Internamente Evans escrita por psc07


Capítulo 17
Capítulo Dezesseis


Notas iniciais do capítulo

Hey, hey, hey! Feliz dia 18!!!! Bem vindos a mais um capítulo de Internamente Evans!

Espero que esteja todo mundo bem e saudável!

Mas uma vez, meu twitter é psc_07_ para quem quiser bater um papo! Temos também um grupo no whatsapp ara discutir os acontecimentos e teorias. Se alguém quiser entrar, chega no twitter e pede o link :D

Espero que gostem do capítulo, deixem seus comentários e até mais!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/782022/chapter/17

Como Lily logo percebeu, é mais difícil ignorar alguma coisa importante quando a mente não está mais confusa pelos efeitos de lábios.

Bem, de certos lábios.

Depois que James saiu, Lily foi conferir que Marlene não tinha ouvido nada – o que foi fácil, já que a morena estava dormindo. Delicadamente, Lily tirou o fone de ouvido e o computador, deixando a amiga mais confortável.

Pouco tempo depois, recebeu uma mensagem de James, avisando que tinha chegado em casa.

 

James Potter 22:40

Sirius parece melhor

Vou assumir que é pela minha presença e não pela pizza e garrafa vazia de whisky. 

 

Lily bufou.

 

Lily Evans 22:41

O que você precisar dizer para lhe fazer dormir à noite

 

James Potter 22:41

Ha ha

Muito engraçada

Sinto muito, ruivinha

Depois de mais cedo, não sei se tem alguma coisa que me faça dormir essa noite

 

Lily engoliu em seco. 

Oh, Deus. 

Que droga ela ia fazer?

Uma lista de prós e contras?

Ela rejeitou a ideia imediatamente, reconhecendo que estava vendo muito Friends e Brooklyn 99.

Talvez contar para alguém e pedir uma opinião…?

Ela imaginou contar a Marlene ou Mary que sim, ela tinha um crush imenso em James, e que ele se sentia do mesmo jeito, e que há meros minutos eles estavam trocando um beijo, bem… quente perto da porta.

Ela fez uma careta imediatamente só de pensar na reação de Marlene.

Ela não tinha mais ninguém que pudesse falar. Sua amiga de escola era Mary, sua relação com sua irmã era cada vez pior, e algo de muito errado tinha que acontecer antes de Lily pedir a opinião da mãe sobre isso. Era um convite sem retorno para a mãe se meter na vida amorosa de Lily.

Então ela percebeu que teria que chegar a essa resposta sozinha.

 

James Potter 22:49

Hum, talvez tenha sido uma mensagem muito direta

Lily, eu SEI que você está pensando em tudo e quase entrando em pânico

E saiba que se você fizer uma lista dos meus prós e contras e não colocar meu beijo incrível eu vou ficar mais ofendido do que Rachel pelos tornozelos inchados

Vai ler um livro, relaxa, e pensa nisso depois

Você pode, por exemplo, revisitar nosso beijo

Garanto que vai ser relaxante ;)

 

Lily bufou.

 

Lily Evans 22:53

Você é IMPOSSÍVEL

 

James Potter 22:54

Boa noite, Lil

Bons sonhos

 

Lily sacudiu a cabeça em negação, mas precisava esconder o sorriso mordendo o lábio inferior. Não que ela fosse contar para James, mas ela seguiu o conselho dele.

Ela acordou mais tarde que o habitual no dia seguinte. Quando saiu do quarto, Marlene já estava na sala comendo uma fruta.

—Bom dia, Lily – Marlene disse com um sorriso – Mary e Tonks não voltaram para casa ainda.

Com um bocejo, Lily olhou para o relógio. Pouco depois das dez da manhã.

—Ainda devem estar dormindo. Está 100% já?

Marlene assentiu com um sorriso.

—Obrigada por passar meu paciente – Ela agradeceu.

—Sem problemas, Marls. 

—Depois me diz qual plantão você quer que eu cubra.

Lily concordou e começou a comer enquanto olhava o celular. Marlene fazia o mesmo quando a porta de casa abriu, mostrando Mary com as roupas do dia anterior.

Muito bom dia, Mary MacDonald— Lily cumprimentou sorrindo enquanto Marlene ria – Como foi seu encontro?

—Muito bom, como vocês podem imaginar pela hora que cheguei – Ela respondeu com um pequeno sorriso – Parem de fazer essa cara.

Lily assentiu, mas não conseguiu obedecer a amiga.

—Eu sinto que um dia vocês vão assumir alguma coisa séria – Marlene comentou. Mary fez uma careta.

—Eu já imaginei isso, mas por enquanto não.

—Quer comer, Mary? – Lily ofereceu.

—Nah, estou satisfeita.

Marlene abriu um sorriso sacana.

—Aposto que está, sua grande safada.

Lily e Mary riram.

—Bem, eu deveria ir me troc–

O barulho da porta se abrindo interrompeu a garota.

—Lily, Marlene, Mary, espero que estejam decentes porque tenho visitaaaas! – Tonks exclamou entrando com um sorriso.

Lily arregalou os olhos e abaixou as pernas. Ela tirara o short para dormir, e apesar de grande, blusa da Atlética não era o suficiente para cobrir tudo.

Sirius e James entraram com grandes sorrisos, e o primeiro carregava uma garrafa de Whisky.

—Bom dia – Sirius disse – Trouxe para repor seu estoque.

—Ah, muito obrigada – Marlene agradeceu – Eu ia acabar lhe cobrando quando a pena passasse.

Os garotos sorriram ainda mais.

—Podemos sentar? – James perguntou. Marlene indicou as cadeiras – Esquecemos de comprar café-da-manhã – Ele explicou.

—Claro.

Tonks sentou na cadeira ao lado de Lily, e a ruiva ficou aliviada. Ela definitivamente não queria mostrar suas pernas para Sirius ou James.

Bem…

Lily sacudiu a cabeça, impedindo que sua imaginação levasse a noite anterior para outro rumo. James sorriu para ela, como se soubesse exatamente o que a garota estava pensando. Lily semicerrou os olhos, e ele lhe deu uma piscadela.

Santo Deus…

—Mary, estava de saída? – Tonks perguntou.

—Uh…

—Tá arrumada – Tonks comentou dando de ombros. Sirius riu.

—Maquiagem desfeita… Ela tá chegando, priminha. Noite boa, MacDonald?

—Muito boa – Mary replicou com um sorriso – Vou me trocar, como eu estava indo fazer antes de vocês chegarem. Bom dia!

Marlene trouxe mais pão da cozinha enquanto Sirius ria de Mary e da cara de Tonks.

—Está melhor? – Lily perguntou para Sirius. Ele diminuiu o sorriso e deu de ombros.

—Nunca é bom encontrar com a família, e fui pego de surpresa – Sirius respondeu – Minerva me mandou mensagem depois dizendo que parecia espancamento, então imagino que eles continuam fazendo tudo que sempre fizeram. Eu não me importo. Só queria conseguir tirar Regulus disso tudo.

—Regulus é o irmão dele – Tonks explicou – Ele já demonstrou que não gosta da parte suja, apesar de se formar em direito esse ano. Não achamos que ele vá ser forte o suficiente para fugir da família.

—Última vez que eu tentei falar com ele acabamos brigando. Tipo, literalmente brigando. Eu tive que passar maquiagem no rosto porque estava no internato de cirurgia na época, e sabia que Moody iria surtar.

Lily soltou uma risadinha. Não tinha a menor dúvida que o chefe iria odiar ver um aluno com olho roxo.

—Quando ele se formar eu vou tentar falar novamente com ele – Sirius disse e depois sorriu – De qualquer sorte, obrigado novamente.  Você é uma excelente amiga, Lily. Só falta ajudar James agora.

James soltou uma gargalhada e Lily revirou os olhos.

—Ou algum de vocês poderia me ajudar, que tal? – Ela replicou. Sirius riu.

—É. Quando você estiver em problemas pessoais nós vamos correr para seu lado, não se preocupe – Sirius afirmou. 

Lily revirou os olhos, e sentiu o celular alertando da chegada de uma mensagem.

 

James Potter 10:25

Eu sei um jeito que você pode me ajudar…

 

Lily mordeu o lábio inferior para impedir o sorriso; James não tivera o mesmo trabalho, e quando a garota ergueu os olhos, ele lhe olhava alegremente.

—Ok, já que vocês roubaram nossa comida, nada mais justo que lavarem os pratos – Marlene disse. Sirius resmungou, mas os dois garotos só saíram quando toda a louça estava no escorredor.

Lily finalmente se trocou, ficando mais apresentável, e ficou no quarto. Ela pegou o material de estudo, mas abriu o aplicativo de mensagens primeiro.

 

Lily Evans 11:10

Então você vai ser assim?

 

James Potter 11:12

“Assim” seria lhe mandar mensagens quando eu quiser?

Bem… talvez

 

Lily revirou os olhos.

 

Lily Evans 11:13

Pensei que tivéssemos combinado de conversar melhor depois.

 

James Potter 11:13

Nós vamos

Vamos marcar um dia quando nos virmos no hospital, está bem?

 

Lily Evans 11:14

Tudo bem 

 

James Potter 11:14

Mas eu vou continuar te mandando mensagens

Inocentes, claro

 

Lily Evans 11:14

Você SABE o que essa palavra significa?

 

James Potter 11:14

Não me provoque...

 

***

 

Lily estava meio apreensiva no caminho para o hospital. Ela sabia que James não iria abordá-la no meio da enfermaria lotada (certo?), mas tinha medo de alguém escutar eles combinando de conversar.

Então Lily procurou ficar sempre perto de alguém – ora Marlene, ora Sirius, ora Remus – até o último minuto possível, e sempre com a testa franzida e olhando a prancheta. No final da manhã, quando ela estava quase pronta para sair, se dirigiu a James.

—Me espere aqui – Ela sussurrou. As quinas dos lábios de James se ergueram momentaneamente enquanto ele concordava.

Lily estava no meio do caminho para sair quando bateu na testa.

—Droga, Lene, esqueci meu esteto lá em cima. Espera aqui que eu já volto.

Lily subiu pela escada, dois degraus de vez, e quando chegou na sala de prescrição, encontrou James segurando seu estetoscópio e sorrindo, apoiado na mesa. Lily corou – e não apenas porque sua estratégia tinha sido ridícula, mas também porque James estava absurdamente bonito e… sexy.

—Esqueceu alguma coisa, Evans? – Ele perguntou claramente se segurando para não gargalhar. Ela se aproximou semicerrando os olhos e pegou o estetoscópio, ignorando o formigamento em sua mão no lugar em que eles se tocaram.

—Obrigada, Dr. Potter. Marlene está me esperando lá embaixo. Está descendo também? – Ela comentou, como se não houvesse esquecido o objeto de propósito.

—Ah, sim, estou. Posso te acompanhar? – Ele questionou sorrindo. Lily fez uma careta, e James abriu a porta para ela passar primeiro. 

Eles seguiram caminhando juntos, e Lily puxou James pelo jaleco para as escadas ao invés de esperarem o elevador.

—Wow, não sabia que você era tão violenta, Lily – Ele provocou.

—Eu vou passar no mercado hoje. Se você puder ir também seria ótimo – Lily sugeriu.

—Hum. Sem problemas. Acabou a cerveja lá em casa de qualquer sorte. 19h? Podemos tomar um sorvete no quiosque na frente do mercado que a gente se encontrou.

—Pode ser. Até lá, mantenha seu bico calado.

James fez uma cara de assustado.

—Não era pra falar? – Ele exclamou. Lily arfou e James riu – Relaxa, Lil. Eu imaginei que fosse querer manter em segredo. Só nós dois sabemos – Ele disse.

—Suas brincadeiras ainda vão lhe custar caro, James Potter.

Mais uma vez, o residente apenas riu.  

—Você está muito alegrinho hoje. Alguma coisa boa aconteceu? – Lily perguntou e ele deu de ombros.

—Vou descobrir 19h, no quiosque de sorvete na frente do mercado – Ele replicou piscando. Os dois pararam de andar quando chegaram na porta da escada, e James pegou a mão dela, depositando um leve beijo nos nós dos dedos.

Lily sorriu levemente e mordeu o lábio inferior, sentindo o sangue colorir seu rosto e pescoço, enquanto James sorria observando o efeito do leve contato.

Sem dizer mais nada, ele abriu a porta para Lily passar antes mais uma vez.

—Ah, finalmente! – Marlene exclamou quando eles chegaram – Por que você está toda vermelha? 

—Quase caí na escada – Lily respondeu rapidamente, fazendo James e Marlene rirem. – Vamos então?

Eles caminharam juntos até o estacionamento dos residentes, James indo para o carro em que Remus e Sirius já lhe esperavam. Lily acenou para o grupo e seguiu com marlene até o local onde estacionara – um pouco mais longe pois se atrasara para sair de casa de manhã.

Lily percebeu como um excelente sinal o fato de que conseguiu estudar plenamente concentrada e sem distrações a tarde toda quando ela tinha um encontro com James depois. Bem, não um encontro exatamente. 

Eles iam se encontrar e tinham combinado previamente, mas não tinha nada de romântico. Era só sorvete no mercado! Nada que gritasse “namorados” ou algo do tipo.

Porque eles, obviamente, não eram nem perto de namorados.

Eles tinham se beijado literalmente uma vez. Uma vez extremamente memorável? Sim.

Mas apenas isto.

E ela tinha que falar isso para James, e fazê-lo entender. Ela não achava que seria difícil; James era um cara inteligente, certo? Ele ia entender. E depois de entender, ele ia concordar. Não tinha nenhum motivo para ficar nervosa.

Esse foi o mantra que Lily manteve em sua cabeça durante todo o caminho ao mercado. Ela resolveu fazer suas compras antes de se encontrar com James, e terminou na hora exata: quando ela saiu com o carrinho, ele já estava sentado numa das mesinhas mexendo no celular. O barulho foi suficiente, e quando ele reconheceu Lily, James abriu um sorriso.

—Hey, Lily – Ele disse, se levantando e ajeitando a cadeira para Lily se aproximar com o carrinho. Ela sorriu, mas não se sentou.

—Vou pegar um sorvete antes – Ela explicou. James assentiu.

—Vou com você.

Lily já conhecia o lugar e escolheu o que sempre pedia: duas bolas de limão. James ergueu as sobrancelhas, mas não comentou. Na hora de pagar, James abaixou a mão de Lily e entregou o seu próprio cartão de crédito.

—Pode cobrar os dois – Ele disse para a atendente com um sorriso.

—James–

Ele apenas sacudiu a cabeça, dizendo para ela desistir da briga.

—Você não deveria ter feito isso – Ela condenou quando eles sentaram. O garoto apenas sorriu.

—Não vejo motivos para não ter feito – Ele replicou, se concentrando no seu sorvete – Bem, exceto pelo fato de você ter escolhido o sabor mais simples de sorvete.

Lily revirou os olhos.

—Você pegou uma bola de baunilha e uma bola de chocolate. E o meu sorvete é simples?

—Tem uma bola de pistache aqui embaixo – James informou – E sim, sorvete de chocolate não é simples.

—É comum – Lily discordou – E pistache? Sério?

—Você só fala isso porque nunca provou.

—Nada disso – Lily exclamou.

—Você já provou? – James desafiou, erguendo uma sobrancelha.

—Não, mas–

James fez um barulho de desaprovação e se esforçou para conseguir pegar um pouco de sorvete esverdeado e oferecer a Lily.

—Prove – Ele sugeriu simplesmente. Lily revirou os olhos, mas fez como sugerido, se aproximando de James. Ele sorriu e colocou a colher com sorvete na boca da garota. Ela demorou alguns segundos, e deu de ombros.

—Não é terrível— Lily concedeu – Mas o meu de limão é infinitamente melhor.

James revirou os olhos, e insistiu que sorvete de limão era extremamente básico. Lily fingiu não ouvir a opinião dele, fazendo questão de de exclamar quão delicioso o sorvete era, até James sorrir e colocar sorvete de chocolate no pote de Lily, que teve de se segurar para não gritar em frustração – James estava gargalhando, e Lily se aproveitou do momento para colocar sorvete de limão no pote de James, e logo não havia mais diferença entre os dois potes.

Então, sim, basicamente dois jovens adultos conversando naturalmente.

No final das contas ambos tomaram os sorvetes e limparam cuidadosamente a mesa, de modo a não ter nenhum resquício de sorvete. Lily pegou os guardanapos para jogar no lixo enquanto James devolvia o pano que pedira emprestado.

Quando ela sentou novamente, James já estava lhe esperando, um leve sorriso brincando em seu rosto. 

Ela virou em sua direção, pronta para dizer que aquilo fora uma das coisas mais infantis (e mais divertidas) que ela fizera em algum tempo, mas ela mal falara “Sabe” quando a mão de James fez contato com o canto direito de sua boca. Lily prendeu a respiração.

—Uh, tava sujo – James justificou, limpando a garganta.

—Sobre isso… – Lily começou.

—Sujeira de sorvete? – Ele provocou com um sorriso. Lily revirou os olhos.

—Você sabe muito bem do que estou falando – Ela respondeu.

—Ah, sim, eu sei – Ele confirmou – Mas estou sentindo que você vai me dizer que não tem interesse nenhum, e talvez reclamar um pouco por eu ter te beijado, então estou tentando adiar o máximo possível a rejeição.

Lily suspirou.

—Vê? Eu estava certo – James brincou, mas o sorriso que preenchia seu rosto estava com menos brilho.

—James, você é meu residente. Eu sou uma interna.

—Eu sei – Ele disse – Eu sabia disso antes.

—Eu já me envolvi demais pessoalmente nesse serviço, James – Ela explicou.

—Devo ficar com ciúmes? – Ele perguntou, erguendo uma sobrancelha.

—Não desse jeito, idiota – Lily retrucou, corando – Bem, desse jeito com você, obviamente. Ou não estaríamos aqui. Mas você deve se recordar de algum residente gritando comigo.

—Eu não gritaria com você – Ele assegurou, e depois sorriu – A não ser que você quisesse, claro.

—Não é isso, Potter – Lily falou, corando.

—Então você está fechando a porta para isso… – Ele gesticulou entre os dois – por causa de Snape?

Lily suspirou.

—Não. Não é por causa dele. Mas… Peter me conheceu como a garota que brigou com Snape. Isso já é ruim suficiente. Eu… eu não quero ser conhecida como a interna que está namorando James Potter.

James fez uma careta e passou a mão pelos cabelos. Então suspirou.

—Eu não acho que seria isso que aconteceria – Ele disse – Você seria uma interna que por acaso está se relacionando com James Potter. Nós podíamos ir devagar, se você quisesse. É só que… não acho que é uma coisa que seja importante o suficiente para jogar… isso fora.

Lily assentiu.

—Pode realmente ocorrer. Ou pode ser exatamente o que falei. E… é muito para arriscar, James. Eu ainda tenho que lutar um bocado para chegar em algum lugar, e acho que esse tipo de coisa…

James olhou fixamente para ela e suspirou.

—Você está certa – Ele disse finalmente – Não posso garantir o que aconteceria. E eu obviamente respeito a sua decisão, Lil. 

Mas o franzir de sua testa não deixava Lily tranquila, e ela ressaltou isso. James riu.

—Eu obviamente respeito a sua decisão, mas… bem, não tenho como não ficar levemente decepcionado. Mas não é culpa sua nem nada disso… eu só… – Ele deu de ombros – Eu vou ficar bem. 

Lily ainda mordia o lábio e James soltou mais uma risada.

Relaxa, Lily. Eu tenho certeza que não é a primeira vez que você deixa um cara decepcionado pelas expectativas que ele mesmo criou – Ele disse.

—É melhor eu ir – Ela comentou após alguns poucos minutos. James assentiu.

—Eu te ajudo a levar as compras pro carro.

Ele assumiu o carrinho e seguiu Lily, ambos em silêncio, até o canto que ela tinha estacionado. 

—Você parou o carro de ré no mercado? – Ele questionou com um sorriso. Lily revirou os olhos.

—Eu me distraí com a rádio – Ela explicou – Estava tocando uma música e eu não lembrava a banda e fiquei tentando pensar qual era e quando percebi eu já tinha estacionado.

James riu e esperou Lily abrir a mala com cuidado: ela parara em um canto do estacionamento, quase próximo demais para abrir o porta-malas sem encostar na parede. Os dois foram silenciosamente colocando as sacolas no carro.

Quando terminaram, Lily sentiu pouca vontade de se afastar do garoto. Ela sabia que estava certa, mas… bem…

James não parecia querer sair tampouco.

Quando eles se olharam, Lily mordeu o lábio inferior. A mão de James mais uma vez tocou o canto da boca de Lily.

—Ainda sujo? – Ela sussurrou.

—Não… eu… – James suspirou – Desculpe, foi…

Lily assentiu, e mexeu o rosto de modo a repousá-lo na mão de James. Ela percebeu o momento que os olhos olhos dele desviaram para sua boca, e percebeu o exato momento que ele decidiu beijá-la.

O exato momento que ela decidiu que não se afastaria foi o mesmo que os lábios se encontraram.

E bem, ela sabia que se houvesse uma lista de coisas que ela não deveria fazer, parecida com sua lista de coisas para estudar, aquilo definitivamente estaria no topo. Por que, honestamente, que tipo de pessoa diz que não pode ficar com um cara e cinco minutos depois está com uma mão entremeada no cabelo dele e a outra usando a camisa para puxá-lo para mais perto?

Aparentemente, o tipo Lily Evans. Que apesar de não gostar muito de sorvete de pistache, poderia ser mais parcial ao sabor ao senti-lo na língua de James.

E no caminho para casa ela perceberia que aquilo não fora nenhum pouco apropriado para um estacionamento de mercado – o jeito que James segurou seu cabelo, ou a região limítrofe da lombar da garota que a mão dele passeava, muito menos os pequenos barulhos que ela não conseguiu conter.

Mas quando ela viu o sorriso de James quando eles se separaram, alegando ter sido apenas uma “despedida” e levando o carrinho para o mercado, ela não conseguiu se condenar, principalmente quando percebeu que, bem… ela quisera o beijo tanto quanto ele.

 

***

 

Não havia motivo para se preocupar. Não mesmo. Ela beijara James duas vezes. Em dias diferentes. Em uma delas, num supermercado, depois de dizer que eles não podiam mais se beijar. 

Em ambas as ocasiões, Lily sentira que não fora suficiente.

Mas ela também sabia que estava completamente correta no que dissera para James, e prova disso foi que ele mesmo concordara. 

Então não tinha razão para se sentir… bem, nervosa enquanto caminhava para a enfermaria, com uma Marlene igualmente silenciosa ao seu lado. Ela iria ver James e agiria como qualquer dia. Nada havia mudado.

Bem… o sorriso dele parecia ter mudado um pouco. Não que estivesse triste de fato, mas não alcançava seus olhos. Parecido com o do dia anterior. E Lily estaria mentindo se não admitisse que ela sentiu a mudança repercutindo nela.

—Evans! – Sirius exclamou alegremente, completamente ignorante dos sentimentos dela e do seu próprio melhor amigo – Você vai fugir da nossa tarde de emergência amanhã? Estou ofendido! Nos divertimos tanto na sexta passada!

Lily revirou os olhos.

—Eu estava cobrindo Marlene, e ela vai assumir amanhã.

—Vou fingir que acredito. Te assustei com minha família ordinária, não foi? – Ele perguntou, e Lily conseguia perceber que não era apenas uma brincadeira. Ela sorriu e apertou seu braço.

—Família ordinária? É assim que você chama Tonks e James? Não acho que eles vão ficar felizes com isso…

Sirius primeiramente parecia surpreso, depois um sorriso foi se espalhando pelo rosto do residente, e contagiando Lily.

—Cuidado, Marlene vai achar que você tem algo contra ela – Lily alertou quando percebeu a amiga se aproximando.

—O quê? – Marlene perguntou – O que vocês estão falando de mim?

—Só perguntando porque Sirius não gosta de você – Lily respondeu sorrindo. Com o canto do olho ela percebeu James também se aproximando.

—Eu gosto dela, mas prefiro manter distância enquanto ela estiver grávida. Não gosto de vômitos – Sirius respondeu, dando de ombros. Marlene bufou.

—Eu com certeza não estou grávida – Ela replicou – Quanto tempo, Lily?

—Hum. Acho que uns 6 meses? – Lily respondeu tentando se lembrar do último cara que Marlene tinha ficado.

—Você definitivamente não parece estar no terceiro trimestre – James acrescentou, olhando para Marlene atentamente e fazendo os outros rirem.

—Isso é um longo tempo para uma seca, McKinnon – Sirius comentou – Nós podemos dar um jeito nisso – Ele ofereceu com um sorriso provocador.

Lily arregalou os olhos.

—Você é residente dela, não pode! – Ela exclamou, enquanto Marlene ria. Ela sentia o olhar de James nela, mas se recusou a olhar para ele.

—Primeiro, você já deveria ter entendido que não é porque eu não fiquei com um cara que significa que estou na seca – Marlene disse pra Sirius, depois se virou para Lily, que mordia o lábio inferior – Relaxa, garota. Foi só uma piada, um flerte sem fundamento.

—Quem disse que foi sem fundamento? – Sirius resmungou.

Eu disse. 

—Quer dizer que se eu te beijasse aqui, agora, você ia negar? – Ele desafiou.

—Obviamente, Sirius. No caso eu nem teria que fazer muito, vendo que Lily iria lhe afastar aos tapas antes de qualquer coisa – Marlen replicou rindo.

Marlene e Sirius continuaram se provocando, dessa vez tomando a direção do computador, e deixando Lily passando a mão nos olhos para evitar olhar para James.

—Hey – Ele disse – Relaxa, ok?

Lily grunhiu e ouviu James rindo em resposta.

—Não vamos falar sobre isso aqui… – James disse num tom de voz baixo – Não que ainda tenha algo a ser dito. Eu te escutei, Lily. Eu entendo.

Ele tocou levemente em seu ombro e Lily suspirou, olhando para ele com o rosto vermelho.

—Você está certo. Hum, alguma notícia de Philip? 

James assentiu e eles começaram a falar sobre o paciente. A equipe de Cabeça e Pescoço iria falar com James assim que terminasse o exame, mas esse só seria realizado mais tarde. A visita não teve nada fora do normal, e Lily conseguiu anotar algumas coisas para estudar mesmo estando completamente ciente da presença de James ao seu lado.

No final da manhã, os dois foram desejar boa sorte a Philip, que sorriu tristemente e agradeceu, prometendo fazer uma serenata para ela. O coração de Lily apertou, mas ela impediu o sentimento de tomar seu rosto também.

James explicou mais uma vez a ele o que era essa tal de videoestroboscopia: um exame para ver a as cordas vocais e as estruturas da laringe, onde eles acreditavam estar o problema. Se tivesse alguma coisa, iriam tirar um pedacinho e analisar. Philip confirmou que entendera e se despediu de James com um aperto de mão.

—James, se ele realmente tiver… eu não vou conseguir… falar pra ele… eu não faço a menor ideia de como dizer uma coisa dessa – Lily confessou quando chegaram na sala de prescrição. James exibiu um pequeno sorriso de compreensão.

—Não é fácil, Lil. Mas você está aqui para aprender também. Qualquer que seja o destino dele. Amanhã conversaremos com ele juntos, ok?

Lily assentiu e James apertou o ombro dela. O garoto ficaria pela tarde no hospital, então Lily seguiu com Marlene para o carro, ainda sem falar muito.

—Pensando no seu paciente? – Lene perguntou. Lily assentiu. – É um caso complexo.

Lily concordou silenciosamente e continuou dirigindo. Não era o normal dela, ser tão calada, mas a expectativa do que a outra especialidade diria sobre seu paciente lhe ocupou a mente no caminho todo, no almoço e certa parte da tarde, até chegar uma mensagem de James.

 

James Potter 16:03

Falei agora com o pessoal

Disseram que quase chance nenhuma de não ser maligno, pelo que viram

Ele vai fazer tomografia de cervical agora pela tarde

Vamos conseguir avaliar a extensão e fazer o estadiamento

Achei melhor lhe falar logo porque percebi que estava chateada com isso e que talvez fosse querer se preparar

 

Lily sentiu um bolo na garganta. Droga, droga, droga.

Droga.

 

Lily Evans 16:04

Tem alguma dica de como me preparar pra isso?

 

Lily suspirou e estranhou a demora da resposta. James geralmente mandava mensagem imediatamente. Menos quando ele estava ocupado, o que talvez fosse o caso. Talvez ele estivesse falando com quem lhe passara a notícia. Ou talvez com outras coisas. Ele tinha muitas coisas para fazer.

Ela tinha acabado de chegar a essa conclusão quando sentiu o celular vibrando.

 

Chamando

James Potter

 

Ele estava… ligando?

—Alô? – Ela atendeu meio insegura.

Hey, Lily. Hora ruim? — Ele perguntou.

—Hum, não. Eu só não esperava a ligação – Ela justificou.

Oh. Hum, se não quiser–

—Não, nada disso! Só fiquei surpresa.

Achei melhor ligar pra falar sobre…— Lily ouviu ele suspirando – Vai ser horrível. Não vou mentir. Não sabemos como ele vai reagir. Nós temos que dizer de forma clara o que o pessoal nos disse. Mas também gentil.

—Mas como não se envolver? – Ela perguntou, deitando na cama. James deu uma risadinha.

É uma excelente pergunta. Eu não sei a resposta. Moody já me alertou para tomar cuidado com isso. Flitwick disse que é impossível não se envolver na cirurgia pediátrica. O que McGonagall diz é que… não devemos nos distanciar completamente do paciente, senão perde o sentido.

—O que perde o sentido?

A medicina em si, e nossa função. Se não formos capazes de nos envolvermos minimamente, estamos fazendo errado. 

—Mas como saber o quanto devemos nos envolver? É difícil, James – Lily suspirou.

Extremamente. Só com o tempo a gente consegue chegar na linha tênue entre se envolver demais e ser muito distante. Como tudo na medicina, você só aprende fazendo.

Eles ficaram em silêncio por quase um minuto, só ouvindo o outro respirando.

—Vou te esperar amanhã antes de ir ver Philip. Vou adiantando o outro paciente e os registros dele do período e depois fazemos a evolução juntos. Pode ser? – Lily sugeriu.

Acho a melhor forma. Vou tentar chegar mais cedo.

—Obrigada – Ela agradeceu, e hesitou, antes de continuar – Obrigada por ligar também. Você é um excelente residente, James.

Ela ouviu James soltando um risinho.

Não foi nada. Na verdade, eu não tenho esse costume de ligar pros internos, Lil.

—Oh. – Ela não deveria ficar surpresa. Não devia ser o costume mesmo. – Bem, eu agradeço de qualquer jeito. E você continua sendo um excelente residente.

Ele riu mais uma vez.

Obrigado, Lily. Eu só…

Ele se interrompeu e Lily mordeu o lábio.

—Você só…? – Ela incentivou.

Esquece. Você não quer ouvir— Ele desconversou.

—Agora eu quero.

Não quer, prometo. Esquece.

—Fala, James – Ela pediu. James suspirou.

Você parecia meio mal na mensagem, Lil. Eu fiquei na dúvida se eu estava assumindo ou não, então resolvi ligar pra ouvir sua voz para ter certeza.

—Oh. – Ela repetiu fracamente. Bem, ela tinha pedido para ele falar.

Eu disse que você não ia querer ouvir. — Ele comentou e limpou a garganta –  Acho que seria bom você estudar um pouco sobre estadiamento de câncer de laringe. Podemos discutir amanhã quando tivermos as imagens dele, que tal?

—Seria bom. Vou estudar sim – Lily concordou, e depois sorriu – Viu? Ótimo residente.

E se fosse semana passada, Lily teria dito para si mesma que a reação que tivera à risada rouca de James no telefone era outra coisa sem qualquer relação. Mas naquele momento ela estava bem o suficiente consigo mesma para admitir que era apenas isso: uma resposta à risada rouca de James, que ela sabia exatamente como soava no pé de seu ouvido.

Bem, obrigado por isso. Vou deixar você estudar e também fazer minha apresentação para o Simpósio.

—Você vai apresentar o quê?

Ora, Evans, eu não posso dizer, posso? Você vai ver a apresentação. Sem spoilers.

—Mesmo você tendo sido pescado e tudo? – Ela perguntou sorrindo. James riu do outro lado.

Sabe, algumas pessoas considerariam cruel falar sobre isso pensando no que decidimos.

—Ainda bem que não somos algumas pessoas – Lily replicou imediatamente, e ele riu mais uma vez.

Você ainda vai me matar, Evans. Eu realmente tenho que ir.

—Certo. Obrigada mais uma vez, James.

Nada, Lil. Até amanhã.

 

***

 

James estivera certo. Falar com Philip fora simplesmente horrível. Ele ficara agitado no início, mas se acalmara: com o tumor na laringe, a falta de ar ainda era presente. 

—Antes de irmos, Philip, preciso que o senhor pense seriamente sobre um assunto. Achamos que é mais seguro pro senhor fazer um procedimento chamado traqueostomia. O senhor sabe o que é isso? – James perguntou. Philip soltou uma risada sem nenhuma felicidade.

—Sei. Aquele tubo na garganta. Pra respirar. Eu não prometo nada, James. Deixe um moribundo pensar na morte, sim? – Philip pediu.

—O senhor não é moribundo, Philip. Mas com certeza vou respeitar. Depois conversamos mais uma vez sobre isso.

Philip assentiu e James se virou para sair, mas Lily ficou. Ela limpou a garganta.

—Estamos fazendo nosso melhor pra ajudar o senhor, Philip – Lily assegurou. Ele olhou para ela com olhos marejados e tristes.

—Eu sou um cantor, menina. Eu sei o que essa traqueostomia significa – Ele explicou.

—Significa garantir respiração pro senhor – James disse. Philip sacudiu a cabeça.

—Vocês dois parecem amar o que fazem. Eu amo o que faço. Eu sou um cantor. Como vocês se sentiriam se lhe cortassem fora as mãos?

—Nós não entendemos completamente, Philip, porque não temos como. Mas estamos buscando todas as alternativas e vamos tomar todas as decisões com o senhor – James garantiu. Philip deu de ombros – Se precisar de alguma coisa sabe onde chamar.

James puxou Lily pelo jaleco, mas a garota se aproximou de Philip e pegou sua mão.

—Sinto muito – Ela sussurrou. 

—Eu também.

Dessa vez Lily se virou e saiu do quarto com James. 

—Você não foi tão mal – Ele comentou quando entraram na sala de prescrição. Lily suspirou.

—Eu odeio essa parte – Lily confessou. James assentiu.

—É a pior. Mas é por isso que precisa de tanta gente boa. Pra confortar e ajudar na hora de maior necessidade – Ele ponderou.

—É, você está certo. Vamos fazer a evolução logo. – Lily chamou.

Eles fizeram a evolução e a prescrição, deixando claro nas condutas o que havia sido conversado. Logo Lily foi discutir o paciente que tinha com Remus, as visitas aconteceram e ela estava com James novamente.

—Temos meia horinha antes da hora de ir. Vamos discutir esse estadiamento? 

Então eles se sentaram em frente a um computador e abriram as imagens da tomografia e da videoestroboscopia. Os resultados de Philip não eram muito animadores.

—Não podemos dizer com certeza, porque não temos o resultado da biópsia – James explicou – Mas considerando ser maligno… 

Lily suspirou e James apertou o ombro da garota.

—Estamos fazendo tudo mesmo – Ele reafirmou. Lily assentiu distraidamente.

—Lily! – Marlene chamou – Ainda não foi?

A ruiva explicou que estava terminando de discutir um assunto com James e Marlene assentiu.

—Sabe o que você podia fazer pra sua querida amiga que vai chegar cansada? Aquela torta de limão maravilhosa! – Marlene sugeriu, juntando as mãos para implorar. Lily riu.

—Vocês não colocaram leite condensado na lista, não tem o suficiente em casa – Lily replicou – Vou pensar se passo no mercado de novo.

Marlene fez uma cara de pidona, fazendo Lily sorrir.

—Vou pensar – Ela repetiu, pegando seu material – E você se concentre bastante para aproveitar seu plantão sem distrações.

Marlene revirou os olhos, mas não retrucou mais. Lily se despediu e saiu da sala de prescrição, com James ao seu lado.

—Então quer dizer que você sabe fazer uma torta de limão maravilhosa? – Ele perguntou sorrindo.

—Eu sou extremamente prendada na cozinha – Lily informou e o garoto ergueu as sobrancelhas.

—Eu adoro torta de limão – James comentou.

—Bom pra você – Ela disse. James fez uma cara de dor e Lily riu – Se eu fizer eu trago um pedaço.

—É só o que eu peço – Ele respondeu. Quando chegaram na saída do hospital, contudo, James parou – Vou ficar aqui – Ele falou, erguendo o celular com o aplicativo do uber aberto. Lily franziu o cenho.

—Não veio de carro? – Ela perguntou.

—Vim, mas todos os outros vão sair 19h, então deixei o carro com Aluado.

—Você não vai de uber – Lily respondeu imediatamente – Vamos, eu te dou carona.

—Ah, não precisa mesmo, Lily – James disse.

—Vamos antes que fique tarde pra eu fazer a torta de Marlene – Lily disse, puxando o garoto.

—Agradeço imensamente. E tem leite condensado lá em casa, você nem precisa passar no mercado – Ele ofereceu. 

—Perfeito. Dois pedaços para você amanhã – Ela respondeu.

Eles caminharam até o carro de Lily. A conversa estava tão boa que Lily nem lembrou de ligar alguma música. Antes que ela percebesse, estava estacionando na garagem de James e entrando no elevador para pegar o leite condensado.

—...eu só não consigo entender como você não gosta de Game of Thrones! – James exclamou para Lily enquanto abria a porta de casa.

—Não precisa entender, eu só não gosto. E eu tentei assistir, e dormi todas as três vezes no meio do primeiro episódio – Ela disse, dando de ombros. James arfou audivelmente.

—É isso. Saia da minha casa! – Ele ordenou, fazendo Lily rir.

—Você não gosta de Grey’s Anatomy e eu não te expulsei da minha! – Ela rebateu enquanto James abria a despensa. 

—Uh, eu não faço a mínima ideia de onde está – Ele confessou.

—Como assim? Você disse que tinha! – Lily falou rindo e se aproximando de onde James estava.

—Sim, eu comprei ontem. Mas quem guardou foi Pete, então pode estar literalmente em qualquer lugar da casa.

—Hum. Se eu não soubesse melhor diria que isso é uma estratégia para me trazer em sua casa – Lily comentou, e se chutou mentalmente. Aquilo fora claramente um flerte.

James se virou para ela com uma sobrancelha erguida e um pequeno sorriso no seu rosto.

—Que eu saiba, você que queria o leite condensado – Ele disse, a voz ficando mais rouca do que antes. Lily arfou quando percebeu quão perto estavam. 

—Você que disse que tinha – Lily replicou, cruzando os braços. James deu de ombros e sorriu mais.

—E olha onde você está – Ele comentou, rindo. Lily sentiu a mesma reação do dia anterior: estômago despencando, um certo calor e o rosto corando. 

Como resposta automática, ela colocou as mãos no peito de James para afastá-lo.

—Eu não deveria ter dito o que disse – Lily confessou, mordendo o lábio inferior. James usou um polegar para soltar o lábio.

—Provavelmente não – Ele concordou, sem tirar a mão do rosto dela.

—Como nós sempre acabamos assim? – Ela perguntou e James sorriu.

—Destino. Ou então você me acha extremamente sexy e não consegue se conter quando ficamos sozinhos – Ele disse – Não te culpo, não é a única que acha.

Lily riu e revirou os olhos. James ainda sorria quando se aproximou um pouco mais.

—Se te faz sentir melhor – ele disse, a voz rouca fazendo Lily fechar os olhos – eu te acho ainda ainda mais.

E quem poderia culpar Lily por ter enrolado a mão na roupa de James e puxado ele até que as bocas se unissem? Ninguém, ela sabia disso.

Era ridículo como ela se sentiu bem desde aquele primeiro contato, como se ela estivesse fazendo aquilo há mais do que meros dias. Ridículo como ela sabia que a mão de James em seu rosto iria soltar seu cabelo e se embrenhar nos fios até que ele achasse uma posição confortável.

Ridículo como ela sabia exatamente o gemido que James ia soltar quando ela mordesse seu lábio inferior, e ridículo como seu coração acelerou quando os lábios dele acharam o ponto exato de seu pescoço que fez tudo escapar da sua mente, e ela aceitar de bom grado quando James a empurrou para a mesa da cozinha para que ela sentasse e envolvesse o tronco dele com suas pernas.

Ridículo como ela não ter se importara em nada com uma mão de James por dentro de sua blusa enquanto a outra acariciava sua coxa por cima da calça jeans. Ridículo como ela definitivamente não fazia a menor ideia quanto tempo ficaria ali não fosse o celular de James ter começado a vibrar no seu bolso.

Lily se afastou dele com a respiração irregular.

—Eu não preciso atender – Ele murmurou, beijando o pescoço dela.

—Precisa sim, pode ser do hospital – Lily disse.

James respirou fundo e pegou o aparelho, fazendo uma careta.

—É Peter. Eu não preciso atender – Ele resmungou. Lily revirou os olhos e apertou o botão verde – Oi, Pete.

James não se afastou muito mesmo depois de Lily ter liberado o corpo dele do enlace de suas pernas. Ele continuou falando, enquanto Lily ajeitava a roupa.

—Ok, Rabicho. Beleza. Ah, onde você guardou o leite condensado? Não, claro que não faz sentido guardar no armário perto das colheres, Pete! Nós temos uma despensa para guardar alimentos! 

Apesar de James soar exasperado com o amigo, ele estava sorrindo. A ligação durou menos de cinco minutos, e quando terminou, James suspirou, abaixando a cabeça para olhar Lily nos olhos.

—Desculpe – Ele pediu.

—Er, não foi exatamente você que começou tudo – Lily respondeu, corando. James sorriu – Isso não pode mais acontecer – Ela afirmou.

—Eu sei. Eu…

—Estou falando comigo mesma – Ela explicou. James riu de novo, e depositou um leve beijo nos lábios dela – É difícil pra mim, sabe. 

—Eu sei, eu já disse que sei que sou sexy.

Lily revirou os olhos.

—Eu nunca estivesse nessa situação, em que um cara muito especial gosta de mim, e eu gosto dele, mas outra coisa impedisse…

James gemeu.

—Eu preferia que você não tivesse dito que gosta de mim – Ele disse. Lily franziu a testa – Ia ser mais fácil assim.

Lily mordeu o lábio.

—Você está indo bem. Eu que te ataquei.

James deu de ombros.

—Pode me atacar quando quiser.

—É melhor eu ir logo – Foi o que Lily respondeu. James assentiu e pegou as caixas de leite condensado.

Lily foi para a porta, onde pegou o doce e olhou para cima.

—Eu realmente duvido que alguém do hospital fosse reclamar – James disse sorrindo – ou saber.

Lily revirou os olhos.

—Tchau, James.

—Tchau, Lil. Eu quero minha torta!

Lily riu enquanto ia para o carro, se xingando mentalmente. Ela tinha que parar com isso. Não por causa dela; por causa de James.

Que tipo de pessoa fala pra outra que eles não podem ficar juntos e no dia seguinte ataca a outra? Ela não queria machucar James, dando falsas esperanças. Então era bom controlar melhor esses hormônios e impulsos – não importa quão sexy ele realmente fosse, ela não ia mais beijá-lo.

 

***

 

—Evans! 

Lily olhou para a direção que fora chamada. James sorria ao lado de Remus. Os preceptores tiveram que ir mais cedo naquele dia, então a visita acabara antes do normal, o que fora bom para James que devorara os pedaços de torta que Lily trouxera.

—Quer entrar numa cirurgia com a gente? – James ofereceu. Lily fechou o caderno imediatamente e os dois residentes riram.

—Agora?

—Isso. A não ser que você não tenha terminado – Remus acrescentou.

—Terminei sim. Vou só pegar minha mochila – Ela informou e rapidamente estava ao lado dos dois.

Remus contou para Lily a história do paciente do jeito que sempre fazia: num caso clínico para que ela chegasse no diagnóstico e na conduta, exatamente do jeito que ela mais aprendia.

—Então é uma hérnia inguinal bilateral? – Ela perguntou.

—Exato – Remus assentiu – Vamos usar a tela. Qual a técnica que usa a tela?

Lily pensou por alguns segundos.

—Liechtenstein.

—Perfeito – Remus confirmou com um sorriso quando eles chegaram nos vestiários – Nos encontramos lá dentro.

Como era uma cirurgia mais simples, James e Remus fariam a cirurgia sem um preceptor. Dr. Moody entraria na sala eventualmente apenas para confirmar que estava tudo certo. Como o paciente já estava no centro cirúrgico, não demorou muito para estar tudo pronto.

—Ok, antes de começar, Remus, vamos aproveitar que o paciente está anestesiado e sob sedação… – James disse quando a área já estava limpa com os campos colocados e todos paramentados, e olhou para Lily – Eu quero que você tente sentir o anel inguinal interno. Pega seu indicador, vem cá de baixo do anel externo, e vai até lá. 

Lily fez como ele indicou, mas não conseguiu, então ele corrigiu o movimento até que ela chegasse. Do outro lado ela conseguiu sem problema.

—Faz parte do exame físico da hérnia, e em alguns casos conseguimos reduzir a hérnia aguda pra programar a cirurgia pra depois – James explicou – Vamos lá, Remus.

Lily observou atentamente todos os movimentos que Remus fazia, e como James atuava para ajudar. Ela tinha plena ciência que um bom auxiliar podia tornar a cirurgia infinitamente mais fácil.

—Ok, o que é isso que Remus isolou? – James perguntou.

—Hum, o funículo espermático? 

—Você está me perguntando ou afirmando? – James devolveu. Lily limpou a garganta.

—Afirmando – Ela replicou com mais certeza.

—Correto. E qual a estrutura que sempre procuramos nele?

—O ducto deferente.

—Exato – James confirmou – Me dá sua mão… o ducto deferente parece essa cordinha de violão, tá sentindo? – Ele perguntou, segurando a mão de Lily e colocando o dedo no local correto – Toda cirurgia de hérnia tem que achar. Principalmente em jovens, porque se seccionar inadvertidamente, o cara pode ficar estéril. Vamos lá, Remus.

Lily sentiu o ducto mais uma vez, e depois tirou sua mão para que a cirurgia continuasse. Remus e James lhe explicavam a anatomia toda, facilitando o entendimento de uma das regiões mais difíceis do estudante de medicina entender. Quando foi para o outro lado, eles apenas a Lily perguntaram para ver se ela compreendera de fato.

Mais uma vez eles deixaram Lily suturar a pele, e mais uma vez ficaram satisfeitos com o resultado.

Dizer que Lily saiu do hospital feliz era pouco; Marlene perguntara se ela tinha tomado algum remédio e a ruiva explicara que fora a cirurgia.

Como era habitual, quando ela chegou em casa foi estudar o que vira. Depois de revisar a anatomia e a clínica de hérnias inguinais, sentou com Marlene para estudar assuntos para a prova de residência – não tão bons quanto cirurgia, mas era um fardo que ela tinha que enfrentar.

No meio da tarde Tonks chegou, e as três sentaram para comer a torta juntas, dando uma pausa nos estudos. Mary avisara que chegaria mais tarde pois estaria em mais uma reunião do TCC.

Marlene parou de estudar para não perder a hora no salão para fazer as unhas, então Lily pegou a sobra dos fios cirúrgicos que tinha conseguido no hospital e levou para a sala de televisão, onde deixou um seriado para fazer barulho no fundo enquanto treinava os nós manuais.

Estava tão concentrada que quase deu um grito quando ouviu a campainha tocando. Tonks veio correndo com um pequeno sorriso.

—Desculpe, Lily! – A mais nova falou, abrindo a porta para Remus e James.

Lily assentiu e se ajeitou no sofá. Tonks imediatamente puxou Remus para fora, insistindo que precisava comprar chocolates: ela estava indo conhecer os pais de Remus.

—Sem problemas, eu espero – James afirmou quando Remus disse que estava de carona.

Os dois saíram rapidamente, com Remus insistindo que não era necessário.

—Sendo o motorista da rodada? – Lily perguntou, quando James sentou numa das poltronas.

—Os pais de Remus vieram visitar e estão perto de uma loja que quero ir, então ofereci carona – Ele respondeu dando de ombros – Treinando nós?

—Sim. Depois de ver você e Remus hoje eu percebi que preciso treinar muito.

—Nah, me mostra.

Lily fez uma careta, mas pegou os fios e demonstrou a técnica, o que foi bom: James logo foi para seu lado e deu dicas de como melhorar e como fazer mais rápido, que era basicamente o que ela queria.

—Ok, você conhece o nó do sapateiro? – James perguntou.

—Nó do sapateiro? – Lily franziu a testa e ele sorriu.

—Olha aqui, ele é bom pra fio curto. Se você fizer, realmente vai impressionar…

James demonstrou o nó, mas Lily não entendeu, então ele fez mais uma vez. Lily pegou o fio de sua mão, mas fez errado. Então James pegou as mãos de Lily para demonstrar.

—...daí com o indicador você faz a volta e termina o nó – Ele explicou, mas quando olhou para Lily ela não olhava para as mãos, e sim para ele – Lil?

Ela mordeu o lábio e fechou os olhos.

—Ugh, que saco! – Ela exclamou – Por que diabos você tem que ser tão bonito?!

James soltou um leve riso e deu de ombros.

—Eu juro que estou tentando, sabe? – Ela disse. James não soltara suas mãos – Porque é simplesmente cruel de minha parte dizer que nada vai acontecer entre nós, e com motivo bom, e daí ficar te beijando dia sim, dia não!

James riu de novo.

—Eu não me importo tanto – Ele replicou.

—Mas não é pra ficar acontecendo isso! – Ela disse e James ergueu uma sobrancelha.

—Lily, nada aconteceu agora.

Lily bufou.

—Até você vir com sua voz rouca e sua conversinha que eu não vou resistir, e tchauzinho controle.

James riu mais uma vez, se aproximando do ouvido de Lily.

—Eu não sabia que você gostava da minha voz, Lil – Ele disse, seus lábios roçando a orelha da garota. Lily grunhiu – Bem, existe um jeito bem eficiente de me calar… – James sugeriu, depositando um leve beijo no pescoço dela.

O tempo que levou para Lily levar a boca de James para a sua foi só o dela resmungar “ah merda”. James ainda estava sorrindo quando os lábios se encontraram, e ele finalmente soltou a mão dela; ele realmente gostava de segurar o cabelo de Lily.

Ela, por sua vez, ficou mais que satisfeita em segurar nos ombros de James. A outra mão dele procurou a cintura da garota e apertou firmemente quando achou. James soltou um grunhido ao perceber que a blusa de Lily já estava meio deslocada, e usou a outra mão para colocar Lily em seu colo, uma perna da garota de cada lado.

Ele efetivamente calou a pequena parte do cérebro de Lily que tentava gritar que aquela era uma péssima ideia – justamente porque era tão bom. James tomou a liberdade de passear com as mãos pelas pernas de Lily, indo até a bunda dela e retornando.

A pequena parte do cérebro de Lily (que depois ela identificou como sanidade) só ficou aliviada quando a porta da cozinha abriu.

Num pulo Lily saiu do colo de James, e Tonks nem tinha terminado de fechar a porta quando ele estava de pé indo para o corredor, provavelmente indo dar um jeito de esconder o resultado mais que visível do beijo intenso no sofá.

—Cadê James? – Tonks perguntou quando entrou na sala. Lily estava com os fios na mão, torcendo para seu estado não estar gritando o que ela estivera fazendo.

—Banheiro – Lily respondeu, a voz felizmente mais firme do que ela esperava.

—Eu trouxe pra você – Tonks disse com um sorriso, jogando um pacote de balas na direção dela (como era Tonks, caiu dois metros para o lado).

—Obrigada!

Tonks jogou um pacote para James quando este retornou, o rosto molhado. 

—Estava cansado, lavei o rosto pra acordar mais – James justificou quando Remus perguntou – Vamos?

Remus e Tonks saíram na frente, e James se virou para Lily.

—Temos que parar com isso! – Ela disse silenciosamente. James riu e assentiu.

—Você que manda! – Ele replicou.

 

***

 

—Você está usando uma gravata.

James se virou para Lily, um sorriso já no rosto. Os dois se encontraram no caminho para o auditório do hospital, onde ocorreria o simpósio. James, como Lily notara, usava uma gravata preta e uma camisa social azul por debaixo do jaleco.

—É uma apresentação formal – Ele replicou e, depois de rapidamente olhar ao redor, acrescentou: – Gosta de gravatas?

Lily uniu os lábios numa linha fina e inspirou profundamente.

—Eu gosto quando certas pessoas não falam certas coisas – Ela respondeu, fazendo James rir.

—Ah, mas eu tenho certeza que gosta mais quando certas pessoas falam certas coisas.

James ainda estava rindo e o rosto de Lily ainda estava corado quando eles chegaram na frente do auditório, onde Peter, Sirius e Remus conversavam.

—Achou? – Sirius perguntou. James ergueu um objeto que Lily identificou como um passador de slides – Eu ia te enforcar se você tivesse esquecido em casa tendo saído ontem para comprar isso.

James apenas sorriu em resposta.

—Como foi com seus pais, Rem? – Lily questionou.

—Foi ótimo – Remus respondeu sorrindo – Minha mãe simplesmente amou Tonks.

—É difícil não gostar daquela pirralha – James comentou.

—Meu pai ficou meio… cauteloso – Remus continuou, agora com a testa franzida – Ele achou Tonks meio nova, o que é verdade. Mas não teve nenhum problema.

—Ele vai se acostumar – Lily disse, apertando o braço dele.

—Cadê Marlene? – Sirius perguntou ao não ver a garota ali.

—Um paciente ficou prendendo ela – Lily explicou, rindo – Cheio das mesmas dúvidas que ela já tinha explicado ontem.

Como se combinado, Marlene apareceu com uma careta e Lily riu mais.

—Minha dor te diverte, Evans? – Marlene questionou dramaticamente.

—É só explicar, Lene.

—Eu sei— Marlene exclamou – É porque eu já tinha falado tudo ontem, mas ele simplesmente não prestou atenção!

Lily abraçou a amiga, ainda rindo. Sirius garantiu que aquilo era mais do que normal.

Os outros internos que passavam cumprimentavam todos e entravam no auditório, inclusive os que estavam em outros rodízios, enquanto Lily, Marlene e os quatro residentes conversavam.

—Lily, Lene – Benjy disse quando chegou, abraçando as duas – Temos que combinar a próxima sessão.

—Verdade – Lily concordou – Fala com as meninas pra vermos os dias que ninguém tem plantão.

—Acho que semana que vem é uma boa – Benjy sugeriu. Lily se virou para perguntar a Marlene o que ela achava, mas a garota já tinha entrado com Sirius e Peter, enquanto James e Remus conversavam na porta – Bem, vamos nos falando.

—Certo, manda mensagem!

—Ah, antes que eu esqueça, o pessoal tá querendo marcar uma saída dos internos com os residentes – Benjy falou, olhando rapidamente na direção de James e Remus – Fala com eles pra combinar alguma coisa, já que você é amiga de Remus.

—Pode deixar.

Benjy sorriu e entrou, e Lily foi para perto de James e Remus. Esse último revirou os olhos com alguma coisa que o amigo disse e foi para o auditório, deixando Lily sozinha com James.

—Combinando uma festinha? – James perguntou, o sorriso meio… endurecido.

—Nah, temos um grupo de estudos pra resolver provas de residência – Lily explicou – Mas ele mencionou uma saída do grupo todo. Por quê? Ciúmes? – Ela perguntou sorrindo. James deu de ombros. – Esquece isso, você tem coisas mais importantes para se preocupar. Por exemplo, essa apresentação.

—Eu não preciso me preocupar com isso – Ele replicou e Lily revirou os olhos.

—De qualquer modo, boa sorte. Mesmo que não precise e blá blá blá – Ela disse. James sorriu verdadeiramente, e segurou seu ombro momentaneamente.

—Obrigado. Quero ver você anotando tudo no seu caderninho.

Lily riu enquanto os dois entravam. James seguiu para o palco, para ajeitar o passador de slides, enquanto Lily assumia o lugar que Marlene guardara para ela perto do palco.

E bem, James estivera certo: ele não precisava se preocupar. Com sua didática habitual, ele conseguiu apresentar o caso que reunia quatro especialidades diferentes, prosseguindo com a discussão da parte cirúrgica. Depois cedeu o lugar a outros residentes, que continuaram com a apresentação.

Pelo sorriso que ele deu na direção de Lily, ele sabia que estava certo.

Quando acabou a apresentação, foi um certo engarrafamento para sair do auditório. Lily estava tão focada no caderninho, preocupada se suas anotações estavam legíveis que só percebeu que James estava atrás dela quando ele soltou uma risadinha. Marlene saíra logo pois não tinha conseguido terminar a evolução antes do simpósio.

—Anotou tudo… que exemplo de interna! – Ele disse em tom provocador. Lily se virou para ele e fez uma careta.

—Eu ainda tenho que tirar algumas dúvidas, Dr. Potter – Ela disse, balançando o caderninho. Eles andavam pela fila da direita, e estavam quase chegando na porta, onde as duas filas se encontravam.

—Sorte a sua que eu conheço uma pessoa que sabe bastante sobre o assunto – James respondeu rindo.

Lily olhou para trás, ainda andando, mas sua resposta foi interrompida por uma pessoa que vinha da fila oposta.

—James! – Lily e James olharam para cima.

—Ah, oi, Bertha – James cumprimentou, o riso que ocupava seu rosto diminuindo visivelmente – Lily, essa é Bertha Jorkins, residente de ginecologia. Bertha, Lily Evans, interna que está rodando comigo agora.

—Ah, você estava com Sirius naquele dia que pedi a interconsulta, certo? – Bertha falou e Lily assentiu – Prazer novamente, Lily. James, sua apresentação foi magnífica!

Lily olhou para frente. Por que a fila tinha que empacar justo agora? Na hora exata que a ex de James aparecia para flertar com ele?

—Uh, obrigado, Bertha – Ele agradeceu, passando a mão pelos cabelos. Lily começou a ir para o lado, de modo que ela não ficasse no meio da conversa, mas não conseguiu: a outra mão de James a segurara pela parte de trás do jaleco, usando Lily como escudo.

A fila começou a andar novamente.

—Faz tanto tempo que não nos falamos – Bertha comentou – Devíamos marcar alguma coisa, sabe, pra relembrar.

Lily olhou para o chão. Será que era possível uma pessoa ser tão direta? Lily estava bem ali! Não que… bem, qual a diferença que Lily fazia, certo? Ela não era absolutamente nada de James.

—Eu tenho que voltar para a enfermaria. Depois nos falamos, Bertha.

E dizendo isso, deu um leve empurrão em Lily e acelerou o passo para sair dali mais rapidamente. Quando perderam Bertha de vista, James suspirou.

—O Três Vassouras está inaugurando um cardápio novo hoje – Lily comentou quando estavam perto da fila do elevador – Vocês deveriam ir lá.

James olhou para Lily com o cenho franzido. Lily estava olhando para qualquer lugar, menos para ele, a mão segurando o caderninho com firmeza.

—Lily… – Ele disse.

—Só sugerindo uma boa opção, Dr. Potter – Ela continuou, guardando o caderninho no bolso do jaleco. Ela sabia que estava completamente errada, mas não conseguia impedir as palavras de saírem de sua boca.

James suspirou. Como Lily estava olhando para os pés, só percebeu a mão de James em seu braço quando o residente a puxava para a direção da escada. Ela conseguiu não soltar um gritinho quando foi arrastada.

—Lily. – Ele disse quando estavam sozinhos e a porta corta-fogo fechou. Lily cruzou os braços e suspirou.

—Eu sei, não precisa falar, eu não tenho direitos.

—Eu não ia falar isso – Ele respondeu calmamente. Lily olhou para ele.

—Não? 

—Não. Eu ia falar – James disse, descruzando os braços de Lily e depois segurando o rosto dela com as duas mãos – é que eu não tenho a menor vontade de ir relembrar nada com Bertha.

—Hum, Sirius falou, relacionamento difícil, eu sei. Desculpe.

—Nem que não tivesse sido – James continuou, puxando Lily para mais perto – só tem uma pessoa que eu gostaria de levar para o Três Vassouras para aproveitar o cardápio novo que está sendo inaugurado hoje.

Lily apenas resmungou, e James riu.

—Mas, hey, bom saber! – Ele disse.

—O quê?

—Que você sente tanto ciúmes quanto eu – Ele replicou tranquilamente.

Lily sentiu seu queixo caindo e ia soltar uma exclamação indignada, mas suspirou. Já passara o tempo de fingir.

—É. Que seja. Vou superar, vendo que, como eu disse, não tenho esse direito.

—Nah, não me negue esse pequeno prazer! – James pediu rindo – Me deixe viver uma pequena ilusão, Evans!

Lily revirou os olhos, pronta para dizer para ele parar de ser tão besta – mas houve alguma desconexão entre o raciocínio e as mãos da garota, visto que essas últimas seguraram a gravata de James e o puxou para beijá-lo.

Ela realmente gostava de sentir o sorriso dele nos seus lábios – tanto quanto gostava do jeito que as mãos dele seguravam seu rosto com carinho. Esse beijo não tinha o mesmo frenesi e a mesma urgência que os outros; era mais calmo, mais doce. Com mais sentimento.

Lily não sabia dizer de qual ela gostava mais.

Mas ela percebeu, ali naquela escada, enquanto James beijava calmamente seus olhos, a ponta do seu nariz, sua testa, e depois retornava para seus lábios, que bem… podia ser o direito dela.

Seria arriscadíssimo. Disso ela não tinha dúvida. Mas também tinha certeza que não dava para negar o que sentia desse jeito. Ela já estava determinada a falar isso antes mesmo da porta da escada abrir no andar de cima e eles se separaram rapidamente com o som dos passos.

—Então, se eu tenho um paciente com dificuldade de respirar, eu devo iniciar oxigênio de imediato? – Ela perguntou, cruzando os braços. James demorou um segundo, mas sorriu.

—Exato. Vai depender de quanto… bom dia! – James cumprimentou. Era um interno de outro semestre que descia as escadas e assentiu para os dois antes de sair.

Lily suspirou enquanto James ria.

—Ok, não podemos mais fazer isso – Lily disse. James continuou rindo, e a puxou para um abraço.

—Você sempre diz isso, Evans.

—É, mas dessa vez eu to falando sério. Não podemos mais fazer isso aqui.

James a afastou, olhando especulativamente para a garota.

—O cardápio especial começa 20h hoje – Lily informou, se desfazendo do abraço e segurando as mãos de James, cujo rosto agora era iluminado por um imenso sorriso – Vou tentar conseguir uma mesa pra nós dois. Não se atrase.

—Então posso assumir que você gosta de gravatas? – Ele replicou. Lily sorriu e o puxou pela vestimenta em questão para um beijo rápido.

—Tem suas vantagens.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Internamente Evans" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.