— Dupain-Cheng? – ouvi a voz de Chloé antes que eu conseguisse sair da sala e me virei rapidamente para ver o que ela queria. – Preciso que faça um vestido pra mim.

— Você quer que eu faça um vestido pra você? – questionei, surpresa com o pedido dela.

— Foi o que eu disse. Tá surda? – decidi relevar a ofensa.

— Não, só não acreditei que você quisesse um vestido meu.

— Mas eu quero. Eu vi os seus desenhos enquanto você ficava viajando na aula. E mês que vem eu tenho um evento pra ir, preciso de algo original pra causar inveja. – sorri. Chloé podia ser meio difícil às vezes, mas se a exigência em pessoa tinha gostado dos meus desenhos, era uma grande coisa pra mim.

— Claro. Mas pensei que fosse querer algo mais refinado, como as criações do Gabriel Agreste. – ou seja, o pai de Adrien, que era o maior e melhor estilista da França. Ao menos na minha humilde opinião.

— Ah! As criações dele são incríveis, mas todos já estão de olho. – balançou a mão – Quero algo diferente e que chame atenção. Mas que tenha a minha cara, que seja único e bonito. Pode fazer isso?

— Claro. Eu vou precisar das suas medidas, se você... – Chloé estalou os dedos e sua melhor amiga, Sabrina, veio correndo. A ruiva me cumprimentou com um sorriso e me entregou um papel.

— Aqui estão as medidas dela.

— Se houver um problema, é só me avisar.

— Tá bem. E sobre o preço... – Chloé riu.

— Acha mesmo que estou preocupada com isso? Pode caprichar.

— Ok.

— Vamos Sabrina. – Sabrina acenou e eu fiz o mesmo, enquanto ela saía atrás da loira.

Dei de ombros e saí da sala, preparada para ir embora. Como não tive aula com nenhum dos meus amigos ou o meu irmão, imaginei que eles já tivessem ido. Mas para minha surpresa, Adrien estava me esperando, escorado na parede e mexendo no celular.

— Pronta? – guardou o aparelho assim que me viu.

— Sim, mas... Por que me esperou?

— Nenhum motivo específico. Só resolvi te esperar. – deu de ombros e eu sorri, caminhando ao seu lado.

— Que fofo da sua parte. Espera aí, você quer alguma coisa, não quer? – o lancei um olhar desconfiado.

— Não, claro que não. Mas agora que você falou, não esqueça da minha carta.

— Não vou. Não se preocupe.

— Ainda vamos na livraria hoje?

— É claro. Mas não posso voltar muito tarde, preciso começar a fazer alguns rabiscos para um vestido pra Chloé. – Adrien fez uma expressão confusa – É isso mesmo que você ouviu. Ela quer um vestido original Marinette Dupain-Cheng. Seu pai está perdendo os clientes. – ele riu.

— Quem sabe assim ele pare de trabalhar excessivamente e consiga ao menos ter um almoço decente comigo. – meu sorriso foi embora ao ouvir isso.

Gabriel Agreste, apesar de ser o melhor no que faz, sempre foi muito ocupado e desde que a mãe de Adrien morreu, têm sido ainda mais. É claro que o meu amigo sente falta do pai e gostaria de passar mais tempo com ele, embora isso dificilmente aconteça. Me corta o coração saber que não posso fazer nada à respeito.

Pelos menos não à respeito do pai dele. Mas à respeito dele como sua amiga, sim.

O abracei apertado assim que paramos na frente da minha casa. Adrien se surpreendeu, porém, logo retribuiu.

— Fica pra almoçar hoje. Se o Kim tentar derrubar comida em você, eu bato nele. – o loiro riu.

— Nesse caso, acho que seria interessante. – sorrimos um para o outro e eu o puxei pela mão para dentro de casa.

— Oi pai, oi mãe. O Adrien vai almoçar com nós hoje. – coloquei as nossas mochilas no sofá e fomos até a cozinha.

— Ah, oi querido. – minha mãe foi o cumprimentar, enquanto ele acenava para o meu pai. – Como vai?

— Bem e a senhora?

— Eu estou ótima. – ela o conduziu até uma das cadeiras – Marinette e Kim, coloquem os pratos na mesa.

— O que está cozinhando? O cheiro está ótimo, Sra. Cheng.

— Nem ela sabe o que está fazendo. – meu pai respondeu, nos fazendo rir.

— É verdade. Mas eu aposto que vocês vão gostar. – rimos mais ainda. Depois de colocar os pratos na mesa, Kim sentou à frente de Adrien e eu ao lado dele. Meu irmão lançou um olhar desconfiado para o loiro.

— Então... Trabalhando, Adrien?

— O quê? Não. Ainda não. Eu estudo. Somos colegas. – respondeu o óbvio, sem entender aonde Kim queria chegar. Balancei a cabeça em negação.

— E como pretende sustentar uma família? – Adrien piscou o olho esquerdo, em choque e eu encarei o meu irmão incrédula.

— Pare de besteira, Kim! Que perguntas são essas? – minha mãe o repreendeu.

— Ah, você não sabia da novidade, né mãe? – sorriu de lado.

— Não. Que novidade? – meu olhar incrédulo se transformou em um olhar assassino e ameaçador. Ele não ousaria.

— A Marinette e o Adrien estão namorando. – meu pai deixou os talheres que ele segurava, caírem no chão. Meu olhar se tornou ainda mais assassino e Adrien forçou um sorriso e endireitou a postura.

— Eu sabia que isso aconteceria algum dia. Parabéns. – minha mãe sorriu e eu a encarei com uma expressão de dúvida. – O que foi? Vocês eram tão próximos, fazem um belo casal.

— Eu disse. – Adrien sussurrou e deu de ombros, enquanto isso eu fui ajudar o meu pai a juntar os talheres.

— Pai? – o chamei, ele não tinha dito nada. – Você está chorando? – questionei ao notar seus olhos marejados.

— É que eu fiquei emocionado pela minha garotinha. – colocou os talheres sobre a mesa e me abraçou apertado – Venha aqui, Adrien. – o loiro veio sem pensar duas vezes e meu pai abraçou nós dois – Parabéns.

— Obrigada. – agradeci quase sem conseguir respirar.

— Muito obrigado, Sr. Dupain.

— O quê? Nenhuma briga de facas? – Kim abriu os braços, decepcionado – As coisas era melhores antigamente. Há algum tempo atrás, você teria que dar um rebanho em troca da minha irmã, Agreste. – meus pais riram.

— Eu acho que você está ingerindo açúcar de mais, meu filho. – minha mãe disse e colocou a panela no centro da mesa – Agora vamos todos almoçar e comemorar o novo casal.

***

— Eu não acredito que o Kim disse aquilo! – esbravejei assim que entrei no meu quarto. Adrien foi direto se jogar na minha cama.

Não era para a mentira chegar aos meus pais. Eu detestava mentir para eles.

Mas eu também não podia dizer a verdade.

— Eu também não. Um rebanho? Você vale no máximo duas vacas. – joguei várias almofadas nele, enquanto ele ria sem parar.

— Você quer rir, é? – o encarei com um olhar desafiador e o loiro parou no mesmo instante.

— Marinette... Não. – ele sabia o que estava por vir.

— Sim! – assenti e saltei em sua direção, fazendo cócegas. Esse era o ponto fraco do meu melhor amigo. Parei assim que comecei a ficar sem ar de tanto rir dele e me joguei no colchão ao seu lado. – Isso é por ter dito que eu valho apenas duas vacas!

— Ok, ok. – Adrien respirava pesadamente – Você vale o rebanho todo, sabe disso. – olhou para mim e eu sorri.

— Nunca disseram algo tão belo pra mim. – ironizei.

— Pra mim sim. Disseram que eu sou mais bonito que o pôr do sol.

— Você quer mais cócegas? – ele negou rindo e virou de frente para mim, escorando sua cabeça na mão. – Mas só pra você saber, eu ainda te acho tão bonito quanto o pôr do sol.

— Mesmo? – sorriu.

— É claro. – se tinha uma coisa que eu não podia negar, é que Adrien era realmente lindo. Tudo bem que eu não via ele do mesmo jeito como eu via quando escrevi a carta, porém ele continua tão bonito quanto.

— Eu também te acho linda, Bugaboo. A garota mais linda de todas. – o empurrei de leve. – Estou falando sério.

— Ah é? – sentei na cama e logo Adrien fez o mesmo.

— Por que eu mentiria sobre isso?

— Pra ser gentil?

— Se fosse só para ser gentil, eu diria que você é bonita. Como é a minha opinião de verdade, eu digo que você é a garota mais linda de todas. Tem diferença.

— Mas...

— Shh! Você perdeu. – ficou de pé e me lançou um olhar convencido – Agora, o que acha da gente ir na livraria? Assim você volta mais cedo pra começar a trabalhar no vestido da Chloé.

— Uma ótima ideia!

***

— O que acha desse? – Adrien estendeu um dos livros da Agatha Christie – Um Gato Entre os Pombos. – leu o título. – Ou seja, um Adrien entre os pombos.

— Eu já li. – respondi depois de rir da piadinha infame.

— Ok, mas eu vou levar. Gostei porque tem eu no título e faz referência a minha alergia à penas.

— Vou fingir que não ouvi isso. – peguei um livro que chamou a minha atenção. Não sabia quanto tempo estávamos olhando os livros, mas era muito. Eu não me importava, já que adorava esse tipo de coisa. Adrien estava animado, então parecia não se importar também.

— A Mulher na Janela, A. J. Finn? – Adrien se inclinou para ler o título – É sobre o quê?

— Paranoias. – respondi lendo a sinopse que tinha atrás – Parece o meu tipo perfeito de livro. Vou levar. – Adrien pegou o livro da minha mão e saiu – Ei! Eu quero comprar.

— Eu sei, estou indo até o caixa. – assenti e segui o meu melhor amigo. Ele entregou os livros para a atendente, que disse o preço e os colocou na sacola.

— A nós vamos pagar sep... – Adrien abriu a carteira e pagou os dois – O que está fazendo?

— Comprando os livros? – perguntou como se fosse óbvio. E de fato era. – É o meu presente para você, não se preocupe. – pegou a sacola e a nota – Obrigado, moça. – agradeceu a atendente.

— Presente do quê?

— Por ter escrito a carta. – sorri e saí andando ao seu lado.

— Eu fico muito feliz, mas não precisava. Quando chegarmos em casa, eu te pago de volta.

— De jeito nenhum. Se você não aceitar, eu vou ficar muito ofendido. – o encarei incrédula. Em seguida parei de andar e me inclinei para beijar a sua bochecha.

— Obrigada novamente, Adrien.

— Eu é que agradeço, Bugaboo. – tentei fazer uma expressão irritada por causa do apelido, porém não consegui. Então acabei rindo e voltando a caminhar com Adrien ao meu lado. – O que acha de um sorvete agora?

— Quem seria o louco de negar um sorvete?

— Tem razão. Vamos – o loiro segurou a minha mão e me conduziu até a sorveteria mais próxima. – Sabe qual eu estou afim de tomar?

— Um sundae! – falamos em uníssono e rimos em seguida.

— Acho que a Alya tem razão, somos mesmo estranhos.