O Sol e A Lua escrita por Luana de Mello


Capítulo 26
Eu Também Posso Ser...




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A floresta era tão tenebrosa quanto seu nome anunciara, tudo parecia ser tão medonho e pavoroso, que o menor sinal de movimento, causava angustia e medo; tudo podia ataca-los ali, tudo poderia mata-los e sabe-se lá quando alguém os encontraria? Talvez quando as provas terminassem, ou talvez muito depois disso, não havia como saber ao certo, nem mesmo poderia dizer que alguém realmente sentiria falta deles, ou apenas seguiriam suas vidas; quem em sã consciência se preocuparia com as três pessoas que mais causavam incômodos e problemas?

Suspirando alto, a garota recorda a promessa que fizera um dia antes, para ela mesma, e para aquela pessoa tão especial que já era completamente necessária em sua vida, não podia fraquejar agora e correr para a segurança como uma covarde; apesar de sentir suas pernas trêmulas, e a ansiedade fazendo a bile parar em sua garganta, Sakura se obrigou a dar um passo após o outro, repetindo para si mesmo que conseguiria. Talvez pressentindo que não podiam tratar aquela prova levianamente, seus dois companheiros estavam atentos também, imersos na missão de se proteger e prevenir de possíveis ataques; até mesmo os dois rapazes tão incorrigíveis em seu mau temperamento, obtiveram uma boa mudança durante os dias de treinamento na clareira, e apesar de que nunca admitiriam em voz alta, ambos aprenderam muitas coisas importantes. A caminhada que faziam em completo silêncio, tinha cada passo envolvido por uma tenção sufocante, e mesmo não requerendo muito esforço físico, todos os três suavam absurdamente e suas respirações eram rápidas e ofegantes, como se houvessem corrido uma maratona; seus olhos assustados giravam em todas as direções, e suas mãos armadas com Kunais, seguiam qualquer barulho vindo das sombras, tentando por alguma barreira entre eles, e o que quer que saltasse da escuridão. Mas foi quando ouviram os primeiros gritos de desespero, que eles se afligiram verdadeiramente, e buscando se afastar o máximo possível daquele som horroroso e o que o tinha causado, o time sete corre em direção oposta à que seguiam antes; sem perceber por conta do desespero, se afastaram consideravelmente da rota do portão dez, e também da Torre que queriam se aproximar.

Sabiam desde o começo que não poderiam lutar contra equipes mais velhas e experientes, não conheciam aqueles terrenos e não estavam habituados a lutar em lugares estreitos e de pouca visibilidade; por isso encontraram o plano de Sakura interessante e vantajoso, e decidiram por segui-lo sem contestar ou reclamar, como costumeiramente fariam. A Haruno estava contente e aliviada por ter conseguido elaborar uma estratégia que, ao mesmo tempo que seria boa para sua equipe, também a ajudaria a concluir a pequena missão que recebera antes do exame iniciar; seu plano consistia em que deveriam tentar chegar ilesos e com seu pergaminho seguro, o mais perto possível da Torre, e ali emboscariam as equipes que se aproximassem da reta final, esses estariam esgotados pelo percurso e constantes confrontos, então roubariam o pergaminho que precisavam. Era um plano de oportunistas, e ela tinha plena consciência, mas ser ninja também consistia em saber aproveitar oportunidades e ocasiões, então seu método não seria de todo mal; o segundo motivo para que a garota quisesse estar próxima da Torre, era o recado que recebera de Naruto através de seu irmão, que dizia simplesmente que deviam ficar perto da ajuda e que ela devia impedir seus companheiros de fazer besteira. Quem o lesse, pensaria que era apenas um bilhete  infantil, sem nada demais, mas sabendo as coisas que sabia e vendo a seriedade com o irmão lhe entregara o bilhete, Sakura intuíra instintivamente que algo sério ocorria na Vila, também era inteligente o bastante para deduzir que o problema envolvia Sasuke e o cheio de segredos Clã Uchiha, como vinha acontecendo repetidamente nos últimos tempos; ela não seria tola de ignorar aquele aviso, e sabendo como os dois reagiriam se soubessem o que acontecia, planejara tudo sozinha e conduzia os companheiros para o lugar que julgava ser mais fácil obter ajuda, também existia algo a motivando, e era a grande vontade que sentia de se mostrar merecedora da pequena confiança que recebera.

— O que demônios era aquilo?! — Kiba pede exasperado, caído no chão enquanto tenta acalmar Akamaru — Isso era pra ser um exame, não uma história de horrores.

— Existem muitas possibilidades, não podemos saber com certeza. — Sakura responde depois de recuperar o fôlego, e passa a analisar a região em que estavam.

— Como assim? Muitas possibilidades? — Sasuke pergunta, sem entender o que a garota queria dizer com essa frase tão vaga.

— Bom, a Floresta da Morte é conhecida como um dos únicos lugares das Cinco Grandes Nações, onde um simulado de guerra ocorre de forma real, e Genins como nós não teríamos permissão de entrar aqui, não fosse pelo exame. — A garota explica calma, e estranha a própria capacidade de raciocínio naquele momento — Aqui somente ninjas com alto treinamento podem entrar, existem lacraias venenosas, lesmas carnívoras, aranhas e cobras gigantes, é uma infinidade de coisas que podem nos atacar, além das outras equipes.

— Isso significa, que para veteranos desse lugar, novatos como nós somos os alvos preferidos? — Kiba questiona, com medo de ouvir a resposta.

— Isso se outra coisa não nos pegar primeiro. — Sasuke afirma, pela primeira vez sentindo a realidade do exame e entendendo perfeitamente as intenções de Sakura.

— Bom, não adianta especular agora, só vamos saber o que atacou quem, quando estivermos na Torre. — A Haruno então olha para o Uchiha pela primeira vez no dia, diretamente e sem fraquejar em sua decisão — Poderia usar seus olhos e buscar qualquer movimento à nossa volta?

— Tch! Por que tenho que fazer isso, enquanto vocês esperam sentados? — Sasuke protesta quase imediatamente, não gostava de seguir ordens e ainda mais agora, sentia que a pergunta dela o fizera ver como alguém sem iniciativa.

Kiba que até então estava assustado com as milhares de possibilidades, se ergue em um rompante, irritado com a resposta cortante que o outro dera a garota; Sakura por sua vez, não alterou nem um pouco a expressão em seu rosto, apenas impediu que o Inuzuka iniciasse uma briga ali, mas em seu coração, sentiu um beliscão de mágoa, mágoa que sentiu dela mesma, por ter se dedicado erroneamente a alguém assim.

— Você é o único que está sem fazer nada! — ela rebate em seguida, o rosto então se torna severo e seus olhos verdes faíscam irritação — Akamaru e Kiba estão farejando tudo e todos que se aproximam de nós, eu estou nos guiando pela floresta por que alguém não prestava atenção nas aulas de topografia, além de estar comprometida com a missão principal, e você o que fez além de reclamar e tomar nossa água? Que combinamos que íamos racionar!

Completamente de boca aberta, foi a reação imediata dos dois, que nunca na vida viram ou ouviram Sakura contradizer ou mesmo elevar a voz pra falar com ele; em todos aqueles anos de Academia, tudo que a Haruno fazia girava em torno de Sasuke, desde o modo de se vestir, o cumprimento de seus cabelos, até mesmo em atividades da escola, tudo era como ela e as demais meninas haviam averiguado que agradaria o Uchiha. Para Kiba, aquilo era inédito, desde o início de sua convivência, tinha se habituado e conformado de ver Sakura fazendo tudo por Sasuke, até mesmo chegando ao extremo de tomar para si, a responsabilidade que cabia a ele, nos trabalhos de escola, atitude que era vista como um ato desesperado dela para ganhar seu afeto; já o Uchiha estava impactado com o que ouvira, jamais cogitara a possibilidade de Sakura não concordar ou não aceitar o que ele queria, tudo sempre fora, e em sua cabeça, sempre seria do seu jeito, então ouvir aquela reprimenda e ser ordenado daquela forma por ela, era impactante demais para seu ego mal acostumado. Diante do inesperado, o rapaz não teve reação, tudo que fez foi agir mecanicamente e obedecer ao pedido que a garota fizera antes, deixando o Inuzuka mais abismado ainda, afinal diante daquele conflito de autoridade, ele já estava se preparando para a explosão de ira de Sasuke, e para defender Sakura como fosse preciso; a Haruno por sua vez, estava aliviada e um pouco surpreendida, estava aliviada por que agora poderiam seguir adiante sem maiores conflitos, ou assim esperava que fosse, e surpreendida por ter conseguido externalizar tudo que estava sentindo e pensando, algo que jamais poderia ter feito dias atrás.

Depois de averiguar que estavam seguros e que nada estranho ocorria a volta deles, a garota volta a guiar seu time por entre o emaranhado expeço de folhas e galhos, que tornava impossível visualizar o que havia adiante pelos próximos cinco passos; ela até cogitou irem por cima, pelas copas das árvores, mas a possibilidade de encontrar aranhas enormes a fez desistir e optar pela segurança mentirosa do solo. Agora que estavam tentando retomar o rumo certo para chegar até o centro da floresta, Sakura se sentia um pouco mais confiante, depois de identificar para si e para os companheiros, os diversos perigos do lugar, parecia tê-los tornado um pouco menos tenebrosos; não que deixara de temê-los, mas admitir que existiam, parecia bem melhor do que apenas cogitar uma possibilidade, e apesar de não entender a lógica que sua cabeça criara nesse contexto, o medo que sentia antes, se tornara um pouco tolerável. Enquanto caminhavam com cuidado, fazendo paradas a cada cinco metros, a garota se pega imaginando como seria possuir um Byakugan naquelas horas, e entende pela primeira vez o fascínio por aqueles olhos, e quando esse pensamento passa por sua cabeça, ri com amargura da própria estupidez; imaginar como seria maravilhoso saber o que está a sua frente, identificar perigos e inimigos, desviar de todos em segurança, e até mesmo enfrentá-los com dignidade, isso deveria ser a melhor sensação do mundo, ser útil e necessária. Mesmo sabendo que deveria prestar atenção no momento de agora, foi impossível para ela não se lamentar e maldizer, mesmo que em silêncio, pelo tempo que ela desperdiçara com coisas idiotas e futilidades, quando poderia ter se preparado melhor para quando esse dia chegasse; ela sabia que era inteligente, estudar sempre fora seu refúgio, e uma forma de destacar dos demais, mas agora sentia uma certa deficiência no seu conhecimento, e sabia muito bem que a causa era seu emocional, de nada adianta para um ninja, ter um intelecto formidável, se seu emocional não coopera e se interpõem em seu caminho.

— Sakura? Sakura?! — ela é chamada a realidade por Kiba — Tá tudo bem? Você parece meio confusa.

— Sim, só estava pensando no que podemos fazer, o que foi? — não era de todo mentira, mas ela decide focar no que estavam fazendo agora.

— Sentimos cheiro de água, deve ter um riacho ou nascente por perto, que tal pararmos um pouco, o sol já está bem quente. — O Inuzuka sugere e volta seus olhos ao céu, uma luz extremamente forte descendia, não sendo impedida nem mesmo pelas enormes árvores.

— Certo, devemos ter caminhado toda manhã, seria bom parar. — Ela concorda analisando o ponto em que estavam, e logo encontra uma sombra grande o bastante para se abrigarem — Você acha que está muito longe?

— Ainda não conseguimos medir distâncias com exatidão, vamos conferir? — Kiba disfarça envergonhado com outra pergunta, acompanhando a garota até a sombra.

— Não podemos ir juntos, se é água limpa, podem ter outras equipes emboscando o local. — Sakura rebate e volta a pensar no que deveriam fazer, levando em consideração o que só ela podia fazer — O mais seguro, seria ir apenas um de nós, com extremo cuidado e buscar a água, os outros ficam para descansar e evitar gastar energia desnecessariamente.

— Como decidimos quem vai? — Kiba pergunta assustado, não gostaria de andar sozinho por aquela mata.

— Quem estiver mais apto e em melhores condições. — Ela responde e então passa a focar nos dois companheiros.

Enviar Sasuke seria arriscado, e ele talvez nem quisesse ir, Kiba por outro lado tinha Akamaru e os dois trabalhariam bem juntos, mas isso também seria uma desvantagem para ela, caso fossem atacados enquanto estivessem fora, mas o grande problema é que não conseguiriam chegar até o final sem água, e não poderiam ter certeza de encontrar outra fonte tão logo; pensando nisso e em como sua situação era complicada, Sakura decide fazer algo fora da sua zona de conforto e que os outros dois jamais imaginaram ouvir ela dizer.

— Eu vou, mas vou precisar do Akamaru comigo. — A Haruno afirma e vê os dois rapazes ficando com os olhos a ponto de sair da cavidade — Preciso que vocês dois fiquem aqui, têm Jutsus mais fortes e podem se defender melhor.

— Espera... espera um pouco! — Kiba se põem em pé, estava quase dizendo que ele iria, quando Sakura o faz parar.

— Eu posso fazer isso, com Akamaru me ajudando, sou pequena e posso ir e voltar rápido, e vocês não sabem verificar se a água vai estar limpa. — Ela pondera e sem esperar por resposta, toma os cantis de ambos — Mas quero que fiquem aqui e vigiem constantemente, se algo acontecer, vão para o centro, o mais perto da Torre que puderem.

— Vamos precisar de uma senha e contrassenha. — Sasuke decide participar da discussão e colaborar com algo — Que tal aquela página do livro verde? Linhas dois e três do início do parágrafo.

Sakura concordou um pouco aturdida, não esperava que ele conhecesse essa citação, mas achou a ideia perfeita, seria algo que somente ele saberia a resposta, e somente ela saberia responder, e quanto a Kiba, ele reconheceria Akamaru e o cãozinho não seguiria outra pessoa que não fosse ela; satisfeita com o arranjo improvisado que fizeram, a Haruno pega o pequeno animal e o coloca por dentro de sua blusa, como Kiba fazia e logo olha para o rapaz que desviava os olhos com o rosto extremamente ruborizado.

— O que ele pode fazer se alguém nos atacar? — Sakura pergunta sem entender sua reação.

— B-bem... dê essa pílula a ele, quando ele crescer, o mande atacar, Akamaru fará o resto. — Kiba mal consegue explicar, apenas lhe alcança um pequeno recipiente contendo as pílulas.

— Certo, devo vê-los em breve, caso contrário irei para a Torre também. — Ela fala um pouco nervosa — Se chegar a isso, não se separem mais do que já estamos e não parem até chegar lá, nem tentem roubar outras equipes antes que eu chegue! Até depois.

Se enchendo de coragem, a garota dá as costas para os companheiros sem esperar por uma despedida ou concordância, como eram atualmente, não existia possibilidade de um pouco de cooperatividade ou mesmo preocupação entre eles; vendo o pequeno Akamaru farejar sem parar em seu peito, Sakura pensa que talvez ele e o Inuzuka seriam sua verdadeira equipe, e até agradeceu pela oportunidade de se afastar um pouco de Sasuke, que devido a mágoa e ressentimento recém descobertos com relação a ele, a fazia se sentir extremamente irritada até mesmo com sua respiração, sabia que aquilo era somente seu orgulho ferido, e que tirando a extrema prepotência do colega, ele não tinha lhe feito nada, mas como constatara antes, ainda não controlava suas emoções. Durante a caminhada, ela se deixou ser guiada pelo cão pelo emaranhado verde, se sentia cada vez mais distante do caminho que viera e se perguntava quão apurado seria o faro do animal, visto o tanto que caminhara e ainda não havia qualquer sinal de chegar ao destino; com os pés em carne viva devido as várias bolhas que se criaram e estouraram uma em cima da outra, Sakura se obriga a dar um passo após o outro, travando os dentes para evitar que sua voz lhe traia e ela grite de dor. Seus longos cabelos rosados, estavam agora presos em um coque mal feito, repleto de minúsculos galhos e folhas, enquanto o suor abundante escorria por seu couro cabeludo, passando por seu rosto e pescoço, até acumular em suas costas; e cada vez ela e Akamaru desciam mais e mais, e só quando já estavam em um ponto sem volta, é que ela percebera que aquela era uma enorme ribanceira. Cair daquelas alturas seria morte na certa, se não tivesse o máximo cuidado, nem veria como foi que caiu, isso sem contar o trabalho perigoso que seria subir por aquele caminho na volta, carregando ainda mais peso; quando estava quase considerando o trabalho arriscado demais e pensando em buscar outra fonte mais perto da Torre, Sakura avistou as águas claríssimas de um poço natural, que havia se formado ao pé da ribanceira, era um verdadeiro oásis, as sombras das árvores enormes, deviam manter a água sempre fresca e pelo que podia ver de cima, as pedras de calcário a volta a mantinham livre de impurezas. Com suas forças e determinação renovadas, quase sentindo o frescor da água acalmando sua garganta seca, Sakura se põem a descer outra vez a ribanceira, usando os galhos e cipós próximos para se apoiar e evitar uma queda; estava quase gargalhando de alegria, e nem as feridas em suas pernas, causadas pelas ervas rasteiras e espinhosas do caminho, ardentes por conta do salgado suor, foram capazes de tirar a suavidade de seu rosto.

— Agora Akamaru, eu preciso que você seja um bom menino e me ajude. —Sakura pega o cãozinho e o olha nos olhos para fazê-lo entender — Você vai caminhar devagar e com cuidado até perto da água, vai farejar em busca de pessoas, armadilhas e qualquer perigo que estiver por aqui, se sentir algo, volte e nós vamos embora.

Para demonstrar que havia entendido, o peludo lambe o nariz da garota e passa a acenar com o rabo, e entendendo sua ação, Sakura o coloca no chão, e ele imediatamente passa a fazer o que ela pedira; cuidadosamente, Akamaru deixa a sombra protetora das árvores, e vai em direção à beira d’água, as suas costas, a Haruno não tira os olhos dele, com uma Kunai na mão, pronta para defender o corajoso bichinho. Tanto ela, quando o cachorro, sabiam que era perigoso, ainda mais ele sendo ainda um filhote, mas para conseguir voltar com água e ilesos, era o melhor que podiam fazer; afinal nenhuma outra equipe prestaria atenção em um cão indo beber água, e tirando os animais carnívoros, outros não se importariam com sua presença, e considerando o quanto Akamaru era melhor que ela para encontrar armadilhas, não foi preciso pensar muito para decidir quem iria primeiro. Ao chegar no poço, o cãozinho fareja e fareja, insistentemente por quase dez minutos, buscando em todas as direções, e voltando a verificar cada vez que a direção do vento mudava; por fim se deu por satisfeito, não havia encontrado nada além de sua presença ali, e quando ele se sentou no chão com a língua de fora e o rabo abanando, Sakura sentiu seus ombros caírem, deixando a tensão ir embora.

— Você foi muito esperto, Akamaru! — ela o felicita e alcança um pedaço de carne seca de seus equipamentos.

Akamaru aceita o petisco felicíssimo, e passa saboreá-lo enquanto a Haruno volteia seu corpo para visualizar toda extensão do poço, suas fendas e possíveis esconderijos, outros acessos que poderia ter, bem como uma outra saída, para que pudessem voltar sem ser pelo caminho íngreme que vieram.

— Acho que ninguém mais vem aqui, por que é bem difícil de chegar. — Ela constata depois de um tempo, então lava as mãos e pega uma porção de água e prova — É boa, parece a água da Vila, pode beber Akamaru.

Os dois passam então, bons minutos apenas saciando sua sede, a garota com mais calma que o cachorro, para evitar ter um mal estar, estando satisfeita, ela passa a se refrescar e decide deixar seus doloridos pés dentro d'água, suspira alto quando as feridas abertas tocam as pedras abaixo.

— Eu deveria ter fervido antes de bebermos, mas fazer uma fogueira aqui seria perigoso. — Sakura fala ao cão ao seu lado — Acha que podemos ficar alguns minutos aqui?

Em sua conversa de uma pessoa só, o pequeno cão só pode latir em resposta.

— Vamos descansar antes de voltar, assim o sol não vai ser tão forte também, e tenho certeza que eles estarão bem. — Ela segue conversando e vai formando planos em sua cabeça — Está vendo ali, Akamaru? São frutas Nashi, podemos levar algumas também, comer algo doce ajuda a repor as energias.

Satisfeita por ter conseguido o que queria e com um bônus a mais, Sakura se deixa descansar por alguns minutos, se preparando para sua longa jornada de retorno até seus companheiros de time, ela e seu pequeno e corajoso parceiro.

***

Fora daqueles terrenos escuros e lamacentos, e longe da vista de qualquer habitante de Konoha, a central de operações da ANBU estava em polvorosa, recrutas corriam de um lado a outro, carregando pilhas e mais pilhas de documentos, mapas e cabos por todos os lados; o calor escaldante daquela tarde se triplicara dentro da apertada sala de comandos, e mesmo assim não houve quem cogitasse tomar cinco minutos de descanso, aquele era o alerta vermelho.

— Consegue identificar? — Kitsune pergunta inquieto a Inoichi.

— É muito vago, aconteceu por alguns segundos apenas, e se confunde com os rastros dos viajantes que temos na Vila hoje. — O Yamanaka responde desapontado, secando o sangue que escorria por seu nariz.

— Ele provavelmente fez turismo quando chegou, para mascarar sua presença. — Neko se coloca a pensar e logo uma ideia horripilante e sombria habita seus pensamentos — Ou está usando..., mas isso seria impensável!

— O que você pensou? — Kitsune pergunta a ela angustiado, nunca a vira tão perturbada antes.

— Que ele deve estar usando um cadáver! — Neko sussurra como se aquilo não devesse ser dito, mal ouvindo as próprias palavras.

Nesse momento, a correria na central para e todos esquecem o que faziam, aterrorizados demais pela conjectura de sua Tenente; até mesmo Naruto, que já havia visto coisas jamais imaginadas por um humano comum, se engasga com a própria respiração ao ouvi-la.

— Você diz, um Edo Tensei, Tenente? — Shikaku pede incerto, temeroso pela resposta que receberia.

— Não, ele não está trazendo um morto à vida e o manipulando. — Kitsune contesta, quando Neko é incapaz de pronunciar as horrendas palavras — Ele está habitando um cadáver, se disfarçando dentro dele!

O clima que já era tenso, ficou ainda pior quando um dos recrutas da nova colheita se descontrolou com a informação que ouviam, e acabou vomitando em tudo que carregava; no meio da confusão de recrutas e oficiais que tentavam acalmar o rapaz e limpar o estrago, apenas seis pessoas permaneceram em silêncio, um silêncio mórbido.

— Ele está usando...? — Inoichi não consegue completar a pergunta.

— Sim, está usando um Jutsu proibido, semelhante a possessão dos Yamanaka’s. — Neko conclui a explicação, a voz completamente manchada de asco — Mas nesse caso, ele deve estar utilizando cadáveres frescos, e literalmente entrando em seus corpos e os usando a sua vontade.

— Mas isso não é humano... — Shikaku titubeia, mal acreditando no que ouvira.

— Nunca foi dito que Orochimaru continua sendo humano, duvido até que tenha sido algum dia. — Kitsune rebate, por sob a máscara de raposa, seus olhos estavam assustadoramente gélidos — O nome do Jutsu em questão é Segunda Pele, e como Neko disse, o cadáver deve estar fresco e bem conservado, o usuário do Jutsu deve abrir com cuidado o corpo para não danificar, retirar todos os órgãos e ossos, limpar e usar químicos para manter conservado, o vestir e então fazer o Jutsu para que um corpo adira ao outro.

— O problema é o tempo de utilidade, um mesmo corpo só pode ser usado por no máximo cinco dias, se consideramos o calor e a movimentação que está sendo necessária, reduzimos o tempo para dois dias. — Neko fala freneticamente, enquanto faz diversos cálculos na lousa — Se é assim como funciona, nas últimas setenta e duas horas, temos no mínimo dez desaparecidos, pensando em quando todas as delegações chegaram à Vila, se consideramos que o dia que Orochimaru se infiltrou foi antes disso, já temos mais de vinte!

— Tragam os dados do distrito policial Uchiha, quero uma relação de desaparecidos dos últimos quinze dias! — Tenzou ordena ao seu assistente, assim que entende o que Hinata queria dizer.

— Isso significa que ele esteve andando por aí, disfarçado de outras pessoas? — Ibiki começa a especular e então uma assustadora descoberta o faz tremer da cabeça aos pés — Não sabemos quem ele usou, quem ele está usando, isso compromete toda a nossa operação!

— E o pior, não podemos rastrear um cadáver, não há Chakra para detectar, por isso Inoichi não encontra vestígios nem em minhas lembranças. — Kitsune externaliza o que atormentava seus pensamentos, e involuntariamente, segura a mão de Neko — O que ele sabe? Que tipo de informações obteve com essas pessoas? Que papel elas desempenhavam antes de morrer? E como isso compromete nossas ações futuras? Somente ele está usando essa técnica? São as perguntas que temos que responder o mais rápido possível, assim que todos forem identificados e localizados, e o mais importante: nada mais será delegado a ninguém que não seja do alto escalão, e nada mais é comentado fora daqui!

— Nunca pensei que chegaria o dia que faríamos isso. — Neko dá um passo à frente e não esconde a angústia na voz — Vamos reunir todos os novos recrutas, aqueles com tempo de ingresso de um mês em diante, vamos precisar deles na Floresta da Morte.

— Pretendem parar o exame?! — Shikaku pergunta espantado.

— Não, do que adiantaria parar o exame? Ele só fugiria e escaparia, esperando por outra oportunidade e até lá, quais outras formas encontrará de destruir a Vila? — Kitsune nega de cabeça baixa.

Foi então que o líder do Clã Nara entendeu o pesar na voz de ambos, os recrutas que foram solicitados seriam utilizados como possíveis sacrifícios no combate que estaria por vir; Inoichi não conteve a indignação e raiva que o estrangulavam por dentro, e num ataque de fúria, se pôs a quebrar vários objetos de uma das salas de interrogatórios. Não estava irritado com a dupla que fazia o possível e impossível pela Vila, estava irritado com a situação em que se encontravam, por se obrigarem a jogar tão sujo quanto seus inimigos, e com sua própria incapacidade de fazer algo; o líder Yamanaka estava se culpando por não ter sido capaz de rastrear o Sannin, e por consequentemente permitir que jovens que nem começaram a vida, a perdessem dessa forma, jovens tão inocentes e cheios de sonhos e esperanças, quanto sua amada Ino.

Vários andares abaixo, exatamente no subsolo de Konoha, Neko e Kitsune já realizavam a odiosa tarefa de selecionar os recrutas que seriam enviados naquela tarde mesmo, todos jovens e inaptos demais para a função, mas diante da sua crise departamental, seriam a opção mais segura para a Vila; enquanto o alto escalão resolveria o problema com o possível vazamento de informações, cadetes mal iniciados assumiriam o papel de oficiais e seriam enviados para as linhas de frente, seria uma aposta de tuto ou nada para Konoha. Enquanto ouviam seus nomes sendo chamados e recebiam uma simples máscara com o símbolo de Konoha, muitos comemoravam felizes e extasiados por sua primeira missão, outros ficavam em choque pela inesperada ordem, e alguns poucos se colocavam a especular o que estaria ocorrendo para serem convocados sem terem concluído seu treinamento; os vendo cochichar e se reunir em grupos para discutir suas ideias, Naruto e Hinata tinham apenas a certeza que alguns daqueles rostos sardentos e lisos, jamais voltariam a expressar qualquer emoção.

— Atenção todos! — a voz agradável e musical de Neko se sobrepôs ao alvoroço — Hoje receberam sua primeira missão Rank-A, missão essa que pode vir a se tornar Rank-S, todos sabem o que significa e sabem o que estamos pedindo, por favor escolham, se querem dar um passo adiante ou não!

Já era horrendo decidir fazer aquilo, quando haviam evitado tal método a duras penas tantas vezes, e seria cruel e desumano envia-los enganados, com uma promessa de retorno que não existia; ao entenderem o que acontecia, alguns ficaram petrificados, outros desmaiaram ali mesmo, e outros tantos retiraram suas máscaras e deram um passo atrás amedrontados. Mas ainda existiam aqueles em Konohagakure de convicção forte, ideias patriotas e acima de tudo, lealdade e honra; esses foram os jovens que decidiram entrar para a ANBU com plena certeza que um dia morreriam pela Vila, e não importava se esse dia era cedo ou tarde, o fariam igual. Assim que somente àqueles que decidiram ficar, permanecem no salão, uma grande lousa é trazida até ali, com dados e coordenadas já prontas, e logo todos entenderam que aquele era o mapa topográfico da Floresta da Morte; respirando fundo para manter a compostura, Naruto deixa de morder os lábios já ensanguentados, e se prepara para explicar a situação.

— Vocês sabem que neste exato momento, o Exame Chunnin está em andamento na Vila, estamos recebendo muitas delegações de Nações vizinhas, além de turistas e comerciantes que apreciam a prova e visitam Konoha todos os anos. — Ele fala com calma, tentando manter sua voz neutra — E como já devem ter concluído, muitos inimigos aproveitaram a chance para atacar a Vila, usando as grandes aglomerações como camuflagem.

— Dois alvos já foram identificados e confirmados, e enquanto outra equipe está trabalhando para que possamos detê-los, a missão de vocês será impedir que aliados e cúmplices deles alcancem seus objetivos. — Neko se aproxima da lousa e passa a escrever seis nomes nela, em colunas diferentes — Nossos alvos hoje são Orochimaru, antigo Shinobi de Konoha e agora Nukenin procurado, e Rasa, o atual Yondaime Kazekage de Sunagakure; sabia-se que até dias atrás ambos eram aliados e compartilhavam um objetivo, mas segundo investigações recentes, agora trabalham um contra o outro.

— Não temos pistas de quando um dos dois vai agir abertamente, e no caso de Orochimaru, não sabemos qual é sua real aparência no momento, sabemos apenas que agirão durante o Exame Chunnin. — Kitsune deixa alguns poucos apreensivos com essa afirmação — E aqui estão as seis pessoas que sabemos com certeza que são alvos ou objetivos de captura.

— Tenente, por que Uchiha Sasuke é um dos principais objetivos? Se o alvo é o Clã, não seria mais fácil outra pessoa? — uma recruta questiona, tomando coragem para perguntar algo que todos queriam saber — Em ataques desse tipo, os Clãs envolvidos guardam segredos de estado e outras coisas que os inimigos poderiam querer, nesse sentido, uma criança como Hyuuga Hanabi seria um alvo mais apropriado.

— Não sabemos com certeza o que Orochimaru pretende com esse garoto, mas está relacionado com o fato dele ser herdeiro direto da linhagem sanguínea dos fundadores do Clã Uchiha, e seu Kekkei Genkai. — Kitsune explica, sentindo um arrepio na espinha ao ouvir Hanabi sendo citada — Alguma outra pergunta?

— Por que devemos dar prioridade máxima somente para o Sandaime Hokage, Uchiha Sasuke, Hyuuga Hanabi e o Jinchuuriki do Shukaku de Suna? — a mesma recruta volta a perguntar algo que os demais também queriam entender — Assim como Sasuke e Hanabi, Hyuuga Hinata também é de uma grande linhagem sanguínea e possui Kekkei Genkai, e Uzumaki Naruto também é um Jinchuuriki como Gaara do Deserto.

Sabendo que eles jamais entenderiam sem uma explicação justa e plausível, e tendo em vista o tempo escasso para começarem a agir, ambos Tenentes da ANBU entram em acordo sem dizer uma palavra, e fazem algo que nenhum recruta jamais sonharia em ver; também era um gesto simples para encoraja-los e demonstrar confiança, já que aqueles jovens se mostraram tão empenhados em cumprir aquela missão imposta tão egoistamente.

— Quanto a nós, podemos nos proteger do inimigo. — Hinata segura sua máscara de gato com uma mão, e a outra se enlaça na de Naruto.

— Alguma outra dúvida? — Naruto pergunta, e os vê negar freneticamente — Se preparem então, saímos em quinze minutos!

Imaginando que levariam algum tempo para assimilarem tudo, a dupla os deixa para que se preparem e voltam a pôr suas máscaras, subindo as escadas da masmorra e antes de entrarem no corredor proibido, puderam ouvir o murmurinho que se formava; na central de operações, o barulho era maior e parecia que a correria havia aumentado dez vezes mais e na lousa já se podia ver algum progresso. No centro da mesa, Tora e Karasu já se encontravam trabalhando também, perdidos em pilhas de registros, sendo auxiliados por Shikaku e Inoichi que estava novamente tentando rastrear vestígios do inimigo, Tenzou e Ibiki discutiam e marcavam pontos no mapa da Vila; todos estavam absortos em suas funções e corriam contra o tempo, incapazes de parar por um segundo sequer.

— Ei você, nº43 venha aqui. — Kitsune chama, alcançando a voz para ser ouvido.

— Tenente? — o rapaz pede com medo, imaginando que tivesse feito algo de errado.

— Mande preparar vinte caixões e medalhas de honra. — Neko sussurra para que só ele pudesse ouvir.

— S-s-sim senhora, Tenente! — com a voz embolada ele presta continência e se retira.

— Vocês mudaram os abrigos de emergência? — Kitsune pergunta analisando o mapa a sua frente.

— Sim, e já dividimos nosso pessoal externo em confiável e não confiável. — Ibiki responde e sinaliza dois grupos separados por cores na lousa — Eles receberão missões e tarefas normalmente, a diferença será as informações que receberão.

— As equipes internas também podem estar comprometidas. — Neko ressalta, os olhos sob a máscara esquadrinhando cada um naquela sala.

— Já fizemos isso, Inoichi checou cada um da divisão, estamos seguros. — Tenzou afirma, fora o primeiro que fizeram antes de começar a mudar os planos.

— Nesse caso estamos partindo, canal 6 se precisarem de nós. — Kitsune informa e se vira para os dois pupilos que os fitavam aguardando ordens — Terminem o trabalho aqui, depois vão direto para a Torre e fiquem lá, queremos os dois ocultos e de olho no Sandaime, estejam preparados para tirá-lo de lá a qualquer sinal de ataque.

Tendo certeza que poderiam ficar tranquilos quanto a essa parte chave do plano, eles partem para executar a primeira etapa da varredura que fariam nos terrenos da Floresta da Morte.

***

Andando com cuidado, pelos últimos quilômetros até o local em que se despedira de seus colegas mais cedo, Sakura se prepara para lhes dar boas notícias e quem sabe, receber algum reconhecimento por seu esforço; para o primeiro dia de prova, era uma conquista e tanto permanecer ilesos e ainda obter recursos para seguir adiante. Então quando quase podia avistar o choupo negro, Akamaru passa a ladrar e tremer, aquele lamento típico de filhotes assustados e foi o que bastou para que a garota entrasse em estado de alerta; imaginando que seria difícil lutar carregando peso e seria perigoso para o cãozinho, Sakura o deixa escondido, junto com a água e as frutas. Apesar de mal poder ouvir seus próprios passos, a causa dos batimentos frenéticos de seu coração, ela se aproxima vagarosamente do lugar onde deveriam estar Kiba e Sasuke, e quando está perto o bastante para ver, o ar foge de seus pulmões; a metade do choupo que ela não conseguia ver antes, está toda em pedaços, com algumas chamas menores ainda ardendo, os galhos pendendo em pedaços estraçalhados, e pelo chão rastros de lutas, sangue e algo muito grande capaz de causar valas por onde passou. Desesperada por entender o que tinha ocorrido, ela passa a buscar pistas em todos os lugares, primeiro perto da árvore, onde a batalha parecia ter iniciado, ali encontra restos de papeis bomba e fios de aço, logo a frente uma cratera na lama com resquícios de queimaduras, como se algo grande tivesse caído ali e logo fogo fora ateado; então mais à frente outras árvores menores foram derrubadas e então algo muito mais aterrador, chumaços de pelo, pedaços de pele espalhados por todos os lados, uma presa que não podia identificar a que animal pertence parecia ter sido arrancada pela metade, um dedo humano e muito sangue. Todo o medo que ela pensara ter superado antes, a atingiu triplicado, em sua cabeça milhões de coisas poderiam ter acontecido com os dois, e não havia sinal algum de que estivessem vivos ou escondidos em alguma parte, já os havia chamado e dito a contrassenha, se estivessem por ali teriam se mostrado para ela, Kiba teria sentido Akamaru; as lágrimas tomavam conta do seu rosto e as pernas não tinham mais forças para manter o próprio corpo, parecia como se o peso do mundo estivesse sobre seus ombros, e então em outra onda de pânico e adrenalina, Sakura pensou que deveria sair dali, ou seria atacada também, precisava buscar ajuda e avisar alguém o que tinha ocorrido, mas antes que ela pudesse terminar de formular um plano de emergência, Akamaru a estava puxando pelas roupas.

— Não podemos nos esconder, Akamaru. — Ela fala ronca, mas ainda assim o acompanha — Precisamos buscar ajuda, alguém...

Sakura para de falar quando nota o que o animalzinho tentava mostrar, no chão junto a mais alguns chumaços de pelo e um pedaço de tecido azul rasgado, haviam enormes pegadas que seguiam para longe dali, pegadas como as de Akamaru; o cão por sua vez, parecia estar contente e abanava o rabo ao lado das novas pistas, parecia esperar que o felicitassem por sua descoberta.

— Isso... isso é deles? Essas pegadas são de Kiba, Akamaru? — Sakura pede sem nem acreditar direito que ainda existia possibilidades.

Ao ouvir a pergunta, Akamaru late forte e se vira para a direção em que as pegadas apontavam, dando a entender que deviam segui-las.

— Graças... graças... — a Haruno o pega no colo e esconde o rosto em sua pelagem macia, chorando de alivio — Eles foram para a Torre, estarão a salvo lá! Vamos Akamaru, precisamos encontra-los logo.

Cambaleante pelos altos e baixos de emoções, ela segue as pegadas com o cãozinho novamente dentro de sua blusa, recolhe os cantis e a trouxa improvisada que fizera para carregar as frutas e decide não parar até encontra-los; tinha medo de pensar aquilo, mas pela quantidade de sangue que encontrara, algum deles estaria ferido e não gostaria de sequer cogitar que poderiam ser os dois, mas havia uma possibilidade grande disso ter acontecido. O cansaço de antes a castigava milhões de vezes mais, agora que seu psicológico estava abalado pela desafortunada situação, e diferente de outras vezes, onde já teria desistido e se escondido chorando até que alguém fosse salvá-la, Sakura se obrigou a seguir caminhando, buscando por todo caminho, sinais de que seus companheiros estariam vivos; quando a voz persistente do medo da antiga Sakura soava em sua cabeça, dizendo que ela estava seguindo um monstro que a mataria também, ela a obrigava a calar, e pensava decidida que aquelas pegadas eram de Kiba, Akamaru não se enganaria com seu dono, Kiba devia ter usado o Jutsu do Homem Besta e fugido, e ele certamente estava com Sasuke, eles podiam não se dar muito bem, mas o Inuzuka jamais abandonaria um companheiro como ela teria feito no passado. A noite começava a pintar o céu com as primeiras estrelas, quando Sakura finalmente foi capaz de vislumbrar a antena no telhado da Torre, longe por muitos quilômetros de onde estava, mas era a motivação que ela precisava para continuar; durante esse tempo, ela pode deduzir que Kiba e Sasuke estariam muito mais à frente dela, considerando que o Inuzuka estava em sua forma de besta e suas passadas eram muito mais longas que as dela, mas era reconfortante saber que estavam indo na mesma direção constantemente. O breu da noite já cobria toda a floresta e a deixava mais aterradora que durante o dia, e agora Sakura só podia contar com os olhos de Akamaru para guia-la, e ambos tinham que se mover com cuidado, afinal aquela era a hora em que todos os predadores do lugar saiam para caçar e se alimentar; nessa hora a Haruno se viu forçada a parar e se abrigar o melhor que podia, quando uma chuva torrencial começou a cair, formada provavelmente pela enorme massa de ar quente e umidade acumulados durante o dia caloroso.

— Não se preocupa, vai dar tudo certo. — Ela dizia para si mesma, vendo a água turbulenta varrer as pegadas da lama — Akamaru, preciso que fique bem escondido e quentinho, não pode se resfriar, você vai ter que fareja-los quando estivermos perto da Torre.

Ali, debaixo de um salgueiro frondoso, ela permaneceu por horas, encolhida com o pequeno cão em seus braços, o protegendo da chuva incessante, não podia ouvir nada além do som estrondoso da água caindo e arrastando tudo e dos trovões, não via mais que clarões de relâmpagos distantes, que surgiam esporadicamente no centro da tempestade; seu torpor e cansaço mental eram tão grandes, que não conseguia distinguir quais dos seus membros estavam mais dormentes de frio, e nem sabia quantas vezes já mordera os próprios lábios trêmulos, tudo que a preocupava era a chuva que não cedia e que estava levando todo rastro deles embora, e diante da sua impotência contra as forças da natureza ela sentiu seus ombros tremendo convulsivamente pelo choro que estivera segurando desde o final daquela tarde. A tempestade segui noite a dentro, ora aumentando em força e perigo, ora diminuindo e permanecendo como um chuvisco constante, mas sem nunca parar totalmente, até que o novo dia amanheceu trazendo consigo um vento gélido, típico de uma manhã após uma noite chuvosa; debaixo do salgueiro, Sakura que apenas pôde descansar os olhos, os abria novamente ao voltar a tremer a causa do vento e suas roupas encharcadas, e usando forças que não sabia possuir, fez seu corpo dolorido se pôr em pé outra vez.

— Vamos Akamaru, vamos busca-los de novo. — Ela sussurra a bola de pelos em seus braços, que apenas grunhe em resposta — Caminhar vai nos aquecer.

Com movimentos mecânicos e rígidos, Sakura volta a seguir o caminho de pegadas que já não existe, tendo como norte, apenas a antena que agora podia ver completamente.

***

Milhas longe dali, alguns recrutas já retornaram ao ponto de encontro, outros não davam sinal algum há mais de quatro horas, as equipes que chegavam, traziam o mesmo reporte, por toda floresta foram encontrados sinais de lutas e rastros de animais enormes se deslocando pelas áreas onde ocorreram os enfrentamentos; em alguns pontos, Genins desacordados foram atendidos, e tudo que conseguiam lembrar, era ter visto uma enorme serpente amarelada com olhos alaranjados, ela os atacava e logo depois ia embora. Seria normal naquela floresta, haviam serpentes e muitas outras criaturas de tamanho anormal ali, todas perigosas e territoriais, e facilmente atacariam Genins desavisados que invadissem seus domínios; não fosse pela afirmação inquietante de todos os times atendidos, o horário dos ataques ocorrera ao mesmo tempo, pouco antes do entardecer do dia anterior. Não tinham que pensar muito para concluir que estavam diante de uma busca coordenada, afinal era estatisticamente impossível que tantos Shinobis topem com tantos ninhos de cobras assim, ainda mais em uma floresta tão vasta, considerando que as áreas de ataques foram próximas; aquilo não era coincidência, e mesmo que não pudessem provar que essas serpentes foram manipuladas e conduzidas para agir em perfeita sincronia, o contrário também não estava decretado.

— O time sete? Algum integrante foi encontrado? — Neko pede sem deixar sua voz soar preocupada.

— Nenhum dos três integrantes foi avistado ainda, Tenente. — Maki responde, já que aquela área era de sua responsabilidade — Nem mesmo o cão do Clã Inuzuka foi visto pela região.

— Isso é bom, se não os encontramos, significa que o outro lado também está. — Kitsune pondera, ressaltando algo que poderia estar a favor deles — E com certeza em uma situação de perigo real, Akamaru saberia buscar por ajuda.

Naruto apenas não externalizou os diversos pontos negativos que pensara depois disso, incluindo a possibilidade de o cão ter sido engolido por algo maior ou mais forte, afinal ainda era só um filhote; não precisavam assustar e desmotivar os recrutas, que com toda certeza já estavam temerosos por seus próprios companheiros desaparecidos, tudo que não queriam agora, era que o pânico se instaurasse e atrapalhasse as buscas. Como planejado, todos os times de Genins atendidos, ouviram a história de que aquela era uma patrulha comum, que ocorria durante os exames, para garantir a segurança de todos, e foram instruídos a continuar a prova normalmente; quando os jovens ainda desconfiados hesitaram em prosseguir, foram incitados com a notícia de que três times concluíram a prova no primeiro dia, o que bastava para restaurar a coragem dos mais cautelosos. Mesmo que aquilo significasse coloca-los em perigo outra vez, ainda não tinham nenhuma pista de como Orochimaru agiria a partir de agora, nem quantas pessoas ele havia infiltrado dentro da Vila, não depois dessa última descoberta; seria muito mais arriscado, cancelar o exame e causar pânico, então perderiam totalmente o controle da situação, agora pelo menos nenhum dos dois lados podia agir as claras, tudo estava sendo feito as escondidas, um movimento por vez, até alguém ficar sem jogadas. Se correndo pela culpa e ressentimento do que faziam, eles continuaram percorrendo os terrenos da enorme floresta o dia todo, discretamente e sempre ocultando sua presença para não alertar o inimigo, buscando por pistas ou provas, o que viesse primeiro; até o final do segundo dia, quando outro reforço chegara até suas equipes de rastreio, trazendo notícias e instruções da central.

— Tenentes, Haruno Sakumo se apresentando. — Sakumo se junta a equipe de Neko e Kitsune — Tenho informações que devem ser transmitidas imediatamente em caráter de urgência!

***

Vinte e quatro horas antes.

— Você não acha que devemos ir atrás dela? — Kiba pergunta pela milésima vez.

— Quer ir, vá de uma vez! Pare de ficar perguntando! — Sasuke finalmente perde a paciência.

— Como pode ser assim? Sakura foi buscar água para todos nós, e se alguma coisa acontecer com ela?! — o Inuzuka se exalta com o outro.

— Ela foi por vontade própria, ninguém a obrigou a ir, e se alguma coisa acontecer, só significa que ela não serve pra ser Kunoichi. — Sasuke rebate desdenhoso, como se já soubesse que a colega falharia.

Incapaz de controlar o próprio gênio e cegado pelo ódio, Kiba avança contra Sasuke, o pegando completamente desprevenido, ambos rolam pelo chão da floresta, trocando socos e pontapés desajeitados e de qualquer jeito; nenhum dos dois chegou a pensar realmente no que faziam ou quem poderiam atrair com aquela briga sem sentido, só tomaram consciência quando já era tarde, e seus corpos embolados estavam sob a mira de um olhar frio.

— Corre! — Kiba foi o primeiro a sentir a presença da serpente, e a trancos e barrancos, saiu puxando Sasuke para longe do bote.

— Que demônios! — Sasuke xinga vendo como o bicho se enrolava para atacar novamente — De onde veio isso?!

— Não sei, só corre e tenta pensar em alguma coisa pra matar! — Kiba retruca pouco antes do segundo ataque.

Por mais que corressem, a serpente os seguia, não conseguiam fazê-la perde-los de vista e nem adiantaria, sabiam que ela os encontraria rapidamente com aqueles olhos horríveis, e se não fosse com eles, seria com aquela língua asquerosa; e quanto mais corriam e desviavam, mais cansados ficavam, a fatiga causada pelo calor escaldante e a falta de hidratação, contribuíra para deixá-los mais lentos e desleixados, ocasionando que por vezes fossem quase engolidos. Cansado daquele jogo de presa e predador, Sasuke decide tentar algo para se defender propriamente, enquanto corria, fez os selos de mãos rapidamente e instantes antes da cobra dar mais um bote, ele se vira e completa o Katon: Gōkakyū no Jutsu; quando a enorme bola de fogo atinge a serpente, seu corpo cilíndrico gira em todas as direções, enquanto um chiado agudo sai de sua boca, e por fim tombou inerte no cão, com chamas ainda consumindo sua pele.

— Morreu? — Kiba pergunta, segurando papeis bomba.

Quando Sasuke começara a fazer os selos de mãos, ele soubera que Jutsu o Uchiha usaria em seguida, e se preparara para lançar um segundo ataque.

— Acho que sim. — Sasuke responde, ofegante pelo recente trabalho.

Os dois rapazes começavam a sentir-se aliviados e seguros outra vez, quando viram a cabeça da víbora tremer e mexer levemente e logo havia um corpo viscoso emergindo da cratera que se abrira, todo distorcido, como um monte de trapos que foi embolado junto; somente aquela cena já era pior que qualquer experiência que possam ter tido, mas ao olhar para o par de olhos amarelos ofídicos da coisa desconhecida, sentiram como se uma mão enorme os estivesse apertando e esmagando lentamente, eram incapazes de respirar e de se mover. O tempo estava congelado enquanto viam aquele corpo se contorcer e escorregar até o chão, então o som de ossos sendo torcidos e cartilagens estouradas foi ouvido, até o corpo estar completamente em pé, com o rosto, braços e pernas nos lugares certos; então a coisa sorriu e uma língua bifurcada foi vista passeando por seus lábios tortos, e o som viscoso de carne sendo rasgada que seguiu seus movimentos, foi tão vertiginoso quanto a cena que viam imóveis.

— Muito esperto, Sasuke-kun. — A voz arrastada que saiu de sua boca, sibilava tal como o silvo da cobra antes — Conseguiu deixa-lo bem ferido.

Sasuke e Kiba assistiram tudo aquilo aterrorizados, sentiam como se seus corações estivessem dando suas últimas batidas, tanta era a pressão em seu peito, sentiam verdadeiramente o fim se aproximando; e quando a coisa deu um passo em sua direção, a pressão aumentou e tudo que conseguiram fazer, foi gemer em agonia, vendo como aquilo estava cada vez mais perto. Em meio as tentativas de dizer algo, um grito que fosse, Kiba acaba mordendo a língua e consegue se livrar da paralisia, e sem esperar um segundo a mais, agarra o braço de Sasuke e corre o mais longe que suas pernas permitem; não sabia quanto tinha corrido e nem quis olhar para trás e verificar se estavam sendo seguidos, tudo que fez foi buscar um abrigo o mais longe possível daquela coisa. Todo seu corpo tremia de pavor, seus instintos gritavam que aquilo era algo que jamais devia deixar se aproximar, podia sentir em sua alma que a coisa mataria ambos em um piscar de olhos; ofegante e tentando acalmar a si mesmo e recuperar seus sentidos, Kiba foca sua atenção em seu companheiro que permanecia inerte ao seu lado, parecendo apenas um boneco sem vida.

— Imbecil, desgraçado! — o Inuzuka finalmente explode e joga o outro contra uma árvore — Você não era o melhor? Não estava zombando da Sakura antes? Pois eu digo que quem não serve pra ninja é você, seu moleque medroso!

Talvez pelas palavras insultantes de Kiba, ou porque por fim recuperava a própria consciência, fosse o que fosse, Sasuke finalmente retornava à realidade, e em completo frenesi, começa a apalpar todas as partes de seu corpo, como se estivesse buscando algo fora de lugar; sem paciência alguma com o outro em meio ao seu surto, Kiba dá-lhe um tapa violento no rosto e o segura pelo colarinho, como se fosse arremessa-lo novamente.

— Dá para entrar em razão logo?! Será que não vê que não temos tempo para crises?! — o Inuzuka praticamente rosna, frustrado com a atitude idiota de Sasuke.

— O que... o que era aquilo? — o Uchiha pede baixinho, com medo de que se perguntasse, o estaria chamando.

— Tudo que preciso saber, é que tenho que ficar longe, o resto não me importa! — Kiba rebate ainda irritado — Se já está pronto, vamos continuar.

— Continuar? Do que está falando? — Sasuke questiona, parecia completamente alienado do que ocorria.

Kiba o fita quase sem acreditar no que estava vendo, o colapso mental daquele cara tinha sido tão grande, que fora capaz de reduzir seu intelecto a de uma criança de cinco anos; o que o Inuzuka não sabia, é que encanto esteve paralisado vendo a coisa se aproximar, Sasuke fora levado novamente àquela noite anos atrás, quando voltava para o distrito depois das eliminatórias dos exames Chunnin, e encontrara o pai e mais trinta oficiais do Clã completamente estraçalhados na pra central, empilhados como animais de abatedouro, todos inertes e com expressões de terror em seus rostos congelados pela morte.

— Vamos para a Torre, Sakura disse que se algo acontecesse devíamos ir para lá. — Kiba recorda, fazendo o outro se erguer do chão a força — Vamos logo, não sabemos quão rápida aquela coisa é.

Eles começavam a se afastar do grande choupo, quando sentiram primeiro o cheiro pútrido.

— Não fuja de mim, Sasuke-kun. — Então ouviram a voz sibilante.

Com o corpo convulsionando em intermináveis arrepios de pavor, Kiba não esperou para se certificar de quê direção exatamente vinha a coisa, simplesmente lançou os papeis bomba que ainda segurava e correu arrastando o Uchiha; segundos depois, a explosão os jogava longe, fazendo com que se chocassem com as outras árvores a volta. Talvez por sentir o perigo mais perto, ou por finalmente voltar a normalidade, Sasuke sai do seu transe e passa a lançar Kunais e Shurikens na direção das chamas, e usando fios de aço, as faz prender aquilo no tronco da árvore; suas tentativas se viram frustradas, quando as chamas baixaram e não puderam encontrar nenhum corpo ou vestígio preso pelos cabos, e em completo desespero, eles ficam em posição de proteger as costas um do outro, buscando de onde viria o próximo ataque. Os dois rapazes só começaram a agir em conjunto tarde demais, naquela situação onde poderiam ser alvejados de qualquer direção, as poucas estratégias que conseguiam pensar e por em prática, não eram suficientes para defende-los; o medo estava nublando seus sentidos e incapacitando seu raciocínio lógico, assim que não viram até o último segundo a enorme cauda que açoitaria ambos, não fosse pela reação rápida de Kiba, que empurra Sasuke longe, antes que fossem esmagados. Infelizmente para o Inuzuka, sua tentativa de manter o outro vivo, retardara sua própria fuga, e antes que pudesse correr e contra atacar, a boca da serpente o estava engolindo; tudo isso ocorria diante dos olhos esbugalhados de Sasuke, que tentava se aproveitar da distração da víbora, para fazer os selos de mão e usar novamente seu Katon, ação que parou antes de ser completada, diante do choque.

— Você não precisa lutar Sasuke-kun, venha comigo e eu te darei poder. — Novamente aquela criatura estranha estava a sua frente, arrastando as palavras — Tudo que quiser será seu, é só vir comigo!

Seduzido por aquela promessa, que ia de encontro com os desejos de sua mente perturbada, Sasuke baixa a guarda, esquece o que tinha que ser feito e se pega contemplando um futuro, onde seria o mais forte dos Shinobis, se vingaria do irmão e do garoto raposa, e ainda poderia manter a garota dos olhos de lua ao seu lado; não que ele não soubesse que tudo na vida tinha um preço, mas para alguém que tinha tudo que outros poderiam querer, e de repente se viu sem nada, a perspectiva de recuperar tudo e obter ainda mais, era incrivelmente tentadora. Sasuke crescera amado por sua mãe, sendo mimado pelas pessoas do Clã, queria e exigia a atenção do seu irmão mais velho para si, e queria fazer seu pai reconhecer que ele era melhor; tudo por que lhe disseram certa vez, que ele teria o potencial para superá-lo, e por que encontrava incorreto o fato do irmão e o pai não o tratar como os demais faziam. Então quando Itachi cometera traição e assassinara tantas pessoas, o rancor e ressentimento que tinha com relação ao mais velho, se transformaram em ódio, não entendia como alguém que tinha tudo o que ele queria, poderia ter feito tal coisa, e ainda roubara tudo que era dele e Sasuke o odiava por isso; enquanto remoía emoções tão retorcidas e obscuras, o Uchiha ficara totalmente exposto e sem ter reação alguma, fora atacado pela primeira vez, pego completamente desprevenido.

— Argh! — ele grita pela dor e surpresa.

Aquilo não era bem um ataque, e tentando empurrar a cabeça e pescoço da criatura, que se esticaram inteiros até onde ele estava, Sasuke sentiu algo pontiagudo se cravando em seu pescoço, e logo o sangue escorria por suas roupas; não entendia como uma coisa que não parecia nem humana, nem besta, podia ter tanta força e resistir tanto aos seus esforços de afasta-lo, e quanto mais permaneciam em contato, mais o cheiro nauseante de carne podre e a viscosidade da pele da criatura, o faziam ficar nauseado e perder as forças. Quando pensou que não podia fazer mais nada, sentindo a dor latejante irradiar por seu ombro, e suas tentativas débeis de empurrar aquele rosto horrendo para longe, que algo que nem ele e nem a criatura contavam que fosse ocorrer; sem aviso prévio, a serpente que assistia tudo enrolada como se fosse dar um bote, começa a sibilar agitada e abanar a cabeça para todos os lados, então uma enorme explosão de carne, pele e sangue acontece. No lugar em que estava a cobra antes, se encontra agora um enorme cão branco, a pelagem tingida de vermelho e com restos de carne por todos os lados, os enormes caninos a mostra, um rosnado gutural escapando por entre eles; Sasuke arregalou os olhos, quando o viu correndo em sua direção, e antes que pudesse processar o que estava acontecendo, viu o cão abocanhar uma das mãos da coisa e arremessa-lo com brutalidade para longe, sentiu sua carne rasgando e logo o cão estava abocanhando seu braço, foi tudo que entendera antes de perder a consciência.

***

Metade da tarde do segundo dia.

O enorme cansaço e o esgotamento mental já não permitiriam que ela continuasse por muito mais tempo, seus músculos enrijecidos não obedeciam corretamente os comandos de seu cérebro, e sua visão turva fazia com que as vertigens fossem mais constantes; depois de buscar por seus companheiros por um tempo que equivalia a um dia inteiro, Sakura sentia suas últimas forças abandonado seu corpo cansado, e mesmo que ouvisse os ladridos do pequeno cão a incentivando e mantendo acordada, já não conseguiria se manter assim por muito tempo, e nem sabia dizer mais, se estavam na direção correta. Ela estava derrotada, sentia o coração doendo por falhar, sentia o choro voltando a se acumular na garganta e pensava que talvez nunca sairia dali, no fim das contas, não conseguira se mostrar capaz e até mesmo em sua caída, estaria sozinha; aceitando com amargura que devia desistir, a Haruno não viu e nem percebeu que fora jogada no chão, seu corpo não processara a nova dor que se espalhava, sua visão desfocada distinguia um vulto branco e seus ouvidos detectavam um som animalesco e raivoso. Akamaru foi o que a fez ficar alerta outra vez, os rosnados e latidos urgentes dele, soaram como um aviso de perigo e ela se obrigou a reagir outra vez; mas o que vira a sua frente, não fora uma besta daquela floresta odiosa, nem um inimigo a atacando, era alguém muito conhecido e que fez o choro engasgado estalar sem permissão.

— Ki...ba. — Ela pronuncia roucamente, sentindo os olhos cheios de lágrimas transbordar.

Ouvindo o próprio nome e identificando finalmente o cheiro da garota e de seu pequeno acompanhante, o enorme cão recua apressado, e todos os três finalmente se fitam, processando em meio a um turbilhão de emoções, que tinham se reencontrado, eles se embolam em um abraço desajeitado entre patas, pelos e braços; depois de regressar a sua forma humana, Kiba passa a inspecionar Akamaru e Sakura, encontra o cãozinho bem e sem nenhum arranhão, mas a Haruno em compensação, era apenas um farrapo. Seus cabelos estavam embolados em tufos e mais pareciam um ninho de pássaros, as roupas rasgadas e desgastadas, uma quantidade absurda de cortes e arranhões cobriam seus braços e pernas, os lábios estavam rachados e ressecados, e os olhos mais pareciam os de uma pessoa morta; Sakura estava lívida, apenas seu peito subindo e descendo enquanto respirava, podia afirmar que sua alma ainda estava lá. O Inuzuka a ajuda a chegar ao novo esconderijo, onde matinha Sasuke deitado e ainda inconsciente, logo escuta sua versão do que tinha acontecido e como ela havia chegado até ali, desde sua ida em busca de água, até o final da outra tarde, quando retornara ao ponto de encontro, Sakura contou tudo enquanto tomava pequenos goles d’água e mordia algumas fatias das frutas que trouxera, era a primeira vez que comia e bebia desde o dia anterior; sem esconder o assombro pelo que ocorrera a colega, ainda mais por ela ter feito todo aquele percurso evitando outras equipes e perigos no caminho, tudo sozinha, confiando apenas na guia de um filhote de cachorro. Estava admirado na verdade, sabia como devia ter sido assustador para ela, e como devia ter sido difícil, já que para ele em sua forma de besta o fora, mas Sakura não havia desistido de encontra-los e não os abandonara; ele logo conta o que acontecera com os dois enquanto aguardavam seu retorno, a cobra os atacando, a estranha criatura que os emboscara em seguida, a estranha paralisia que os dominara assim que o viram, e a forma bizarra que encontra Sasuke e a coisa, depois de estourar a cobra por dentro com o Gatsuuga.

— Ele mordeu? — Sakura pede sem acreditar, agora já conseguindo pronunciar palavras inteiras.

— Sim, veja isso. — Kiba afirma e mostra a marca no ombro de Sasuke — Mas deve ter pego de mal jeito, por que só tem uma marca de dente aqui, acho por que Sasuke estava empurrando a coisa, ele não conseguiu pegar bem.

— Que coisa mais absurda. — A Haruno fita a única marca de presa e a ferida que começava a escurecer — Kiba, tem certeza que era alguma coisa da floresta? Quer dizer, não era ninguém de outra equipe?

— Se era da floresta ou não, eu não sei direito, mas se fosse de outra equipe, não teria tentado pegar o pergaminho? — o Inuzuka pondera — E logo que visse que não estava com a gente, ou teria ido atrás de você, ou teria ido atrás de outros times.

— Isso é certo, mas ainda é estranho. — Sakura sente uma estranha incomodidade naquela história — Me descreve de novo, como era essa coisa?

— Ah não sei direito, era viscosa, parecia meio morta, falava arrastando a língua igual uma cobra, tinha uns cabelos compridos, o rosto parecia torto. — Ele vai falando e faz uma careta — Tudo parecia torto naquilo... ah, e tinha uns olhos amarelos bem feios, pareciam os olhos de uma cobra.

Quando escuta essa última parte, Sakura tem um estranho frenesi de lembranças desconectadas, coisas que estudara na Academia, coisas que ouvira de adultos, e finalmente o que dia ouvido na ANBU, quando fora junto ao irmão, naquela noite desafortunada; logo um nome veio a sua mente e ela finalmente entendera por que sentira tanto medo ao ouvir a descrição feita pelo colega, entendera também a tensão que os senseis aparentavam ultimamente e por que Konoha parecia estar prestes a explodir em caos, e principalmente o aviso que recebera no dia anterior, fazia todo sentido agora.

— Kiba... aquilo era... — Sakura começa a falar, inconscientemente aperta os joelhos assustada — O Sannin renegado, Orochimaru.

Diante da constatação, ambos permanecem quietos por bons minutos, ela juntando tudo que sabia por acidente ou não, ele tentando decidir se acreditava ou fingia que era uma brincadeira; por fim, percebera pela postura e agitação dos olhos, que não tinha como ser brincadeira e nem como Sakura ter se enganado.

— Por que ele? — o Inuzuka pergunta, se referindo a Sasuke — Por que viria atrás de um Genin?

— Não posso te contar isso, mas te garanto que não é nada bom. — Ela sussurra, com medo de tocar naquele tema, logo segura a mão do colega com força — Precisamos terminar o exame e chegar a Torre, ali vamos estar seguros, mas até lá, precisamos estar atentos.

— Que se dane a prova! — Kiba retruca perturbado — Você espera que a gente vá adiante, com um lunático desses atrás de nós?

— E o que faremos? Quem acreditaria que um Nukenin como ele, estaria atrás de nós? Ninguém fora do alto escalão de Konoha sabe o que ele pretende Kiba, diriam que ficamos impressionados com a prova e nos assustamos com a floresta, ninguém vai acreditar em nós! — na verdade, ela sabia de três pessoas que acreditariam neles, mas não tinha como contacta-los agora — Nossa melhor chance, é terminar a prova o mais rápido possível!

Encontrando lógica no que ela dizia, Kiba consegue se controlar, decide então, pôr mais alguma segurança no esconderijo improvisado, com a ajuda de Akamaru, passa a armar armadilhas mais complexas que as primeiras que havia feito; enquanto ele trabalhava na segurança, Sakura decide tratar e limpar o melhor que podia, a ferida enegrecida de Sasuke, se xingando mentalmente, por não saber nada além do básico de Ninjutsu médico. Eles passam as próximas horas se revezando para descansar e vigiar tanto Sasuke, quanto o abrigo, e intentando sair daquele lugar o mais pronto possível, elaboram formas de emboscar outras equipes e roubar o pergaminho que precisavam, como tinham planejado originalmente; em dado momento do fim da tarde, Sasuke acorda, mas apesar de estar de olhos abertos, permanecia em completo torpor, coisa que Sakura atribui a sua febre, decidiram então que seria melhor deixar que ele ficasse quieto e o escoraram em um canto mais elevado, para que ficasse pelo menos um pouco confortável. Estavam se preparando para testar sua teoria, quando uma das armadilhas de Kiba é acionada, o barulho repentino os pega desprevenidos e assusta, e logo o silêncio que os rodeava vai embora, dando lugar a uma revoada de pássaros e animais menores, que correm amedrontados pelo estrondo; temendo encontrar a coisa novamente, Kiba fareja o ar, e se alivia ao encontrar cheiros totalmente novos, e sinaliza para Sakura que eram três invasores, e logo se prepara para atacar.

Nos minutos seguintes, a Haruno, o Inuzuka e Akamaru se deparam com o time de Genins enviados pela Vila do som, os três intactos depois de acionar uma das armadilhas com papel bomba; aturdidos pelo que viam, o Genins de Konoha ficam alguns segundos perdidos, pelo menos um deles devia ter sido atingido e por isso eles resolveram atacar, pensando que com dois poderiam igualar as coisas. Sem tempo para pensar mais, eles são obrigados a desviar de um ataque invisível, que não sabiam dizer de onde viera, apenas notaram pela visão periférica o solo se elevando em uma explosão violenta; desviando e saltando, buscando algum ponto longe do alcance do ataque, eles retrocedem para perto do abrigo, que agora estava sem sua cobertura de folhas, revelando Sasuke inerte lá dentro. Depois do primeiro, mais cinco ataques do mesmo tipo ocorreram, seguidos simultaneamente por Senbons arremessadas em sua direção, que causavam um sonido desnorteante e os fazia perder o equilíbrio; estavam sendo alvejados por todos os lados, até Kiba conseguir entrar em posição e usar o Gatsuuga em conjunto com Akamaru, forçando o trio a recuar pela primeira vez. Nesse momento de indecisão por parte deles, Sakura se aproxima rapidamente da garota com os Senbons, usando uma determinação desconhecida, desfere um soco em seu estômago; sabia que a outra fora pega somente por que estava distraída com o ataque de Kiba, mas não importava nada disso, agora eles tinham um a menos para enfrentar, pelo menos por agora. Foi durante esse milésimo de segundo, que a mão do terceiro integrante do Som, passou a centímetros de seu ouvido esquerdo, a fazendo recuar por reflexo temendo que ele acertasse um golpe, então a Haruno sentiu algo gotejar em seu pescoço e ombro, e quando levou a mão para verificar, encontra sangue; Sakura podia não saber todas as técnicas de lutas mais eficientes, e nem sabia reagir direito aos ataques que vinham sofrendo, mas se tinha uma coisa em que era habilidosa, era em reconhecer Jutsus quando os via.

— Eles estão usando as ondas sonoras. — Ela segura Kiba antes que ele faça outro Gatsuuga — Qualquer fonte que possa produzir som!

— Muito esperta, garotinha. — O que parecia ser o líder, fala pela primeira vez — Mas não precisamos lutar, só precisamos do outro garoto, vocês podem ir embora.

Ao mencionar Sasuke, imediatamente eles entendem que o trio estava ali para leva-lo, e que eram cúmplices de Orochimaru seguindo suas ordens, e não importaria como, não parariam até cumprir sua missão, a menos que fossem vencidos; sabendo que estavam encurralados, sua única opção seria vencer, ela usa a trégua momentânea nos ataques, para pensar no que fazer, logo uma ideia arriscada surge, mas era o melhor que tinham, o melhor que podiam fazer.

— Kiba, você pode fazer aquilo com Akamaru? — ela pede, se referindo ao Jutsu Besta Humana de Duas Cabeças — Vamos fazer algum barulho também.

Aterrorizado pelo que ela havia pedido, Kiba a fita sem entender o que faria depois que ele acionasse todas as armadilhas, havia entendido que ela pedira para usar aquele Jutsu para aumentar sua velocidade, e assim poder acionar todas de uma vez, mas não conseguia ver como aquilo ajudaria de alguma forma; de olhos fixos na garota do outro time, que acaba de se recuperar, Sakura sussurra um “apenas faça” e se prepara também. O que Inuzuka não percebera, é que com as explosões simultâneas, Sakura espera se camuflar e causar desorientação nos três, e com um pouco de sorte, diminuir o dano causado pelo ataque deles; a lógica era simples, fazendo tudo ao mesmo tempo, os sons de decibéis diferentes poderiam se anular, o difícil seria por em prática, e principalmente, usar aquilo para roubar o pergaminho deles, e pelo menos causar dano suficiente para fugirem carregando Sasuke. A Haruno ri zombeteira da própria estupidez, estava sendo otimista demais, pensando que poderia fazer tudo que estava pensando, ela só torcia por pegar o pergaminho e poder correr sem parar até a Torre; quem sabe em meio a escuridão da noite, poderiam escapar, queria acreditar que daria certo, tinha que tentar pelo menos, estava cansada de fugir sem tentar.

— Não seja tola garotinha, nosso mestre só quer o garoto, deixe ele aí e vá embora. — O mesmo ninja de antes fala, e os outros entram em posição de ataque.

— Eu não recebo ordens que não pertençam a Konoha! — Sakura responde, ganhando tempo para Kiba e Akamaru engolirem as pílulas — Sou uma Kunoichi e vou terminar esse exame infernal e me tornar Chunnin!

O tempo foi preciso, a transformação imediata, em instantes um enorme lobo de duas cabeças girava seu próprio corpo em torno de si e criava um grande tornado; os três se distraíram pela mudança impressionante do cãozinho e seu dono, e quando a primeira explosão aconteceu, não notaram a garota correndo para dentro dela, se escondendo entre a fumaça e os estilhaços. Logo toda a área estava repleta de barulhos ensurdecedores, chamas e tremores, um ocorrendo após o outro sem trégua; o garoto que causava os terremotos com as mãos, fora atingido por pedaço de galho mais grosso na cabeça e caíra inconsciente, o líder do grupo fora preso por Kiba e Akamaru, que haviam entendido que seu Jutsu dependia do toque, e assim o prenderam a uma árvore, usando os fios de aço das armadilhas para manter a distância. No centro da fumaça e das explosões menores que ainda ocorriam, a garota do Som estava desorientada sem o apoio dos companheiros, e sem visibilidade alguma, não podia usar os Senbons para se defender; assim que ela não viu Sakura se aproximando pelas costas, e recebeu um golpe certeiro no rosto, tentando se defender ela fica em posição de usar Taijutsu, mas seu tempo estava já estava errado, antes de erguer totalmente os punhos para bloquear, ela recebera outro golpe, e outro logo em seguida. Sakura também não podia ver, seus olhos ardiam e lacrimejavam pela fumaça, mas ela seguia batendo e chutando, tentando fazer a outra cair antes que sua cobertura acabasse, não sabia que os outros dois também foram pegos, tudo que pensava era que tinha que resistir a dor das queimaduras e seguir batendo; toda a ação não havia durado mais que dez minutos, mas dentro do tempo que as explosões lhe deram, ela finalmente atinge a outra garota no nariz, a fazendo cair urrando de dor, e se aproveitando de sua desorientação, tateia por seus bolsos em busca do pequeno rolo de papel, que deduzira certeiramente por sua postura mais defensiva, que devia estar com ela. A Haruno então começa a se afastar, de gatinho mesmo, apurada para chamar Kiba, para que pegassem Sasuke e começassem a correr, e como o tempo havia sido exato, ela se distancia os primeiros centímetros, quando a fumaça baixa completamente; enraivecida pela dor e pela derrota, a garota do Som a puxa pelos cabelos, segurando firmemente enquanto a arrastava de volta, Sakura se debate pela dor e pela surpresa e vê com terror crescente a outra mão da garota brilhar alçada em sua direção. Em pânico ela vislumbrou a Senbon que iria em direção ao seu pescoço, viu os olhos raivosos da garota e seu rosto ensanguentado pelo nariz quebrado, viu também como Kiba em sua forma de besta segurava fios de aço com a boca e a fitava espantado, e parado no meio do terreno esburacado do que era seu esconderijo, Sasuke assistia toda a cena; a Haruno pensou como era incrível, que na hora de maior desespero, seu cérebro podia funcionar tão rápido, e por um motivo tão idiota, mas era válido também, ela simplesmente não queria ver o sorriso debochado no rosto do Uchiha, a chamando de inútil por morrer daquela forma. Sakura pegou uma duas Kunais do chão, uma ela arremessou em direção a mão da garota que ia de encontro ao seu pescoço, a outra ela crava no músculo da perna esquerda da outra, a obrigando a solta-la; cambaleante a Haruno finalmente se afasta, os pulmões doíam por respirar tanta fumaça, os olhos verdes estavam avermelhados, das roupas que já estavam desgastadas restavam apenas algumas partes que não foram queimadas, assim como seus cabelos, seus braços e pernas já não eram os da antiga Sakura.

— Cof... cof, cof... conseguimos. — Ela move os lábios para que Kiba entenda e mostra os dois pergaminhos.

Estava radiante por ter conseguido, e com uma alegria dolorosa por constatar que graças a alguma providencia divina, o pergaminho que roubara era justo o precisavam pra ir embora; Kiba e os dois Genins do Som restantes a encaravam com um misto de admiração e medo, por sua coragem e loucura absurdas. Ninguém esperava que ela fosse capaz de um plano tão louco e perigoso e ainda mais que ela mesma o executaria, sem hesitação, sem retroceder, aquela era uma Sakura totalmente desconhecida para o Inuzuka; ela então se volta contente para o outro colega de time, querendo compartilhar a grande vitória do time sete, quando recebe um estrondoso tapa no rosto.

— O que está fazendo Sakura? — a voz raivosa e os olhos vermelhos faziam par com as estranhas marcas em seu corpo — Não ouviu que meu mestre me chama?!

Assustada, ela recua vários passos, sem entender o que Sasuke estava dizendo, e então o olha com atenção, a aura que desprendia de seu corpo não era dele, suas feições estavam destorcidas e o rosto pálido, as marcas estranhas desciam de seu ombro e se estendiam por sua pele clara; quando Kiba rosnou enraivecido, ela lhe fez um sinal com a mão para que ficasse quieto, havia suposto que aquele não deveria ser Sasuke, e que aquilo devia ser consequência da mordida em seu pescoço. Quando ele dá um passo em direção aos ninjas do Som, Sakura imediatamente para a sua frente, guardando os pergaminhos em seus equipamentos e sem saber como agir, se prepara para impedir Sasuke de fazer besteira, como haviam lhe pedido para fazer no dia anterior; lembrando do bilhete que recebera, seus pensamentos chegaram a conclusão de que, Naruto e Hinata deviam saber que Orochimaru iria atrás de Sasuke, e que pediram sua ajuda por conta disso, por que ela sabia da verdade sobre os dois e faria o que eles pedissem.

— Você não pode, eles são inimigos de Konoha! — ela força sua garganta machucada, os olhos derramando lágrimas de dor e desespero.

— Saia da minha frente. — Sasuke sibila e tenta empurra-la.

— Não vou permitir! — Sakura grita e saca sua própria Kunai — Não vou permitir que traia a Vila!

— O que uma inútil como você pode fazer a mim? — Sasuke debocha e dessa vez lhe dá um soco.

Não sou inútil, Sakura pensa ao suportar o golpe e logo ataca Sasuke para fazê-lo recuar, recebi uma missão importante, prometi que não voltaria a falhar, não serei covarde; ela dizia a si mesma a cada novo golpe que o Uchiha lhe dava, se desestabilizava e voltava a parar a frente dele, apesar do seu corpo estar debilitado, apesar de não ter mais forças, estava resistindo. Percebera que Sasuke não estava em seu normal, e também não estava fazendo mais do que seu próprio corpo podia suportar, imaginara que seria por conta da febre; a garota insistia dolorosamente em manter sua posição, estava sozinha, sem o apoio do outro companheiro que não podia deixar o inimigo, estava em desvantagem, mas decidira não recuar, decidira lutar contra seu colega para o impedir de ir com o inimigo. Era isso que se esperaria de uma verdadeira Kunoichi, era isso que Konoha esperava dela, era o certo a se fazer, e ela queria fazer; queria ser forte também, queria ser reconhecida, queria que seu irmão se orgulhasse e sorrisse para ela, queria ouvir que sua missão fora cumprida, Sakura queria provar que ela também poderia ser corajosa. Não viu quando o reforço chegara, não viu quando Sasuke fora contido e preso, não viu nem as pessoas que a rodeavam preocupadas, ela permaneceu ali, mantendo o que tinha prometido; até que dois braços cálidos envolveram seu pequeno corpo machucado, e ela reconheceu aquela voz reconfortante que soluçava seu nome.

— Nii-chan... — sua voz sai num sussurro — Eu também... também posso ser... forte...

— Sim Sakura, você é muito forte! — Sakumo responde entre lágrimas.


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