Além do Crepúsculo escrita por Maiah Oliveira


Capítulo 3
Capítulo 2 – Visão


Notas iniciais do capítulo

Desculpe pessoal pela longa demora, mas apesar do meu planejamento vida continuou surgindo para atrapalhar meus planos e me impedir de publicar esse capítulo antes. Pelo menos fim de ano está chegando e com ele as merecidas férias!!! Esperemos que eu consiga mais tempo pra dedicar a minha escrita, porque no momento estou no meio de um redomoinho de atividade e bagunça, dedos cruzados! Espero que ver um pouquinho do POV do Eddie compensa essa longa espera!



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O mundo era um lugar sem surpresas. Até que ele deixou de ser. E aquela visão foi apenas o começo.

Edward Cullen

 

—§-

Purgatório.

Essa deveria ser a definição para High School, Edward Cullen contemplou não sem uma grande dose de aborrecimento. Pelo menos, quando chegasse o momento do acerto de contas com o criador, essas horas intermináveis, entre adolescentes descerebrados e super excitados, poderiam ser debitados de alguns de seus pecados. De certo, com toda probabilidade em qualquer caso.

Conteve um profundo suspiro depois de ouvir, mas um pensamento errante e mesquinho de uma garota, a respeito do “sobrepeso” de outra menos bonita e popular que passava por ela. Os garotos não eram melhores, só conseguiam pensar em sexo e em meios de consegui-lo.

Ser obrigado a ouvir o zumbido incessante das mentes desses adolescentes, dia após dia era a definição de agonia. Era intelectualmente doloroso estar preso a um mar de mentes cheias de hipocrisia, ignorância, inveja e tantas outras mediocridades que apenas humanos conseguiam ter em tamanha abundância.

Em quase um século de vida Edward escutou tudo o que a humanidade tinha a “dizer”. E não estava nenhum pouco impressionado. Muito em breve ele parou de se surpreender. A mente humana era um lugar simples.

Obviamente existiam muitas nuances, mas nas décadas em que viveu tendo esse dom (ou seria maldição?), havia apenas três coisas que os humanos sempre desejavam: dinheiro, poder e sexo. Não necessariamente nessa ordem. Claro haviam vários espectros mais elaborados desses desejos, vertentes por assim dizer, mas no fim se resumia a isso. A High School, em particular, parecia colocar sob uma lente de aumento tudo o de mais baixo e raso que poderia se extrair da humanidade.

Era muito difícil ter alguma empatia ou algum tipo de simpatia por uma raça que só mostrava seus traços mais vis. Era triste e patético. Talvez estivesse sendo um pouco duro e cínico demais. Sua mãe com certeza esperaria que ele fosse um pouco mais generoso em seus próprios pensamentos sobre os humanos. Contudo, depois de mais de seis meses lidando com figuras irritantes como sua detestável ex-fangirl Jessica Stanley ou o pseudo popular e inconsciente Mike Newton, Edward se sentia menos que caridoso.

Ser um leitor de mentes que não poderia apenas desligar seus poderes, sempre criava alguma medida de desconforto às pessoas que sabiam sobre sua habilidade. Todavia, sua família se acostumou à falta de privacidade e para eles era na maior parte do tempo, uma reflexão tardia. O fato de Edward ser tão discreto sobre os pensamentos dos outros podia também ter algo a ver com a facilidade que sua família exibia de estar em sua presença.

Quando tentava desconectar seus pensamentos de todos a sua volta, acabava por focar seus poderes em sua família. Fácil e natural como o amanhecer de um novo dia. Era confortável, instintivo quase. Por mais que tentasse bloqueá-los e na maior parte do tempo conseguia quando havia outras mentes para se concentrar, no fim toda vez que sua atenção se desconectava dos estranhos em seu entorno e sua concentração escorregava, seus poderes, como se magnetizados, sempre se voltavam para sua família.

Talvez isso fosse porque as mentes de seus irmãos, de sua família como um todo, eram já um caminho conhecido. Uma estrada sem surpresas, que ele havia percorrido milhares de vezes e que o enchia de um sentimento de acolhimento, por mais estranho que esse conceito fosse.

Embora ler seus pensamentos ainda fosse tão desconfortável e invasivo, quanto qualquer outra pessoa que ele tivesse o mínimo de intimidade, eles tinham sido sua família por tanto tempo que ouvi-los era como estar em casa, um lugar conhecido que o deixava confortável e a vontade. Edward conhecia tanto eles, de dentro para fora, que estar em seus pensamentos muitas vezes parecia menos invasivo do que de fato deveria ser.

Mesmo se não estive ouvindo os pensamentos de Rosalie, Edward sabia que ela estava pensando em coisas como sua empresa de perfumes, sua própria beleza e seu sucesso. No entanto, por baixo de todas as camadas de futilidade e vaidade, havia pensamentos obscuros e sombrios que ela não permitia dominar a sua mente e isso apenas por pura força de sua vontade. Tão ácida, egoísta ou rasa como Rosalie gostava de se mostrar e muitas vezes o era, ela também guardava profundidades ocultas e poucas vezes vistas ou sequer usadas. Uma grandeza de caráter que na maior parte do tempo ela escondia e fazia quase todos esquecerem com sua atitude ruim e seu egoísmo incontido.

Era por coisas como essa que Emmett fazia tanto sentido com Rosalie. Haviam poucas pessoas no mundo que eram tão abertas e verdadeiras sobre si mesmas, como seu irmão era. Emmett tinha o coração de uma criança (e na maior parte do tempo agia como uma também) carregando essa inocência aberta e quase ingênua. Ele era a pessoa mais verdadeira e honesta que conhecia. Emmett era talvez a única pessoa que Edward poderia ler os pensamentos, sem se sentir um intruso, sem sentir que estava violando a privacidade, primeiro porque Emmett não se importava e deixava isso muito claro e segundo porque Emmett era aquele tipo raro de pessoa que se não falava o que estava pensando, com certeza agia sobre seus pensamentos quase de imediato.

Nesse momento Emmett estava animado com a próxima corrida de Rally (uma competição regional) que participaria como mecânico. Óbvio que com o segredo deles e a necessidade de manter um baixo perfil, era uma impossibilidade Emmett ser um piloto, como teria preferido. Mas ele era do tipo que encontrava a felicidade onde podia de forma muito fácil e natural. E agora ele só conseguia pensar em superar um talentoso mecânico rival, algo que apesar de causar uma irritação superficial o estava enchendo de entusiasmo pelo desafio inesperado. Apesar de seus pensamentos simples e honestos, Emmett tinha mais profundidade emocional do que aparentava, algo do qual Rosalie sempre se beneficiou.

Sua mente se voltou então para Alice que sem dúvida estava... ansiosa.

Alice era muito boa em dissimular suas emoções. Com uma natural personalidade efusiva e sua incontrolável animação, a maioria das pessoas tendia a não perceber quando ela estava escondendo algo.

Mas não Edward.

Desde o momento em que se encontraram pela primeira vez, eles só clicaram, por assim dizer. Edward e Alice eram almas irmãs. Mesmo Carlisle não tendo criado Alice ou Jasper, como criou ele, Esme ou Rosalie e através de Rosalie, Emmett. No entanto, era como se ela e Jasper sempre tivessem feito parte da família, como se tivessem sido criados pelo mesmo sangue, o de Carlisle.

Esse senso de afinidade que sentiam um pelo outro, talvez tenha surgido por causa de suas habilidades. Afinal, Edward era quem melhor entendia como os poderes de sua irmã funcionavam. Ele era uma das únicas pessoas no mundo que conseguia compartilhar em primeira mão as visões de Alice. E embora Alice não tenha o mesmo insight sobre seus próprios poderes, não como ele tinha, ainda assim ela compreendia melhor que a maioria das pessoas como era ter um poder incontrolável, com a capacidade de incomodar as pessoas a sua volta por experiência própria.

Porém, sua ligação com Alice era de alguma forma mais profunda que simples senso de empatia pelos poderes do outro. O fato de Alice já ter tido visões sobre eles sendo uma família e em particular deles dois como irmãos, ajudou muito em seu caso, já que ele viu as mesmas visões que ela. Independente disso havia algo sobre Alice que os ligou de forma definitiva e profunda desde o primeiro momento. Eles eram uma verdadeira equipe, com suas conversas privadas e secretas, que só os dois conseguiam ter devido aos seus poderes e a grande sintonia que compartilhavam.

Com seus pensamentos e poderes voltados a Alice ele podia ouvi-la fazer um esforço consciente e bastante artificial em pensar sobre sua nova linha de roupas para a grife Masen. Esse ato mecânico e a falta de interesse absoluto nesses pensamentos eram uma clara manobra de deflexão. Ela só estava pensando nisso para ocultar algo dele e ela fazia isso melhor do que qualquer pessoa.

E o que quer que fosse que ela estava escondendo, isso só poderia ter a ver com uma de suas visões. Visões essas que raramente ela sentia necessidade de esconder dele. Contudo, Alice vinha passando cada vez menos tempo ao seu lado, em um esforço, ele não tinha dúvida, de não ser pega desprevenida tendo uma de suas visões repentinas.

Edward estava ficando cada vez mais curioso, porque esse mistério do futuro o envolvia. Talvez Alice estava prevenindo qualquer interferência de sua parte. Algo que sem dúvida ela achava que seria bom para ele e não queria que nada atrapalhasse essa visão de se realizar. Afinal, ela não estaria tão determinada a evitá-lo se não fosse por isso. Ambos confiavam demais um no outro para ser diferente.

O que Alice escondia dele tinha tudo a ver com a atual estadia da sua família em Forks. Foi ela quem sugeriu que viessem passar um tempo em Forks e que os irmãos voltassem à escola. É claro, que eventualmente faziam isso, mudavam de cidade e começavam tudo de novo começando pela High School. No entanto, Alice sugeriu isso mais cedo do que o esperado e apesar de ser um pouco incomum de sua irmãzinha ela tinha, como sempre, conseguido convencer todos eles a fazer o que ela pedia. Era por culpa dela que retornaram a Forks e que os quatro foram obrigados a voltar ao purgatório chamado, High School.

Jasper era o único deles além de Esme e Carlisle que não precisava passar pela indignidade de reprisar a High School. Ele tinha sido transformado com um pouco mais de idade que eles e apesar de não parecer tão mais velho que seus irmãos, Jasper era esperto o suficiente para usar isso como desculpa para não ter que voltar a escola. Enquanto eles estavam “estudando” Jasper estava no seu escritório em Port Angeles investigando algum caso.

Ele possuía uma pequena agência de detetives no lugar e sempre resolvia casos para quem não podia gastar muito dinheiro. Jasper adorava ter a oportunidade de usar suas habilidades para resolver os casos e Edward sempre que podia o ajudava – nessas horas ter a capacidade de ler a mente de todos era uma ótima vantagem – sobretudo quando sabiam que havia algum vampiro fora da linha no caso.

Há milhares de anos sua raça não passava de um bando de criaturas bestiais, predatórias e selvagens. Os vampiros não conseguiam conter o feroz instinto de territorial e competitivo. Apenas a ligação entre verdadeiros companheiros conseguia superar o forte sentido de competição que possuíam. Três membros era o número máximo que os clãs conseguiam manter por longos períodos de tempo e no final geralmente essas unidades também ruíam à competição e a violência interna.

Mas tudo mudou quando descobriram que a morte não precisava ser um meio para o fim da sua sede de sangue. Um humano não precisava ser morto para que sua espécie pudesse se alimentar. Foi através dessa descoberta que surgiu uma nova era de iluminação e o tempo das trevas de sua raça terminou. Os clãs começaram a crescer e se fortalecer, a unidade competitiva violenta dissolvida, criando longas e estáveis ligações entre os membros.

Assim eles puderam constituir famílias reais, cultivar laços de amor, fraternidade e amizade, para além da ligação entre companheiros, aliás, mesmo as ligações entre companheiros se tornaram ainda mais fortes e profundas. Sua natureza instintiva bestial, territorial e assassina soterrada por esses novos laços e sentido de unidade mais profundo.

Sua espécie lutou por muito tempo para criar um modo de vida onde eles seriam mais racionais e no controle do que a condição de meras bestas, ao qual eles eram reduzidos, quando perdiam o controle de sua sede e caiam na loucura da luxúria de sangue. Foi apenas através do domínio e da racionalidade que sua raça de fato conseguiu evoluir, crescer e prosperar. Criando comunidades, evoluindo social e cientificamente.

A fim de manter esse novo modo de vida, as leis estabelecidas de não matar humanos era uma de suas leis primordiais, assim como aquelas que envolviam manter o anonimato de sua raça. Principalmente ao se misturarem a raça humana, conservando assim a própria sanidade através do controle do monstro que existia dentro de todo o vampiro.

Obviamente haviam vários de sua espécie que se achavam acima de leis e regras. Que pensavam menos da humanidade, só por que eram diferentes. Matando indiscriminadamente e na maior parte do tempo sem nenhum controle. E era atrás de vampiros como esses que ele e seu irmão sempre ficavam de olho em suas investigações. Ainda que não fosse o objetivo principal de suas investigações, afinal haviam vampiros mais qualificados e especializações que assumiam essa responsabilidade de forma primordial e oficial.

Todos esses pensamentos, no entanto, eram apenas uma mera distração. Uma grande e elaborada distração.

Se fosse pouco mais de um mês atrás pensamentos como esses seriam naturais, um padrão inevitável que se repetia de tempos em tempos na sua mente imortal. Pois, a cada dia a rotina dos acontecimentos em sua vida, o fazia se sentir mais e mais entediado. No entanto, um mês atrás Edward havia descoberto o que sua pequena irmã escondia dele com tanto afinco ou pelo menos parte desse mistério.

E mesmo não querendo evocar essa memória, não pôde resistir em visitar a visão que Alice deixou escapar. Ele estava preso a pensamentos semelhantes aos que teve poucos minutos antes a respeito dos seus irmãos e sua vida em Forks, quando como uma bomba, a visão explodiu em sua cabeça. Inesperada ela coloriu seus pensamentos de forma vibrante, interrompendo os tons monótonos e cinzentos que permeavam sua mente.

‘Um humano... não uma humana, sentada embaixo de uma árvore, abraçando o próprio corpo de cabeça baixa, enquanto a chuva aumentava cada vez mais. Alice ia em direção à humana segurando um guarda-chuva que colocou bem em cima da cabeça da garota.

— Se continuar nessa chuva vai acabar ficando doente — disse deixando transparecer preocupação sincera, apesar do tom levemente irreverente.

Os cabelos castanhos molhados de chuva pingavam grudados em sua cabeça. Ela levantou a cabeça, mas antes que pudesse ver o seu rosto a visão foi interrompida de forma abrupta.’

Apesar do deslize, Alice conseguiu com habilidade e brusquidão desviar seus pensamentos começando a soletrar o alfabeto em hebraico; conseguindo com sucesso manter a identidade dessa garota um mistério para Edward. A forma como ela interrompeu sua visão não era algo simples e nem fácil de se fazer. Exigia muita concentração e sempre lhe rendia uma desagradável dor de cabeça. E essa atitude por si só foi confirmação mais que suficiente para ele, que Alice estava escondendo algo e que isso só podia ter algo a ver com essa garota.

Uma garota que não parava de invadir seus pensamentos com uma aleatoriedade tão desconcertante, que Edward foi obrigado a conscientemente se distrair com pensamentos inócuos e desnecessários tanto quanto poderia. Era apenas uma tentativa inútil de não se obcecar com essa visão e o que ela o fazia sentir. Porque toda vez que lembrava da garota sentia um estranho e forte senso de proteção e pior de antecipação.

Como a visão de uma garota humana poderia prender tanto da sua atenção? O fazia questionar que tipo de efeito essa menina em carne e osso teria sobre ele. A simples ideia de um dia ter que descobrir o perturbava de forma intensa.

  —§-

 Bella acordou mais descansada e relaxada do que se sentia desde que havia recebido a notícia da mudança. Por isso, não ficou muito surpresa ao ver no relógio do criado mudo que passava e muito das duas horas da tarde. Depois de uma viagem cansativa. Das várias rodadas de pizza. Dos e-mails trocados com sua família e amigos. E por último e não menos importante de ter gasto boa parte da madrugada fazendo uma das coisas que mais gostava, ler uma boa fanfic, não era de se admirar que ela acordou tão tarde.

Ela precisava admitir que parte do seu humor mais calmo e melhor se devia a leitura tarde da noite. Nada conseguia mudar seu humor tão rápido, quanto mergulhar em uma história e nas emoções de personagens fictícios. E depois de aterrissar em Forks e começar a perceber que estava muito longe de casa, uma boa leitura era tudo o que ela precisava no momento.

Logo, estava mergulhada em seu computador vendo a última atualização (que ela estava esperando há semanas e a deixou muito feliz) de uma das suas fics favoritas, do fandom de Night Fall, sua série favorita de livros. Isso fez um monte para melhorar as coisas e a tirar um pouco do seu humor sombrio. Ainda não era perfeito, mas pelo menos era algo. Algo para distraí-la e acalmar seu coração antes de encarar a realidade de uma nova vida.

E agora cá estava ela, em um estado de espírito muito melhor. Depois de um bom banho, de escovar o cabelo e os dentes se sentia renovada e cheia de energia. Desceu as escadas indo direto para a cozinha para tomar um café da manhã/almoço/lanche, mas antes de sequer abrir a geladeira percebeu o aviso na porta da geladeira.

“Bella, já fizemos algumas compras, prepare algo pra comer e faça o jantar do seu irmão, seu pai e eu fomos resolver coisas do trabalho só voltamos à noite.

Bjs Mamãe.

Ps.: Seus livros novos da escola estão na mesinha da sala”

Apesar de adorar cozinhar, a ideia de fazer o jantar de Liam era bastante desanimadora no momento, por isso pegou apenas uma maçã e se dirigiu à sala a fim de levar esses livros ao seu quarto. Mal olhou os livros enquanto os pegava nem um pouco curiosa para olhar através do seu novo material escolar. Em seu caminho para o quarto, voltou para cumprir o dever sagrado de toda irmã mais velha: implicar com seu irmãozinho.

— E aí lendo o que? — disse entrando sem nenhuma cerimônia e já pegando o livro que tinha certeza que devia ser de sua nova escola como os que sua mãe deixou para ela, mas foi surpreendida — Ué?! Vinte mil léguas submarinas, mas você já não leu esse?

— Já! — Liam respondeu mal-humorado, tirando o livro de suas mãos. Ele sempre ficava mal-humorado quando interrompiam sua leitura.

— Curioso, achei que estaria se deliciando com os livros novos que mamãe pegou da escola, aliás, nós acabamos de chegar com um dia de antecedência como sabiam que estaríamos aqui?

Liam revirou os olhos, claramente exasperado com sua presença, algo que divertiu Bella que não pôde deixar de sorrir para a expressão do irmão.

— Mamãe pegou no começo da semana só que ela esqueceu no escritório, hoje mais cedo ela se lembrou. Se você estivesse acordada saberia — disse irônico.

— Eu imaginei, só perguntei pra te irritar mesmo — revelou sem conter a risada.

O suspiro irritado que Liam deu, só serviu para aumentar sua diversão.

— Mas falando sério… — Ao olhar cético do irmão Bella continuou — Juro sem brincadeiras — disse com uma cara séria, mas ainda com um brilho de diversão em seus olhos, que não fez nada para diminuir o ceticismo de Liam — Como eu estava dizendo… Onde estão seus livros? Imaginei que já estivesse se preparando para seu primeiro dia de aula, afinal isso é tão sua cara — falou a última parte sem conter o revirar de olhos e o leve deboche em seu tom.

Depois de mais um suspiro irritado ele resolveu responder.

— Elucidando a sua dúvida... — iniciou com ironia — eu não estou lendo os livros da escola porque eu não recebi os meus.

— Ah, devia ter imaginado — respondeu no mesmo tom — Mas então qual é a dos livros, eles não tinham os seus?

— É, basicamente — disse aborrecido, sem dúvida com a presença dela atrapalhando sua edificante leitura. — A escola da reserva ainda não tinha livros pra mim, vou pegar os meus só segunda-feira mesmo — completou sabendo que Bella não sairia dali sem uma resposta decente.

Reserva…? Que reserva?

Repetiu sua pergunta em voz alta para o irmão, que deu mais um longo suspiro antes de responder.

— A reserva indígena de La Push.

— Reserva indígena, é?! Eu tenho até medo de imaginar onde ela fique. — Seria apenas a sua sorte, ter que estudar mais longe de casa do que pensou. — Mas eu achei que a gente ia estudar em Forks e não em La Push — comentou intrigada.

Eu vou estudar em La Push e você em Forks — replicou.

Bella demorou ainda alguns segundos para processar a informação antes de falar.

— O quê? Você tá brincando, né?! — pediu ainda incrédula, rindo nervosamente, esperando muito ter ouvido errado.

— Não, eu não estou, papai me disse hoje antes de sair.

Isso não pode estar acontecendo! Pensou ainda sem acreditar no que ouvia.

Era uma coisa boa que deixou seus livros e sua maçã em uma cadeira no quarto de Liam, caso contrário teria deixado tudo cair no chão. Seu estômago revirou de forma desagradável e de repente parecia muito mais difícil executar o simples ato de respirar. Sem pensar saiu apressada do quarto de Liam. Precisava de ar. Agora!

— Ei Annabel, onde você está indo? — indagou Liam seguindo a irmã.

Diminuiu o ritmo do seu passo e tentou respirar fundo.

— Eu preciso dar uma volta, respirar um pouco — respondeu com suavidade, a voz um pouco trêmula.

— Você tá bem? — Liam se aproximou agora observando seu rosto com preocupada atenção.

— Sim, só… só preciso de um momento sozinha ao ar livre pra pensar. Eu não esperava por isso, essa notícia me pegou desprevenida e você sabe o quanto eu detesto ser pega de surpresa — disse com a face mais composta que pôde montar, tentando não preocupar Liam, mas querendo desesperadamente sair logo dali.

Liam franziu o cenho não muito convencido, mas vendo o quanto Bella estava ansiosa para sair decidiu não pressionar a questão.

— Tudo bem… — começou devagar ainda olhando a irmã. — Não está esquecendo o celular, né?!

O bolo que se formava na garganta a impediu de responder, por isso apenas mostrou o celular que por sorte ela tinha colocado no bolso traseiro da calça jeans.

— Qualquer coisa me liga que eu vou te buscar… — A essa altura já estava na porta para sair da casa e mal pode ouvir seu irmão falar enquanto fechava a porta.

Bella não possuía ilusões sobre como seria seu primeiro dia de aula. Na melhor das hipóteses conseguiria não terminar o dia sem pagar algum mico e na pior… bom era melhor não pensar. Mas ser uma aluna nova em uma cidade pequena onde todos se conheciam desde as fraldas com certeza a faria parecer uma atração circense. Isso não a incomodava tanto quando achava que Liam estaria lá dividindo a atenção do público com ela, mas agora...

Seguiu andando sem rumo perdida em sua angústia emocional. Todas as coisas que ela se negou a pensar. Todos os sentimentos que reprimiu, que engoliu em silêncio, pareciam agora fervilhar sob sua pele e queimar.

—§-

Depois de andar por algum tempo, a chuva começou a cair sem Bella se dar conta. Ela parou encostando-se a uma árvore, não suportando mais o peso do próprio corpo. O desejo de fugir crescia ao mesmo tempo que seu corpo pesava mais e mais, a fazendo desabar. Estava cansada demais para sequer dar mais um passo. Por isso, permaneceu sentada nas raízes da árvore, cercada pela própria miséria.

Com certeza, estava fazendo uma grande cena por muito pouco. Se ela não amarrasse tão fortemente as emoções que sentiu ao saber da notícia ou qualquer traço de emotividade… se ela ao menos tivesse permitido a si mesma a oportunidade de chorar ao longo dessas semanas, sua reação à última notícia teria sido bem menos dramática e patética. Ela se negou tudo isso e agora lá estava ela, chorando no meio da chuva como um grande clichê ambulante.

Melodrama adolescente à parte, ela não se importava com a cena que estava fazendo. Nem tão pouco com a chuva molhando sua roupa e se misturando com as lágrimas quentes que caiam de seu rosto. Mesmo que ela detestasse a chuva ou estar molhada. Naquele momento ela só precisava sentir mais profundamente e com a maior dose de drama possível. Ela só precisava tirar a pressão.

Desde o dia que a notícia da mudança havia sido dada, Bella se encontrou lutando com a rebeldia, injustiça e a necessidade de fazer um escândalo, por ter tudo o que ela tinha como certo arrancado de forma tão abrupta dela. O sentimento de abandono e solidão, de ser deixada para trás, muito embora fosse ela a pessoa que seguiria e deixaria todos para trás, a perseguiu.

Bella sempre teve sua família. Embora nunca tivesse amigos íntimos que estivessem fora do seu âmbito familiar. Sua família era uma presença tão constante que essa falta era sufocada de forma fácil e esquecida com deliberação. Sempre sentiu falta de ter amigos que fossem próximos. Em quem poderia depositar sua confiança, como a que tinha em seu âmbito familiar, mas nunca conseguiu conquistar isso. Suas amizades tinham o infeliz hábito de serem sempre casuais e careciam de um sentimento de pertença, de troca e de confiança, que não poderia ser fabricado ou mesmo imaginado.

Até conhecer Tina e Lígia, quase dois anos atrás. Sua amizade com as irmãs Santos chegou perto disso, tão perto que era quase perfeito. Claro que não foi ideal. Haviam muitas coisas que ela não era confortável em discutir com as irmãs. Momentos em que se sentia deixada de fora, pois nada superaria a ligação fraternal que as duas tinham uma com a outra. Ou ainda àquelas vezes que agiria de forma tola ou inexperiente perto das duas, mas tudo isso tinha mais a ver com ela do que com o valor que a amizade das três possuía.

Além do mais, Bella sempre quis a coisa real, sempre quis algo que fosse verdadeiro. E coisas reais eram também imperfeitas e por isso belas em sua própria maneira. Para Bella essa beleza residia no simples fato de ser dela e apenas dela. Sua amizade foi algo que elas construíram ao longo do tempo (sem interferência de terceiros), que se tornou forte e verdadeira a sua própria maneira.

Mas ali em Forks ela não tinha nada. Sem suas amigas ao seu lado. Sem seus primos ao virar de um corredor. Sendo um rosto desconhecido, em um mar de estranhos. Ela estava sozinha e sem sua rede de segurança. E agora nem mesmo teria Liam por perto.

A ideia de tentar se engajar em busca de novas amizades nem ao menos soava animadora. Pois, sentia (sem dúvida de modo irracional) que essas ligações seriam efêmeras e não durariam, fosse por alguma outra mudança inesperada ou pela barreira do tempo que no fim acabava com todas as ligações de uma forma ou de outra. De que valia tentar, se poderia evitar o desgosto completamente, quando as coisas de forma inevitável seguiriam seu curso natural. Assim como sentia que sua amizade com Tina e Lígia. Ela já podia até ouvir a contagem regressiva para o fim dessa amizade também.

Talvez fosse uma visão pessimista. Mas naquele momento ela precisava disso, precisava chorar, precisava se sentir viva e real de alguma forma. Mesmo que fosse através da dor, pois era melhor que a dormência que esteve alojada em seu peito ao longo das últimas semanas. Silenciando tudo que sentia, fingindo uma resignação que não era real, agindo como se ir para Forks não fosse a pior coisa para o seu mundo. Por mais dramático e irreal que essa afirmação poderia ser.

Amanhã depois de represar todas essas emoções ela seria otimista e pararia de agir como uma adolescente dramática, quando havia muitos e mais sérios problemas no mundo.

Amanhã ela voltaria a tentar.

Mas agora ela só sentiria e choraria. Ela só libertaria as emoções que com afinco ela negou.

Por isso, ela ficou ali enrolada em si mesma. Banhada pela chuva que esfriava seu corpo até os ossos enquanto as lágrimas esquentavam suas faces, esperando que sua alma fosse lavada de alguma forma.

Estava tão perdida no momento que nem percebeu que não estava mais sozinha.

— Se continuar nessa chuva vai acabar ficando doente — uma voz feminina disse em um tom preocupado e ao mesmo tempo irreverente.

E apesar de não desejar ser flagrada chorando, sua curiosidade falou mais alto a fazendo levar a cabeça e esperando que essa estranha confundiria suas lágrimas com a chuva que ainda caia.

No entanto, quando seu olhar cruzou com o da desconhecida todos os pensamentos a respeito de quão patética ela parecia sumiram da sua mente.

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Notas finais do capítulo

Esse começo de capítulo foi muito inspirado em Midnight Sun para aqueles que leram, vocês perceberam isso? O que acharam da minha adaptação? E o que acham que vai acontecer agora? Quem é a pessoa misteriosa que Bella viu? Será que ela corre perigo? Não percam as cenas dos próximos capítulos!

Ah, já ia me esquecendo... se vocês gostariam de ver alguma cena que não aconteceu no livro original que vocês desejam ver nessa minha releitura fiquem a vontade para dizer, se eu puder encaixar dentro da trama que eu tracei pra essa história ela com certeza vai aparecer e a pessoa que deu a ideia da cena/situação vai ser devidamente creditada!



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