. e até breve, creio que no máximo amanha estarei postando o de FdD.



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