A Milésima versão de Crepúsculo escrita por TheFemme


Capítulo 6
Brian Swan


Notas iniciais do capítulo

Desculpe a demora, meu fim de semana foi corrido.
Apresentando meus primeiros personagens originais, acredito que serão os únicos.
Vamos ver um pouco como é a vida sem vampiros em Forks.



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— Jake, me passa a chave! – eu grito.

Eu estou deitado debaixo de uma Chevrolet Pick-up Truck, ano 1953, de cor vermelha ferrugem, que com certeza já viu dias melhores. Eu não sei quantas vezes já consertei essa porcaria – duas vezes apenas esse ano, e ainda estamos em março. Se essa caminhonete horrível não pertencesse á Jacob Black, que eu considero meu melhor amigo desde os seis anos de idade, eu teria o prazer de quebrar esse lixo em milhares de pedaços. Isso não é mais um carro, é uma relíquia. Devia estar num museu, ou num lixão.

— Aqui, cara. – Jacob se abaixa pra me passar a chave. – Tudo bem ai embaixo?

Está um frio de seis graus, mas estou cercado por cinco idiotas andando sem blusa e usando apenas shorts. Eu me sinto como uma aberração, usando casaco, calça e touca. Eu nunca vou entender como os quileutes não são afetados pelo frio, deve ser uma coisa de tribo, alguma genética maravilhosa passada pelo sangue.

— Estou congelando aqui. – eu respondo. – É bom você ter alguma coisa pra beber quando eu sair daqui.

Eu ouço Embry rir.

— São oito da manhã, cara. Você não pode ficar bêbado essa hora.

— São oito da manha e eu estou congelando minha bunda pra consertar o carro de vocês, então eu definitivamente posso. – resmungo, voltando á tarefa em minhas mãos.

Eu sei que posso fazer isso, não é ciência de foguetes. Sem querer me gabar, mas eu sou inteligente com uma chave de fenda na mão.

Eu não sou formado em mecânica. Eu nunca estudei com nenhum profissional. Tudo que eu aprendi foi vendo muitos vídeos na internet e baixando livros grátis – não é como se tivesse nenhum curso especializado em Forks, e eu definitivamente não podia pagar para aprender em Portland. Eu ainda tenho 17 anos, e meu pai é apenas o chefe de policia de uma insignificante minúscula cidade; o pouco que ele ganha é bom apenas para sustentar ele e seus dois filhos – eu e Bella. Mesmo que eu e Bella sempre arrumamos trabalho pra ajudar em casa, não é como se tivéssemos muito dinheiro – sempre.  

Então eu comecei a aprender sobre carros aos 14 anos, basicamente porque amava carros e, mais tarde, pra não gastar dinheiro pagando mecânico pra consertar minha moto de segunda mão – que eu comprei com muita dificuldade aos 16 anos, juntando dinheiro dos meus trabalhos de verão. Aparentemente, porque eu sabia trocar algumas peças, as pessoas de Forks pensavam que eu era um mecânico. Eu estava sempre recebendo pedidos para consertar algum carro, porque ninguém queria ir á Portland, o lugar mais próximo, para encontrar um mecânico real. Eu não posso reclamar – eu gosto de mecânica e eu amo carros, e eu ainda ganho um dinheiro de vez em quando para fazer coisas simples.

Essa droga desse carro dos quileutes, no entanto, eu já estou tão irritado de consertar isso. Eu já disse mil vezes á Jacob pra jogar essa lata velha no lixo, mas bem, não é como se eles tivessem dinheiro para comprar outro carro; somos todos adolescentes sem dinheiro por aqui. Os quileutes nem arrumam trabalhos de verão, porque obviamente eles são bons demais para se misturarem com as pessoas comuns de Forks.

Eu estou congelando ao sair de debaixo do carro. Meu humor melhora quando Jacob aparece com uma cerveja.

— Se seu pai descobrir sobre isso, eu não sei de nada. – ele fala antes de me entregar.

— Claro, cara.

Eu sei como Charlie é. Se ele descobre que eu estou bebendo, eu vou estar de castigo – mesmo que eu tenha 17 anos. Não é minha culpa se Charlie enche o freezer em casa de cerveja – graças á ele, eu comecei a experimentar aos 15 anos. Eu infelizmente não nasci como minha irmã Bella, que ama seguir regras.

Eu amo Charlie, mas eu odeio regras. Mesmo para quem não me conhece, suponho que minha aparência fale tudo. As pessoas em Forks me chamam “o rebelde”, “o delinquente”, “o garoto mau”, e aconselham suas filhas a ficarem longe de mim, apenas porque eu amo preto, eu amo heavy metal, eu amo piercings, e eu amo tatuagens. E eu detesto seguir regras.

Eu consegui piercings e uma tatuagem no verão passado, que eu passei com minha mãe Renée em Phoenix. Ela, como a mãe despreocupada que ela é, não se importou muito e até assinou pra eu conseguir a tatuagem. Charlie, no entanto, quase teve um ataque e me colocou um mês de castigo – eu ainda tinha 16 anos. Eu passei um mês sem conseguir ir á reserva fazer “coisas divertidas”, mas afinal, valeu a pena. O olhar no rosto das pessoas foi muito recompensador, enquanto cochichavam sobre o “filho delinquente de Charlie Swan”.

Forks é uma pequena cidade conservadora e reprimida, onde qualquer pequena coisa que seja diferente é visto como algo ruim. São pessoas de mente totalmente fechada, ao qual eu considero como minha responsabilidade desde a infância chocá-los o maximo possível – pela diversão, é claro, porque há pouquíssimas coisas divertidas em Forks.

Eu nasci aqui, mas pela minha vontade, eu teria ido com minha mãe quando ela saiu. É claro que uma Bella de sete anos de idade não queria sair da cidade onde ela nasceu e onde ela conhecia todos, então eu meio que fui obrigado a ficar, porque eu não queria que ela ficasse sem mãe e sem irmão aos sete anos de idade.  

Por tudo que eu possa detestar em Forks, há muitas coisas que eu amo. La Push é uma dessas coisas. Domingo é o meu dia favorito, afinal, porque Charlie me deixa ficar o dia todo com os quileutes.

Sempre há carros para mexer em La Push, e Emily é uma excelente cozinheira – nada contra a comida de Bella – e, claro, há a praia, que eu realmente só aproveito no verão, mas há jogos, videogames, e garotos da minha idade. Eu sou um garoto de 17 anos em uma cidade onde não há cinemas, bailes, baladas; eu tenho que me divertir como posso.

— Bem, isso está pronto? – Embry pergunta, batendo a mão sobre o capô vermelho da caminhonete.

— Vai dar pra rodar, mas se você bater nela novamente, talvez desmonte. – eu respondo.

A cerveja esta gelada, mas pelo menos traz um pouco de calor quando eu bebo. Eu nem quero saber onde Jacob arrumou isso – seu pai, Billy, é ainda mais rígido que o meu.

— O marido da Sra. Cooper deixou o carro dele pra você dar uma olhada na marcha. – Jacob me informa.

— Hoje? – eu suspiro. Está frio demais até para se mover.

— Sim. Você quer ajuda?

Os outros meninos não sabem diferenciar uma suspensão de uma mola, então eu tenho sorte de Jacob entender um pouco de carros.

— Claro. Mas se você continuar sendo tão legal assim, eu terei que casar com você, Jake. – eu brinco.

Ele ri.

— Cale a boca ou eu vou te bater, Brian.

Eu sei que a ameaça é vazia então apenas sorrio. Eu adoro provocar Jake.

Jacob Black é o adolescente mais bonito de La Push – claro que eu nunca admitiria isso pra ele. Apesar de usar o cabelo tão longo quanto o de uma garota, Jacob não é nada feminino; ele é musculoso, como todo quileute ele anda mais nu do que vestido, e é quase quinze centímetros mais alto que eu – ele cresceu como erva daninha nos últimos seis meses. Ele também é o meu melhor amigo de infância, então eu felizmente o aprecio mais por sua personalidade brincalhona e leal do que por sua aparência.

Jacob é um dos motivos pelo qual eu lamento não ser gay. Apesar de amar quebras as regras e deixar as pessoas escandalizadas, nem mesmo eu iria tão longe a ponto de fingir ser gay para chocar os cidadãos de Forks. É triste ser hétero em Forks, embora. Não há garotas interessantes – eu posso ser atraído sexualmente por algumas, mas eu não me sinto atraído romanticamente por nenhuma. Elas nem sabem diferenciar o rock do heavy metal. Enquanto há um monte de garotos legais em La Push, há apenas uma garota – Leah – mas se você valoriza suas bolas, você nunca tentaria chegar perto de Leah Clearwater. Ela é um pouco alérgica á meninos desde o ocorrido com Sam Uley – que eu sinceramente nunca entendi, exceto a parte que Sam largou Leah por Emily. A historia é antiga, então eu nunca tentei saber os detalhes. Os quileutes não gostam de fofocar sobre suas historias.

Então, a historia da minha vida é que eu sou um garoto de dezessete anos com muitos hormônios que só consegue se deitar quando vai visitar Renée em Phoenix, uma vez por ano. Embora as garotas de Forks mostrem interesse, eu não quero nenhum pai batendo na minha porta querendo que eu case com sua filha apenas porque transamos – como aconteceu com meus pais. Se você dorme com alguém em Forks, é quase certo que todos vão saber no dia seguinte. Então, enquanto as pessoas acham que eu estou dormindo com todas as garotas da escola, porque eu obviamente sou tão mau e delinquente, eu estou em celibato há mais de um ano. Seria engraçado, se fosse as bolas de outra pessoa ficando azuis em vez das minhas.

Sim, apesar de ser um garoto rebelde de dezessete anos, eu sou um garoto fisicamente normal de dezessete anos, o que significa, eu penso muito em sexo, embora eu não faça nenhum por aqui. Esse é mais um dos motivos pelos quais é horrível morar em Forks.

Por outro lado, tenho os amigos quileutes mais legais, então isso ajuda a tornar tudo suportável.

— Vamos ver o carro do Sr. Cooper. – eu decido ao terminar minha cerveja. – O que vamos fazer mais tarde?

— Estamos pretendendo ir á praia. – Jacob responde. Eu faço careta.

— Nesse frio?

Paul bate no meu braço.

— Não seja uma menina, cara.

— Vocês são loucos. – eu digo, mas depois de trocar a caixa de marcha do Sr. Cooper com a ajuda de Jacob, eu acompanho os meninos á praia. É uma caminhada de dez minutos.

Embry e Quil são da minha idade; ambos são muito parecidos com Jacob na cor da pele morena e cabelo igualmente escuro. Suas feições são bastante diferentes, no entanto. Onde Jacob vai, os dois geralmente estão juntos. Paul é mais velho, talvez 18 anos. Ele particularmente me irrita, e já tivemos brigas espetaculares quando mais novos, mas eu o tolero – quando ele mantêm sua boca idiota fechada. Os outros meninos tentam nunca deixar eu e Paul sozinhos. Seth é um garoto de 15 anos totalmente adorável. Eu sempre o vi como um irmão mais novo, então ele sempre está nos acompanhando. Como consequência, sua irmã Leah também anda conosco, para ficar de olho em Seth, para nós não o levarmos para um “mau caminho”. Hoje Leah deixou Seth vir sozinho, por milagre.

Leah é legal, se você tratar ela como um dos caras. Se você tratar ela como uma menina, ela vai te socar. Eu gosto particularmente dela porque também não tolera Paul, e ela consegue bater nele sem ele revidar – eu me alegro nesses momentos. Leah também entende de carros, então isso faz dela uma amiga.

Quil, Embry e Seth são meus amigos desde que éramos crianças e brigávamos por comida, brinquedos, por tudo.

Há também Sam e Jared, mas ambos não são adolescentes, então eles não andam conosco. Sam apenas aparece quando estamos discutindo – ele parece ter um radar para isso. A tribo quileute não é mais do que trinta pessoas. Eu conheço todos, desde que vivi grande parte da vida com eles, pois Charlie e Billy são grandes amigos.

A praia de La Push normalmente está vazia. Só os quileutes são loucos para ir á praia no frio de Forks. Hoje, no entanto, alguém já chegou antes de nós. É Adam Black, primo de Jacob. Apesar de ser da nossa idade, ele não anda conosco – porque Paul é um idiota, é claro. Eu trocaria Adam por Paul em qualquer dia, mas bem, eu tento ficar de fora das rixas dos quileutes.

— Aquela bicha está aqui. – Paul rosna, e eu tenho meia mente pra socar sua cara, quando Jacob entra na frente. Jacob é uma muralha, por mais que eu malhe tanto quanto ele, esse idiota tem uma força fenomenal. Isso nunca me impediu de bater nele, no entanto.

— Deixe, Brian. – Jacob fala. – Paul, cale a boca. Se você não quer ficar, você sai.

— Você está defendendo esse imbecil?

— Adam é meu primo, Brian meu melhor amigo. – Jacob retruca. – Você? Não é minha família.

Paul se afasta resmungando. Ele sabe que ele não pode bater de frente com Jacob – Quil e Embry sempre estão do lado de Jacob, e eu também. Por sorte, eu não consigo entender nada do que Paul diz. Eu não sou tão controlado quanto Jacob.

— Você deveria me deixar socar esse idiota. – eu reclamo com Jake.

Ele suspira.

— Ele vai te machucar pior do que você á ele.

Eu não nego; eu sei que Paul tem uma força infernal. Faz um tempo que eu não consigo vencer Paul numa briga, mas isso não me impede de tentar.

— Pelo menos eu ia ter a satisfação de socar ele. – respondo.

— E Charlie vai te deixar de castigo. – zomba Jacob. – Relaxa, cara. Paul é um cachorro que só late.

— Eu gostava mais de você quando você me ajudava a bater nos outros. – eu resmungo, empurrando Jacob de leve. Ele ri.

Havia um tempo em que Jacob seria o primeiro a pular para uma briga, mas ele está mais tranquilo depois dos dezessete.

Eu sento numa pedra para observar os meninos entrarem na água congelante. Eu tenho que ficar de olho para nenhum deles me molhar “por acidente”. Principalmente Paul. Da ultima vez que ele fez isso eu soquei seu nariz, quase quebrei a mão e fiquei duas semanas sem poder ir á reserva.

Seth senta ao meu lado, obviamente não animado pra entrar na água. Ele também esta usando um casaco, o que me alivia. Eu não sou o único estranho aqui.

— Brian irmão... Você furou a orelha de novo? – Seth observa.

— Sim. Ficou legal? – Eu fiz o quarto furo na minha orelha direita em casa. Charlie ainda não percebeu; graças a Deus ele é tão desatento.

— Legal. – Seth diz, mas seu olhar diz diferente. Eu sei que ele não quer dizer nada mal então sorrio. – Não doeu?

— Um pouco. – respondo então dou meu olhar mais serio á Seth. – Nem pense em fazer algo assim; sua irmã vai me matar.

— Eu não vou fazer! – Seth promete. Eu nunca vou esquecer o dia que Seth tentou furar a orelha sozinho, porque ele achava meus brincos legais; Leah me deu um soco.

— Bom. – eu digo. – Quando você for mais velho, você pode fazer tudo que queira.

— Até namorar com garotas brancas? – Seth pergunta, preocupado.

— Qual o problema das garotas brancas? – eu pergunto, embora eu já sei onde isso esta indo.

— Os anciões dizem que não devemos nos misturar com garotas brancas. – Seth sussurra, como se fosse um segredo.

— Bem, os anciões são idiotas. Com quem você vai namorar, então? Leah? Clare?

Seth faz uma careta.

— Eca! Clare tem 2 anos, irmão!

— Então, você vai ter que namorar uma garota branca, eventualmente. Não ligue para o que esses velhos dizem, Seth. Você é o dono do seu futuro.

Eu não sei como os meninos conseguem viver assim, sendo dito o que fazer e o que não fazer por esses velhos chatos. Na escola, os quileutes não falam com ninguém a não ser que sejam obrigados. As únicas pessoas “brancas” com os quais eles se misturam é Charlie, Bella e eu. É uma tradição ridícula e racista, na minha opinião. Eu gostaria de ser um quileute, apenas para quebrar todas aquelas regras idiotas e dar um ataque cardíaco aqueles velhos.

— É fácil para você dizer. – Seth resmunga. – Você apenas faz o que você quer.

— Nem sempre. Ás vezes você tem que fazer coisas que você não quer pelas pessoas que você ama. – eu digo. Como não ir para Phoenix por causa da sua irmã, eu penso. Eu gosto de Phoenix; a liberdade, o sol, o calor, é maravilhoso. As meninas também. Mas eu sei que não poderia ser feliz sem Bella, sem Jacob, Seth, Quil, Embry, Charlie... Eu espero que todos nós possamos sair juntos para a faculdade, no entanto.

Eu observo os meninos brincarem na água, – mais como brigarem – um derrubando o outro por um tempo. Eu bato palmas quando Jacob derruba Paul. E agradeço mentalmente por não estar lá. A ultima vez que eu brinquei com esses meninos eu consegui uns hematomas sérios. Eu não sei que tipo de anabolizantes secretos os quileutes tomam, mas caramba, eles são fortes.

Adam continua no lugar onde estava, sentado na areia. Ele nunca se aproxima de nós.

— Eu vou falar com Adam. – aviso á Seth. Ele pula imediatamente.

— Eu também vou!

— Você não esta indo falar com ele só porque eu estou, ne?

— Claro que não! Eu sempre falo com Adam.

— Bom.

Adam é primo de Jacob, é tudo que sei por que ninguém fala sobre sua historia, ou porquê ele veio morar na reserva há apenas dois anos atrás. Ele é um tanto... singular. Acredito que ele seja o único que consegue ser mais fora do padrão Forks do que eu. Ele tem o cabelo preto e longo, mais do que o de Jacob. As semelhanças terminam ai. Ele tem a pele mais clara do que os outros meninos (segundo rumores seu pai não é quileute), tem um rosto muito bonito, e ele usa maquiagem, e umas roupas quase femininas... Então, sim, Adam consegue ser um pária tanto na sua tribo quanto para as pessoas gerais de Forks. As coisas mais suaves que ouço falar sobre ele é que ele é doente mental e louco. Eu apenas acho que ele é tremendamente corajoso.

— Hey, cara. – eu cumprimento quando me aproximo.  

Adam levanta o rosto e sorri ao nos reconhecer. Ele está fazendo um colar de conchas, como os que Jacob costuma fazer.

— E ai Brian. Oi, Seth.

Adam também não usa casaco. Malditos genes quileutes.

— Você não esta congelando? São como seis graus. – eu observo.

— Você sabe, somos resistentes ao frio. – é o mesmo que todos dizem.

Seth obviamente não tem essa resistência, mas eu não comento.

— O que você está fazendo? – eu pergunto, embora eu já saiba.

— É um colar tradicional da tribo. – Seth responde. – É muito bonito, Adam. Posso fazer um?

— Eu também quero fazer. – eu digo. – Jacob nunca me mostrou como se faz.

Adam sorri.

— Tudo bem. Mas você precisa catar conchas, eu não tenho muitas.

— Okay. – eu concordo, já me abaixando para procurar. – Então, já que você esta gastando seu domingo catando conchas, você já fez sua redação de Historia?

Adam está em algumas aulas comigo, porque ele é avançado em algumas matérias.

— É claro. – ele assente.

— Você é tão irritantemente inteligente. – eu suspiro.

Adam ri. Ele é um garoto muito legal quando você conversa com ele.

— Você também é inteligente, nas coisas que você gosta. – ele responde.

— Sim, eu sou bom em musica e em consertar carros, mas isso não serve pra escola. – eu reclamo.

Eu estou distraído procurando as conchas mais bonitas, porque quero fazer um colar para Bella, quando uma mão gelada agarra meu pescoço. Eu dou um pulo.  

— Porra, Jacob!

Eu não escutei o idiota se aproximar.

— Cara, você não pode xingar perto de Seth. – Jacob zomba. – Você quer apanhar de Leah?

— Volta aqui, seu idiota. – eu corro imediatamente para perseguir Jacob.

Correr na areia é uma merda, eu provavelmente vou voltar pra casa com o tênis cheio de areia, mas bater na cara de Jacob vai valer a pena. Com certeza.

(...)

Eu tomo banho na casa de Jacob, afinal não apenas meus sapatos, mas toda minha roupa e cabelo ficaram cheios de areia. O que era uma perseguição acabou se tornando uma guerra de areia, na qual os outros meninos também se envolveram. Foi muito divertido, embora pareça que eu sempre estou em desvantagem contra esses meninos. Eu preciso malhar mais.

Por sorte, eu tenho muitas roupas deixadas na casa de Jacob.

Ás cinco horas eu mando mensagem para Bella, perguntando se ela está pronta para ir pra casa – ela está na casa de Ângela fazendo trabalhos da escola – mas ela responde que precisa de mais meia hora, então eu me jogo na cama de Jacob para esperar.

Eu finjo que não vejo Jacob olhar lamentavelmente pro seu celular – essa expressão que ele tem sempre que Bella não pode vir. É triste essa paixão que ele tem por Bella desde a infância, porque não há ninguém mais desatento do que minha irmã – ela herdou isso de Charlie. Ela nunca vai perceber que Jacob gosta dela se ele não falar.

— O que você estava falando com Adam? – Jacob pergunta de repente.

— O que, você está com ciúmes do seu primo? – eu provoco.

— Idiota. – Jacob joga a primeira coisa que ele vê em mim; uma revista. – Ele apenas não costuma conversar com ninguém.

Eu abro a revista – é uma sobre carros, claro. Uma que eu dei pra Jacob.

— Ele só estava me ensinando a fazer um colar de conchas, antes de você chegar e estragar tudo. – eu respondo.

— Pra quem você quer dar um colar? Isso é tradição da tribo. Você detesta nossas tradições.

— Dane-se as tradições, o colar é bonito. Eu quero fazer um para Bella.

— É um colar de namoro, você é idiota? – Jacob me olha com exasperação.

Eu rio.

— Pra mim é apenas um colar; eu não sou quileute, lembra? Suas tradições não significam nada. Mas, quando você vai dar um desse pra Bella?

É muito fácil fazer Jacob corar. Apenas é difícil saber quando ele está corando, sua pele é um ótimo disfarce.

— Brian! – ele geme. – Eu e Bella não somos assim.

— Você é estúpido Jake. Daqui a pouco vai aparecer algum garoto bonito e fisgar Bella, e você vai ficar reclamando pra sempre no meu ouvido. Você sabe, eu prefiro ter você como cunhado do que qualquer garoto estúpido.

— Charlie disse que Bella só pode namorar com dezoito anos. – lembra Jacob e eu reviro os olhos.

— É pra isso que existem os namoros escondidos, cara.

— Você realmente ta me apoiando namorar escondido com sua irmã?

— Com certeza. – eu levanto o polegar pra ele. – Eu totalmente te cubro, cara.

— Você é totalmente incorrigível, Brian Swan.

— Argh, você me dá arrepios falando como Charlie. – eu suspiro, então largo a revista na minha cara. – Eu apenas não quero que Bella namore algum idiota. Você é perfeito pra ela, Jake, mas você precisa tomar uma atitude, cara.

Eu ouço Jake suspirar como se estivéssemos falando de Romeu e Julieta e não de dois adolescentes apaixonados.

— Não é assim tão simples quando você é um quileute. – ele fala.

Eu sento na cama rapidamente.

— O que? Esses velhos estão te impedindo de namorar minha irmã porque ela é branca? Eu vou falar com eles. – Mais como gritar na cara deles.

Jacob ri.

— Você, absoluto incorrigível, pare de procurar problemas. Eles não me podem me proibir de namorar ninguém. Quando eu estiver pronto eu vou falar com Bella.

— Okay. Mas não demore muito. Ela pode se apaixonar por esse idiota do Mike Newton, então eu vou ter que me matar.

Jacob ri e eu estou feliz. Eu não sei qual tipo de problema Jacob passou aos 16 anos, porque ele apenas diria “problemas da tribo” quando eu perguntava, mas ele estava sempre tão irritado, e desanimado, e querendo brigar com todos. Eu estou feliz porque ele está cada dia mais tranquilo e relaxado, e parecendo com o Jacob que eu conheci toda minha vida.

— Eu tenho que pegar Bella. – eu aviso, levantando.

— Vamos á Portland no próximo domingo? – Jacob sugere.

— Claro, se essa caminhonete velha aguentar. – eu sorrio. – Você pode ir com Bella de carro, eu vou de moto.

— Nah, você vai gastar muito combustível. Vamos juntos.

Eu suspiro. Eu não sei quem é mais devagar, ele ou minha irmã.

— Desse jeito você vai ser virgem até os 30 anos, Jacob Black.

Ele ri, o idiota.

— Te vejo amanhã na escola, cara.

— Okay.

Montar na minha Harley é uma das melhores sensações. Eu amo isso, a velocidade, o vento no rosto, o perigo. Jake diz que eu amo o perigo, e bem, é verdade. A coisa mais radical que eu posso fazer, no entanto, é pular de penhascos e dirigir uma moto, então eu faço isso.

Jake diz “tenha cuidado” quando eu saio, mas nós dois sabemos que eu vou quebrar alguns limites de velocidade – não é como se tivesse radares em Forks. Eu uso o capacete, no entanto. Eu tenho um desejo por adrenalina, não um desejo por morte.

Eu levo um capacete extra para Bella, porque eu nunca me perdoaria se algo acontecesse com ela, e eu dirijo consideravelmente mais devagar para casa. Toda a viajem não leva dez minutos – Forks é tão pequeno.

— Chegamos! – eu grito ao entrar em casa.

Charlie está na sala assistindo TV. Ele desliga quando nos vê entrar.

— E ai? Fizeram coisas divertidas? – ele pergunta.

— Eu estudei o dia quase todo, e depois vimos um filme. – Bella responde.

— O de sempre. – eu digo. – Brincando com carros, correndo na praia.

Charlie me lança um olhar desconfiado – eu não o culpo por não confiar plenamente em mim.

— Você não estava pulando o penhasco outra vez, né garoto?

— Claro que não. Sam disse que eu não posso mais, lembra?

— Bom. – Charlie aprova. – Isso é muito perigoso.

— Eu vou fazer a janta. – Bella anuncia. Ela nunca é de conversar muito, tal como Charlie.

— Eu vou ajudar. – eu digo, principalmente para fugir do questionamento de Charlie. Eu subo pra jogar minha mochila na cama e desço novamente. Bella já esta cortando o frango.

— E ai? – eu pergunto.

— Você pode fazer o arroz. – ela fala.

— Okay. – concordo, já me movendo para a despensa. – Os meninos sentiram sua falta.

Mais como Jacob sentiu, mas eu sou um amigo muito bom para entregar ele assim.

— Você explicou porque eu não poderia ir, certo? – Bella pergunta.

— Claro.

— O que vocês fizeram?

— Consertei aquela lata velha de novo. Eu juro que se aquilo quebrar de novo eu vou queimar. Fomos á praia e depois jogamos videogames.

— Que bom que você se divertiu. – Bella sorri. – Você é quase um quileute já.

— O que? Deus me livre. – eu rio. – Eles tem tantas regras estúpidas, como eu poderia?

Nós continuamos preparando a janta, eu cantarolando uma musica e Bella em silencio. Charlie está assistindo o jogo outra vez.

Nossa casa é muito silenciosa. Eu detesto o silencio. Eu sempre ligo o som o mais alto possível, com as musicas mais insanas possíveis. Charlie apenas proíbe o som alto á noite, então eu tenho fones de ouvido para isso. Eu fico imaginando como seria se fossem apenas Charlie e Bella nessa casa – os dois não conversam. Ambos tem dificuldade em manter uma conversa normal, há longos silêncios entre os dois que eu sempre preciso preencher. Eu não me arrependo de não ter ido com Renée, afinal. Essa casa seria fúnebre sem minha presença maravilhosa.

— Você fez os seus deveres de casa? – Bella me pergunta, com um olhar conhecedor.

Eu sorrio de maneira que eu espero que seja inocente.

— Quase todos.

— Brian! Você quer ser reprovado outra vez? – Bella repreende.

— Eu não vou reprovar, porque eu tenho uma irmã maravilhosa que sempre me ajuda. – eu digo carinhosamente, abraçando Bella. Ela sempre cai nessa.

— Bem, eu vou ajudá-lo, mas você não pode deixar seus deveres de casa pra fazer na ultima hora.

— Sim, mamãe. – eu sorrio, beijando a bochecha de Bella quando ela se distrai. Ela detesta quando eu faço isso.

— Brian!

— Não seja tão má, eu amo você muito. – eu digo, impedindo ela de me bater.

— Você é tão manipulador. – Bella resmunga, mas ela esta sorrindo e desiste de me bater.

— Você está tão aliviada de eu não ter deixado você aqui sozinha, admita. – eu provoco.

— Se você realmente quiser ir para Phoenix, você sabe, você pode... – Bella tenta ser altruísta, mas eu conheço ela muito bem. Ela chorou por uma semana a ultima vez que eu fui passar o verão com Renée, segundo Charlie.

— Yah, como você poderia viver sem o seu irmão maravilhoso? Você não vive sem mim. Se eu for, você vai ligar para mim chorando... AH!

 Ela me acertou com a colher de pau. Eu estou mais divertido do que com dor.

— Pare de brincar. Pegue seus cadernos pra gente fazer os trabalhos enquanto a comida cozinha.

— Okay. – eu concordo, então subo novamente para buscar meus trabalhos. Há três que eu ainda não fiz (na verdade, eu só fiz um).

Bella é muito boa para mim, então sim, eu estou acostumado a depender dela pra me ajudar com meus trabalhos. Nós sentamos na mesa e ela suspira ao ver as tarefas.

— Você é tão inteligente. Porque você não fez isso?

Eu sou sincero:

— Não é divertido.

Pelo olhar de Bella, ela quer me dar um tapa novamente.

— Nem tudo na vida é divertido. Você precisa se dedicar mais aos estudos, Brian.

— Certo. – eu concordo.

— Eu estou falando serio.

— Okay, mãe. – Eu estou sorrindo. Eu e Bella nunca brigamos. Embora ela se irrite comigo, eu sempre brinco de volta, e ela acaba sorrindo. Mas quando ela fala serio, eu sei que preciso escutar. O fato dela ser mais nova que eu não muda o fato de que Bella tem uma mentalidade mais velha que a minha. Ela é quase uma mãe.

Bella é, desde criança, muito responsável, muito preocupada com tudo, muito adulta. Somos totalmente diferentes. Enquanto ela quase nunca se diverte, eu quero sempre estar se divertindo. Enquanto Bella ama as responsabilidades, eu amo ser irresponsável. Pra mim, viver como Bella não seria viver. Ela segue as regras, ela obedece, ela é responsável. Eu adoeceria se vivesse um dia da minha vida como minha irmã.

Na aparência, não somos tão diferentes. Somos pálidos, tínhamos o mesmo cabelo antes de eu pintar o meu de vermelho, e eu sou apenas um pouco mais alto que Bella. Eu malho, então isso me deu algum corpo, enquanto Bella é magra. Se eu tirasse os oito piercings da orelha, os dois da boca, do nariz e da sobrancelha, eu seria bastante parecido com ela ainda. Mas na personalidade, somos totalmente diferentes.

Eu sou o filho que dá dor de cabeça, Bella é a filha exemplar.

— Comece pesquisando isso, eu vou fazer um rascunho pra sua redação de História. – Bella fala e eu concordo.

Nossa noite é tranquila, apenas fazendo trabalhos, escrevendo até minha mão doer – porque Bella é tão má e me fez revisar toda a redação. Eu sei que sou inteligente, eu sei que consigo fazer, mas essas coisas são tão desinteressantes pra mim. Eu me esforço pouco, eu sei. Ainda consigo boas notas, graças á Jake e Bella que não me deixam atrasar os trabalhos. Mas estudar não é realmente minha coisa favorita nessa vida. Eu estou imensamente aliviado quando termino.

— Muito, muito obrigado, você é a irmã mais maravilhosa, mais gentil, mais generosa do mundo inteiro! – eu agarro Bella num abraço apertado quando nós terminamos.

Eu sou extremamente afetuoso; Bella e Charlie são tão sentimentais quanto uma porta.

— Sim, sim, você pequeno trapaceiro. – Bella repreende mas ela me abraça de volta.

— Eu estou mentindo? Você é a melhor irmã do mundo.

— Bem, que bom que você reconhece.  

— Claro que eu reconheço; Bella é a melhor.

O jantar seria um evento muito quieto, se eu não insistisse em perguntar á Charlie como foi a pesca dele com Billy, como foi o jogo de basebol que ele estava assistindo. Eu aproveitei para falar dos carros que eu havia consertado, porque é claro que eu falava de carros em qualquer oportunidade que aparecesse. Charlie gosta de falar de carros, embora ele entenda muito pouco do funcionamento deles. Eu falo e falo, porque o silencio é chato.

Ás 21h é hora de ligar para Renée. Eu e Bella falamos com ela todos os domingos, religiosamente, desde os sete anos de idade. Quando esquecemos de ligar, ela nos envia um milhão de emails.

Renée queria saber tudo sobre a nossa semana, o que eu havia aprontado, o que Bella havia feito. Eu conto apenas as partes boas, eu nunca quero deixar ela preocupada. Bella nunca menciona se eu fiz algo de errado, porque ela é verdadeiramente a melhor irmã do mundo. E não é como se eu estivesse aprontando, a ultima loucura que fiz foi pular do penhasco em La Push. E bater em Paul. E beber cerveja essa manhã, claro, mas nada muito terrível. Eu estou sendo tristemente comportado esse ano, porque eu não quero dar á Charlie um ataque ou deixar Bella chateada novamente. Eu sou um delinquente comportado.

Depois de falar com Renée, e ouvir sobre a semana agitada dela – ela sempre esta fazendo loucuras, e eu herdei isso totalmente dela – eu deito e coloco meus fones de ouvido. Estou ouvindo minhas musicas favoritas do Slipknot, como eu sempre faço, até o sono chegar.

Amanhã será outro dia de aula, chato e previsível como tudo em Forks – a menos que eu faça coisas imprevisíveis, é claro. Só eu posso agitar esse lugar, aparentemente. Pelo menos Jake e os outros meninos estarão lá, e isso tornará tudo mais suportável. Se eu não tivesse meus amigos para perturbar, esse exílio seria terrível.

Eu durmo rapidamente, apenas desejando que fosse domingo outra vez. Eu amo domingos. Domingos são os melhores dias.


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Notas finais do capítulo

Quero saber o que acharam.
Beijos, e até logo!



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