Já havia se acostumado com a solidão àquela altura. James e Lilian, mortos; Peter, assassinado; Sirius, apodrecendo na prisão Azkaban, culpado pela morte dos melhores amigos. De início, não quis acreditar naquela verdade, mas agora estava simplesmente conformado. Às vezes, se sentia prestes a esquecer dos tempos que não voltariam nunca mais, mas tinha fotos para se lembrar dos momentos mais felizes de sua vida, nas quais os sorrisos cresciam com as figuras se movimentando na imagem. Porque, acima da solidão, o que mais temia era o esquecimento.

E percebeu que estava se esquecendo.

Se esquecendo de alguém verdadeiramente importante.

O pensamento era desesperador, mas pouco a pouco, a imagem de Regulus Black se tornava mais e mais borrada em suas lembranças. O contorno de seu sorriso insolente, o brilho intenso em seus olhos, se tornavam desbotados, apenas um reflexo opaco do que costumavam ser.

Regulus Black havia desaparecido sem deixar vestígios.

Diziam que havia se rebelado contra o Lorde das Trevas e foi morto por suas próprias mãos. Ninguém – nem comensais nem Ordem da Fênix – deu muita atenção em meio à guerra. Era só mais um corpo desaparecido em meio a tantos.

Por muito tempo, não acreditou, não queria acreditar que aquela tinha sido a última vez que o vira, duas semanas antes da notícia de seu desaparecimento ser jogada como uma bomba em suas mãos. Se recusava a acreditar que nunca mais o veria. Por meses a fio, acreditou que ele irromperia pela porta como uma tempestade e tiraria sarro quando visse sua preocupação, ou que chegaria um dia e ele estaria o esperando como se nada tivesse acontecido, no lugar de sempre. Com o passar dos meses, sua esperança foi murchando, e foi parando de observar as estrelas em busca do coração de leão; nunca havia se interessado muito pelo céu, afinal. Só com Regulus, mas ele já não estava mais ali. E procurar, procurar e procurar e nunca achar só doía. Conformou-se de que a tempestade que era ele nunca mais lhe atingiria. Com o passar dos anos, pensava cada vez menos no herdeiro Black. E agora genuinamente sentiu o desespero de mal se lembrar como era sua voz ou seu calor.

Mas não havia nada.

Não havia fotografias.

Não havia objetos, sequer cartas, nada no que pudesse se agarrar.

Pela primeira vez em alguns anos, chorou.

Porque ele estava verdadeiramente sumindo daquele mundo. Seus pais estavam mortos. Sirius estava preso, enlouquecendo em uma cela. Duvidava que o restante da família sequer ligasse. Além de suas memórias, não havia nada que provavsse sua existência, que provasse que ele algum dia esteve vivo.

Regulus Black havia desaparecido sem deixar vestígios.

E era como se nunca tivesse existido.