Acordei com um sorriso no rosto e olhei para o lado, me deparando com a cena de Adrien dormindo tranquilamente – o que era quase como observar um anjo, sem exageros.

Cenas de mais cedo vieram à tona na minha mente e eu me perguntava se tinha sido um sonho, ou era mesmo a realidade. Porque tinha sido tão perfeito, que até era inacreditável.

E pensar que eu tinha me apaixonado por Adrien Agreste novamente... Se me dissessem isso há dois meses atrás, eu certamente duvidaria e diria que era uma possibilidade improvável. Não que Adrien fosse alguém que eu não me apaixonaria – tanto que já aconteceu uma vez e eu até escrevi uma das minhas cartas para ele –, mas eu não pensava mais nele dessa forma. Só que agora tudo parecia diferente. Não foi como da primeira vez. Uma carta não faria o sentimento ir embora e eu era grata por isso, já que eu descobri que é recíproco.

Me remexi na cama, desejando poder não sair dali nunca. Contudo, eu ainda tinha a missão de fazer o vestido para a Chloé e encontrar um que eu pudesse usar no jantar formal do pai de Adrien.

Suspirei frustrada e encarei o loiro ao meu lado. Automaticamente sorri.

A beleza de Adrien, era com certeza uma característica marcante dele. Não que suas outras qualidades não fossem também. Mas ele com certeza era tão belo quanto o pôr do sol – talvez eu tenha usado essa comparação, porque é realmente difícil descrever a beleza fascinante dele.

Mas infelizmente eu não podia ficar aqui admirando ele para sempre.

Sentei na cama, respirando fundo e fiz menção de levantar, porém algo segura a minha cintura. Era o braço de Adrien. Olho na sua direção e meus olhos são invadidos por uma visão ainda melhor do que o loiro dormindo como um anjo, Adrien acordando com um sorriso encantador. Sorrio em resposta.

— Bom dia, Bugaboo. – soltei uma risadinha.

— Tenho certeza que não é de manhã. Mas bom dia.

— Imaginei que fosse, já que dormi o melhor sono da minha vida. – se espreguiçou brevemente. – Posso dizer uma coisa?

— Pode.

— Eu te amo. – me aproximei do seu rosto e beijei rapidamente os seus lábios.

— Eu também te amo. – fui tentar levantar, mas Adrien me puxou novamente e eu caí por cima dele – O que está fazendo? – questionei rindo – Eu preciso terminar o vestido.

— Eu ajudo você depois.

— Não ajuda, não. Você é o pior filho de estilista do mundo. – brinquei e ele abriu a boca em espanto. Em seguida rolou na cama, ficando por cima de mim.

— Retire o que disse agora mesmo ou vai ser atacada por cócegas.

— Não vou retirar.

— Último aviso.

— Vou dar um aviso também. Você sabe que eu posso chamar o Kim, não sabe? – sorri travessa e Adrien estreitou os olhos. – O que acha que ele faria com você se nos visse assim? – fiz uma expressão de falsa inocência.

— Você é uma jogadora perversa, Dupain-Cheng.

— Fico honrada que reconheça isso, Agreste. – o loiro sorriu e me beijou.

Era tão incrível como as coisas pareciam diferentes agora. Nossos primeiros beijos – do namoro de mentira – tinham mexido comigo, por mais que eu não quisesse admitir. Só que agora, nossos beijos mexiam ainda mais.

Sempre dizem que as pessoas são muito apaixonadas no começo do namoro e tudo é lindo. Depois com o tempo, já não é mais um mar de rosas. Mas mesmo que a gente brigue ou se desentenda, o que é inevitável em um relacionamento, eu não consigo me imaginar não estando apaixonada por Adrien Agreste todos os dias.

Talvez não fosse a mesma coisa se tivéssemos começado a namorar assim que nos conhecemos. Pois ele não era o mesmo Adrien de antes e nem eu a mesma Marinette. Nos tornamos melhores amigos primeiro, conhecemos cada parte da personalidade um do outro e por fim nos apaixonamos – de novo como no meu caso. E não é como se isso fosse acontecer com todos os melhores amigos, contudo, foi mais incrível com a gente ter acontecido assim. Ao menos no meu ponto de vista.

Senti a mão de Adrien na minha cintura, enquanto nos beijávamos, o que foi o suficiente para que eu me arrepiasse. Suas mãos eram quentes, diferentes das minhas, que sempre foram gélidas.

Confesso que o seu toque me surpreendeu no início, porque não é como se eu não o conhecesse, é que agora eu sabia perfeitamente o que ele sentia por mim e o que eu sentia por ele.

Nos separamos por breves segundos para recuperar o ar. Não muito depois, Adrien voltou a me beijar e eu senti a sua mão subindo por baixo da minha blusa. Rapidamente parei o beijo e sentei na cama.

— Me desculpa, eu...

— Calma, tudo bem. – Adrien sorriu e se aproximou, acariciando a minha bochecha – Não vamos fazer nada que você não queira.

— Sei disso, eu só fiquei meio nervosa. – o loiro sentou ao meu lado e me puxou para si em um abraço.

— Mesmo quando o nosso namoro era de mentira, eu sempre respeitei você. Agora que é de verdade, vou continuar respeitando. – sorri.

— Você é incrível, sabia?

— Por te respeitar? Não me chame de incrível por isso, é a minha obrigação. – desfez o abraço e me fez olhar para ele. Adrien tinha uma expressão séria e eu sabia que ele estava lembrando do incidente com Félix – O mínimo que eu tenho que ter é respeito com você. – fez uma pausa – Mas agora, você pode me chamar de incrível por outros motivos. – sorriu de lado. – Até porque tem vários.

— Estava demorando para eu ouvir algo do tipo. Mas obrigada.

— De nada, my lady. E só pra constar, você ainda vai ouvir muito disso.

— E fui eu que sugeri que a gente namorasse?

— Foi. – sorriu convencido. – O que posso fazer se você me ama?

— Ah é, eu também disse isso. – fiz uma expressão falsa de tristeza e Adrien riu, beijando os meus lábios.

— Quer que eu te ajude a terminar o vestido agora?

— “Ajudar” não é bem a palavra, né?

— Se você ficar me ofendendo assim, daqui a pouco quem vai chamar o Kim sou eu. – nós rimos.

— O que tem eu? – ouvimos uma voz vindo do corredor.

— Por acaso você está escutando atrás da porta? – silêncio por alguns segundos.

— Não. – Kim respondeu sem credibilidade nenhuma, o que fez eu e Adrien rirmos.

— Vai embora, Kim. – ele abriu a porta e colocou apenas a cabeça para dentro, nos encarando com uma expressão irritada. Mas eu sabia que era só para manter a pose.

— Pra sua informação, eu estava passando aqui quando ouvi o meu nome. Então eu queria saber o porquê de mencionarem ele.

— Estávamos falando que você é o cara mais incrível do colégio. – disse Adrien.

— Não tente me comprar com elogios, Agreste. – segurei o riso – Ainda estou esperando o que você vai oferecer em troca da minha irmã.

— Eu vou fingir que não ouvi isso. – levantei e fui até o meu irmão, empurrando ele pra fora – Tchau, Kim.

— Ei! – reclamou e saiu assim que eu fechei a porta.

— Sua família é incrível. Queria que a minha fosse desse jeito. – Adrien lamentou um pouco cabisbaixo e eu fui até ele. Me ajoelhei no colchão e me inclinei na direção do loiro, depositando um beijo na sua testa.

— Bem, você faz parte dessa família também. Então meio que já é. – ele riu. – Vem me “ajudar” com o vestido, porque graças à você eu dormi e agora tenho muito o que fazer. – falei, enquanto o ajudava a levantar.

— Graças à mim? Claro, bote a culpa no Adrien. É sempre assim. Você viu isso, Tikki? – a minha gata miou e voltou a dormir – Nossa, nem ela quer saber de mim. – ri e o coloquei sentado no meu divã.

— Fique aí que eu vou te dizer o que precisa fazer.

— Ok, senhorita.

***

Naquela noite eu não estava conseguindo dormir. Muitas coisas estavam se passando na minha cabeça e o meu cérebro me perguntava se eu não devia estar feliz por apenas ter dado tudo certo com Adrien.

Talvez eu estivesse assim, porque querendo ou não ele é o meu primeiro namorado – de mentira e de verdade. Assim como Adrien disse, sei que ele vai me respeitar e vamos ter um relacionamento incrível por termos sidos melhores amigos incríveis antes. Mas eu ainda sim tinha direito de ter um certo receio.

Algumas dúvidas insistiam em rodear os meus pensamentos.

Será que eu atenderia às expectativas de Adrien? Será que ele se cansaria de mim algum dia? Será que eu estaria preparada caso ele quisesse algo à mais? Será que eu conseguiria lidar com um relacionamento de verdade?

Eu sei que Adrien sempre foi maravilhoso comigo e que a tendência era tudo dar certo entre nós. Mas sempre tive aquela vozinha na minha mente me alertando para tomar cuidado e ir com calma.

Respirei fundo e virei para o lado, me deparando com Tikki dormido. Desejei por alguns segundos poder ser um gato. Era muito mais fácil não lidar com questões amorosas e responsabilidades.

— O que eu estou pensando? – murmurei para mim mesma. Provavelmente o sono já estava me afetando e eu já pensava coisas sem noção. – Preciso dormir. – bocejei, tentando limpar a minha mente e por fim dormir.

Amanhã eu pretendo finalizar a costura das partes do vestido da Chloé e depois começar a os ajustes. Sem contar que ainda precisava dar um jeito no meu para o jantar formal do pai de Adrien. Para este último, não pretendia começar do zero – até porque não tinha tempo – e sim pegar um antigo e reformar.

As coisas pareciam estar se encaminhando aos poucos. Espero que dê tudo certo.