Bella PDV

Observei com descrença a cena, mesmo da escada, eu consegui ouvir perfeitamente a fala que por um momento me fez ter nojo do Jacob. Desci as escadas assistindo o Jacob encarar Edward com o desprezo que ninguém merecia. Aquela implicância com o Edward estava começando a me deixar completamente irritada. Eu não conhecia aquele Jacob, não conhecia aquele olhar e aquela voz entupidos de ódio. Eu de fato desconhecia aquele personagem que ele insistia em fazer quando o Edward estava por perto. Na verdade, eu estava cansada de personagens na minha vida. De imaginar o que as pessoas são e logo depois descobri que são outras que nunca imaginei que seriam. De ter duas pessoas em uma só, mas de só ser apresentada a uma delas, e acabar por descobrir sozinha a outra depois.

Edward foi o primeiro a perceber a minha presença, o seu olhar estava uma confusão, eu não conseguia decifrá-lo numa só palavra. Ao mesmo tempo em que estava vazio, estava desesperado, estava confuso, mas não consegui encontrar nenhum indicio de ódio. O que dava a entender que não queria nenhuma guerrinha futura com o Jacob. O que dava a entender que o Jacob era o único agressor da história. O que dava a entender que o Jacob queria provocá-lo o possível pra fazê-lo ficar abatido, pra mantê-lo longe. Nem que pra isso tivesse que ameaçá-lo, o humilhando dessa maneira. Talvez ele só quisesse me ajudar, mas ele parecia tomar demais as dores que eram minhas e que eu fazia questão de ignorar.

Edward me encarou, e, Jacob, percebendo que seu olhar estava fora de foco, me encarou também, seu olhar mudou em segundos, como se fosse um ator profissional, disposto a qualquer papel. Aquele ódio de repente era afeto e tranquilidade.

–Meu amor, já voltou? – ele sorriu pra mim, completamente mudado. Aquela sua mudança de amor chegava a ser engraçada, se não fosse tão repugnante e ridícula.

–Jacob, o que estava fazendo? – perguntei com os braços cruzados, minha voz soou altamente autoritária.

–Hm? – ele olhou fundo dos meus olhos, como se aquilo fosse desviar o foco do que eu iria dizer. A verdade era que eu estava bem longe de me hipnotizar com seu olhar, o Jacob não me causava tais reações.

–Nem um, nem dois. Por que está falando com o Edward desse jeito? – minha voz conseguiu soar ainda mais autoritária.

Achei que o Edward permaneceria ali, assistindo. Mas ele não demonstrou nenhum tipo de ligança, ou ofendimento. Deve ter ignorado tudo o que o Jacob teria dito, e como eu queria ouvir aquilo tudo que o Jacob disse... Mas ouvir sua última fala já seria o suficiente pra questionar sua troca de personalidade repentina.

Edward PDV

Como a Bella estava incrível! Pela primeira vez na minha vida, achei uma garota de moletom e com o cabelo um tanto bagunçado incrivelmente linda. Ela me parecia tão angelical que comecei a duvidar de que foi realmente ela que pôs as fotos. Seus olhos estavam tão profundos, tão puros, tão ternos que eu comecei a duvidar que eles presenciaram cenas tão ruins. Sua expressão era tão aturdida que ela realmente parecia se importar muito comigo. Suas roupas tão folgadas e fora de moda, e ao mesmo tempo melhor que um vestido caro de decote até o umbigo. Sua cor natural do cabelo restaurada e agora eu via mais dela, mais da Bella antiga, que um dia me causou repulsa, mas que hoje me trazia respiração acelerada, frio na barriga e coração quase saindo pela boca. Não só pelo o que ela aparentava, não só por um padrão. Mas pelo o que ela sempre foi. Bela.

Eu deveria ir direto pro meu quarto, mas a conversa lá em baixo me instigava tanto que resolvi observar de lá de cima mesmo, sem que me vissem, sem que me notassem. Se bem que estava sendo bem difícil ser invisível ultimamente, já que eu costumava ser o centro das atenções. Quem dera isso fosse bom.

–Amor, eu... – Jacob tentou se explicar. O fato dele a chamar de amor me deixava profundamente irritado.

–Que droga, Jacob! Precisava mesmo fazer isso? – ela bufou, parecia mesmo irritada.

–Não foi nada! – seu tom de voz estava perdendo a camuflagem. Aquilo me agradou de alguma forma. Seria terrível observar a Bella sendo enganada novamente, e não poder fazer nada pra mudar isso.

–Nada? – ela o encarou, indignada – Vai pedir desculpas.

–Eu o que? – ele revirou os olhos, desacreditando.

–Achei que tivesse boa audição. Disse que vai pedir desculpas. – ela lhe lançou um olhar firme, como se seu olhar fosse induzi-lo a fazer o que não queria de forma alguma.

–Não vou me desculpar. – ele deu de ombros.

–Ótimo, então nem sei o que vai continuar fazendo aqui. Porque nosso programa babou desde o momento que resolveu provocar o Edward por motivo nenhum. – ela também deu de ombros.

–Eu não provoquei... – ele bufou.

–De idiota eu só tenho a cara. – ela riu um pouco, mas manteve a pose de autoritária.

–Nem a cara. – ele sorriu e tocou seu rosto, ela tirou sua mão rapidamente, o evitando.

–Qual é, Bella! Vai mesmo estragar tudo por causa dele? – ele bufou.

–Pode ir embora. Já que seu orgulho é maior que qualquer carinho ou outro sentimento que venha nutrir, ou que diga ter por mim. – ela deu de ombros.

–Assim está fazendo com que eu me sinta um monstro. Era o que ele merecia, ele é o cara mais zuado de todos os tempos, ele merece cada desgraça que está acontecendo com ele. – ele riu e ela o encarou sem nenhuma expressão de riso.

–Não quero ver mais isso acontecendo ao meu redor. – balbuciou.

–Por que isso é tão importante pra você? Quantas vezes ele fez isso com você? Quantas vezes ele fez humilhações piores? Quantas vezes ele te disse coisas que, até hoje, não foi capaz de apagar da memória? Quantas vezes ele te fez chorar? Quantas vezes ele fez você pensar que a morte era uma boa escolha? Quantas vezes ele fez pensar que se mudasse seria um pouco suficiente? – sua voz aumentou gradativamente. Bella, por um momento, pareceu pensar, era o seu primeiro argumento que lhe causou tal reação. Ela respirou fundo e o encarou.

–Não te diz respeito. – indagou.

–Acorda, Bella! Acorda! Sua bondade está começando a ser excessiva demais, não me parece a mesma garota que chegou aqui determinada a se vingar de alguém que a fez sofrer tanto. Determinada a mostrar que sempre foi suficiente, inteligente e linda. Aqui... – ele tocou seu coração e ela fechou os olhos – Te peço pela última vez, não estrague isso. Se não quer fazer nada, se não quer se vingar, pelo menos não estrague o que o destino levou tanto tempo preparando.

Seu olhos se abriram, pareciam tristes, infelizes, desapontados, entupidos de nostalgia. E então Jacob tocou seu rosto novamente, e a beijou de leve. Ela ficou intacta, talvez pensando. Aquele desgraçado havia trazido a tona todas aquelas malditas lembranças que faziam com que ela ficasse mal.

–Muito obrigada. – ela falou baixinho – Obrigada por me lembrar de todas essas coisas, eu realmente precisava.

–Estou aqui pra te ajudar, meu amor. – ele falou baixinho de volta.

–Eu... Preciso ficar sozinha. Tenho muita coisa pra pensar.

Dessa vez Jacob pareceu entendê-la e assentiu, mesmo com pouca vontade. Deu-lhe um beijo na testa, e, com passos largos, deixou a casa. Surpreendi-me ao ver Bella abri um sorriso quando ele saiu.

–Também atuo bem. – riu consigo mesma.

Iria me retirar pro meu quarto, mas ela subiu as escadas como uma criança fugindo de uma bronca dos pais. Eu estava com uma séria mania de comparação. Bella não ficou nada surpresa ao me encarar, parecia que sabia que eu estava observando. O que levava a crer que tudo aquilo lá em baixo poderia ser algo ensaiado. Mas, essa suspeita não tinha quase força nenhuma.

–Deveria ouvi-lo. – lhe aconselhei antes que dissesse algo.

–Deveria fazer um montão de coisas, mas não fiz. – ela deu um sorriso incrível. Ah, como estou ficando idiota, estou me perdendo nos mínimos detalhes. Porque todos os seus detalhes completam a ideia de perfeição que agora eu tinha dela. Mesmo sabendo que ela não era.

–Está perdendo uma ótima oportunidade de se vingar dessa fada aqui. – consegui até brincar com a deprimente situação.

–Dispenso. – ela riu um pouco.

–Devo admitir que parece mais boazinha com essa cor de cabelo. Mais boazinha e mais natural. Mais você. – sorri involuntariamente.

–Era a intenção. – ela revirou os olhos – Ah, quero dizer que fiquei muito feliz por encontrar meus moletons no armário.

–Não sabe o que é um monte de velhinha querendo te pegar. – revirei os olhos.

–A Jessica sabe que, por um momento, foi trocada por alguém 60 anos mais velha? – ela ergueu uma sobrancelha.

–Terminei com ela, ou melhor... Ela terminou comigo. Na verdade, nem deveria ter começado. Só comecei porque estava em completa provocação e não queria que seu plano, que por sinal era muito ruim, desse certo. – revirei os olhos enquanto confessava. Ela se fez de ofendida, rindo um pouco em seguida.

Sentei-me no chão escorregando na parede lisa pesadamente, feito uma criança, ou meu pai que fazia isso com muita frequência depois que minha mãe fugiu de casa. Ele costumava chegar do trabalho, e ao invés de beijar minha mãe, como sempre o fazia, ele ficava pensando, então vinha a nostalgia e ele acabava por fazê-lo. Bufei por ter me lembrado de tais momentos e desatei a comer minha lasanha. Bella sentou em seguida, do meu lado, bastante perto, devo admitir.

–Ah, que falta de educação a minha... Quer lasanha? – lhe ofereci.

–Hm... Eu diria não, mas é um dos meus pratos favoritos. – ela riu e lhe dei o garfo, fiquei a observando comer e ela parecia constrangida com tal coisa.

–Achamos alguma coisa em comum. Em meio a tantas diferenças. – observei.

–Verdade. – ela sorriu, o canto da boca sujo de ketchup, em um ímpeto, limpei. Por um momento, rolou um clima, uma troca sutil de olhares, algo que estava se tornando comum entre nós, Bella encarou o chão constrangida, mas logo voltou a me olhar – Olha, voltando ao assunto da Jessica... Ela parecia bem disposta a lutar por você, enfrentando qualquer garota.

–Ela nunca realmente gostou de mim. – dei de ombros.

–Vai superar isso. – ela sorriu, convincente – Ainda vai encontrar alguém verdadeiro. Desejo mesmo que encontre uma boa garota.

–Já encontrei, pena que... Meio que joguei isso fora. – sorri meio sem graça, ela teve a mesma reação, pois desviou o olhar – Olha, não quero que estrague seu namoro com o Jaca... Jacob por causa de mim. Eu não mereço mesmo. O Jacob só quer cuidar de você e te proteger daquilo que te faz mal.

–Acontece que você não me faz mais mal. – ela sorriu. Foi incrível ouvir aquelas palavras saindo da sua boca.

–Ah, não? Desde quando? – ergui uma sobrancelha.

–Isso vai soar como cantada. Mas não estou mentindo que deixou de me fazer mal quando se tornou a pessoa que eu sempre sonhei. – sorri e ela sorriu junto, respirei fundo a fitando.

–Parece mesmo uma cantada. – ri e ela sorriu de leve.

–Olha, se precisar de ajuda com... – ela respirou fundo – No colégio, tô aqui.

–Obrigada, Bella. Mas... Devo passar sozinho por tal coisa. – terminei a lasanha.

–Tudo que eu sempre precisei, durante boa parte da minha vida, era de apoio. – ela sorriu – Não precisa passar por isso sozinho.

A fitei durante um grande intervalo de minutos que me pareciam segundos. Ela sorria tão lindo, ela era tão linda. Mesmo sem maquiagem, mesmo sem roupas caras, mesmo sem uma cor de cabelo clara e poderosa. Mesmo assim... Queria tanto ter percebido isso antes.

Por um momento ela suspirou. O silêncio tomou conta do lugar, trazendo com ele um climaço e um montão de palavras engasgadas na minha garganta. Eu queria falar, queria dizer pelo menos alguma das coisas que eu sentia. As coisas que eu nunca pensei sentir, que eu nunca admiti. Coisas não, sentimentos. Queria dizer o quanto aquela garota me mudou, na forma de pensar, de agir e de viver. O quanto ela me fazia bem. O quanto era humilde, boa, incrível, inteligente e linda. O quanto suas imperfeições se tornaram invisíveis pra mim. O quanto o seu sorriso era lindo. E, por fim, o quanto estava apaixonado por ela.

–Eu estava pensando... Eu queria conversar com minha mãe sobre o meu pai, sobre aquilo que foi um dos motivos por ter saído de casa. Mas acho que é meio tarde demais pra isso. – ela quebrou novamente o silêncio, dizendo algo aleatório. Eu até havia esquecido que a Bella era adotada, mas pelo visto, ela não. A observei encarar o chão, e passou o indicador no chão, como se fizesse um desenho de uma borboleta, repetidamente.

–Olha, Bella. Eu... – gaguejei – Eu... Eu... – ela me olhava em completa confusão, comecei a tossir, enquanto tentava falar, e acabei me engasgando. Ela bateu nas minhas costas, a fim que eu parasse.

–Tudo bem? – ela ergueu as duas sobrancelhas, dava pra perceber em sua expressão que ela estava fazendo um esforço pra não ri da minha situação. Assenti.

–Eu me apaixonei por você. Tenho certeza que já deu pra notar, e... – ela me fitou, os olhos vazios e ao mesmo tempo tão profundos. Talvez não tenha sido uma boa ideia confessar isso. – Sei que isso não muda nada, mas... Conseguiu uma proeza muito grande. Mas aconteceu tarde demais. Às vezes, mesmo que o tempo já tenha passado, não importa, ele ainda não acabou. Não no seu caso, já no meu caso é diferente. Mas, enfim... Sei que tocar no assunto é ruim, mas deveria conversar com sua mãe, antes que acabe, e aí vai olhar pra trás e vai pensar: “E se tivesse sido diferente?”. Ando pensando muito isso ultimamente, e não é nada legal. É angustiante, devastador. O tempo não volta, o que volta é a vontade de voltar no tempo.

Por um momento encarei o chão e refletir sobre a frase que havia dito. Por um momento imaginei como seria se tudo tivesse sido diferente. Ela parecia fazer o mesmo.

–E se eu não tivesse verdadeiras e grandes expectativas sobre você? E se eu não te encarasse a todo tempo? E se eu não agisse como uma idiota perto de você? E se minha presença não te incomodasse? E se eu não ficasse me iludindo? E se eu não tivesse um conto de fadas na minha cabeça? E se eu não me obrigasse a sofrer? E se eu não fosse tão CDF? E se eu não me apaixonasse por você? – ela me encarou, os olhos mais profundos que antes.

–E se... E se... E se eu não tivesse te tratado como um lixo, como um nada, desde a primeira vez que eu te vi? E se eu tivesse te conhecido melhor? E se eu te desse bom dia toda vez que te visse? E se eu soubesse o quanto era uma pessoa incrível antes de te julgar? E se eu fosse a biblioteca observar enquanto você estudava? E se eu também estudasse junto com você? E se eu não ligasse pro que o resto das pessoas pensavam? E se com uma mão eu segurasse a sua, e com a outra te ajudasse a carregar os seus livros favoritos que tanto gostava de ler? E se a gente se perdesse fazendo palavras cruzadas em tempos vagos? E se eu fizesse com que se sentisse a garota mais bonita pra mim? E se... Eu tivesse evitado tanto sofrimento na sua vida? E se eu limpasse as suas lágrimas ao invés de derramá-las? E se eu reparasse antes o quanto seus olhos são bonitos? E se eu notasse que quando fica constrangida gosta de desviar o olhar e sempre cora? E se eu calasse suas crises existenciais com um beijo? E se eu te fizesse sorrir o tempo todo, e achasse o seu sorriso o mais bonito, mesmo que não fosse milimetricamente perfeito? E se eu enfeitasse suas manias e transformasse suas imperfeições em perfeições? E se eu me apaixonasse cada dia um pouco mais pelo o que você é, e não pelo o que aparentava? – respirei fundo.

Por fim, levantei a cabeça, e Bella me encarou. Ela fez uma expressão terna, como a de quem acabou de ouvir algo muito bonito. Seus olhos se tornaram brilhantes, curiosos e então ela corou. Abriu um sorriso constrangido logo em seguida. Tentou dizer alguma coisa, mas a sua voz não saiu. Achei que levantaria e ia embora, mas invés de fazê-lo, ela me deu um abraço, acomodando a cabeça no meu ombro. No inicio, fiquei meio balançado, sem saber o que fazer, mas acabei por abraçá-la também. Não sei por quanto tempo ficamos ali, só sabia que seu cabelo tinha cheiro de morango.

–Eu... O que... O que... Eu... – ela gaguejou e por fim acabou rindo dela mesma.

–Ui, acho que cheguei na zona quente da casa... É por aqui mesmo que vou acampar. – observei Emmett se aproximar, rindo como um idiota que ele realmente era. Bella se afastou rapidamente quando ouviu a sua voz, e começou a fingir que não estava acontecendo absolutamente nada – Não quero atrapalhar a transformação... Que mal lhes pergunte, como vai transformar um unicórnio num bode?

Tive vontade de ri quando entendi a piadinha. Mas acabei lhe lançando um olhar de censura, creio que a Bella não gostaria de tocar no assunto do chifre do Jacob, se bem que não foi premeditado. Mas, pelo contrário, seu olhar se tornou curioso por alguns momentos. Como se perguntasse “Como ele sabia que eu e Edward tínhamos ficado?”. Mas por fim, ela deu uma risada sem graça, só por esportividade.

–Emmett, vaza. – ordenei, rindo.

–Quem vaza é água e água tem em pouca quantidade, e se não cuidarem, vai se tornar rara. É isso que eu sou. – ele riu, cheio de si. – Não quero ser empata love, só estava indo pro banheiro pra tomar um banho, porque o banheiro daqui tem um perfume do Carlisle caríssimo que vai deixar a Vic mais louquinha ainda por mim, porque hoje tenho um encontro com ela, porque, se vocês não sabem ainda, nós voltamos. Teve até um tralálálálá, se é que você me entende. – ele piscou pra mim, Bella revirou os olhos – Ah, e já notaram? Tem alguém vendo pornô no quarto do Jasper, e tá pouco se ferrando pro volume alto. Se eu não me engano, estão assistindo Bundas flamejantes.

Ri um pouco, Bella também riu, abaixando a cabeça, envergonhada. Emmett riu um pouco, se gabando pelo seu conhecimento estranho e se mandou, saindo pulando, tipo a Alice. Ergui uma sobrancelha assustado. Ele realmente estava muito feliz em ter voltado com a Victoria, se bem que eles nem chegaram a terminar...

Encarei Bella novamente, ela parecia pensar. Observei Orlindo passar pela gente, com uma toalha no ombro, tinha um fone de ouvido tão alto, que dava pra escutar. Ele não parecia ouvir as músicas afeminadas habituais, seja o que o for que ele tava ouvindo, se assemelhava a rock. Ele se direcionou ao banheiro, e antes que eu o alertasse que o Emmett estava lá, ele abriu de vez a porta, sem nem verificar se alguém estava lá dentro. Foram 5 minutos de pura gritaria da parte do Emmett, eu e Bella não saímos do lugar, só ficamos observando o desenrolar da situação.

–Sai daqui, bicha enrustida, eu tava aqui primeiro! Vai usar o banheiro do Jasper! – Emmett reclamou, segurando a toalha que enrolou às pressas na cintura.

–Não. – Orlindo bateu o pé no chão e fez biquinho – Não vou usar o banheiro daquela cobra venenosa. Não é daquele tipo de cobra que eu gosto. – ele riu e Emmett fez cara de nojo.

–Não tô nem aí que os amigos bichas enrustidas inseparáveis se separaram, eu entrei no banheiro primeiro. – ele bufou.

–Oh, burro! Pessoas inseparáveis não se separam. E... Tenho certeza que podemos resolver isso. – ele deu um riso safado.

–Nem fodendo que eu vou tomar banho com um homem. – Emmett se esquivou.

–E quem disse que eu quero tomar banho com você? O banheiro é seu, vou pedir pra Alice pra tomar banho no banheiro dela. A ideia de tomar banho com você também não me agrada. – ele fez cara de nojo e deu as costas, em direção ao quarto de Alice.

–Hã... Ainda tira onda, essa bicha do inferno. – Emmett reclamou, irritado – Pois fique sabendo que meu corpo é todo trabalhado na sedução. – disse mais alto, a fim que Orlindo ouvisse. Batendo a porta forte em seguida.

Por um momento achei que pudesse voltar a conversar com a Bella. Mas, não demorou muito, e Alice saiu do quarto dela, completamente atordoada, andava trocando as pernas e se abanava. Achei que ela fosse descer as escadas, mas ela desistiu quando viu a Bella, e veio correndo ao seu encontro. Encarou-me por um tempo, com uma interrogação imaginária na cabeça, mas logo voltou sua atenção a Bella.

–Bella! Acredita que o Orlindo tá no meu quarto? – ela falou numa empolgação enorme.

–Sim, ele se recusa a usar o banheiro do Jasper por algum motivo. – Bella revirou os olhos.

–É, ele disse que o Jasper não é mais o bom cara que ele conheceu na internet. E disse que se fosse orgulhoso, saíria mesmo da casa, mesmo que fosse morar na rua. Mas que evitaria isso porque a gente sentiria muita falta da sua alegria. – ela revirou os olhos – Enfim, tive que sair do quarto, porque não conseguia me controlar com ele lá dentro do meu banheiro. Imagina os pingos de água que caem do chuveiro descendo por aquele peitoral e indo pra barriga tanquinho, e... – Alice balançou a cabeça, como se despertasse de um devaneio – Se eu ficasse lá dentro, com certeza entraria naquele banheiro.

–Era capaz de ele te expulsar de lá, sabemos que o Orlindo gosta da mesma fruta que você. Só se você fosse entrar no banheiro pra conversar com ele sobre interesses em comum. – Bella riu.

–É mesmo? Eu podia jurar que alguém tava assistindo Bundas flamejantes, e vinha do quarto de Jasper. – Bella arregalou os olhos, e eu fiquei meio perplexo também por ela conhecer o nome do filme e o filme em si.

–Devo ser o único nessa casa que nunca assisti isso. – Ri, e Bella me acompanhou levantando a mão.

–Pode ter sido o Jasper que tava assistindo, ué... – Bella comentou.

Foram três segundos, digo três segundos de silêncio, de um encarando o outro. Então uma risada coletiva explodiu no recinto, juro que não me conti. Lembro-me da tentativa minha e do Emmett na missão LOVE de fazer o Jasper assistir pornô a força.

–Alice, volta pro quarto. Você é perigo, o Orlindo não oferece perigo, pelo menos não a você. – Bella aconselhou ainda rindo.

Alice balançou a cabeça e assentiu, concordando com Bella, logo depois deu de ombros e voltou pro quarto.

–Hm, Bella... Acho que tá na hora de voltar pro meu quarto. – ri desajeitado.

–Peraí, não pode confessar que está apaixonado por mim e sair assim, sem dizer mais nada. – ela revirou os olhos.

–O quer que eu diga? – ergui uma sobrancelha, rindo.

–Não, eu me atrapalhei. Eu que deveria dizer... – ela se levantou num pulo, e respirou fundo, se preparando pra dizer algo.

–O que? – ri.

–O gerenciamento da água é que deve ser considerado o grande problema e não seu "desaparecimento". Apesar de termos a impressão de que a água está desaparecendo, a quantidade de água na Terra é praticamente invariável há centenas de milhões de anos. Ou seja, a quantidade de água permanece a mesma o que muda é a sua distribuição e seu estado. – ergui as sobrancelhas, perplexo e ao mesmo tempo quase morrendo de vontade de ri com tal situação.

–Ok, obrigada pelo conhecimento. – revirei os olhos – Prometo passá-lo pro Emmett, assim que puder. – ri e me levantei, sorri pra ela, e lhe dei as costas, antes que aquela coisa começasse de novo. Enfim fui andando até meu quarto, ainda rindo com a explicação. Eu realmente achei que ela teria outra coisa a me dizer.

–Espera, eu ia dizer outra coisa. – ela praticamente gritou, e eu me virei.

–O que? – ergui uma sobrancelha.

–Deixou o prato aqui... – ela se referia ao prato da lasanha que eu havia esquecido no chão.

Ela abaixou e pegou o prato de lasanha. Balancei a cabeça rindo de novo por achar que me diria outra coisa. Fui até ela e peguei o prato, sorri pra ela, e, novamente, dei as costas.

–Peraí... – ela me chamou de novo e riu da própria situação – Tem mais uma coisa que preciso dizer.

–Sim? – me virei erguendo uma sobrancelha.

–E se... E se... – ela respirou fundo – E se... – ela começou a falar baixinho – E se eu ainda fosse apaixonada por você?

Continua...