Aos poucos fomos precisando de ar e o beijo foi ficando mais lento. Não que estivéssemos dando um show dentro da sorveteria, mas ainda assim talvez eu tenha gemido um pouco mais alto do que o recomendado em público quando Bella fechou a mão em minha nuca, puxando um pouco do meu cabelo e talvez ela tenha feito o mesmo quando mordisquei seu lábio inferior.

“Eu queria fazer isso desde o seu aniversário” - confessei, encarando seus olhos castanhos. - “Acho que na verdade desde antes, mas naquele dia eu realmente me dei conta. Bella, escuta” - disse brincando com sua mão na minha - “eu sei que você disse que não quer olhar para o passado, mas eu preciso falar. Acho que a gente precisa conversar. Nem tudo vai ser fácil daqui pra frente e eu preciso ter certeza de que você sabe onde está se enfiando e de que você realmente quer enfrentar tudo isso. E eu preciso explicar porque eu lutei contra o que eu estava sentindo, porque eu magoei tanto você.”

“Tudo bem” - ela disse soltando um suspiro - “eu sei que você está certo. Rosalie me acusou de não ter conversado com você como deveria e por mais que eu estivesse com raiva eu sei que ela estava certa.”

“Se você soubesse quantas pessoas me disseram isso” - disse sorrindo para ela. - “Vamos?” - perguntei me levantando.

“Para onde você vai me levar?” - ela perguntou começando a caminhar ao meu lado.

“Pensei na minha casa, mas podemos ir para outro lugar, se você preferir. É só porque eu sei que lá não corremos o risco de ninguém nos perturbar e poderemos conversar em paz e…”

“Edward, relaxa” - ela disse tocando meu braço. - “Tá tudo bem, eu não me importo em ir até a sua casa.”

Assim que entrei no carro entrelacei nossas mãos e pude vir o sorriso surgindo em seus lábios. O caminho até minha casa foi preenchido com um jogo de perguntas e respostas.

“Sua matéria preferida na escola?” - comecei.

“História” - respondeu, sem nem precisar pensar.

“Poxa, e eu pensando que você ia responder física.”

“Você perguntou matéria preferida e não professor preferido” - ela respondeu piscando para mim. 

“Pensou em ser outra coisa além de físico?”

“Queria ser domador de leão quando criança” - disse rindo e arrancando uma sonora gargalhada dela.. - “E astronauta, claro. Mas quando chegou a hora, acho que nunca existiu outra opção. Em uma casa com pais físicos, com irmão mais velho cursando física. Tudo bem que Alice foi para a biologia, mas eu sempre gostei de números. E você, já sabe o que vai fazer?”

“Fui aceita para o programa de direito internacional na Cornell.

“Isso é maravilhoso Bella. Parabéns.  - disse apertando sua mão. - “Minha mãe estudou na Cornell e dá aula no departamento de física de lá. Tenho certeza que ela pode te falar algumas coisas sobre a faculdade..”

“Obrigada, Edward. “Republicano ou democrata?”

“Tô tentando não me sentir ofendido aqui. Por acaso eu tenho cara de republicano?” - perguntei, aproveitando que estávamos parados em um sinal para olhar para ela fazendo um beicinho.

“Não” - ela disse se inclinando e depositando um beijo na altura do meu ombro. Mas certas coisas sempre devemos confirmar para evitar qualquer problema futuro. - Completou rindo.

“Cor preferida?”

“Verde” - ela respondeu, corando em seguida. E se ela tivesse me perguntado, naquele momento eu teria respondido vermelho. - “Banda ou cantor preferido?”

“Queen. Me lembra minha infância. Meu pai colocava os discos da banda para tocar e ele e minha mãe dançavam pela sala, enquanto eu e Emmett dançávamos com Alice.”

“Vocês parecem ser muito unidos.”

“Sempre fomos. Garrett tem uma diferença maior de idade para Emmett, Alice e eu, mas ainda assim, brincávamos que ele era o nosso d'Artagnan e sempre fomos um por todos e todos por um. Claro que temos nossas brigas, como quaisquer irmãos, mas meus pais sempre nos proibiram de dormir brigados e acho que esse é o nosso segredo. E você, tem irmãos?” - perguntei, olhando rapidamente para ela, aproveitando o sinal fechado.

“Sim e ele foi seu aluno antes de mim. Jasper. Ele é três anos mais velho do que eu e está na faculdade agora.”

“Claro! É por isso que seu sobrenome não me era estranho. Jasper, Jasper Swan… ele era um que se sentava sempre no fundo da sala e dormia todas as aulas, mas ainda assim sempre conseguia tirar notão em todas as provas?”

“Se parece com ele” - ela disse rindo. - “Você poderá vê-lo no baile de formatura. Ele será meu par. Você vai levar alguém?” - ela perguntou mordendo o lábio.

“Alice. Ela sempre me acompanha nessas coisas” - disse apertando sua mão. “Achei que você fosse com o James.”

“Não seria justo com ele. Não depois de tudo. Ele vinha sendo super compreensivo, aceitando o meu tempo e tudo, mas acho que ele cansou e hoje mais cedo ele tentou me beijar e quando os lábios dele encostaram nos meus simplesmente não pareceu certo. Eu queria ter conseguido beijar de volta, ter gostado, mas eu só conseguia pensar em você e no fato que era você que eu queria estar beijando...” - ela disse chorando

“Shh tá tudo bem Bella” - eu disse encostando o carro e a puxando para os meus braços, esperando ela se acalmar. - “Teria sido mais fácil para você se você tivesse conseguido gostar dele, mas a gente não tem controle dessas coisas. E eu tenho certeza que o James mais do que ninguém vai entender” - disse secando as lágrimas dela, depositando um beijo em sua testa.

Esperei ela se acalmar para ela voltar para o banco do carona e retornarmos as perguntas. Já estávamos na esquina da minha casa. 

“O que você gosta de ouvir?”

“Shawn Mendes, Camilla Cabello, Taylor Swift, Jonas Brothers” - e eu não pude conter o sorriso ao perceber que apesar de tão madura para algumas coisas, ali Bella mostrava sua verdadeira idade. - “Mas das bandas inglesas eu prefiro Beatles.”

“Diga isso da próxima vez que encontrar meu pai e você vai ganhar o posto de nora preferida” - disse piscando para ela, enquanto desligava o carro em minha vaga.

“Seus irmãos são casados?”

“Não, mas ainda assim, gostando de Beatles seu posto estará garantido para sempre.”

Seguimos de mãos dadas até o elevador e eu permaneci com meus braços envolvidos ao redor do seu corpo por todo o tempo da viagem até o terceiro andar, meu queixo apoiado no topo de sua cabeça, enquanto aspirava o suave aroma de morango que já tinha sentido na noite do seu aniversário.

Assim que abri a porta do apartamento dei espaço para que ela entrasse primeiro e pude vê-la observando atentamente enquanto eu deixava chaves e carteira sobre o aparador e entrelaçava nossas mãos, a puxando comigo até o sofá.

“Sei que disse que vamos conversar, mas eu preciso fazer uma coisa antes” - disse a puxando para perto de mim e colando nossos lábios mais uma vez. 

Por que mesmo eu tinha demorado tanto tempo para beijá-la? De alguma forma ela foi parar em meu colo, sua mão, arranhando minhas costas por sob minha camisa, enquanto eu apertava sua cintura. Eu podia sentir meu membro ganhando vida, mas foi quando ela gemeu, rebolando em meu colo, que eu despertei para a situação em que nos encontrávamos e tratei de nos afastar rapidamente.

“Bella espera” - eu disse, tirando ela do meu colo e a colocando no sofá, enquanto levantava e ia até a cozinha buscar uma água. Eu precisava me afastar dela por alguns segundos. Ao voltar pude ver seu olhar assustado, como que temendo minha reação. Eu odiava vê-la daquele jeito, mas eu sabia que aquilo era culpa minha. Eu a tinha rejeitado várias vezes antes.

“Ei, eu estou aqui e não vou a lugar nenhum pelo tempo que você me quiser - disse me sentando ao lado dela e acariciando sua mão. - “Eu só não quero acelerar demais as coisas e nem fazer nada do que você se arrependa depois. A gente veio aqui pra conversar. Eu não quero que você ache que eu te trouxe aqui com segundas intenções.”

“Eu nunca pensaria isso, Edward” - ela disse se virando e ficando de frente para mim.

“Bom. Antes de tudo eu preciso que você saiba que eu nunca me envolvi com uma aluna antes. Durante todos esses anos como professor eu recebi inúmeras cantadas, presentes e um monte de coisa, mas eu nunca correspondi. Antes de você eu nunca enviei nenhum aluno meu para os meus pais, Bella. Mas você, eu não sei explicar, alguma coisa me atraía para você. Ao invés de ficar com raiva pela sua insistência eu ficava ansioso para ver o que você ia aprontar em seguida, como você ia tentar me surpreender na próxima aula. Mas ao mesmo tempo isso me assustava pra caramba. Eu nunca fui um carinha como o dos romances que você está acostumada a ler, Bella” - disse arrancando uma risadinha dela. - “A única vez que eu deixei meu coração ditar minhas ações eu me machuquei no final e de alguma forma ela tinha muito em comum com você.”

Eu pude ver a confusão passando pelo rosto dela e eu sabia que precisaria falar sobre Irina, por mais que não quisesse.

“Quer almoçar, enquanto continuamos essa conversa?” - perguntei sentindo o buraco em meu estômago, que eu não sabia se era decorrente da fome ou do que viria a seguir. - “Minha mãe esteve aqui mais cedo e deixou um almoço pronto, podemos comer na bancada da cozinha, se não se importar.”

“Ai meu deus, você é muito filhinho da mamãe, mesmo” - ela disse rindo, depositando um beijo na minha bochecha antes de se colocar de pé e estender a mão para mim.

Estávamos quase terminando a carne com salada que minha mãe tinha deixado pronta quando resolvi retomar a conversa. 

“Como eu te disse, nunca me envolvi com uma aluna, mas Irina era 6 anos mais nova do que eu. Ela é filha dos melhores amigos dos meus pais e nós praticamente crescemos juntos. Apesar dela regular idade com Garrett, nós dois sempre tivemos uma afinidade muito grande, estávamos sempre juntos e acabou acontecendo. Apesar da diferença de idade, nossos pais nunca puseram nenhum empecilho ao relacionamento. Eu às vezes achava que podia estar impedindo ela de viver algo natural da idade dela, mas sempre que comentava algo a respeito ela me acusava de pensar demais e me dizia que se quisesse estar com alguém da idade dela estaria, afinal, ela não estava comigo obrigada. E assim nós permanecemos juntos por quatro anos. Quando começou a faculdade ela saiu de casa e veio morar comigo e dois anos depois eu estava pronto para pedir ela em casamento” - parei, sentindo o bolo crescendo em minha garganta.

“Não precisa contar se não quiser” - Bella disse aproximando sua cadeira da minha e me abraçando.

“Eu quero” - disse apoiando minha cabeça em seu ombro. - “Só meu pai e Emmett sabiam que eu ia pedir ela em casamento. Quer dizer, provavelmente meu pai contou para minha mãe e Emmett contou para Alice e Garrett, mas eu mesmo nunca falei sobre isso com ninguém, mas eu não quero que haja segredos entre a gente. Quando eu cheguei do trabalho naquela sexta-feira, Irina não estava. Eu demorei a me dar conta que nada dela estava mais por aqui. Foi só quando sentei no sofá para assistir um jogo qualquer na TV, esperando ela chegar, para levar ela para jantar e então fazer o pedido, que vi o envelope na mesinha de centro. Em resumo, ela deixou uma carta dizendo que eu estava certo e que ela realmente precisava viver a vida como alguém da idade dela. Pelo o que eu soube ela transferiu a faculdade para outro estado e eu nunca mais a vi nem soube dela. Nesse um ano e meio eu não me envolvi seriamente com ninguém e então você apareceu. Alguém 10 anos mais nova do que eu. Desculpa, mas minha cabeça deu um nó.”

“Por isso você falava tanto da minha idade.”

“Sim. Eu tentava dizer pra mim mesmo que o fato de você ser minha aluna era o pior de tudo, era o mais grave, mas no meu subconsciente o fantasma da diferença de idade estava aqui o tempo todo. Mas então hoje minha mãe esteve aqui e ela me fez ver que você não é a Irina e”

“Espera.” - Bella praticamente gritou, se virando e me fazendo me afastar dela. - “Sua mãe sabe sobre a gente? Como assim?”

“Segundo ela, ela sabe desde o dia que eu liguei avisando que tinha passado o número dela para você e que você era minha aluna. Como eu disse, nunca enviei uma aluna para os meus pais antes e ela disse que quando eu liguei falando sobre você ela soube que você era diferente. Imagino que o fato de eu ter aparecido em todas as suas aulas não deve ter ajudado muito também” - disse rindo.

“Meu deus, com que cara vou encarar sua mãe, agora?” - ela perguntou parecendo realmente apavorada.

“Com essa mesma carinha linda de sempre” - eu disse, a trazendo para o meu colo, beijando a ponta do seu queixo e então subindo para os seus lábios. - “Você não imagina o quanto tem em comum com a minha mãe.”

“Você vai me contar o que quer dizer com isso?” - perguntou quando nos afastamos.

“Não é minha história para contar, mas tenho certeza que ela estará mais do que disposta a te contar da próxima vez que vocês se encontrarem.”

“Edward, eu sei que a nossa situação é complicada e que não tem apenas a questão da idade, mas que o fato de eu ser sua aluna agora e depois sempre vai ter alguém para dizer que eu fui sua aluna, mas eu me lembro da primeira vez que eu te vi naquela escola, em um dia em que fui encontrar o Jasper depois de uma aula dele com você. A partir daquele dia eu não conseguia mais tirar você da cabeça e eu arrumava qualquer desculpa para trombar com você nos corredores, para ir encontrar o Jasper no final das suas aulas, qualquer coisa só para te ver, mesmo que fosse de longe. Rose não me aguentava mais falando sobre você. É claro que naquela época era apenas atração física. Mas então eu passei a ter aula com você e passei a te conhecer melhor e a ver a pessoa que se escondia por trás do professor gato” - ela disse corando e me fazendo rir com o apelido. - “Se você nunca se envolveu com aluna eu nunca dei em cima de professor, eu nunca encurralei professor em sala de aula e dei ultimatos a eles, eu nunca disse a um professor que eu queria ele de presente de aniversário. Mas eu sabia que você era diferente e que a gente tinha que se dar essa chance. Por isso eu insisti tanto e por isso eu fiquei tão mal cada vez que você me rejeitou. Esme já te disse, mas agora é a minha vez de te pedir, não desiste da gente por me comparar com outra pessoa. Eu não sou sua ex namorada. E o que a gente pode viver não é o que você viveu com ela.”

“Eu sei, Bella. Agora eu sei.” - disse a abraçando forte. Sentindo seu cheiro de morango me acalmar. - “Vem, deixa eu te mostrar o restante do apartamento” - disse o puxando pela mão e a levando pelo apartamento.

“Seu apartamento é tão bonito e tão clean, não se parece em nada com o que eu esperava do apartamento de um professor de física.”

“O que você esperava?” - perguntei rindo.

“Não sei, uma mistura da casa dos seus pais com o apartamento do Sheldon e do Leonard, de The Big Bang Theory.”

“Bella, eu sou professor de física apenas no colégio. Fora dali sou apenas um cara comum, que gosta de chegar em casa e tomar uma cerveja jogando videogame ou assistindo uma partida de rugby na televisão.”

“Hum… eu gosto disso” - ela disse me beijando.

“Gosta, é?” - perguntei sorrindo em seus lábios.

Passamos o resto da tarde conversando, assistindo The Big Bang Theory no Netflix e trocando beijos.

“Posso perguntar uma coisa?” - ela perguntou quando estávamos de volta no carro, a caminho de sua casa.

“Claro.”

“O que te fez mudar de ideia hoje? A conversa com sua mãe?”

“Quando eu conversei com meu pai ele me perguntou se você valia o risco. A conversa com a minha mãe foi o que eu precisava para me convencer de vez de que sim, você vale.”

E se eu ainda tivesse alguma dúvida o sorriso que ela me deu em resposta, teria acabado com qualquer uma. Não seria fácil, mas estávamos prontos para enfrentar qualquer coisa.