A Milésima versão de Crepúsculo escrita por TheFemme


Capítulo 12
Adam Black


Notas iniciais do capítulo

Voltei com mais Adam/Alice. Boa leitura.



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POV Adam

— O doutor vai receber você agora. – a enfermeira me diz, com um sorriso muito amigável.

— Obrigado.

Eu entro na sala sem olhar o nome na porta e então estou um pouco surpreso quando vejo quem está sentado á mesa. Não é o doutor Lewis que está atrás da mesa. É um doutor com aparência jovial, pele muito branca e cabelo loiro. Eu nunca o vi.

— Sr. Black. – ele levanta os olhos do papel e então eu tenho uma sensação de familiaridade; os olhos dele são dourados. – Olá, eu sou o doutor Carlisle Cullen. Você pode fechar a porta e sentar, por favor.

— Ai droga. – isso sai sem querer.

Cullen. Como o pai adotivo de Alice? Os olhos definitivamente são muito parecidos, o que não faz muito sentido, desde que Alice é adotada. Bem, há muitas coisas sobre Alice que não faz sentido. O doutor Cullen também tem uma pele extremamente pálida.

Eu fecho a porta e então sento na única cadeira em frente ao doutor, ainda surpreso.

— O que aconteceu com o Dr. Lewis? – eu pergunto.

— Ele assumiu o laboratório recentemente, então eu serei seu médico a partir de agora.

— Você tem uma formação em Psicologia? – eu duvido. Eu estou chocado demais para ser educado.

— Na verdade, sim.

— O seu crachá diz médico cirurgião. – eu observo e ele sorri educadamente. Seu sorriso também me lembra muito de Alice.

— Eu também sou cirurgião, mas o centro de cirurgia é um tanto escasso de pacientes, então estou suprindo a falta de outros médicos.

Ele tem palavras bonitas para dizer que ele é o único médico em Forks, com exceção do Dr. Lewis. Isso faz sentido, mas eu sou obrigado a gostar, eu já estou acostumado a ser tratado com o Dr. Lewis. Ele é o meu medico há dois anos.

— Eu já estou a par de todo seu histórico médico, por isso queria encontrá-lo o mais rápido possível. – o doutor Cullen continua tranquilamente. Ele tem uma voz muito suave, que é outro traço compartilhado com Alice. – Você foi diagnosticado com transtorno depressivo persistente aos 15 anos. Você esta sendo tratado com antidepressivos por dois anos.

— Sim. – eu concordo.

— Você tem observado alguma melhora?

— Sim. – minto.

O olhar do Dr. Cullen é muito penetrante. Eu espero que ele não possa dizer que eu estou mentindo. Eu não posso exatamente explicar porque os remédios deixaram de fazer efeito.

— Eu quero pedir para refazer os seus exames de sangue e endócrinos.

— O que?

Isso não esta acontecendo.

— Já faz mais de um ano que você não faz os exames de rotina. – o doutor explica. – Podemos marcar para ser realizado essa semana?

— Não, não essa semana. – digo, um pouco desesperado.

O doutor me olha com seus olhos penetrantes.

— Na outra semana? – ele pergunta.

— Sim, na outra semana. – digo, fingindo concordar. Eu não estou chegando perto de uma sala de exames de maneira nenhuma. Só Deus sabe o que pode aparecer de errado no meu exame de sangue.

— Tudo bem, vamos marcar para segunda-feira, ás 8h. – o doutor Cullen diz. – Você deve estar em jejum de 12 horas.

Eu tento não rir. Certo, como se eu conseguisse ficar todo esse tempo sem comer. Eu concordo com tudo e me despeço do doutor Cullen. Ele é muito educado e agradável, mas eu não poderei voltar á consulta com ele.

É um domingo nublado la fora, com chuva fina e constante durante todo o dia. Nem parece que foi apenas ontem que eu vi o sol. E Alice Cullen. Alice é como um sol, com sua personalidade alegre e borbulhante. Um pouco estranha também, mas bem, ninguém é perfeito. Alice parece ter muitos segredos, e eu sinceramente estou um pouco curioso, mas eu entendo melhor do que qualquer um sobre segredos que você tem e não pode contar á ninguém – mesmo que as vezes você queira falar. Alice tem segredos, eu também, então acho que teremos que conviver com as partes estranhas um do outro. Eu não perco meu tempo imaginando porque Alice não pode sair no sol, ou porque ela tem esses momentos estranhos onde parece sonhar acordada. Ela deve ter motivos para não falar sobre isso, e bem, eu estou internamente feliz por isso, porque eu já estou sobrecarregado com o peso do meu próprio segredo todos os dias. Eu não posso lidar com muitos mais. E agora eu não tenho mais antidepressivos para ajudar, não sei exatamente como será. Se eu tiver que fazer exames para conseguir remédios, eu estou vivendo sem remédios a partir de hoje.

Eu não sei se devo falar sobre minha depressão com Alice. Nós temos uma amizade definitivamente diferente, e nos tornamos próximos rapidamente, mas eu ainda não sei até que ponto eu deveria desabafar com ela. E se ela me achar estranho? Quero dizer, eu sei que eu sou estranho de certa forma, mas eu quero dizer, muito estranho...

— Argh, isso é muito confuso! – suspiro. Felizmente ninguém esta por perto para me ver falando sozinho.

Amizades são muito confusas. Amizades com meninas são ainda mais confusas. Eu gostaria de poder falar de tudo com Alice, mas é difícil para mim, principalmente porque eu estou acostumado a não falar sobre nada com ninguém. Você não deve contar seus problemas ás pessoas, certo? Os seus problemas são os seus problemas. Eu suponho que eu terei que esperar para ver como essa amizade irá progredir. Ser amigo de Alice é diferente de ser amigo de Leah, e ser amigo de Leah é diferente de ser amigo de Brian. Cada amizade é diferente. Amizades são complicadas.

Eu olho ao redor, observando se há alguém me olhando. Aparentemente não há ninguém me observando, então eu entro na orla da floresta. Eu ando por dez minutos floresta á dentro, para estar seguro, antes de começar a tirar a roupa. Essa é uma parte muito complicada de ser um lobo. Inicialmente eu amarrava minhas roupas em algum lugar do corpo, mas com o tempo eu aprendi que é mais fácil levar uma bolsa, enfiar tudo na bolsa e carregar a bolsa na boca. É muito constrangedor amarrar uma cueca na sua perna, mesmo que ninguém me veja. Eu coloco os sapatos por ultimo dentro da bolsa, e então quando vou esticar meu corpo e transformar, eu sinto algo frio tocando meu peito e olho para baixo. Oh droga, o cordão de Alice. Eu adoro pulseiras, cordões e brincos, mas eu aprendi bem cedo que é inútil usar isso quando você é um lobo. Eu tiro do pescoço o cordão e guardo também na mochila, eu definitivamente vou me arrepender se eu arrebentar isso no primeiro dia que estou usando. Finalmente livre de todos os acessórios, eu me concentro em mudar. A transformação felizmente é muito rápida e eu não sinto dor – eu imagino que deve haver uma liberação de endorfinas absurdas pra alguém não sentir a dor de seus ossos e nervos mudando. A parte cientifica de ser um lobo me deixa curioso, mas não é como se eu pudesse pedir alguém para estudar isso.

Eu agarro a bolsa na minha boca grande e corro em direção á reserva. Eu tento ouvir o maximo possível tudo ao meu redor. Mesmo em meio á floresta, eu já tive que me esconder de andarilhos fazendo trilha. Eu sou muito cuidadoso quando estou transformado.

Eu corro muito rápido. Isso é um bônus de ser lobo. Se eu não estivesse com tanto medo de ser descoberto, eu definitivamente passaria muito tempo correndo. É muito libertador.

Eu estou quase chegando á reserva quando ouço um som.

— Ei, é você, Seth?

Parece com a voz de Jacob. Eu paro, tentando ouvir de qual direção Jacob esta falando. Eu não consigo ouvir nada.

— Seth? Você finalmente transformou, cara?

Eu estou assustado, então eu volto á minha forma humana rapidamente.

— Que droga? – Jacob não está por perto. Eu estou ficando louco?

Eu visto minhas roupas rapidamente, então vou para casa o mais rápido possível. Eu vejo Brian e Bella chegando de moto, como todo domingo eles vem á reserva.

— E ai, Adam. – Brian cumprimenta. – Estamos assistindo filmes hoje, você não quer vir?

— Não, obrigado Brian. Eu vou estar um pouco ocupado. – Lavando roupas e estudando.

— Okay, cara. – Brian cede, mas então me olha mais um pouco. – Você esta bem? Você esta pálido.

— Você já viu a minha cor? Eu não posso estar pálido, cara. – respondo, imaginando que Brian esta brincando.

— Bem, você parece pálido pra mim.

Eu balanço a cabeça.

— Eu estou bem. Passe mais tarde lá em casa para conversarmos. – digo para tranquiliza-lo, então corro para casa. Eu fecho a porta ao entrar e então desabo no chão mesmo. Que porcaria é essa? Eu estou ouvindo vozes agora? Eu estou ficando louco?

Eu respiro fundo um pouco para me acalmar, assim como o Dr. Lewis me ensinou quando eu tivesse uma crise de pânico. Eu não tenho crises de pânico há meses, mas eu poderia estar perto de uma agora.

Quando finalmente consigo respirar normalmente, eu levanto e começo a separar as roupas para lavar, como faço todos domingos. Entre estender roupas e começar a estudar eu consigo me acalmar totalmente o suficiente para decidir que eu devo ter imaginado coisas. O estresse de estar guardando um segredo há tanto tempo deve estar me alcançando.

Eu pego meu celular para verificar, e sim, há uma mensagem de Alice. Nós estamos trocando mensagens há alguns dias já, e bem, eu gosto disso.

“Oi. Você já voltou do hospital?” ela enviou.

“Sim, estou em casa”.

Eu olho para meus novos livros, e então desejo estar de volta à Port Angeles com Alice. Era quase normal aquilo, sair para fazer compras com uma amiga. Seria assim ter uma vida normal? Parecia bom. Mas se minha vida não tivesse virado de cabeça para baixo e eu não tivesse sido exilado em Forks eu provavelmente não conheceria Alice Cullen.

Alice é uma boa amiga. Então eu lembro daquele momento quando ela estava colocando o cordão no meu pescoço e eu não tenho certeza se amiga define isso bem. O cheiro de Alice tão perto de mim e sua boca… Aquele momento foi quando eu percebi que eu tinha sentimentos por Alice alem da amizade.  Eu tenho medo de pensar em Alice, no entanto. Eu tenho medo de estar muito á frente de mim mesmo e confundindo a nossa amizade com outra coisa. Eu gosto de Alice e posso estar me apaixonando por ela, mas eu não quero estragar nossa amizade.

Quando Jacob bate á porta á noite, eu estou um pouco surpreso. Jacob não costuma fazer visitas. A gente se dá bem, conversamos, mas não somos exatamente grandes amigos.

— Brian disse que você não parecia bem mais cedo. – ele fala, em tom de explicação.

Eu abro a porta para deixá-lo entrar.

— Eu estou bem. Você quer beber alguma coisa?

— Não, obrigado.

Jacob senta no sofá e eu sento no chão, curioso sobre o motivo real de Jacob estar aqui. Ele está me olhando de forma estranha.

— Então, você estava fora da reserva hoje? – ele pergunta.

— Eu fui ao médico.

— Você foi á pé e voltou á pé?

Eu sinto meu coração perder uma batida. Eu estou começando a desconfiar para onde essa conversa esta indo e eu estou instantaneamente nervoso.

— O que você quer, Jacob? – questiono, tentando me manter calmo. – Porque você esta aqui me fazendo perguntas de repente?

Jacob não recua. Eu não imaginei que ele faria. Eu só quero acabar com isso rápido.

— Você sabe o que eu estou perguntando. – ele rebate. – Era você, mais cedo?

— O que era eu? – questiono, verdadeiramente confuso.

— Você estava transformado. – ele afirma, com total certeza.

Eu estou um pouco chocado por Jacob estar falando sobre isso como se estivesse falando sobre algo normal. Meu primeiro instinto é negar, mas eu acho que isso não adiantaria, á essa altura.

— Como você sabe que era eu? – questiono.

— Bem, eu pensei que fosse Seth, porque era uma voz que eu não havia escutado antes, mas fui ver Seth e ele não transformou ainda.

— Como você me ouviu?

— Na minha cabeça, é claro. Você não escuta ninguém quando transforma? – ele pergunta, soando como se eu fosse o estranho, por não ouvir vozes.

— Eu nunca tinha escutado ninguém. – admito.

— Que sorte a sua, cara. Quando estamos na forma de lobo, podemos ouvir os pensamentos uns dos outros.

Isso é novidade.

— Isso parece horrível. – digo com sinceridade.

— Bem, é. Mas desde quando você transformou? Porque você não disse nada?

Dou de ombros:

— O que você queria que eu dissesse? Eu pensei que eu era o único.

— Deve ter sido uma droga transformar sem saber de nada. Foi assim pra mim também, mas Sam logo me explicou tudo.

— Quando você transformou?

— Aos 16. Você?

— Sim, mais ou menos isso.

Eu nunca imaginei que seria tão fácil falar sobre isso com alguém. Jacob não parece nem um pouco perturbado pelo assunto.

— Que droga. Mesmo sendo mestiço você herdou a maldição dos quileutes. Sam tinha certeza que você não iria transformar.

— Maldição?

Jacob dá de ombros.

— Parece uma pra mim. Você deve estar curioso sobre muitas coisas.

Bem, há uma pergunta que me preocupa mais do que todas as outras.

— O que nós somos?

— Os anciãos dizem que somos hospedeiros dos espíritos dos lobos. Eu acho que somos geneticamente anormais, uma espécie completamente diferente da humana. Você decide o que quer pensar.

— Você fala de ser lobo como se fosse algo normal.

— Eu tive tempo para me acostumar com isso, mas eu também surtei quando descobri.

— Então... todos são lobos na reserva? – questiono.

— Não, apenas Sam, Embry, Quil, Jared, Leah e eu. Então... – Jacob me olha mais atentamente. – Você não está namorando atualmente, certo?

Eu não sei exatamente o que isso tem a ver com o assunto e eu também não quero mencionar Alice, mas eu não quero mentir para Jacob, ainda mais quando ele está soando ansioso.

— Não. Eu… eu meio que… gosto de alguém. Por quê?  

Jacob me olha surpreso por um momento então passa à mão no cabelo nervosamente.

— Que merda, eu preferia que Sam lhe contasse sobre isso. Mas bem, Sam fez uma bagunça na minha cabeça quando me explicou sobre isso, então acho que eu posso explicar melhor. Você gosta dessa pessoa há muito tempo?

— Não.

— É algo novo?

— Sim.

— Eu detesto ter que te dizer isso Adam, mas nossa espécie é afetada por uma coisa chamada imprinting.

— Imprimir?

Imprinting. É um fenômeno super louco que acontece conosco. O seu lobo escolhe uma pessoa para formar um laço espiritual, uma espécie de ligação, e essa pessoa se torna a pessoa mais importante da sua vida.

— Isso não aconteceu comigo. – digo, aliviado.

— Isso só acontece quando você está em sua forma de lobo.

Oh. Agora eu estou preocupado.

— Se acalme. – Jacob diz. – Sam diz que pode acontecer com qualquer pessoa, mas eu sinceramente acho que isso só acontece com alguém que realmente se importa com você.

— Isso pode acontecer a qualquer momento?

— Sim.

— Você já…

— Sim.

— Quem?

— Brian.

— Oh. – digo, ainda entorpecido com as novidades, então percebo que estamos falando de Brian Swan. – Oooh.

Eu podia jurar que Brian e Jacob eram apenas melhores amigos.  

Jacob ri.

— Não é dessa forma. O imprinting não precisa ser romântico.

— Mas geralmente é?

— Sim.

Jacob faz uma pausa para eu assimilar tudo, pelo que eu estou grato. Eu acho que eu estou mais amaldiçoado do que eu pensava inicialmente. Eu não quero formar uma ligação com nenhum estranho.

— Isso é loucura. – digo, rindo, mas não é um riso feliz.

— Eu sei, cara, é ruim. Não vou mentir para você dizendo que ser um lobo é algo maravilhoso. Eu gostaria que você tivesse herdado mais do seu pai do que da sua mãe. Mas dê uma chance á Alice, não deixe algo incerto que pode nunca acontecer estragar isso. No final tudo deu certo para mim e Brian, então acho que também dará pra você. O imprinting não é pra nos fazer sofrer. Pode parecer assim a principio, mas vai ser melhor depois.

Eu assinto silenciosamente. Eu não estou tomando decisões baseado em algo que tem probabilidade futura de nunca acontecer. E bem, não é como se eu e Alice fossemos algo; eu ainda nem sei Alice está olhando para mim dessa forma.

Eu não pergunto á Jacob como ele adivinhou que é Alice; eu provavelmente não sou tão discreto como eu imaginava.

— Brian sabe? Que você é um lobo? – pergunto.

Jacob coça a cabeça, parecendo desajeitado.

— Ainda não. Eu ainda estou pensando se vou contar a ele. Eu vou manter o seu segredo por um tempo, mas em breve terei que falar com Sam, ele é o líder da matilha.

— Eu sei. Obrigado, Jacob.

 (...)

Segunda-feira não é meu dia favorito de aula, por um motivo totalmente novo – eu não tenho aulas com Alice, o que significa que eu não tenho ninguém pra conversar durante todo o período. É um pouco chato, tenho que admitir. Eu meio que já me acostumei a conversar com Alice nas aulas.

Eu consigo ver Alice na hora do almoço, entretanto. Ela esta com seus irmãos, como sempre, então apenas acenamos um para o outro á distancia. Eu evito olhar para a mesa dos Cullen depois, mesmo que eu queira olhar para Alice, porque todos estão olhando o tempo todo para eles, deve ser horrivel ser observado assim.

— O que há entre você e Alice Cullen? – Leah me surpreende ao perguntar.

— Hum. – eu termino de comer minha maçã calmamente. Eu não estou sendo intimidado sobre isso. – O que você quer dizer?

— Ela esta olhando pra cá o tempo todo.

Eu sorrio.

— Talvez ela esteja olhando pra você.

Leah faz careta.

— Eu acho que a garota tem uma queda por você. – ela insiste.

Eu me esforço pra ficar tranquilo sobre isso e dou de ombros.

— Nós somos amigos.

— Bem, posso fazer uma pergunta?

Pra Leah estar sendo educada sobre isso, eu imagino que não deve ser uma pergunta fácil.

— Sim. – digo.

— Você gosta de meninas?

— Também. – digo. Não vejo porque mentir sobre isso.

— Sorte a sua. Eu acho que você estará recebendo declarações de amor em breve.

Eu não respondo, porque eu acho que eu tenho menos de 5 minutos para terminar de comer. Eu espero que os instintos de Leah estejam certos, mas por outro lado eu também desejo que não esteja, porque eu não gostaria de envolver Alice nessa bagunça que é a minha vida, com lobos, imprinting e tudo mais.  

Eu olho para a mesa dos Cullen quando levanto para ir á aula. Eles também estão saindo, então Alice sorri pra mim e acena. Eu acho que é a despedida, porque não vamos nos ver hoje. Eu aceno de volta, então vou pra minha aula de Espanhol. É uma segunda-feira muito normal.

Eu ainda estou um pouco surpreso que alguém descobriu sobre eu ser um lobo e o mundo não desabou. Eu esperava que eu iria acordar hoje e tudo iria ser diferente, mas tudo é quase o mesmo. O meu relacionamento com os meninos quileutes continua o mesmo, apesar de eu saber que eles são lobos agora, e eu ainda me sinto como eu mesmo, um garoto de 17 anos confuso sobre muitas coisas. Imprinting e Alice estão no topo das coisas que estão me deixando confuso, embora eu tenha coisas mais serias para me preocupar. Eu estou agradecido por Jacob estar guardando meu segredo por um tempo, mas eu sei que com o compartilhamento de pensamentos com os outros, ele não vai conseguir fazer isso por um longo tempo, então eu tento me preparar para isso.

Terça-feira eu tenho Cálculos com Alice, então eu estou mais empolgado. Ela esta usando o cordão quileute que eu lhe dei ainda, e isso me deixa feliz. Nós somos os primeiros a chegar na sala.

— Oi. – digo.

— Oi. – ela diz alegremente, então olha para meu pescoço. – Eu sabia que isso iria combinar com você.

Eu sorrio, que bom que ela gosta, porque eu estou me esforçando pra usar isso apesar de ser cansativo ter que tirar e recolocar todos os dias.

— Unhas legais. – digo, olhando as mãos de Alice. Eu nunca vi Alice usar nada menos que perfeito, então é meio estranho suas unhas estarem pintadas de laranja.

— Oh, isso foi Bree. É horrível, eu sei.

— Bree?

— Minha irmã mais nova.

— Eu pensei que era apenas Rosalie. Sua família é imensa.

— Sim, somos uma grande família. Você deveria vir conhecer algum dia.

Conhecer os Cullen? Eu não estou ansioso pra isso. Com exceção de Alice, que é adorável, eles são meio intimidantes.

— Eu conheci seu pai. – digo, antes que Alice queira marcar um dia pra eu conhecer sua família.

— Sim? – Alice parece surpresa, então acho que o doutor não mencionou.

— No hospital, ele é meu medico. – explico. – Você parece com ele.

— Você acha?

— Sim, os olhos principalmente.

Alice sorri, então se debruça sobre a minha mesa.

— O que você esta estudando? – ela pergunta, olhando meu caderno.

— Oh, não é pra escola.

— Eu vejo. Você esta pesquisando linguagens antigas?

— Sim. Há algumas coisas que herdei da minha mãe que é dos nossos antepassados quileutes, mas é uma linguagem muito antiga, eu estou tentando aprender.

— Parece interessante. – Alice diz, ainda tentando ler. Então ela me surpreende: – Os primeiros europeus a explorarem Washington foram os espanhóis, mas a linguagem não parece ter nada do espanhol. Eu acho que tem um pouco a ver com a dos índios cheyennes.

— Você estudou linguagens nativas? – pergunto, chocado.

— Sim, na minha antiga escola. Esse símbolo, por exemplo, - ela aponta – poderia significar proteção. E esse... Imortais. Esse eu não conheço.

Eu estou dividido entre acreditar que Alice esta brincando e acreditar que ela realmente esta entendendo alguma coisa, afinal, os escritos quileutes não passam de muitos símbolos indecifráveis.

— Você está realmente lendo? – pergunto, incrédulo.

Alice sorri adoravelmente pra mim:

— O que, você esta duvidando de mim? Eu sou apaixonada por linguagens, eu posso falar até mesmo latim.

— Eu quero ver isso algum dia. – digo, fechando meu caderno, ao ver o professor entrando na sala.

— Eu vou deixar você de boca aberta. – Alice garante.

Eu sorrio, isso não é muito difícil. Até o sorriso de Alice pode me deixar de boca aberta.

A aula transcorre normalmente; eu tento concentrar toda minha atenção na matéria e não em Alice; é difícil não olhar para Alice quando ela está assim do meu lado, sua beleza é um pouco chocante, mas eu lembro que eu preciso ter boas notas para entrar em alguma boa faculdade e decidir o meu próprio futuro, então me controlo. Com lobos ou sem lobos, viver toda a vida na reserva quileute não está nos meus planos futuros. Não foi o sonho de minha mãe e também não é o meu.

Eu me assusto um pouco quando Alice de repente pega minha mão que está em cima da mesa. Ela não diz nada, apenas vira a palma pra baixo e começa a escrever no dorso. Eu quase digo “você seriamente esta escrevendo recados na minha mão na frente do professor?”, mas nós dois já terminamos nosso trabalho e eu estou apenas desenhando aleatoriamente no caderno então eu espero pra ver o que ela está inventando. Alice não está usando luvas hoje e sua pele é realmente fria na minha, mas também é agradável. Quando ela termina, há três símbolos diferentes desenhados na minha mão.

— Amizade. – Alice diz, apontando o primeiro. – Lealdade e proteção, na linguagem cheyenne. Combina com a sua pele. Nós deveríamos fazer isso com tinta.

Eu levanto a mão pra olhar melhor, então concordo.

— É bonito. Mas eu espero que signifique realmente isso e não algum símbolo estranho.

Alice ri.

— Porque eu iria desenhar símbolos estranhos na sua mão? Sua falta de fé em mim é muito decepcionante.

Eu reviro os olhos e volto a desenhar no meu caderno. Eu arrumei uma amiga tão dramática.

— Posso levar você pra casa depois da escola? – Alice pergunta, me surpreendendo novamente.

— Você não tem que ir com seus irmãos?

— Eu vim sozinha hoje.

— Tudo bem.

Eu não sei o que Alice esta planejando, mas eu não estou recusando passar algum tempo com ela. O tempo que passamos juntos na sala de aula é realmente limitado e não podemos falar sobre muitas coisas, com tantos ouvidos por perto.

Eu estou um pouco triste quando tenho que ir para minha próxima aula.

— Eu vejo você mais tarde?

— Sim, ate mais tarde.

Por culpa de Alice eu estou extremamente ansioso no restante das aulas.

Alice está realmente me esperando no estacionamento no final do dia. Eu estava começando a pensar se eu não tinha imaginado a coisa toda. O carro que ela está sentada no capô não é o cinza que ela dirigia no sábado, e sim um vermelho que eu sinceramente não conheço. Os alunos estão emocionados ao redor disso, como se nunca tivessem visto um carro antes. Eu não gosto da quantidade de atenção que recebo quando caminho em direção á Alice.

Ela abre a porta do carro para eu entrar e em seguida entra do outro lado. Eu estou feliz porque os vidros são escuros – embora isso não vai evitar dos alunos comentarem sobre eu e Alice.

— Eu esqueci de devolver suas luvas. – Alice diz, tirando as luvas familiares que agora por algum motivo ela está usando.

— Oh, você pode ficar com elas. – digo rapidamente.

— Obrigado. – Alice diz, mas guarda as luvas no bolso do casaco.

Ela dirige devagar na saída da escola e finalmente entramos na estrada, fora da vista de olhos curiosos.

— Então, sábado, você vai estar disponível? – ela pergunta.

— Porque? – pergunto, embora já tenha uma leve ideia.

— Você disse que há um cinema em Port Angeles, eu quero ver isso.

Eu não acredito que vou dizer isso, mas...

— Eu preciso estudar, nós vamos entrar em semana de provas.

— Você está trocando cinema por estudos, você é realmente um nerd. – Alice diz, mas ela não parece chateada. – Bem, e se eu ajudar você a estudar?

Agora eu estou interessado.

— Como você pode me ajudar a estudar?

— Bem, podemos estudar depois das aulas e eu levo você pra casa.

— Onde? – pergunto, já com medo de ouvir a palavra “casa”.

— Na biblioteca da escola, fica aberto até as 18h.

Não parece uma má ideia, eu tenho que admitir. E significa passar mais tempo com Alice, o que eu gosto um pouco demais.  

— Tudo bem. – concordo. – Mas vamos estudar todos os dias até a semana de provas.

— Todos os dias, promessa do dedinho. – concorda Alice alegremente. – E então vamos pro cinema sábado.

— Okay. Que horas?

— 8h?

O cinema não abre até ás 17h, mas eu não acho que Alice precise saber disso. Há muitas coisas que podemos fazer em Port Angeles.

— Está bem. – concordo.

— Ótimo. Então, você já sabe o que você quer fazer, quando terminar a escola?

— A faculdade.

— Já sabe aonde?

— Aonde eu conseguir uma vaga.

— Não é um pouco cedo para pensar na faculdade?

— Não. Eu estou ansioso pra faculdade. – Sair de Forks também. – E você?

— Eu provavelmente vou fazer moda, não pensei aonde ainda. – Alice diz, então ela solta o volante e eu percebo que já chegamos ao meu destino.

— Eu vou te ver amanhã? – pergunto.

— Na verdade, amanhã não viremos á escola, por isso queria passar um tempo com você hoje. – Alice revela. Toda alegria que senti nos últimos minutos se esvai.

— Oh, entendo. – digo, então Alice ri.

— Não faça essa cara, eu também vou sentir sua falta.

São momentos assim que me deixam confuso sobre o que estamos fazendo exatamente – se somos apenas amigos ou estamos nos tornando algo mais. Eu posso ir pra casa e passar outra noite tentando decifrar ou apenas perguntar. Eu decido ser ousado.

— Alice. Eu sou seu amigo, certo? – pergunto, virando para olhar para ela.

— É claro, Adam.

— Somos apenas amigos? – insisto.

— Eu gosto muito de você, Adam. Muito, muito, então eu não posso dizer que minhas intenções são apenas ser sua amiga.

Eu estou feliz de ouvir isso. Apesar da minha intuição me dizer que era mútuo, eu ainda tinha duvidas.  

— Tudo bem. Eu estou feliz que você tenha outras intenções, porque eu também gosto muito de você, Alice. Você é a melhor amiga que eu já tive. – digo sinceramente.

— Que bom que você se sente assim, isso significa que eu posso raptar você mais vezes. – Alice diz alegremente, então ela coloca a mão cuidadosamente no meu rosto. – Eu vou lhe mandar mensagens amanhã o dia todo, então não fique triste.

— Tudo bem. – eu digo, apertando sua mão gelada. – Até quinta.

— Até quinta, Adam.

Eu desço do carro e observo o carro vermelho se afastar. Será um dia estranho amanhã sem ver Alice na escola, mas vamos ter muito tempo depois para compensar. Eu espero. 

Eu estou muito feliz enquanto caminho para casa, porque afinal eu acabei de me confessar á alguém pela primeira vez e não é um amor não correspondido, Alice também gosta de mim. Eu estou flutuando demais para me preocupar com qualquer coisa, mas quando vejo Jacob e Leah parados em frente á minha casa, um sentimento de ansiedade toma conta de mim.

Leah levanta quando me vê, e não perde tempo em falar:

— Sam quer falar com você.

Eu olho para Jacob, um pouco preocupado. Eu estou enrascado? quero perguntar.

— Não foi minha culpa, Leah entrou na minha cabeça e espalhou pra todo mundo. – ele fala defensivamente.

— Eu não espalhei, eu apenas descobri quando estava patrulhando com Jacob e eu não consegui manter isso fora da minha mente. – Leah explica.

Eu não estou necessariamente preocupado como foi que descobriram, eu sabia que era só uma questão de tempo até isso acontecer.

— Todos já sabem? – pergunto.

— Ainda não. Sam marcou uma reunião, esta noite. – avisa Jacob.

— Esta bem. Eu vou tomar banho, vocês vão entrar?

— Não, cara. Nos encontraremos no penhasco ás 20h. – Jacob bate nas minhas costas. – Relaxe, você não fez nada de errado. Leah escondeu por dois anos que ela era um lobo também, ninguém vai culpa-lo por isso.

— Obrigado Jake. – agradeço sinceramente, mas eu sinceramente não estou preocupado.

— Desculpe por espalhar seu segredo. – Leah fala, com um olhar cabisbaixo.  

— Nenhum problema, Leah, não é sua culpa. – garanto á ela. – Nos veremos mais tarde.

— Sim. – ela diz, então me lança um olhar divertido. – Então, você conseguiu beijar a garota Cullen hoje?

— Não é da sua conta! – digo, fechando a porta atrás de mim. – Quileutes intrometidos. – digo, sabendo que eles vão ouvir.

Eu jogo minha mochila no chão e deito no tapete da sala, esticando meu corpo. Eu estou com vontade de mudar para o lobo e correr por quilômetros. Talvez eu devesse estar preocupado com os quileutes sabendo o meu segredo e como eles reagirão, mas eu estou muito feliz e animado, porque eu ainda consigo ouvir as palavras de Alice em minha cabeça “Eu gosto muito de você, Adam, muito, muito”. Como é que eu deveria me concentrar em estudar com tantas coisas acontecendo?


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Notas finais do capítulo

Deixem suas opiniões e sugestões.
Até o próximo capítulo (Edward)!