Internamente Evans escrita por psc07


Capítulo 20
Capítulo Dezenove


Notas iniciais do capítulo

SEXTOU DE NOVO! Boa noite, pessoal!! Como foram de semana? Bem, espero!

Trago mais uma parte de Internamente Evans para vocês!

Curtam, comentem, me digam o que acharam... o céu é o limite!!!!

Desde já, até sexta que vem!



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Lily sabia que estranhariam a sacola de cookies em sua mão – ela claramente não estava esperando o interfone, então não tinha como dizer que ela pedira para o grupo – mas ela não conseguia parar de sorrir o suficiente para pensar em uma desculpa para dar.

Ela gostaria de dizer a verdade: que seu namorado passara para deixar os doces.

Mas ela sabia que Benjy e Emmeline iriam querer saber mais sobre um namorado, então não seria tão prudente falar que era tão sério.

Quando Lily entrou em casa, os três colegas olharam para cima imediatamente. Ao ver a sacola e o rosto de Lily, Marlene abriu um sorriso malicioso.

—Alguém quer cookie? – Ela ofereceu, sentando na mesa de novo.

—Alguém veio deixar cookie pra você meia noite? – Benjy perguntou incrédulo.

Lily deu de ombros e pegou um cookie – estava mais delicioso que ela imaginava.

—Tem alguém querendo impressionar nossa ruivinha… – Emmeline disse, erguendo as sobrancelhas sugestivamente e pegando um biscoito também.

—Talvez alguém tenha conseguido impressionar já… – Marlene replicou, fazendo Lily lhe lançar um olhar irritado. Emmeline abriu um grande sorriso.

—Lily Evans, você tem escondido coisas! – Emmeline exclamou. Lily não entendia o motivo de tanta surpresa, já que elas não eram muito próximas.

—Eu, er… estou saindo com um cara. Nada demais – Ela disse, franzindo o nariz e pegando mais um dos cookies divinos.

—Se o cara passou meia-noite pra lhe deixar cookies, é algo “demais” para ele, Lily – Emmeline disse. Lily apenas olhou para o cookie. Benjy, curiosamente, estava calado, então Lily resolveu limpar a garganta e voltar à tarefa em mãos: terminar de corrigir a prova.

Eles não demoraram muito; tinha sido uma prova mais tranquila. Como não estava tão tarde, Benjy e Emmeline resolveram ir logo para casa ao invés de dormirem lá como habitualmente faziam.

—Eu não acredito que ele veio aqui só lhe deixar cookies – Marlene disse quando elas estavam sozinhas novamente. Lily sorriu.

—Remus sempre disse que ele era um emocionado – Lily justificou comendo o último cookie.

—Não é o único nesse relacionamento… – Marlene comentou, observando o sorriso de Lily. A ruiva deu de ombros.

***

—Eu não tinha percebido essa cicatriz – James comentou, o indicador acariciando levemente a depressão na pele logo abaixo da axila direita. 

—Você estava com muito focado em uma coisa só – Lily replicou e James riu. Ele sabia que não tinha como negar. 

Eles estavam deitados na imensa cama de James, alguma comédia romântica de fim de domingo passando na televisão apenas de barulho de fundo, dividindo uma barra de chocolate e conversando. 

O casal não tinha saído dali desde que James ameaçara Lily a não dividir comida caso ela não fosse com ele no banheiro para fazer xixi enquanto ele descartava a camisinha – ela prometera que faria xixi assim que ele retornasse para o quarto.

James havia passado para pegar Lily pouco antes de meio-dia, prometendo levá-la para almoçar no seu restaurante italiano favorito – depois de comentar que só herdeiros da indústria farmacêutica tinham restaurantes chiques favoritos, ela concedeu que aquele tinha sido o melhor risoto que já comera.

Depois ele a levou para a mesma sorveteria no mercado em que Lily dissera que era melhor eles não se relacionassem desse jeito. James riu mais do que o momento pedia, mas Lily o acompanhou, mantendo o pedido de sorvete de limão enquanto ele não abandonava o de pistache.

Quando eles chegaram na casa de James, Lily pegou o computador para estudar (“você me prometeu que não afetaria meu desempenho acadêmico, James, e já deixei de estudar ontem”), enquanto James lia alguns artigos que Moody recomendara.

Lily supunha que havia poucos modos para melhorar o dia.

—Você não pode me culpar por estar focado em outras coisas, Lil – James disse erguendo as sobrancelhas e ainda passando o dedo na cicatriz.

Lily suspirou.

—Quando eu tinha oito anos o carro que minha mãe dirigia comigo e com minha irmã se envolveu num acidente – Ela contou, sentindo James parar momentaneamente o movimento de seu dedo, mas logo retornando – Eu tive sorte, porque estava no banco de trás. Só tive esse corte por causa do vidro da janela.

—Sua mãe e sua irmã…? – James perguntou num sussurro. 

—Minha mãe ficou bem também. Mas minha irmã ficou mais grave. Ela recebeu boa parte do impacto. Eu não entendia muita coisa na época, claro, mas eu lembro claramente quando estávamos no pronto-socorro e fizeram o que hoje sei ser uma toracotomia de emergência nela. Não é uma coisa que se esquece facilmente, o tórax dela aberto com muito sangue caindo. Mas… eles salvaram a vida dela. 

—E foi aí que você escolheu cirurgia do trauma? – James adivinhou. Lily sorriu, levando uma mão para traçar os lábios dele, seguindo para o resto do rosto depois.

—Foi. No caso, eu só sabia que queria ser igual ao médico que salvou minha irmã. Depois que eu entrei na faculdade foi que descobri os prontuários dela dessa época. Minha mãe guarda, porque tem medo de precisar pra alguma coisa. E descobri a especialidade do cirurgião, e um caminho se fez.

Lily se perguntou se seu tom de voz transparecia a amargura que sentia. Ela imaginou que sim, já que James parou mais uma vez de mexer o dedo.

—Tem mais alguma coisa? – Ele perguntou.

Lily mordeu o lábio.

—Minha irmã sempre foi muito vaidosa. Desde que eu me lembre ela carregava uma escova e maquiagem para qualquer lugar, escolhia as roupas desde pequena. Uma perfeita patricinha, desde o ínicio. Claro que isso também me fazia patricinha também, já que eu copiava Tuney em tudo.

Isso arrancou um sorriso de James. Como era confortável simplesmente estar deitada frente a frente com James, conversando e sentindo a mão dele em seu corpo, como se fosse apenas mais um domingo comum.

—Eu gostaria de ver uma foto de Lily Evans patricinha – Ele confessou. Lily soltou uma risada.

—Eu te mostro depois, não se preocupe. Então ela sempre se preocupou muito com imagem. Você consegue imaginar o tipo de cicatriz que uma toracotomia de emergência deixa. Ainda mais quando tiveram que fazer uma laparotomia depois por causa de uma lesão renal e uma esplênica.

James ergueu as sobrancelhas.

—Ela simplesmente odeia as cicatrizes. Ela não usa biquíni, ela teve que fazer acompanhamento psicológico por um tempo… 

—Isso é ruim – James comentou. Lily exibiu um sorriso triste.

—É. Petunia… ela culpa os médicos que a atenderam pela cicatriz, e por tudo que veio por causa disso. Ela teve que fazer recuperação na escola porque perdeu mais de um mês de aula, e quase perdeu o ano. E ela não vê como foi. Que os médicos salvaram a vida dela, do jeito que eu e minha família vemos.

Lily e James se encararam por alguns segundos. Ele sabia que tinha algo a mais e ficou esperando Lily terminar.

—Ela odeia médicos. Não daquele tipo que apenas não gosta de ir em consulta mas no final do dia acaba cedendo. Ela odeia, do tipo, ela não tem amigos que são médicos e fecha a cara se conhece algum.

—Mas… você… – James começou, e parou ao ver o rosto de Lily.

—Quando eu disse que queria ser médica, ela não levou a sério, sabe? Mas ela percebeu que eu estava falando a verdade quando entrei na faculdade. Nosso relacionamento já não era muito bom, porque ela me ressentia por não ter tido nada do acidente… Depois que eu entrei na faculdade… ficou caótico. Ela praticamente finge que eu não existo, e quando nos encontramos é sempre com hostilidade.

James não desviou o olhar, muito menos Lily. James, então, puxou a garota para mais perto dele e depositou um beijo na testa da garota.

—Eu sinto muito, Lil – Ele disse, os lábios ainda na testa dela.

—Não é sua culpa.

—Eu sinto muito de qualquer jeito – Ele repetiu – Deve ser péssimo, mas tenha certeza que a perda dela é infinitamente maior que a sua.

Lily virou seu rosto para cima e, sorrindo, beijou James.

—Obrigada.

Ele sorriu de volta e eles continuaram se abraçando, até Lily perceber certa parte de James mais alerta.

—Ignore – Ele disse – Estou muito confortável agora.

—Se eu falar para Sirius que você preferiu abraço a sexo ele nunca te deixaria em paz.

—Primeiro que você nunca vai contar – James replicou – Segundo que ele sabe que sou um romântico perdido. Terceiro que eu não disse que daqui a pouco não vou te seduzir irremediavelmente com meu charme, rosto e corpo incríveis.

Lily gargalhou, e James se viu obrigado a segurá-la com mais firmeza para impedir que ela saísse de seus braços.

—Você fala que é um romântico perdido, mas quem eu vi levando café da manhã na cama foi Remus… – Lily provocou erguendo a sobrancelha. James semicerrou os olhos.

—Nós nunca acordamos juntos num final de semana livre – Ele replicou – Agora você tirou toda a surpresa que eu tinha planejado pra sábado que vem.

—Sábado que vem eu tenho enfermaria.

—Tá. Próximo final de semana que estivermos os dois livres você vai ganhar um café da manhã na cama, completamente feito por mim.

Lily arregalou os olhos, alarmada com quem faria a comida. James revirou os olhos e a beijou rapidamente.

—Eu posso me acostumar a ser namorada de herdeiro – Lily comentou – Restaurantes chiques, televisões imensas, café da manhã na cama…

—Isso não é por ser namorada de herdeiro, é por ser minha namorada – James replicou, beijando Lily novamente. Dessa vez, ele não foi tão rápido, e Lily sentiu a ereção dele ainda mais pronunciada.

—Então você se cansou do abraço? – Ela questionou, mordendo o lábio inferior que se abria num sorriso provocador.

—Você é impossível! – James exclamou, mas Lily apenas gargalhou e voltou a beijá-lo, rapidamente se colocando em cima dele.

Ele não parecia achar impossível tão ruim assim, no final das contas.

***

James deixou Lily em casa para que ela pegasse o carro e fosse para o hospital com Marlene. Tudo para não levantar suspeitas.

Marlene já estava no play quando ela chegou, então as duas puderam sair imediatamente – James ainda passaria em casa para pegar Sirius e Remus, então não chegariam em horários muito parecidos. 

Marlene riu quando Lily falou isso.

—Ninguém pensaria que você passou a noite na casa de James se chegássemos na mesma hora, Lily – Marlene comentou. Lily deu de ombros.

—Melhor prevenir do que remediar.

Marlene olhou para a amiga ruiva e sorriu.

—Eu acho que o que realmente prova o quanto você gosta de James é o fato de você ficar nessa paranoia e ainda assim…

—Estar namorando ele? – Lily finalizou. Marlene ergueu as sobrancelhas.

—Ah, então vocês finalmente oficializaram?

—Bem… do mesmo jeito que antes. Silêncio e tal.

Marlene assentiu com um sorriso. Elas ficaram caladas por algumas ruas.

—Eu contei pra ele sobre Petunia – Lily anunciou, e sentiu o olhar inquisidor de Marlene nela – Ele viu a cicatriz, obviamente. Eu sei que não precisava falar tudo mas… eu senti vontade. 

Marlene continuou a olhar para Lily, e, por fim, sorriu mais uma vez.

—Eu acho isso incrível, Lily. É bom saber que você está confiando cada vez mais em James – Marlene contou – E eu sei que você está preocupada mas vai dar certo. Vocês anunciam o namoro depois da gente sair da cirurgia, e ninguém vai achar ruim.

—Talvez. Ainda vão ficar falando. Com certeza vão levantar suspeitas de que começamos durante esse rodízio – Lily argumentou.

—Lily. Você não planeja se formar pra tornar o relacionamento público, certo? Porque isso é loucura.

—Eu não planejo nada sobre isso – Lily falou num tom defensivo – Quando for a hora de decidir, será.

—Hm. Acho que a hora vai chegar antes do que você imagina, Lil. Qualquer pessoa que observe vocês dois vai ver que tem algo… diferente. O que é absolutamente adorável, não me entenda mal. Mas… você já parou pra ver o sorriso idiota de James toda vez que te vê?

Lily mordeu o lábio inferior, escondendo o seu próprio sorriso. 

—Isso é perigoso – Foi tudo que Lily comentou.

Marlene revirou os olhos, mas não falou mais nada porque Lily estava estacionando, e se tinha um lugar que esse assunto não deveria era no hospital. Lily sabia que Marlene as vezes a pirraçava um pouco demais, mas estava extremamente grata pelo fato de a amiga ter entendido a situação que Lily se encontrava – ou pelo menos não falava sobre.

Como se para confirmar o ponto de Marlene, o sorriso de James quando as garotas entraram na sala de prescrição foi grande. 

—Dormiu bem, Evans? – James perguntou com uma piscadela. Lily revirou os olhos.

—Poderia ter sido pior – Lily replicou. James soltou uma risadinha e sacudiu a cabeça em negação.

—O pessoal da cabeça e pescoço veio me avisar que vão fazer a traqueostomia de Philip hoje, e a cirurgia ao longo da semana – James informou enquanto Lily tirava seu material da mochila.

—Ele está desconfortável? – A garota perguntou, o cenho franzido.

—Nah. Eles só quiseram garantir uma via aérea pra cirurgia – James explicou – Philip não queria muito, mas a mulher dele disse que quanto antes ele fizer a traqueostomia, mais rápido ele se acostuma.

Lily soltou uma risadinha.

—Estou te avisando porque vai ser pela manhã, e achei que fosse gostar de passar lá antes – Ele continuou – E aposto que Philip vai gostar de te ver também.

Lily assentiu com um pequeno sorriso.

—Obrigada, Dr. Potter. Vou passar lá assim que eu vir meus pacientes.

James ergueu uma sobrancelha e foi para o lado de Lily, onde a mochila dele estava guardada próxima à dela.

—Eu consigo pensar em alguns lugares que você poderia me chamar assim – Ele murmurou, procurando alguma coisa na mochila. Lily segurou uma risada, mas não tinha controle no rubor em seu rosto.

—Veremos – Ela replicou no mesmo tom, e o riso de James não foi nada controlado.

De qualquer modo, ele estivera correto; Philip ficara feliz por Lily passar lá. Ele estava meio nervoso, meio desgostoso com o procedimento, mas entendia que era importante para ele – ainda mais quando percebeu que ficava um pouco mais difícil para respirar.

—Eles falaram que querem fazer a cirurgia logo pra me dar mais chances – Philip contou com sua voz rouca e olhos carregados – Mas eles mesmos disseram que era perigosa, por causa dos meus pulmões.

—O que tem nos seus pulmões? – Lily perguntou. Ela não se lembrava do paciente dizer que havia nenhum tipo de problema pulmonar.

—Aparentemente o cigarro fez um pequeno estrago neles também – Ele revelou, com uma risada forçada – Me pergunto se tem algum lugar que essa fumaça maldita não tenha estragado.

—Seu coração continua o mesmo, Phil – A mulher dele falou, e Lily viu o momento que ele apertou sua mão mais forte.

—Huh. Esqueceu que eles disseram que posso ter infarto também? – Philip retrucou.

—Não era esse coração que eu estava falando, querido – Philip olhou para a mulher, os olhos suavizando consideravelmente. Ele pegou a mão dela na sua e depositou um beijo.

—Esse nunca vai mudar.

Lily não escondeu o sorriso – dava para sentir o amor e apoio mútuo dos dois de longe. Isso seria fundamental na recuperação de Philip.

Ela terminou de conversar com o casal, desejando boa cirurgia e garantindo que passaria lá no dia seguinte, e foi para a sala de prescrição. Contudo, como havia parado para conversar com Philip, não tinha computador livre. Com um suspiro, Lily colocou seu nome na lista e se apoiou na bancada, revendo as prescrições de seus pacientes.

James estava discutindo com Marlene um paciente, e Sirius estava próximo também, mexendo no celular. Poucos segundos depois Benjy se apoiou ao lado de Lily.

—Hey, Lil – Ele cumprimentou. Lily sorriu, assentindo e agradecendo que James estava entretido na discussão.

—Benjy, como vai?

—Bem… eu… na verdade eu queria pedir desculpa pelo bar no final de semana passado – Ele falou depois de um momento de hesitação. Lily sorriu.

—Tudo tranquilo, Ben. Você estava bem alterado.

—Não é desculpa – Ele disse, franzindo o cenho – Quando me lembrei fiquei me sentindo péssimo. Ainda mais depois que eu descobri que você está namorando e tal…

Lily ia responder, mas foi interrompida por um riso vindo de Sirius.

—Descobriu foi, Fenwick? Evans, você está namorando e nem conta! – Sirius provocou com um sorriso sacana. Lily estreitou os olhos na direção do residente.

—Não quem é o cara. Mas ele deixou cookies pra ela tipo… meia-noite de sábado para domingo – Benjy contou 

—Meia-noite?! – Sirius repetiu, e dessa vez riu, batendo no ombro de James – Escuta isso, Pontas. Evans está namorando e o coitado foi deixar cookies pra ela meia-noite. E depoi foi embora.

James consertou os óculos enquanto Marlene sorria.

—A gente tava fazendo prova, né? Eu, Lily, Marlene e Emme, como fazemos geralmente. Daí do nada o interfone toca, lá pra meia-noite, e Lily disse que tem que descer pra pegar uma encomenda, e ela fica lá, sei lá, uns dez minutos? Um pouco demorado pra só pegar encomenda, sabe? E quando ela volta tá com um sorriso do tamanho do mundo, um pacote de cookies na mão, sem querer dizer nada. Mas Marlene dedurou a ruivinha.

—Imagina quão… emocionado o cara deve ser pra deixar cookies pra namorada meia-noite, ein, Pontas? – Sirius ponderou dramaticamente. James sorriu e deu de ombros.

—Realmente… pra deixar cookies na portaria dela meia-noite e simplesmente ir embora depois… o cara tem que estar doidinho por Evans – James concordou gravemente. 

Lily revirou os olhos enquanto os outros riam.

—Vocês são terríveis – Ela retrucou.

—Isso é ciúmes, Lil – Benjy falou com uma piscadela.

—Definitivamente – James concordou solenemente – Eu adoraria receber cookies à meia-noite.

—De qualquer sorte, esse cara sabe o que está fazendo – Benjy continuou – Mesmo que Lily não tivesse chegado  lá com o maior sorriso do mundo… cookies à meia-noite. Eu sinto que fui péssimo agora.

Lily revirou os olhos.

—Você não foi péssimo, Benjy. É só que…

Benjy riu e sacudiu a cabeça.

—Não tem como comparar com Cookies À Meia-Noite.

—Esse cara dá aula – James concordou. Lily sabia que ele estava segurando um imenso sorriso, e ela sacudiu a cabeça.

—Bom, vocês estão com a vida ganha, mas preciso evoluir meus pacientes – Lily falou, se dirigindo para o computador liberado imediatamente ao lado de James. Ele se aproximou um pouco dela, aparentemente para mostrar alguma coisa no computador.

—Tenha certeza, esse cara é louquinho por você – Ele murmurou.

***

Lily estava feliz porque finalmente dividiria uma tarde na emergência com Marlene. Havia muito tempo que elas não ficavam juntas desse jeito, e ter Sirius e Remus como residentes tornava tudo melhor.

Foi mais uma tarde vazia de pacientes para a cirurgia geral. Eles ficaram apenas fazendo ficha para a ortopedia – até as cinco da tarde foram quatro pacientes que precisariam de cirurgia ortopédica, o que significava uma bagunça no mapa cirúrgico deles.

Enquanto isso, Remus e Sirius faziam perguntas sobre trauma e cirurgia, para ajudá-las a revisar. Lily fingiu que não perceber Dra. McGonagall por perto, ouvindo as respostas das duas e observando com o canto do olho.

Eles receberam um pedido de interconsulta da ginecologia, e como Marlene ganhou no par ou ímpar, ela foi com Remus fazer a avaliação. Sirius disse que precisava ir ao banheiro, mas Lily tinha certeza que ele só não queria correr o risco de se encontrar com Bertha Jorkins.

—Você tem interesse na área de trauma, Evans?

Lily olhou para o lado, corando levemente com a pergunta feita por Dra. McGonagall.

—Na verdade sim, Dra. McGonagall. Cirurgia do trauma é, até o momento, a carreira que eu quero seguir – A preceptora sorriu levemente.

—Seu interesse é perceptível. Por que disse até o momento? Tem alguma outra coisa que lhe atraia?

Lily deu de ombros.

—Na verdade, não. Mas eu não gosto de fechar qualquer caminho – Lily justificou.

—Faz bem, Evans. Entrar na residência de mente aberta é bom – Dra. McGonagall pendeu a cabeça de lado levemente – Tem alguma dúvida sobre a cirurgia do trauma, Evans?

Lily mordeu o lábio inferior.

—Eu queria saber como é… a vida de maneira geral. O que é… mais difícil.

Dra. McGonagall exibiu um raro sorriso.

—É uma escolha difícil para uma mulher, assim como qualquer uma de uma área predominantemente masculina – Dra. McGonagall falou – Toda vez que você estiver no centro cirúrgico primeiro vão achar que você é enfermeira, depois que é técnica, depois instrumentadora. Não que haja algo de errado com essas profissões, obviamente. São fundamentais. Mas nunca vão olhar para você e pensar de imediato que é cirurgiã do trauma.

Lily ergueu as sobrancelhas, e Dra. McGonagall entendeu – ela era o nome da cirurgia do trauma, então todos olhavam para ela e pensavam exatamente isso.

—Longos anos e muitos sacrifícios. – Ela respondeu à pergunta silenciosa – Quando pensarem que você é médica no centro cirúrgico, vai ser ginecologista, anestesista ou cirurgiã plástica. Isso acaba sendo difícil e irritante, não ser levada a sério na sua área, logo de cara.

“Não vai ser tão difícil quanto para seu amigo Remus, por exemplo. O racismo na medicina ainda é muito forte, e muito mais que o machismo. Bem, você sabe disso, visto a cena que presenciou aqui mesmo, no nosso hospital.

“O que você precisa se perguntar é se vale a pena todos os sacrifícios e desvalorização.”

Lily franziu a testa, e mais uma vez Dra. McGonagall compreendeu o que ela queria dizer, e suspirou.

—Quando eu tinha a sua idade aproximadamente, Evans, eu me apaixonei – Dra. McGonagall falou e Lily ergueu as sobrancelhas – Há muitos boatos sobre a minha vida pessoal, mas quase ninguém sabe sobre isso. Acho que me afeiçoei a você, porque me reconheço, e acho que posso lhe… ajudar.

“De qualquer sorte, eu era apaixonada. Dougal McGregor era um colega da faculdade, e eu me encantei terrivelmente. Passei na residência em uma classificação extremamente significativa, e era uma época em que mulheres absolutamente não faziam cirurgia. Então eu não contei a ninguém sobre o que havia escolhido.

“No dia que saíram as notas, eu já sabia que poderia escolher onde eu queria ir. Eu não falei para Dougal. Eu sabia, eu tinha certeza, que ele não conseguiria… compreender, aceitar… minha escolha. Eu passei a noite que antecedeu a liberação dos nomes em claro, pensando na reação dele. 

“Então eu fugi. Eu deixei um recado para ele, dizendo da minha escolha, e vim para cá. Eu ainda recebi muitos olhares aqui, Lily, não se engane. Mas o que mais me doeu foi saber que eu estava certa. Porque ele sabia para onde eu tinha vindo, e não veio atrás de mim.”

—Eu… disseram que a senhora era viúva – Lily balbuciou. Dra. McGonagall exibiu um pequeno sorriso.

—Não. Só… bem, digamos que nunca superei Dougal, apesar de eu saber que… para eu ficar com ele teria de abandonar minha carreira dos sonhos – Dra. McGonagall contou – Provavelmente não vai acontecer o mesmo, mas… alguns sacrifícios serão feitos, Evans. Você vai ouvir muito sobre não conseguir ser mãe. E realmente vai perder momentos importantes como mãe, como filha, como amiga… Basta saber quais sacrifícios você está disposta a fazer.

Lily se calou por um instante, pensando no que responder. Mas não tinha muito o que ser dito, mais a ser pensado, e o rosto da preceptora dizia exatamente isso.

—Nada que você precise ponderar agora ou rapidamente. Você tem alguns anos à sua frente.

—Agradeço imensamente, Dra. McGonagall. Quanto mais informação, melhor para fazer a escolha. Daqui a alguns anos, claro.

As duas trocaram um sorriso. Talvez Lily fosse falar um pouco mais, mas Sirius retornou naquele momento para puxar a garota para avaliar um paciente politraumatizado. Pela quinta vez naquela tarde eles se “decepcionaram” ao iniciar um atendimento que não seria para eles.

Eles solicitaram a avaliação da ortopedia de novo, e quando Remus e Marlene voltaram, continuaram o pequeno joguinho de perguntas e respostas, enquanto Dra. McGonagall voltava para o conforto.

Perto do fim do plantão, os residentes da ortopedia chegaram: Peter e outro R2. Peter estava claramente desconfortável, e Lily não entendeu muito bem o motivo.

Bem, até o outro residente falar, claro.

—Vocês só podem estar de sacanagem! – Ele exclamou com raiva. Peter estava quase encolhido atrás do outro residente. Sirius cruzou os braços enquanto Remus erguia as sobrancelhas.

—Me desculpe? – Remus falou – Não entendo…

—Vocês têm uma penca de internos pra limpar a bunda de vocês, mas a gente não tem! E vocês ficam aceitando uma caralhada de paciente pra gente, sendo que já estamos lotados!

Lily e Marlene se entreolharam, assustadas. Elas nunca tinham visto ninguém falar desse jeito no hospital – nem mesmo Snape e James brigando.

—Vamos nos acalmar – Remus pediu, mas Sirius já se aproximava do outro residente.

—O que sugere que a gente faça, gênio? Pare de aceitar pacientes de trauma de maneira geral? Somos um hospital de trauma, espertinho. Se quiser ter controle sobre isso, que tal você tirar sua cabeça do gesso e vir para aqui atender os pacientes que chegam?

Remus puxou Sirius para trás, ao mesmo tempo que Peter murmurava alguma coisa.

—Pettigrew, você deveria, pelo menos uma vez, ficar do nosso lado, sabe. Quem vai ficar até duas da manhã operando é você, seu idiota – O outro residente falou.

Peter murmurou mais alguma coisa, e o preceptor da ortopedia chegou, fazendo careta para Sirius e puxando seus residentes para longe.

—Bem – Marlene comentou quando as duas garotas entraram no carro para voltar para casa – Pelo menos teve alguma emoção no plantão.

Lily bufou pelo nariz.

—Sexta de noite meu plantão é com James e Snape. Imagina a emoção que terei depois disso.

***

Lily estava preparando uma sacola de comida. Apesar de ter jantar e café da manhã no hospital para os internos que davam plantão noturno, ela gostava de levar mais algumas coisinhas para caso ficasse com fome na madrugada – além de uma garrafa térmica cheia de café, já que iria passar enfermaria no dia seguinte.

Enquanto ela terminava de passar o café, Lily torceu para que o plantão fosse calmo – no sentido de James e Snape não se estranharem mais.

Ela também estava fazendo notas mentais para se manter mais afastada de James. Nos últimos dois dias começaram a ouvir boatos pelo hospital de que algum interno estava se envolvendo com um médico, e ela tremia só de pensar que podia ser dela que falavam.

Quando ela expressara a preocupação para James, ele rira, mas compreendera o lado dela.

Pensei que já fôssemos a própria definição de profissionalismo— Ele replicara no telefone. Lily revirou os olhos para a resposta típica de James.

—Você sabe muito bem do que estou falando, James Potter.

A risada rouca dele denunciava que Lily estava completamente certa.

Mesmo com a concordância dele, ela ainda não se sentia completamente confortável.

Marlene disse que não esperava nada diferente da amiga, mas pediu para ela não entrar na espiral de preocupação e surtar por alguma coisa que ela nem sabia se era com ela e estragar uma coisa boa que estava tendo.

Lily revirou os olhos.

Lily chegou no hospital com a habitual antecedência e recebeu o plantão de Fabian Prewett, anotando todos os pacientes e suas pendências no bloquinho. Ela viu James chegando e falando com Frank com o canto do olho, mas ignorou o fato e focou em suas anotações.

Pouco depois das 19h ela recebeu uma mensagem de Dorcas dizendo que ela tinha até ido ao hospital, mas que estava passando mal e por isso estava na emergência clínica. Dorcas jogou mensagem no grupo dos internos, mas ninguém respondeu sobre disponibilidade cobrir o plantão.

Com um suspiro, Lily se encaminhou para onde James estava, calado e taciturno, ao lado de um igualmente desgostoso Snape.

—Boa noite, doutores – Lily cumprimentou – Dorcas está na emergência, passando mal. Estou esperando para ver se algum interno vai poder cobrir, mas por enquanto sou apenas eu.

James assentiu, mas Snape nem mesmo desviou o olhar.

—Anotou as pendências, Evans? – James perguntou. Ela assentiu e se colocou entre os dois residentes, citando os pacientes e tudo que precisava ser feito para cada um. Não tinham muitos pacientes, e alguns só esperavam interconsulta.

Ela sabia que estava sendo paranoica, mas não parava de observar ao seu redor, para ter certeza que não estavam falando dela; o residente de ortopedia rindo fez Lily abaixar a cabeça numa tentativa (falha, diga-se de passagem, considerando quão chamativo o cabelo da garota era) de se disfarçar.

—Larga de ser besta – James murmurou sem desviar o olhar do celular – Vai lá aprender.

Lily semicerrou os olhos, mas fez como ele sugeriu.

Ela não tinha como ter certeza se era de fato dela que o residente estava rindo ou algo do tipo, mas supôs que não era – ele estava lhe explicando tudo do ponto de vista ortopédico do paciente em questão e ainda com um grande sorriso, ignorando inclusive os suspiros de Snape que estava ao lado ouvindo para registrar.

Quando Lily voltou para a bancada, James lhe esperava de sobrancelhas erguidas e um pequeno sorriso no rosto. A garota relatou o parecer da ortopedia enquanto os dois observavam Snape ainda falando com o outro residente.

E logo em seguida ela começou a anotar o que ouvira no caderninho, para deleite de James, que riu baixinho.

Snape foi jantar primeiro e parecia tão aliviado quanto Lily em deixar a interna pra ir com James. 

Como Lily tinha pedido, ele estava mais distante. E não era que ela estivesse… decepcionada exatamente, por ele ter realmente se afastado, mas… 

É, bem.

Quando eles voltaram para a emergência, um paciente tinha chegado, mas não era de trauma.

—Evans, vai fazer a história – Snape disse simplesmente. Lily viu James trincando os dentes, mas lhe lançou um olhar.

—Tudo bem, Dr. Snape.

Lily não teve maiores problemas; era um caso bastante sugestivo de apendicite, mas como era mulher, eles preferiram fazer exames laboratoriais e de imagem antes da cirurgia, como Lily já tinha visto. James sorriu quando Lily sugeriu as condutas certas, porque ele havia discutido isso com ela em outro plantão.

A garota, como de habitual, foi acompanhar o exame de imagem da paciente, que confirmou a suspeita deles. James conversou com o preceptor plantonista, que orientou a James entrar na cirurgia com Snape e Lily, e que ele estaria na emergência.

—Vamos fazer hoje uma apendicectomia aberta, Lily – James dizia – É um pouco diferente da por vídeo, principalmente porque a visão é bem diminuída quando falamos da cavidade abdominal em si. 

James foi explicando um pouco mais das diferenças para Lily enquanto eles iam para o centro cirúrgico, mas parou na hora quando chegaram aos vestiários e tomaram rumos distintos.

Lily tinha acabado de vestir o pijama cirúrgico quando um dos boxes se abriu, e Bertha Jorkins saiu. Lily lhe deu um pequeno sorriso e continuou a prender o cabelo de modo que nenhum fio sequer aparecesse por debaixo da touca.

—Então você é Lily Evans – Jorkins comentou. Lily tinha certeza que a residente já tinha lhe perguntado isso antes.

—Sou eu – Ela confirmou. Jorkins sorriu, mas Lily conseguiu perceber malícia no gesto.

—Eu lembro de você. Você foi a interna que foi com Sirius na interconsulta.

Lily também tinha certeza que já ouvira isso também.

—Sim, eu estava com ele.

Jorkins ajeitou o cabelo e se virou para o espelho.

—Só fiquei curiosa com uma coisa – Jorkins continuou, conferindo a maquiagem – Tudo que os meninos falam é verdade sobre seu desempenho no hospital, ou é só porque James está com você?

Lily parou de colocar a touca, congelando imediatamente. Ela gostaria de poder dizer que o resto de sua reação tinha sido melhor, mas infelizmente não: ela arregalou os olhos, sua boca caiu e ela encarou imediatamente a residente.

O sorriso de Jorkins aumentou.

—Ops. Era segredo?

Lily tentou falar alguma coisa, mas não conseguiu. Jorkins riu.

—Eu só pensei que você fosse ser mais… sabe? – Jorkins continuou – Pra valer a pena todo o risco e tal.

—Eu não…

—Não se sinta especial, Evans – Jorkins continuou, finalmente deixando de olhar para o espelho e encarando Lily diretamente – Já, já ele vai acordar e vai voltar pra mim. 

Jorkins saiu do vestiário, colocando o pijama no cesto de roupa suja. 

Lily apoiou as mãos na pia e começou a inspirar e expirar longamente, tentando se acalmar.

A ex-namorada de James sabia deles dois.

E o pior: ela trabalhava no hospital.

Será que alguém mais do hospital sabia? Ou ela ficara sabendo por outros… amigos, ou algo do tipo? Por ser ex-namorada dele? Bem, seria possível, se ela estava tão devota a voltar com ele como Lily tinha pressentido.

Mas mesmo que ela não tivesse ficado sabendo pelo hospital, por que ela deixaria de contar?

Eram muitas perguntas, e Lily não tinha resposta pra nenhuma.

E o pior: ela tinha uma cirurgia em frente.

Lily suspirou e fechou os olhos. 

Não era hora de entrar em pânico. Ela não iria entrar em pânico.

Lentamente, ela abriu os olhos.

Ela não iria entrar em pânico.

Lily terminou de se preparar e entrou no centro cirúrgico. Só uma coisa antes de esquecer completamente a história naquele plantão.

—James – Ela chamou assim que o viu sozinho. James virou sorrindo, mas franziu o cenho ao vê-la – Escuta, precisamos conversar, ok?

—Aconteceu alguma coisa?

—Sim – Ela replicou – Mas não importa agora. Só… precisamos conversar. Depois.

James assentiu.

—Ok, qual a sala?

James indicou e eles entraram. A paciente já estava anestesiada, então Lily saiu e foi lavar as mãos para se paramentar.

Foi uma das cirurgias que Lily menos aprendeu. Não bastasse ser Snape a estar fazendo, mesmo quando ela perguntava alguma coisa a James, ela não absorvia o que era dito.

Sem pânico, Evans.

Quando James e Snape tinham suturado a musculatura, James se afastou da mesa e tirou as luvas.

—Tenho que voltar para a emergência – Ele explicou – Encontro vocês lá depois.

Lily assentiu e ocupou o lugar dele. Ela sabia que Snape não deixaria ela suturar nada, então entregou os novos fios para o residente e pegou a tesoura para lhe auxiliar.

Quando estava no meio da camada subcutânea, Snape começou a falar.

—Sabe, eu também era bastante proativo quando era interno, Evans – Ele disse, ainda sem olhar para Lily.

—Bom sinal para mim, então – Ela replicou. O que era verdade, já que Snape, apesar de tudo, operava muito bem.

—Eu só não tinha tantas oportunidades quanto as que Potter lhe dá – Ele continuou, trabalhando com os materiais. Lily segurou a respiração.

—Ele tem sido um excelente residente comigo, de fato, assim como todos aqui – Lily replicou com simplicidade.

E apesar de ter aprendido a esperar muita coisa de Snape, ela não imaginou que Snape fosse dizer o que falou em seguida:

—Tenho certeza… – Snape concordou, terminando o último ponto do subcutâneo – Mas você realmente tem uma vantagem que eu não tinha… na minha época não tinha nenhuma residente para eu transar em troca de cirurgias.

Lily ergueu os olhos pela primeira vez desde que ele começara a falar. Ela não tinha a menor ideia de como estava seu rosto mais uma vez, mas não tinha como se preocupar no momento.

—E você foi muito esperta, Evans. Não é do feitio de Black beneficiar as garotas que ele leva pra cama. Longbottom tem namorada. Dearborn é gay, Lupin é muito doente para isso, e eu nunca me deixaria ser usado assim, mesmo que você me interessasse o mínimo sequer. Potter é inocente o suficiente, idiota o suficiente para entrar nessa mancada. No final das contas você não é especial, só está dando para a pessoa certa.

Snape, tendo terminado de falar, se afastou da mesa e tirou as luvas. Ele tirou a máscara para Lily poder ver o sorriso de escárnio que ele exibia e saiu da sala, deixando Lily sozinha para suturar a pele.

Lily fechou os olhos e inspirou profundamente mais uma vez.

Quando ela abriu os olhos, a técnica de enfermagem e a enfermeira lhe olhavam de sobrancelhas erguidas, quase tão assustadas quanto ela com o que se passara.

Quase.

Lily limpou a garganta.

—Tem nylon quatro zeros na sala? – Lily perguntou. A técnica assentiu e abriu o fio para Lily pegar – Obrigada.

Em silêncio, Lily terminou a sutura, trabalhando diligentimente para que ficasse o melhor esteticamente, como a paciente havia pedido.

Quando terminou, Lily limpou a região e fez o curativo. Tirou os campos, devolveu o material para a mesa, deixando-a mais organizada o possível. Pegou todo o material pérfuro-cortante e levou para a caixa adequada.

Ela tirou as luvas e a capa cirúrgica, desprezando ambos nos locais corretos. Quando ela estava pronta, agradeceu a toda a equipe e finalmente saiu da sala.

Ela começou a apressar o passo ainda no vestiário, se trocando o mais rápido o possível.

James estava esperando por ela do lado de fora da emergência.

Olhos verdes se encontraram com castanhos, e ambos aceitaram que não dava mais para adiar aquela conversa. Só de ter de falar sobre isso no hospital já não agradava Lily. 

Mas ela não reclamou quando James a levou para o conforto médico, que estava vazio já que era madrugada (ou talvez manhã?) e ele era responsável pelo plantão. 

Ela precisava falar.

—Desembucha, Evans – James falou, cruzando os braços e franzindo a testa. Ela percebeu que James já tinha sacado que ela não iria falar nada de bom para ele, considerando que havia sido ele a começar a história toda.

—James... – Lily suspirou, mordendo o lábio inferior e tentando impedir que as lágrimas se formassem.

Porque era difícil. Ela estava dividida, o coração taquicárdico também dilacerado. Porque era difícil pra caralho fazer o que ela estava fazendo.

—Sabe, eu não sei o motivo, mas eu desconfio que não é o suficiente para você fazer isso, Lil – James comentou baixinho, ainda olhando nos olhos da garota. Agora ela não mais conseguia se controlar plenamente, e as primeiras lágrimas transbordaram lentamente, deixando o rastro que ela teria de limpar assim que saísse dali.

—Eu juro que não queria fazer isso, James. Eu juro. Dói em mim tanto quanto em você.

—Então por que você está fazendo, Lily? – James perguntou, um certo tom de urgência em sua voz enquanto ele se aproximava e segurava os ombros dela. – Por quê?

—Porque apesar de eu... – ela engasgou nas palavras que gostaria de usar (muito cedo, muito cedo) – gostar muito de você, tipo muito, eu não posso... eu não tenho como arriscar. Eu amo isso aqui mais – Lily explicou, segurando o pijama cirúrgico, e depois deslocando as mãos para segurar as de James entre as suas – e claro que eu sei que você não vai me atrapalhar de propósito. Nem sei se realmente atrapalharia. Mas só a possibilidade de não ser levada à sério... eu não consigo, James. Eu ainda tenho muito o que batalhar para chegar em algum lugar.

Lily tentava passar pelo olhar o quanto aquilo a machucava, a corroía por dentro, o quanto que ela choraria em casa com Marlene por tomar aquela decisão. Aparentemente o desespero e a dor eram tamanhas que James entendeu o “me perdoa, eu preciso fazer isso, mesmo que seja uma das últimas coisas que eu queira fazer no mundo” que as írises verdes transmitiam.

Ele suspirou e deu um meio-sorriso, soltando uma das mãos de Lily para acariciar seu rosto.

—Eu teria que ser um babaca para lhe negar isso, Lily, mesmo tendo a maior certeza de que eu não sou o suficiente para atrapalhar o seu futuro brilhante. Você continuará sendo a melhor interna do rodízio, e uma das melhores depois, e este continuará a ser o motivo para você ganhar mais procedimentos, melhores procedimentos. Não porque eu te amo, mas sim porque eu sei quanto você é capaz.

Quando a porta bateu e apenas o eco das palavras de James estava em sua mente, Lily permitiu que todas as lágrimas que estava segurando caíssem. Como interna, ela sabia que o coração não se partia de verdade, que aquela era apenas uma expressão usada para descrever a angústia somatizada.

Mas naquele momento ela era mais do que uma interna. 

Era apenas Lily.


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Notas finais do capítulo

Lembrem que vocês já sabiam que isso ia acontecer! Até sexta!



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