Cima, baixo, girar, atacar... Kylo expressava sua frustração na sala de treinamento, a adrenalina forte o bastante para o distrair. Não podia pensar no que havia acontecido na noite anterior, não podia. Estavam em guerra, ainda havia tanto para ser feito na Primeira Ordem...

Ele balançou a cabeça, quase abrindo a guarda para o droid, que foi despedaçado em sua raiva súbita.

Rey...

O que poderia ter acontecido? O que essa nova situação significava? O que Darth Sidious estava fazendo com Rey naquele momento? O que ele havia oferecido?

Sentia-se drenado, frio; vazio. O lado sombrio o espreitava, pronto para abraçar um provável descontrole. Lembrou-se de quanto Rey o rejeitou e sentiu novamente o ódio confundir sua emoção, por que tudo que ele tentava fazer não era o suficiente? O peso em seus ombros sempre foi constante-

Defender.

Em reflexo, ele girou, segurando o sabre com as duas mãos. Sua lâmina bateu contra o sabre duplo de Rey, que como o seu, era vermelho e instável- instável como seu sentimento.

“Essa foi perto.” ela disse, mantendo o sabre firmemente pressionado. Não havia medo ou surpresa em seus olhos... de fato, não havia nada. “Na próxima, você não terá chances.”

A Força havia os unido novamente. A Força estava... estranha, de alguma forma. Kylo sentia.

“Ainda quer me matar?” ele retrucou, a ironia como veneno em seus lábios.

“Serei vitoriosa dessa vez.”

“Por causa do seu novo mestre?”

Rey o atacou, girando o sabre novamente. Foram meros instantes até eles estarem em um impasse novamente, a luz dos sabres iluminando seus rostos. Céus, ele desejava que ela não fosse tão linda.

“Isso não é treino pra você,” Kylo disse, percebendo sua real intenção. “É uma luta até a morte.”

“Morte? Estou apenas me defendendo.”

“De mim? Eu nunca te quis nenhum mal.”

“Escolha suas palavras sabiamente, mentiroso.” Rey rangeu os dentes, girando a outra ponta do sabre em ataque, Kylo defendeu se afastando. Cima, direita, cima, cima, giro, baixo... eles dançaram perigosamente pela sala. E o Cavaleiro não pode deixar de notar o quão ela estava mudada, não apenas em vestimenta ou técnica. Rey trincava os dentes sem esboçar reação, sua energia era fria e centrada, porém poderosa, completamente envolta pelo lado sombrio.

Tão diferente de quando ele a encontrou em Takodana.

Tão diferente de quando ele a tomou em seus braços.

Ou de quando... provou de seus lábios...

“PARA!” Kylo gritou, em vão. Ela estava determinada, suas duas lâminas se juntaram lado a lado e colidiram com a dele. “Eu nunca menti pra você!”

“Que fofo, vou me lembrar disso quando tiver cortado a sua cabeça!”

Quando ela o atacou novamente, Kylo não pensou, instintivamente erguendo a mão e usando a Força para afasta-la. Era raro usar de seu poder durante uma luta, e foi fazendo isso que ele sentiu novamente o tremor da energia na palma de sua mão.

A razão pela qual sua pele exalava eletricidade.

A Força estava desequilibrada.

“Chega, Rey! Não pode ser tão cega assim, poder nunca te interessou.”

“Você acha?”

“O que aconteceu com você? O que aconteceu com a Resistência?”

A verdade era que ele sabia exatamente aonde a Resistência estava. Quando seus lábios se tocaram, Kylo havia tido o vislumbre do aspecto florestal de Ajan Kloss e da escuridão que havia tomado o coração de Rey enquanto ela estava lá.

E ela sabia que ele sabia. O fogo rebelde de seus olhos, antes tão determinada em esconder qualquer plano dele, se extinguiu. Ela não mais se importava.

“Rey.”

Diante do nome, ela rosnou, desligando o sabre e caminhando pela sala, em uma breve trégua. “Todo mundo me dizia que sabia quem eu era, que me conheciam, mas não. Ninguém me conhece de verdade.”

“Mas eu conheço.”

Seus olhos se encontraram.

“E eu sei o porquê.” o Cavaleiro continuou, dando um passo em sua direção. “Eu sei porque você me afeta tanto, eu posso te dizer, posso te ajudar... se você me disser aonde está agora.”

“Você é patético!”

“Busque nos seus sentimentos, você sabe que eu falo a verdade.”

Rey tensionou, calando-se por um longo momento. Kylo sentiu medo gelar suas veias, céus, ele não podia perder controle da situação de novo.

“Rey.” Ele disse seu nome novamente, porque aquele era o seu nome, não importava o quão diferente ela estivesse em trajes negros e expressão fria, ela ainda era Rey e ela era sua. “Feche os olhos. Sinta. Por favor... Olha pra você.”

“Eu... eu...”

“Eu sei o que você está passando, mas acredite, nada do que ele ofereceu vale a pena isso. A escuridão está te machucando, querida...”

“Eu...” de perto, Kylo percebeu o exato momento que os olhos dela brilharam em lágrimas. “Eu estou sofrendo muito.”

“Eu sei.”

“Palpatine disse que vai me fazer forte, mas a dor...” Rey fitou as mãos próprias mãos, assustada. Pontos azuis faiscavam entre seus dedos. “Está me despedaçando, Ben...”

Sem hesitação, ele enlaçou os braços ao redor de seus ombros. Rey pareceu derreter em seu abraço, choramingando em seu peito.

"Shhhh"

"Ben!"

“Shhhh, estou aqui.” Ben beijou o topo de sua cabeça, acariciando seu cabelo. Por um momento, desejando soltar os fios que ela insistia em prender... Rey ficaria linda com uma trança real de Alderaan, ele acreditava.

“Eu não... sei o que... fazer...” ela soluçou. “Estão todos em risco...”

“Shhhh, estou aqui.” ele repetiu. “Não cometa o mesmo erro que eu, Rey. Não é tarde pra você.”

“E nem pra você!”

Ben quase sorriu, a fé dela trazendo calor para seu coração.

“Oh, Rey...”

"Ben..."

"Sim?"

"Não me deixe." a voz dela era pequena e trêmula, como uma criança perdida... como ele. "Quando você não está por perto... fica difícil raciocinar... eu... eu não sei..."

"Eu sei. Eu sei."

Ela assentiu, e o encarou, olhos castanhos esverdeados enormes e brilhantes e, céus, ela tinha sardas! Ben deve ter perdido a noção do tempo tentando conta-las porque no instante seguinte, Rey tinha os lábios colados nos seus pela segunda vez.

Medo. Raiva. Ligação.

Compaixão.

Ele a amava.

Segurou seu rosto e moveu os lábios sobre os dela desesperadamente. A conexão se encerraria, ele podia sentir. Não agora, por favor. "Ben." ela arfou entre o beijo, quase caindo; e ele passou o braço ao redor de sua cintura, a estabilizando.

"Não vou te soltar." ele sussurrou. Nunca, ele quis adicionar.

Ela abraçou seu pescoço e grudou seus lábios novamente. Ela... o queria.

Pela primeira vez, alguém o queria de verdade. A realização foi tão forte que Ben quase perdeu o ar de seus pulmões, revelando:

"Rey... você é minha, Rey." ele beijou seu rosto, beijou seu nariz, beijou sua testa, e beijou o seu queixo... ele a beijou com devoção em todos os lugares que conseguia alcançar e ainda não era o suficiente para expressar seu amor.

"Sim, sim."

Não, ela não entendia, não realmente. Ele quase sorriu, beijando sua orelha e sussurrando ali: "Você é a outra parte da minha alma, Rey."

"O que?"

E foi então que aconteceu.

O frio súbito, o chamado do lado sombrio, como uma sombra- 

e a conexão foi rompida como uma porta sendo batida com força.

"Não!" ele gritou, em vão. O corpo dela sumiu no ar. "Rey..."

Foi diferente dessa vez. Por um ano, Kylo analisou bem quando a Força os unia e os separava. Nada comparado com essa sensação, como a própria escuridão se aproximando. Ele sentiu o medo de Rey, seu desespero... e ele viu.

Darth Sidious. Palpatine. Imperador.

E avô.

Rey...