There's you, the ocean and me escrita por Lux Noctis


Capítulo 1
To where I see there's you, the ocean and me




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“I live far from any sea, you from any road

I've waited for someone like you for so long

But there's this ocean, between us

That cuts our bodies and cuts our hearts

We have to deal with this Pacific drowning us”



A lua trazia aquele conforto tão bem conhecido enquanto Túlio ocupava-se em praguejar. De tantas coisas que Miguel poderia ter salvo, escolheu logo um mapa! Um! maldito! mapa! 

Resmungava, não tão baixo enquanto puxava algumas folhas grandes que deveriam servir como abrigo àquela noite de um belíssimo céu estrelado. Notava que Miguel quase nada fazia para ajudá-lo, e se no momento não precisasse mesmo do sapato no pé, teria jogado-o contra o amigo. 

—  Miguel!! —  chamou descontente, as mãos para o alto como se na verdade pedisse a algum deus, uma prece em busca de ajuda. 

—  Túlio, olha —  extasiou-se ao falar, aproximando-se de Túlio, o sorriso tomando conta dos lábios —,  não estamos perdidos!

Ah estavam, e como estavam! Perdidos em meio à nada, que não o oceano a frente lhes indicando que para lá não poderiam voltar. Não sem um barco decente, não sem mantimentos, e não com Túlio querendo afogar Miguel e aquele sorriso desgraçado de bonito! 

A lógica de não jogar contra o amigo o sapato? Oras, voou junto ao mesmo, acertando em cheio a cabeça de Miguel, que assustou-se e virou para encarar Túlio, que pulava num só pé, evitando pisar na areia macia daquela praia. 

—  NÃO ESTAMOS PERDIDOS? —  O tom elevado ecoou, fazendo-o olhar assustado ao redor, lembrando-se de que nada sabiam sobre aquele maldito lugar, respirando fundo enquanto alinhava as vestes e pegava da mão de Miguel seu sapato, tornando a calça-lo: —  Não estamos perdidos? — repetiu muito mais baixo, pegando Miguel pelo antebraço e forçando-o a andar para próximo àquele abrigo improvisado.

Se aquilo não era estar perdido, Túlio esperava nunca saber o que era, então. Queria esbravejar, mas pelo o que conhecia de Miguel, não adiantaria. Queria então acertá-lo de novo com o sapato, mas acabaria estragando o material, e não aquela cabeça oca. E então queria que ele não fosse de todo tão imprudente, não quando a vida que levavam já era cheia de riscos, dois vigaristas que ganhavam a vida assim, do mesmo modo que ganharam o mapa; com trapaças! 

E Miguel, bem, saber que estava perdido não era algo que ele identificasse, sequer sabia quando parar. A bendita vozinha na cabeça que alertava, como Túlio sempre insistia, com Miguel simplesmente não existia. Ou falava em baixíssimo tom! A única coisa no momento, a qual ele tinha certeza, era de não estar perdido. 

—  Não estamos perdidos. —  Voltou ao tópico antes mencionado, abaixado de modo meio desconfortável, arrumando-se enquanto via Túlio sentar-se a seu lado, os braços cruzados, talvez para não lhe bater. —  Enquanto estiver com você, não estou. Somos Túlio e Miguel, Miguel e Túlio, lembra? 

As folhas verdes protegia-os parcialmente do brilho da lua, a mesma que banhava apenas as pernas de Miguel, para fora daquele abrigo enquanto ainda se ajeitava no espaço pequeno, também coberto por folhas, porque ao que tudo indicava, Túlio não queria areia no corpo. E era isso que fazia com que Miguel pensasse na opção mais descabida para deixar o clima ameno. Pegou um punhado de areia com a canhota, deixando o mapa de lado, mas protegido. E então jogou contra as vestes de Túlio. A camisa azul, tal como o colete marrom, igualmente sujos enquanto ele fechava os olhos para se proteger. Miguel perdeu, fora uma fração de segundo onde também fechara os olhos para que não voltasse areia nele. 

Sentiu apenas o corpo contra as folhas, alguns grãos de areia que desprendiam-se das vestes de Túlio, caindo sobre a sua, e sobre o tórax que se desnudava conforme movia-se. Sentiu também quando a destra de Túlio apoiou-se ao lado de seu rosto, afofando ainda mais a areia sob seus corpos. O desnível que isso criava, aproximava ainda mais os corpos, e isso Miguel viu bem. O momento exato quando Túlio pareceu escorregar para mais perto, para até quase colando os lábios aos dele, quase. 

Não tinha como estarem perdidos, não quando tinham um ao outro. Não quando encontrar-se nos braços alheios era a melhor forma de descobrir o que faltava aos corações errantes. A lua lá fora, assim como o barulho das ondas quebrando na praia, o relinchar suave do cavalo, tudo parecia fazer a composição única de uma canção, adjunto ao som dos corações que batiam forte ao peito. 

Aquela não seria a primeira vez que Miguel segurava a nuca de Túlio e o puxava para um selar de lábios, tampouco a primeira vez que o beijo evoluia à carícias mais íntimas. Bocas abertas, aquela sensualidade que só encontravam em momentos como aquele, onde as línguas tocavam uma na outra, onde os corpos resvalavam em busca de atrito.

—  Não vai conseguir se safar assim.

O tom não indicava isso, pelo contrário. Túlio sabia bem que se Miguel insistisse naquilo, naqueles beijos, naquela mão que lhe puxava as vestes para tão logo adentrar-lhe a calça… sabia que se Miguel continuasse à tentá-lo, que logo esqueceria a raiva, o receio. Como esquecia agora ao sentir o aperto despudorado em sua bunda, o beijo em seu pescoço seguido por uma mordida suave e uma lambida certeira em fazê-lo arrepiar. Túlio perdia-se, ah estava completamente perdido, mas em desejo. 

Perdia-se quando os lábios de Miguel arrancavam de si os deleitosos suspiros e arfares. Perdia-se quando precisava se segurar em algo para não sucumbir ao prazer que os lábios macios de Miguel lhe proporcionava naquele contato íntimo. Só voltava a se encontrar quando o peso do corpo alheio o fazia lembrar de olhá-lo nos olhos, de mirar naqueles orbes verdes e se ver refletido neles enquanto as demais peças de roupas se perdiam, obviamente sujando de areia, conquanto os corpos se mantivessem livres, não teria problema. 

Há tanto haviam se perdido, assim como haviam se encontrado um no outro. Nos olhares trocados, nos beijos que pareciam juras de amor, nas carícias voluptuosas que faziam-os suar, arfar e desejar que nunca encontrassem o fim. Eram dois errantes, mas que se encontravam a cada vez que os corpos encontravam-se desnudos, como agora. Suados, como agora. E em um frenesi de movimentos que cadenciava a luxúria que os  acometia. 

Era a troca de beijos enquanto tudo parecia encaixar tão bem, deixando que Miguel fosse tão fundo, em cada ação tomada. A entrega era mútua, e isso ficava claro quando Túlio envolvia o pescoço de Miguel em seus braços, puxando-o para perto, pouco antes de virar-lhe as costas, em busca de um pouco mais… só um pouco mais. No calor daquela noite estrelada, estarem perdidos fora esquecido. Na manhã seguinte certamente seria lembrado, novamente Miguel teria de lidar com as consequências dos atos, e sem dúvida teria mais uma vez um sapato jogado contra sua cabeça. Mas só na manhã seguinte. Aquela noite ainda servia para eles, como um casal, como amigos, como amantes. Servia também para, sobre as folhas verdes, e parcialmente sob elas, contarem as estrelas daquele céu, o mar fazendo o som de suas ondas, e os suspiros de duas pessoas que precisaram cruzar mares para finalmente se encontrar, estando lado a lado por boa parte da vida. 


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