Nah, she didn't escrita por xulia


Capítulo 1
Capítulo Único




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Parte Um - A Aposta

Lily massageou as têmporas e entrou no grande prédio com pressa e um copo de café na mão. Eram 6:45 da manhã e ela já havia se estressado. Será que James Potter não era mesmo capaz de estacionar aquela maldita lata velha caindo aos pedaços em seu devido lugar? Todo dia era o mesmo estresse de procurar uma vaga para estacionar seu carro só porque o bonito resolvia usar duas. Andou depressa, pisando forte e quando viu o elevador fechando as portas correu enfiando a mão pelo espaço que sobrara, impedindo o mesmo de fechar.

— Bom dia, Lily. – Ótimo, pensou a ruiva. Era óbvio que James Potter estaria dentro do elevador.

— Pra você é Evans, Potter. – Ela entrou no espaço apertado do elevador bebendo de seu café e tentando ignorar a presença do colega de trabalho.

— Evans Potter só depois do casamento, Lily. – A garota bufou irritada ao ver James lhe lançando uma piscadinha sacana. 

Era assim desde quando começara a trabalhar naquela agência e se tornara colega de trabalho da peça rara que era James Potter. Ele era um galanteador convicto e sempre que tinha uma oportunidade disparava flertes na direção da ruiva - às vezes até sem ter uma oportunidade. 

Quando as portas do elevador finalmente se abriram no quarto andar, Lily entrou no escritório reclamando da lerdeza da grande caixa de metal, seguida de Potter que ria da garota desconfortável dividindo um espaço de um metro quadrado com ele. A ruiva cumprimentou seus colegas, rapidamente se ajeitando em sua mesa e aguardando a chegada de Albus Dumbledore, editor chefe e dono do jornal no qual trabalhava há 3 anos. 

Pouco tempo depois já estavam todos aglomerados na sala de reuniões. Dumbledore sentava na ponta da mesa em uma grande cadeira imponente, tinha os cabelos brancos e longos e os óculos em meia lua que transmitia a todos uma impressão serena e calma, com a inteligência e a sabedoria de quem vivera um tanto. – Muito bem... – Ele pigarreou dando início à reunião diária para distribuição de pauta, pontualmente, às sete. – Xenophilius, quais são as pautas do dia?

— Bom, temos um festival cultural onde The Police irá tocar, Dorcas pode cobrir isso para a gente. - Xenophilius se levantou distribuindo as pautas. O loiro era o chefe de pauta do jornal e seu trabalho era basicamente distribuir funções entre os repórteres e colunistas. - Leve Sirius com você e façam umas fotos legais também. Deve render material para meia página ao invés de manter só a sua coluna. - Ele acendeu um cigarro enquanto folheava as outras pautas em sua mão.

Dorcas era uma jovem negra apaixonada pela cultura britânica que escrevia uma coluna cultural n'O Pasquim sob o pseudônimo de John Doe e fã número da cena local underground por isso os demais presentes na reunião a escutaram bater palminhas animadas quando pegou a pauta junto de dois ingressos para o show da banda que aconteceria naquela tarde.

— Marlene pode escrever sobre a queda do sistema industrial que até a última década era fundamental… - Ele lhe passou a pauta. - Já até consigo ver a manchete "Indústrias vão chegar ao fim? Qual vai ser o novo setor a se investir nos próximos anos?" - Xenophilius fazia gestos com as mãos animado enquanto tragava mais de seu cigarro. 

Marlene também era uma jovem britânica que assinava sua coluna sobre economia apenas com seu sobrenome, McKinnon e por vezes já ouvira nas bancas velhos homens de colarinho elogiando as sabedorias da coluna do "jovem senhor McKinnon". Uma das únicas que tinha a "sorte" de assinar uma coluna com o próprio nome era Lily, que escrevia sobre moda e comportamento.

— Bom Frank obviamente vai falar sobre a Tragédia de Heysel como estão chamando… - Xenophilius suspirou pesadamente. Era um grande fã do time de Liverpool e naquele dia estava triste pela violência ocorrida no jogo na Bélgica.

Frank Longbottom era um jornalista esportivo formado em Cambridge e casado com Alice Longbottom, a jornalista responsável pelas notícias internacionais do dia e também uma das poucas que assinava sua coluna com seu nome.

— E por último, demos a sorte de Nikolas Mulciber, comandante das tropas londrinas durante o Motim de Brixton está de passagem pela cidade e precisamos conseguir uma entrevista. Basicamente trabalho de rua. - Xenophilius deu um sorrisinho lembrando-se do quanto gostava daquilo e o quão sem tempo para se dedicar a isso ficara depois de assumir o cargo de chefe de pauta. - Quem quer a pauta? - Concluiu.

— Eu! - James e Lily disseram em perfeita sincronia. A ruiva até mesmo levantou a mão, tentando ser ouvida.

Xenophilius analisou a situação e olhou desesperado para Dumbledore como quem pedia ajuda. O velho senhor, então, calmamente se ajeitou em sua cadeira e colocou as mãos cruzadas em frente à boca antes de falar com a voz suave:

— O talento de James é inegável, mas Lily tem se mostrado uma ótima repórter de rua… - Ponderou. - Eu digo que quem conseguir a entrevista, consegue a pauta. - Albus tinha um leve sorriso no rosto. Gostava de estimular seus funcionários e incentivá-los. Ver o sorriso maroto surgir nos lábios tanto de Lily quanto de James o deixava extasiado.

— Ótimo! - Disse a ruiva. - Não vou decepcioná-lo, Dumbledore.

— Ora, ora… - Retrucou James. - Já está cantando vitória antes da hora, stra. Evans? - Ajeitou os óculos encarando a colega de trabalho que apenas revirou os olhos. 

A reunião seguiu sem mais intercorrências, os prazos foram ajeitados com os editores e Lily descobriu que tinha até as quatro da tarde para entregar a pauta pronta para Remus. Seus neurônios já trabalhavam à todo o vapor pensando como ela conseguiria uma entrevista com um homem daqueles. James era um jornalista mais experiente e, bom, era um Potter e ela sabia que seu sobrenome conseguia muitas coisas. 

A ruiva tinha um dos cotovelos apoiados na grande mesa de madeira e sua cabeça pendia sobre a sua mão. Estava completamente absorta em pensamentos e nem percebeu quando Dumbledore e Xenophilius saíram da sala e sua consciência só voltou ao cômodo acinzentado quando ouviu ao longe a voz de James.

— E ai Lily, pronta pra competir com o melhor repórter de rua de toda Londres? - James sentou-se na mesa encarando Lily.

— Olha, vamos competir com mais alguém? Boa sorte, Potter. - Lily deu um sorrisinho irônico de lado.

Peter, o diagramista responsável pelas artes do jornal, deu uma risadinha encostado no fundo da sala e James apenas o olhou irritado.

— Qual é James, os textos da Lily são excelentes. E cá entre nós, com muito menos erros ortográficos para serem corrigidos… - Remus, um dos editores do jornal, disse se juntando à pequena cena que se formava.

— Parece que eu não sou o único no seu fã clube, Evans. - James riu enquanto Remus corava e murmurava um "vai se fuder Potter" - Mas o que acha de deixar as coisas mais… interessantes? Que tal uma aposta?

— Por Deus, Potter. Será que você não consegue levar nada à sério? - Lily revirou os olhos (uma das coisas que mais fazia na presença de James Potter)

— Ah, qual é Evans. Está com medo? - Sirius, o melhor fotógrafo do jornal, disse gangorrando na cadeira em que sentava ao lado de Lily.

— E agora não entrar nas apostas irritantes de vocês é ter medo? Eu chamo isso de ter senso. - Marlene se aproximou puxando Sirius para trás o que quase o levou a uma queda.

— Pense bem Evans, não tem nada que você queira de mim? - James provocou encarando a ruiva. Naquele momento Lily percebeu que todos da sala a encaravam e sentiu as bochechas ruborizaram.

— Não tem nada que eu possa querer de você, Potter. - A ruiva cruzou os braços encarando-o de volta. - A não ser talvez que você aprenda a dirigir ou sei lá, se livre daquela lata velha que sempre ocupa duas vagas…

— Sem chances… A Betsy está fora de questão. - Sirius protestou em sua cadeira. 

Betsy era o nome carinhosamente dado por Sirius ao carro de James, batizado em homenagem à primeira garota que James levou para sair em seu veículo. Sirius e James eram amigos de infância e viviam compartilhando suas aventuras e peripécias pela agência do jornal. O carro, diferentemente da Betsy original, era um Ford Anglia azul chamativo e espaçoso que sempre ocupava parte da vaga de Lily.

— Ok, então se você conseguir a entrevista a Betsy é sua para fazer com ela o que quiser… - James disse devagar ignorando um "o que?" exasperado de Black.

— Tudo bem Potter, agora você tem minha atenção. - Lily se voltou para ele descruzando os braços e apoiando as mãos na mesa.

— Mas se eu conseguir a entrevista… - Ele fez um suspense vendo Lily levantar uma das sobrancelhas curiosa. - Você sai num encontro comigo.

— Ha-ha-ha. Nos seus sonhos, Potter. - Ela voltou a cruzar os braços se recostando na cadeira.

— Pense bem Evans, você só vai ter vantagens. Se você ganhar você se livra do carro e se eu ganhar você tem o prazer de sair num encontro comigo. - Ele disse com um sorrisinho ladino brincando em seus lábios.

— Pode ser uma ótima oportunidade de conseguir material para pentelhar James para sempre, Lily. Não acredito que direi isso, mas concordo com o Potter. - Marlene disse se apoiando na mesa entre Lily e Sirius.

A ruiva mordeu o lábio inferior parecendo realmente pensar naquela proposta. Afinal, o que ela tinha a perder? Na pior das hipóteses ela teria que aguentar as chatices de James Potter por mais algumas horas após o expediente àquela tarde.

— Ok. Temos um trato. - Ela esticou a mão na direção de Potter.

— Temos um trato. - Ele respondeu com um aperto de mão animado.

— Ah por favor eu não acredito que você está fazendo isso com a Betsy, Potter… - Sirius revirou os olhos e saiu porta afora da sala de reuniões causando uma onda de gargalhadas nos demais.

Parte Dois - A entrevista

— Ah Tuney, eu não sei mais o que fazer. Quer dizer, ninguém nem sabe onde esse homem está hospedado. Claramente ele não quer ser incomodado. - Já se passavam das 9h da manhã quando Lily conversavam com sua irmã, Petúnia que trabalhava em uma banca de jornais no centro da grande Londres.

— Não se preocupe Lily, você vai achar. Vernon deve saber de alguma coisa quando formos almoçar eu pergunto a ele e te aviso. - Vernon era o noivo asqueroso de sua irmã. Lily não conseguiu evitar torcer o nariz ao ouvir seu nome.

A ruiva suspirou. Já tinha perguntado a todos seus informantes e ninguém sabia onde Mulciber estava hospedado. Ela pegou uma libra no bolso e entregou a irmã para pagar o pequeno livrinho de palavras cruzadas. Era quase que um ritual para Lily quando tinha trabalhos de rua para fazer. Passava na banca onde a irmã trabalhava, comprava uma revista de palavras cruzadas e ia até o Olivanders, uma lanchonete na esquina principal do centro de Londres.

— Bom dia Sr. Olivander! - Lily cumprimentou o velho senhorzinho de cabelos grisalhos ao se sentar no balcão. - O de sempre por favor.

— Olá ruivinha! - Ele respondeu com um sorriso doce, já se virando para preparar o pedido de Lily. - Andou sumida mocinha.

— Ah, eu estava super ocupada escrevendo sobre a tendência das meias calças coloridas e qual o corte de cabelo perfeito para cada tipo de rosto. - Ela riu e deu de ombros arrancando algumas risadas do velho senhor. 

Ele se tornara um grande confidente para Lily enquanto ela passava seu tempo ali sentada no balcão saboreando seu peixe com batatas fritas e tentando descobrir qual era a palavra de 9 letras para adorno. E naquela manhã não foi diferente, ela conversou com Olivanders e lhe contou sobre a aposta estúpida ouvindo um "De tanto que você fala desse jovem, mocinha, eu não acredito que o odeie, mas com certeza há sentimentos fortes aí…" o que fez Lily revirar os olhos. 

Pouco tempo depois, no entanto, dois senhores com casacos pesados sentados mais à sua direita lhe chamaram a atenção, ou melhor, o assunto sobre o qual conversavam lhe chamara a atenção e Lily indiscretamente se virou para ouvir melhor a conversa.

— Eu ainda não acredito que esse tal de Mulciber está na cidade depois de tudo… Aquilo foi uma grande covardia e ainda o tratam como herói. - Um dos senhores tinha óculos grossos e a pele negra, claramente se referindo à reação da Polícia Metropolitana ao Motim de Brixton anos atrás.

— Sim. E ainda ficou hospedado no melhor hotel da cidade, sendo tratado com as mordomias dignas da realeza. - O outro senhor, também negro e de aparência um pouco mais velha, comentou. Ele era o mais próximo de Lily e ela não demorou dois segundos para descer do banco de onde seus pés pendiam para ir até ele.

— Com licença… - A ruiva começou a falar com um quê de vergonha na voz. - Não pude deixar de ouvir a conversa de vocês, mas vocês sabem onde Nikolas Mulciber está hospedado? - Ela mordia o lábio inferior e brincava com as mãos nervosamente enquanto encarava os dois senhores esperando que eles não a achassem louca.

— No lixão… Ou pelo menos era lá que gente como ele deveria estar. - O de aparência mais velha respondeu claramente irritado enquanto Lily segurava um riso.

— Ele está no Leaky Cauldron, meu filho trabalha lá e me contou que reservaram a maior suíte do lugar para o crápula. - O outro comentou.

Lily sentiu a euforia voltar a correr pelo seu corpo. Finalmente tinha alguma coisa, uma pista. E era por isso, por aquele pequeno arrepio que cruzava seu corpo e acelerava seu coração, que ela sabia que estava na carreira certa. Ser jornalista e ir atrás da verdade que ela queria contar para o mundo era o que a deixava feliz. Ela agradeceu aos senhores que a olharam com um certo semblante de julgamento - certamente temiam que ela fosse uma fã lunática do chefe de polícia que eles tanto criticavam. Mas Lily não se importou com isso, pelo menos, não naquele momento. Ela correu para deixar quatro libras sobre o balcão, pegou sua revista de palavras cruzadas e correu para pegar um táxi.

XXXX

Quando o táxi parou em frente ao grande hotel Lily subiu as escadas entre a calçada e sua entrada mais rápido do que já havia subido qualquer degrau em sua vida. E qual não foi sua surpresa ao encontrar ninguém menos que James Potter encostado no balcão da recepção com uma cara de poucos amigos. 

— Ele não tem um minuto? Não é possível que ele seja tão ocupado assim… - James questionava a recepcionista que claramente já havia sido instruída a não deixar ninguém incomodar o Sr. Mulciber.

— Pela última vez, Sr. Potter, ele não tem tempo para nenhuma entrevista. - Ela respondeu enfática e voltou a prestar atenção nos papéis à sua frente.

— Tudo bem, tudo bem… - Ele bufou e se virou para a porta a fim de sair do hotel, quando seus olhos pousaram em Lily e não conseguiu evitar mudar sua cara irritada por um sorriso. - Ei, Evans. - Coçou a nuca sem jeito.

— Oi, Potter. - Ela respondeu.

— Sinto desapontá-la, mas não acho que vá conseguir algo por aqui. - James revirou os olhos e andou até Lily piscando para ela ao dizer: - Mas como eu sou um cavalheiro, lhe ofereço uma carona, sem muitas aventuras, na Betsy.

— Eu? Entrar naquele carro nojento que você usa como imã de garotas? Talvez na próxima vida, Potter. - A ruiva disse irônica reprimindo a vontade de rir quando James teatralmente fez uma expressão de quem estava deveras ofendido.

— Você sabe que vai ter que andar nele para o nosso encontro quando você perder a aposta não sabe? - Ele sorriu ladino cruzando os braços provocando a garota.

— Não, pois todos sabemos que eu vou ganhar a aposta. - Ela sorriu e se encaminhou até o balcão virando-se para James uma última vez antes: - Eu juro que deixo você se despedir antes de mandar a Betsy para ser queimada no ferro velho.

— Não conhecia esse seu lado malvado, Evans. É estranho se eu disser que acho sexy? - James ainda provocava a ruiva que murmurou um "arg" e continuou seu caminho até o balcão, ouvindo James se afastar cada vez mais.

Antes que Lily pudesse ao menos trocar alguma palavra com a recepcionista, a senhora de cabelos grisalhos e óculos arredondados levantou sua cabeça dos papéis que prendiam sua atenção se virando para Lily com rispidez:

— O Sr. Mulciber não irá receber nenhum jornalista, como eu bem já informei o seu colega.

— Ah, acontece que somos velhos amigos, o Nikolas e eu. - Lily começou a falar sorrindo amarelo com medo de ser pega em sua própria mentira.

 A senhora a encarou por alguns instantes antes de soltar um longo suspiro e ajeitar os óculos no rosto.

— Olha eu não tenho permissão para divulgar nenhuma informação sobre o Sr. Mulciber, mas também não posso expulsá-la daqui… 

— Sua voz transparecia o quanto ela estava irritada com toda aquela situação. Provavelmente passara a manhã inteira respondendo à jornalistas que imploravam por um entrevista. - Então se você quiser sentar e esperar seu grande amigo aparecer… - Disse com ironia. - Afinal ele deve estar esperando lhe encontrar não é mesmo?

Lily não se deu nem ao trabalho de responder, apenas se encaminhou até o pequeno sofá da recepção pegando a revista de palavras cruzadas em sua bolsa e voltando a desvendar as palavras que preencheram os espaços ali em branco.

Quando o pequeno relógio da recepção marcou 11h da manhã Lily já estava ficando de saco cheio e considerava se aquilo havia sido uma boa decisão no fim das contas. Porém, logo quando ela pensava em desistir, a ruiva ouviu um burburinho no fim do corredor e, rapidamente, se levantou para tentar enxergar o que estava acontecendo. E lá estava ele, Nikolas Mulciber rodeado por assessores e seguranças. 

Lily correu na direção do pequeno tumulto antes mesmo que a recepcionista pudesse dizer qualquer coisa e quando seus olhos verdes já podiam distinguir com facilidade os cabelos dourados do chefe de polícia ela se colocou a gritar a fim de chamar sua atenção:

— Sr. Mulciber! Sr. Mulciber! - Bradou algumas vezes antes de finalmente conseguir sua atenção.

Os olhos azuis de Nikolas procuravam a fonte daquela voz em meio às pessoas ao seu redor e quando este identificou como sendo a voz de Lily, um sorriso malicioso tingiu seus lábios. A ruiva sequer percebeu, estava animada demais com a possibilidade de finalmente conseguir sua entrevista.

— Sr. Mulciber, sou Lily. Lily Evans d'O Pasquim. Você teria um tempinho para uma breve entrevista? - Ela disse rápido acompanhando ele e toda sua comitiva pelo corredor do hotel.

— Você parece interessante mocinha… - Ele disse parando e se virando para o homem à sua direita. - Deixe um contato com Sr. Nott, meu assessor, e ele vai marcar um almoço para a gente resolver isso pra você, ok? - Ele deu uma leve piscadela para a garota e tornou a andar até virar para a direita ao fim do corredor e sumir do campo de visão de Lily.

— Qual o nome da Senhorita? - Theodore Nott, o assessor de Mulciber, chamou a atenção de Lily que até àquele momento estava ainda boquiaberta sem acreditar que de fato conseguiria uma entrevista com Níkolas Mulciber.

— Ah, Lily Evans, repórter do jornal O Pasquim. - Ela respondeu e passou o número do jornal para que ele pudesse ligar e informar o horário e local do almoço e da entrevista. 

Lily não conseguia conter seu sorriso e foi radiante daquele jeito que ela entrou num táxi que a levaria de volta ao escritório do jornal.

Parte três - A conclusão

Lily passou a última hora sentada em frente ao telefone do escritório roendo todas as unhas que lhe sobraram e atraindo olhares esquisitos dos seus colegas de trabalho enquanto aguardava a tão esperada ligação do assistente de Mulciber. 

Quando o telefone tocou ela não deixou sequer que o barulho do segundo "trim" se espalhasse pelo escritório e retirou-o do gancho apressada. Antes de falar porém respirou fundo, tentando se manter calma.

— O Pasquim, boa tarde. Aqui e Lily Evans. - Já era quase uma da tarde e foi naquele momento, quando quase confundiu o bom dia com boa tarde que Lily percebeu que estava com fome.

— "Boa tarde Senhorita Evans." - Uma voz carregada de malícia respondeu do outro lado da linha. - "Aqui é o chefe de polícia Nikolas Mulciber. Ainda tem interesse na nossa entrevista?"

— Mas é claro! - Lily respondeu animada.

— "Ótimo." - Pela primeira vez Lily sentiu a malícia na voz do loiro, mas nada poderia prepará-la para o que viria a seguir: - "Bom, encontre-me no restaurante aqui do hotel em meia hora. Vista algo que valorize ainda mais seus… atributos. Uma mulher linda como você deve estar acostumada a conseguir as coisas fácil, mas bem, você sabe… Tudo tem um preço."

Lily engoliu em seco e ficou em silêncio por alguns segundos até ouvir Mulciber chamar seu nome do outro lado da linha. Ser mulher numa indústria liderada por homens nunca havia sido fácil, mas Lily nunca imaginou que pudesse viver o assédio tão de perto. Ela respirou fundo tentando se manter calma e respondeu:

— Sim, estou aqui. - Ela queria chorar e toda sua alegria da manhã havia ido embora naquele segundo. - 01:30 da tarde no restaurante do The Leaky Cauldron, certo? - Ela o ouviu concordar do outro lado da linha e se despediu o mais rápido que pôde.

Lily ficou algum tempo parada encarando o telefone no gancho até Dorcas se aproximar por achar toda a cena, no mínimo, estranha.

— Lily? Está tudo bem? - Doe perguntou com um copo de café, seu grande vício, em mãos.- Ah, tudo sim Doe. Eu só… - Lily não queria falar sobre aquilo. Respirou fundo e massageou as têmporas pensando no que dizer.

— Eu acabei de perceber que vou ter que ir a um encontro com James Potter hoje no final da tarde. - E foi naquele momento que Lily decidira  de fato que aquela entrevista, que aquela aposta, não valiam sua dignidade e sua postura profissional.

— Bom, se serve de consolo ele é bem charmoso… Quer dizer, para um homem. - Doe riu, arrancando uma risada fraca de Lily também.

A ruiva, no entanto, traçou um plano para que a entrevista pudesse acontecer, mesmo que não fosse através dela. Alguns minutos depois do telefonema, percebendo que James havia acabado de se levantar para ir ao banheiro, Lily correu até a mesa do garoto pegando ali um post-it e escrevendo com a caneta preta "Entrevista com Mulciber: 01:30 PM; Restaurante do The Leaky Cauldron" e cuidadosamente o destacou dos demais colando-o na mesa de James.

Pouco tempo depois o garoto voltou do banheiro limpando seus óculos. Lily não tirava os olhos dele se convencendo de que era para não perder sua reação ao ver o pequeno papel em cima da mesa, mas naquele momento enquanto ele limpava os óculos na barra da camisa ela concordou com o que Doe falara minutos atrás, deixando um sorrisinho escapar pelo canto da boca.

— O que? - James perguntou enquanto lia o pequeno pedaço de papel em sua mesa chamando a atenção dos demais presentes no escritório. - Quem foi que colou esse post-it aqui? - Ele perguntava confuso.

Todos se encararam silenciosamente sem nem sequer saber o que responder. Os jornalistas, é óbvio, estavam ocupados demais escrevendo suas pautas para se preocupar com alguém aleatoriamente colando post-its nas mesas de seus colegas de trabalho.

— Lily? - Ele se virou para a ruiva ainda bastante confuso. - Você tem alguma coisa haver com isso? - James tinha uma das sobrancelhas levantadas e encarava a garota segurando o pedaço de papel a uma distância que ela conseguisse ler.

— O que foi Potter? A sua estupidez está passando dos limites hoje. Porque acha que eu teria alguma coisa haver com você conseguir a entrevista e ganhar a aposta? - Ela estreitou os olhos e cruzou o braço em sua cadeira, com um tom sério. - É parabéns que você quer, Potter? Pois não vai ganhar. - Ela se virou e voltou a trabalhar em sua coluna de moda e comportamento (um excelente artigo sobre a única regra para misturar estampas e cores: não há regras).

— Mas… Como isso aconteceu? - James levou uma das mãos à cabeça bagunçando ainda mais seus cabelos que pareciam sempre estar sem pentear.

— Pelo que li parece que você tem menos de meia hora para chegar lá… Eu não arriscaria me atrasar. - Lily disse rindo sem sequer levantar os olhos das teclas de seu computador.

— Tem razão. - Potter disse e alcançou seu casaco pendurado em um cabideiro na entrada do escritório correndo porta afora depois disso. 

Alguns segundos depois, no entanto ele estava de volta.

— Esqueci a chave do carro… - Ele disse entrando correndo e pegando o molho de chaves em cima de sua mesa. - Agora sim. Me deseje boa sorte, Evans. - Ele piscou para a garota e saiu novamente.

— Vá à merda, Potter. - Ela disse sem saber sequer se ele a escutaria, dando uma risadinha em seguida.

XXXX

Já era final de tarde e o jornal já estava sendo impresso e estampava em sua capa a matéria principal "Nikolas Mulciber quebra o silêncio e cinta sua versão do que aconteceu na revolta de 1981" e logo abaixo vinha a parte mais importante para o desfecho do dia de Lily: por James F. Potter. 

O pessoal já estava todo reunido na cozinha, conversando e tomando um café celebrando o fim do expediente, quando James entrou acompanhado de Remus. 

— Vocês estão ouvindo o som da vitória? - James entrou na cozinha com toda a prepotência que lhe cabia, fazendo Lily revirar os olhos.

— Você não vai fazer isso ser fácil não é mesmo James? - Ela apoiou o cotovelo na mesinha da cozinha à sua frente, escorando a cabeça em sua mão.

— Eu ainda não acredito que o James ganhou. Minha apostas eram em você, Evans. - Sirius comentou encostado na bancada e logo se ouviu um protesto de James.

— Traído pelos meus próprios amigos. - James balançava a cabeça negativamente. - E bem se prepare Lily, pois eu vou te dar o melhor encontro que você já teve. Se é que você já teve algum. Lily você já teve um encontro?

A ruiva levantou grunhindo e revirando os olhos e parou à frente de Potter o encarando-o. 

— Realmente o melhor jeito de se começar um encontro é falando sobre encontros passados. Francamente, Potter, como as garotas ainda tem coragem de sair com você? - Ela perguntou erguendo uma sobrancelha.

— Não, o melhor jeito de se começar um encontro é estabelecendo que é o grande vencedor da aposta. - Ele sorriu maroto.

Então, James tirou de seu bolso uma caneta e um bloquinho de post-it escrevendo na primeira folha algumas palavras e logo colando o pequeno pedaço de papel na blusa de Lily. A garota olhou para baixo tentando ler a estranha letra de James e demorando alguns segundos até entender o que estava escrito no papel. 

— Perdi uma aposta e agora estou em um encontro com o maior jornalista do mundo? - Lily leu contendo o riso. - Espera, acho que isso precisa de uns retoques. 

Ela descolou o pedaço de papel da blusa e pegou a caneta das mãos de James se apoiando na mesa para escrever. Todos espreitava a cena com olhos atentos e Lily apenas riscou a palavra "jornalista" escrevendo acima a palavra "imbecil". Sorriu satisfeita e colou o papel na camisa de James.

— Agora vamos antes que eu mude de ideia. - Ela levantou e começou a andar em direção à saída do escritório com um James a seguindo animadamente parando apenas em sua mesa para pegar as chaves do carro em sua mesa.

James se atrapalhava enquanto tentava vestir seu casaco e segurava a o molho de chaves com a boca, ao passo que Lily já chamava o elevador. Ele a olhou de relance. Não poderia negar que estava nervoso. Quer dizer, há quanto tempo ele sonhou em finalmente sair em um encontro com Lily Evans? E agora ele estava prestes a realizar isso. Uma pena que no fundo ele sabia ela o odiava e que estava fazendo aquilo apenas pela aposta. Suspirou e foi fechando os botões de seu pesado casaco um a um até chegar no antepenúltimo botão e se deparar com o post-it que Lily havia colado ali. Ele descolou o papel de sua camisa e antes de amassá-lo parou alguns segundo para ler o que a garota tinha escrito. 

— Você vem ou planejou um encontro no escritório, Potter? - Ela perguntou já dentro do elevador, aguardando-o.

Ele amassou o pedaço de papel e terminou de fechar o casaco ajeitando-o em seu corpo e enfiando as mãos nos bolsos, sentindo ali em um deles outro post-it de hoje mais cedo, escrito com uma caligrafia que agora ele conhecia como sendo de nada mais nada menos do que Lily Evans. Ele sorriu para a garota que ainda encarava-o e andou até o elevador. Ok, talvez ela não odiasse ele tanto assim.


Fim.


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