Internamente Evans escrita por psc07


Capítulo 3
Capítulo Dois


Notas iniciais do capítulo

Estou de volta com um capítulo curto! Espero que gostem e até mês que vem :D



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Como Marlene não demonstrava sinais de que ao menos abriria os olhos antes de chegar ao hospital, Lily ficou revisando mentalmente as doenças que haviam sido listadas para os pacientes dos leitos que ela ficara responsável.

Ela sabia que o paciente não seria exatamente como estava no livro – isso era a primeira coisa que aprendera quando começara a lidar com pacientes de verdade –, mas ela sabia que seria importante saber os aspectos principais e mais comuns.

Ao chegarem na enfermaria ainda sem internos, Marlene parecia já estar completamente alerta (o que muito provavelmente tinha relação com o fato de a garrafa de café estar vazia). Elas se encaminharam para a sala de prescrição, pegaram suas pranchetas, papel e caneta, além do estetoscópio, esfignamômetro e termômetro, e foram ver seus pacientes.

No leito 4.2 estava Jonathan Parks. Ele tinha 40 anos e estava ali por causa de uma diverticulite. 

—Sr. Parks, bom dia – Lily disse, num tom de voz baixo para não incomodar nenhum paciente ao lado. Sr. Parks olhou para a garota e retornou levemente o sorriso – meu nome é Lily Evans, sou nova interna aqui do hospital, e vou ficar com o senhor durante seu internamento.

—Olá, doutorinha. Pode me chamar apenas de Jonathan.

Lily sorriu.

—Desculpe vir tão cedo, mas o senhor sabe como é...

—Já me acostumei, Lily. Me internei aqui antes por causa disso ano passado, mas tomei uns remédios e saí. Só que dessa vez não melhorou.

—Me conte um pouco mais sobre o que aconteceu com o senhor dessa vez. O senhor está aqui há 6 dias já?

—Isso mesmo. Senti a mesma dor, aqui desse lado, bem forte, que não passava por nada no mundo...

—O senhor tomou algum remédio pra dor?

Lily continuou se inteirando sobre o quadro de Jonathan. Ela estava plenamente ciente que havia dado uma sorte danada do primeiro paciente ser tão comunicativo e ser um informante tão bom. Ela terminou de conversar com Jonathan, e pediu para fazer o exame físico. De bom grado ele autorizou, e Lily se despediu dele com um sorriso e uma promessa de que voltaria depois.

Lily terminou de fazer suas anotações, e seguiu para os outros pacientes. Nicholas Anthony tinha 28 anos e tinha passado por uma cirurgia para retirada do apêndice no dia anterior. A última paciente tinha internado na noite anterior com pedras na vesícula, e estava aguardando a cirurgia. A garota pegou os prontuários no posto de enfermagem e seguiu para fazer as evoluções.

Quando Lily voltou para a sala de prescrição, Marlene já estava em um dos computadores, porém nenhum outro interno estava na sala ainda. Ela rapidamente se sentou ao lado da amiga, os três prontuários no colo.

—Terminou rápido – Lily comentou enquanto digitava o login e a senha fornecidos para os internos por e-mail antes do início do estágio.

—Dois eram pós-operatório e um leito vazio. Não tinha muita coisa – Marlene explicou, dando de ombros. -  Amanhã que devo aumentar um pouco a carga. E você?

—Um pós-operatório de apendicectomia, uma paciente que internou ontem com o que acho que é colecistite, mas preciso ver o ultrassom pra confirmar, e um paciente com diverticulite que acho que vai operar hoje.

Marlene encarou Lily até que a ruiva se virasse para a amiga.

—O quê?

—Nada. Você está na sua zona já. É ótimo ver isso depois do rodízio passado – Lene comentou com um sorrisinho. Lily sorriu de volta.

Elas tinham passado por um rodízio de oftalmologia, e Lily simplesmente odiava. Não que ela achasse que era inferior, nada disso. Ela tinha plena ciência da importância de cada especialidade – ela só achava que era melhor ela de um lado, oftalmologia do outro.

Lily decidiu começar por Jonathan, que lhe parecia ser o que precisava de mais atenção por ter definição de conduta naquele dia. O sistema de prontuário eletrônico do hospital era relativamente simples, e era muito bom de ser usado. 

Os estudantes tinham um login e uma senha específica, que permitia que eles fizessem a evolução e a prescrição, mas que só seria validada após um médico colocar seu registro. Como também tinham acesso aos resultados de exames de laboratório e aos exames de imagem, conseguiam mexer bem no paciente.

Lily abriu o prontuário de Jonathan no sistema, e fez a evolução da maneira mais completa o possível: toda vez que ia fazer uma evolução se lembrava das aulas antes do internato em que diziam para não esquecer se colocar o que havia ocorrido com o paciente no período e como ele estava no momento. Checou os exames de sangue e franziu a testa quando viu o leucograma. Ainda alterado.

Ela continuou fazendo a evolução, e quando terminou, fez a prescrição do jeito que achava que deveria ser. O lado positivo do sistema de prontuário eletrônico era que aceitava os arquivos feitos pelos internos, de modo a poupar o trabalho dos residentes – e também não precisava escrever a mão, de modo a poupar o trabalho dos internos.

Os outros dois pacientes foram relativamente mais tranquilos de fazer, e ela terminou 7h10min. Rapidamente cedeu o lugar no computador para Benjy, tendo as evoluções e prescrições impressas para discutir.

Lupin, Potter e Black chegaram juntos, o primeiro respirando levemente mais rápido que os demais. De novo, estavam conversando e rindo. Mesmo que o tom fosse baixo, eles chamavam atenção; era raro ver tamanha animação àquela hora da manhã.

Logo atrás deles veio Snape, de novo com os olhos grudados na tela do celular. Marlene e Lily se entreolharam e reviraram os olhos. Lily pegou seu material de estudo para comparar algumas informações com os casos que acabara de ver, enquanto os outros residentes entravam.

—Alguma de vocês está com Jonathan? Jonathan Parks?

Lily olhou para cima e viu Dr. Lupin com um caderninho e uma caneta em mãos, e um sorriso leve no rosto. A garota não sabia exatamente, mas a palidez e o cansaço estampados no rosto do residente pareciam meio… doentios.

—Eu, Dr. Lupin. E também com Nicholas Anthony. – Lily informou, separando os papeis que tinha impresso para caso se esquecesse de algo do caso.

—Ah, você já fez a evolução, ótimo – Lupin disse – Lily Evans, é isso?

—Exato.

—Fez a prescrição também? – Ele perguntou, sentando-se ao lado da garota no computador. Ela acenou com a cabeça – Maravilha. Vamos ver então? Vou querer mostrar esse caso para Moody.

Lily falou da conversa que teve com Jonathan, relatou o exame físico e mostrou os exames laboratoriais. Dr. Lupin corrigiu a evolução, dando dicas de como deixar a escrita melhor, elogiando alguns pequenos detalhes que ela tinha acrescentado. Na prescrição, ele modificou poucos itens.

O outro paciente foi ainda mais rápido – iria receber alta hoje mesmo, então só precisava realmente da avaliação e da receita para ir para casa. Lily ficou simplesmente encantada com Dr. Lupin. Ele era calmo, explicava as dúvidas de Lily com paciência, e dava um jeito de ser gentil nas críticas e correções.

—Então é só isso por isso, Lily – Ele disse quando terminaram – Vou validar o que você fez no sistema, e fazer o papel da alta. Você ainda tem algum paciente para discutir?

—Tenho mais um, com Dr. Snape.

Dr. Lupin franziu a testa mas rapidamente voltou a expressão para um sorriso leve, e indicou o residente em questão com a cabeça.

—Então vai lá que eu faço a alta de Nicholas e depois lhe mostro como ficou. Fica com esses papeis na mão que você vai passar o caso para Moody mais tarde, ok?

—Certo, pode deixar.

—Você foi ótima para o primeiro dia, Lily, continue assim.

Lily permitiu que um sorriso se juntasse ao influxo de sangue no rosto causado pelo elogio.

—Muito obrigada pela ajuda, Dr. Lupin!

—Que é isso! Estamos aqui justamente para aprender e compartilhar conhecimento – ele disse, e depois sorriu mais um pouco – e por favor, pode me chamar de Remus. 

Lily sorriu e foi em direção ao outro residente. 

—Com licença, Dr. Snape, estou com um paciente seu – Ela disse, num tom de voz baixo. Dr. Snape elevou os olhos até ela, olhou para o relógio e a encarou novamente.

—São 7h45. Está atrasada quinze minutos.

—Oh, eu estava passando dois pacientes com Dr. Lupin – Ela explicou, franzindo a testa – me desculpe.

—Amanhã você passa primeiro comigo e depois com Lupin, entendido?

Lily se segurou para não erguer as sobrancelhas.

—Sim, senhor – Lily sentou ao lado dele e pegou os papeis, fingindo não ter ouvido ele suspirando.

—Podemos começar?

—Sim. Paciente Miranda Carrens, 45 anos, nega comorbidades. – Dr. Snape pegou a evolução da mão dela, e gesticulou para ela continuar, sem olhar para Lily – Deu entrada ontem na emergência com queixa de dores em hipocôndrio direito há cerca de 6 horas. Relatou dor tipo cólica, constante, de forte intensidade, com irradiação para ombro direito. Diz que a dor começou após um churrasco, sem ter cessado com uso de analgésicos comuns. Não há fatores de melhora ou de piora. Refere náuseas, com três episódios de vômito, contudo sem febre. Sem outros sintomas associados. Conta que já teve alguns episódios de dores parecidos antes, mas que resolviam após uso de escopolamina com dipirona.

Lily pausou para ver a reação de Snape. Ele continuou sem olhá-la.

—Não entendo o motivo de vocês internos acharem que precisam escrever um tratado nas admissões. Falta senso comum e objetividade.

—Eu... certo.

—Continue.

—Foram solicitados alguns exames laboratoriais. Leucograma veio com leucocitose leve, 12.000 leucócitos, mas sem desvio à esquerda. Gama GT, fosfatase alcalina, TGO e TGP vieram normais. Além disso foi solicitada ultrassonografia de vias biliares, que demonstrou 5 cálculos em vesícula, mas sem lama biliar nem microcálculos. Também não tinha espessamento de vesícula ou outros sinais de inflamação. 

—Conduta da emergência? – Snape perguntou, crispando os lábios.

—Foi medicada com dipirona, além de anti-inflamatório não esteroidal. Também foi receitado antiemético e hidratação com soro glicosado. Foi internada. Passou a noite sem dor, sem náuseas ou vômitos, e não teve episódios de febre.

—Está em dieta zero para a cirurgia?

Lily hesitou. Sim, a paciente estava sem comer desde que chegara, mas ela tinha dúvida se Miranda realmente deveria ser operada no momento, e questionou ao residente. Snape comprimiu os lábios.

—A senhorita tem alguma formação cirúrgica formal que eu não saiba, Evans?

—Eu... não, Dr. Snape.

—Então por que está questionando a minha conduta?

Antes que Lily conseguisse responder, contudo, a porta da sala de prescrição se abriu e Moody entrou. Snape pegou os papeis dessa paciente, rasgou e jogou no lixo. Lily só conseguiu abrir a boca em choque antes de Moody falar.

—Bom dia a todos. Espero que os pacientes já tenham sido discutidos com os residentes. Algum paciente com conduta cirúrgica hoje?

Snape se adiantou, assim como Lupin e Potter.

—Potter, quer discutir o seu paciente ou posso mandá-lo para o centro? – Moody perguntou.

—Pode mandar, é cirurgia eletiva.

—Certo. Lupin, seu paciente. Quem é a interna? – Moody perguntou. Lupin sorriu e chamou Lily.

—Lily Evans conversou com Jonathan.

—Então nos conte, Evans.

—Bom, Jonathan Parks tem 40 anos. Ele tem internamento prévio aqui por diverticulite aguda ano passado, quando fez tratamento clínico com cefuroxima e metronidazol. Tinha um abscesso muito pequeno para fazer drenagem percutânea. Teve alta após melhora clínica, sem maiores complicações. Há sete dias ele veio para a emergência sentindo fortes dores em quadrante inferior esquerdo, sem fatores de melhora ou piora, com irradiação para flanco esquerdo, sem melhora após analgesia em casa. Náusea e dois episódios de vômitos, além de febre mensurada em 39°C. Tinha leucograma de 16.000 e PCR de 154. Foi feita tomografia, que não mostrou nenhuma complicação. Internado aqui para fazer acompanhamento. Hoje está no D6 de ceftriaxona e metronidazol, sem melhora da febre e da dor, leucograma ainda alterado, mas sem complicações na tomografia de ontem.

Enquanto Lily falava, ela sentia o sangue voltando para seu rosto. Mas, também, ela estava apresentando o caso para Alastor Moody! Além disso, ela conseguia sentir o olhar de todos os colegas e dos residentes nela.

—Exame físico dessa manhã, Evans? – Moody pediu.

—Frequência de 95 batimentos, pressão de 125x85mmHg, e temperatura de 38°C. Abdome simétrico, ruídos hidroaéreos aumentados, timpânico, com dor à percussão e palpação superficial – ela hesitou novamente e respirou fundo – eu achei que tinha um pouco de rigidez, então talvez tenha irritação peritoneal, mas não posso afirmar com certeza. O leucograma de ontem à tarde continua alterado.

—Lupin? – Moody se voltou para o residente, que ofereceu um pequeno sorriso para Lily.

—Lily resumiu tudo muito bem. Realmente achei que tem irritação peritoneal. Não saiu o laudo da tomografia de ontem, então essa ausência de complicações foi com minha avaliação e de James.

—Evans, sugere alguma conduta? – Moody perguntou, e Lily podia jurar que tinha visto um pequeno movimento no canto do lábio do preceptor.

—Bom... como não houve melhora clínica... paciente está com dor e febre ainda, leucograma não diminui a despeito da antibioticoterapia há 6 dias... mesmo sem complicação à tomografia, acho que a conduta no momento deve ser cirúrgica.

—Lupin, concorda com Evans? – Moody perguntou. 

—Completamente. Seu Jonathan já está de dieta zero, assim que surgir uma sala podemos mandá-lo.

—Perfeito. – Lily soltou a respiração que não havia percebido que segurava com a resposta positiva do preceptor – Mais algum seu?

—Não, senhor.

—Então peça para Madame Pomfrey conseguir uma sala para ele e depois termine de passar os pacientes para o sistema. Não precisa de reserva de sangue, mas veja se consegue uma semi-intensiva para ele, ok?

—Sim, senhor.

Lupin pegou o prontuário com Lily, lançando-lhe uma piscadela, e saiu para marcar a cirurgia.

—Snape, o que tem?

—Nada demais. Apenas um caso de colecistite. Paciente em dieta zero. História clássica. Ultrassom mostrou cálculos em vesícula. Já solicitei uma sala para Madame Pomfrey.

—Onde está o ultrassom? – Moody pediu, cruzando os braços. Snape encarou Lily (que estava com a testa franzida), e ela entregou o prontuário na página aberta do exame solicitado. – Você também está com esse paciente, Evans?

—Sim, senhor.

—Então interprete essa ultrassonografia para mim. Internos se aproximem, por favor.

—Er, bem. Conseguimos visualizar parênquima hepático e a vesícula biliar distendida. Na vesícula tem 5 cálculos.

—Como você sabe que são cálculos?

—Bom, tem hiperecogenicidade e sombra acústica posterior.

—E por que cálculo e não pólipo?

—Para fazer essa diferenciação precisa da dinâmica do exame, certo? – Lily disse – O examinador pede para o paciente mudar o decúbito. Se houver deslocamento das imagens, é cálculo. Se ficar fixada à parede, é pólipo.

—Certo. E o que nessa imagem nos indica tomar uma conduta?

—Bom... não tem espessamento de parede, nem líquido, então não tem um sinal inflamatório da vesícula. Se tivesse, seria colecistite litiásica. Mas como não tem, e a paciente teve melhora dos sintomas, podemos classificar como cólica biliar por colelitíase.

—Concorda com a conduta cirúrgica imediata?

—Bem... – Lily engoliu em seco e evitou olhar para Snape no momento – eu não tenho certeza, fiquei apenas na dúvida, mas eu achava que em casos de cólica biliar com doença calculosa, a cirurgia é melhor ser feita fora da crise de dor, com acompanhamento ambulatorial para avaliar a necessidade. Mas eu não sei se estou confundindo ou...

—Essa realmente é a conduta. Contudo, conhecemos essa paciente. É a quinta vez que ela interna com cólica biliar nos últimos seis meses, então tem recorrência importante. Ela tinha uma consulta marcada para semana que vem. Considerando tudo isso, Dr. Snape já havia marcado a cirurgia. O que você falou está correto, só que nem sempre seguimos à risca os protocolos. Cada paciente é único. Lembre-se disso em toda a sua carreira. Muito bem. Quem mais tem pacientes com conduta cirúrgica imediata?

E, apesar de ter tido um desempenho extremamente positivo (“garota, você parecia mais uma residente do que interna!” Marlene lhe dissera quando estava dirigindo para casa), o sentimento que ficou foi o mesmo de quando Snape a encarara: algo ruim, no fundo do estômago, que não permitia que ela aproveitasse bem o dia.

Algo que lhe dizia que Snape não gostava nada de ser contrariado, e que aquilo não terminaria ali.


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